quarta-feira, 21 de março de 2012

ANDANDO NA LUZ


Mas se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado. 1 João 1:5-7
                     

O pastor e escritor Ricardo Barbosa, relata a experiência de um teólogo protestante que decidiu passar três meses num mosteiro Trapista. Após este período, ele descreve o impacto dessa experiência com as seguintes palavras: Eu sou um teólogo, passei minha vida lendo, ensinando, pensando e escrevendo sobre Deus. Mas preciso ser honesto – eu nunca experimentei de fato Deus... Eu não tenho consciência do que realmente significa a ‘presença de Deus’. Infelizmente o testemunho deste teólogo tem sido a experiência de grande parte dos cristãos.

A Bíblia deixa bem claro que o nosso principal chamado por Deus é um chamado para termos relacionamento com o Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. 1 Coríntios 1:9. O apóstolo João no início de sua primeira carta escreve: E a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. 1 João 1:3b. Contudo, a comunhão com Deus é o aspecto da vida cristã em que sempre nos encontramos em falta. A amizade com Deus, o prazer de estar em Sua presença e gozar de Sua companhia tem sido uma experiência rara para muitos novos nascidos.

Quando falamos em comunhão é preciso lembrar que o maior interessado neste relacionamento sempre foi o próprio Deus. Ele nos criou para vivermos em Sua presença e para termos um relacionamento de amizade com Ele. O primeiro casal chegou a experimentar a harmonia de viver diante de Deus até o fatídico dia da desobediência. A sua primeira reação após o pecado foi fugir da presença de Deus. Então ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia, esconderam-se o homem e a mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. Gênesis 3:8. Desde então, a história da humanidade tem sido uma sucessão de fugas de Deus. O próprio Caim, o primeiro descendente, já fora do jardim, tomou a decisão de viver se escondendo de Deus depois de cometer homicídio. Da tua presença me esconderei; serei fugitivo e errante pela terra. Gênesis 4:14. Dizem os teólogos que toda a civilização não passa de uma fuga moral de Deus.

Quem de nós nunca tentou fugir da presença de Deus quando estávamos decididos a não obedecê-Lo? O caso de Jonas é característico, o qual tomou um rumo totalmente contrário ao designado por Deus. Mas Jonas levantou-se de fugir de diante da face do Senhor para Társis ... para longe da presença do Senhor. Jonas 1:3. A Bíblia está repleta de passagens que expressam o desejo de Deus de andarmos na sua presença. Para Abraão, que andou por algum tempo por conta própria, Deus disse: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença, sê perfeito. Gênesis 17:1. Andar na presença de Deus é ter consciência de que nada passa desapercebido aos Seus olhos. Andar na presença de Deus é ter todo o ser iluminado pela Sua luz.

É por esta razão que o apóstolo João, o discípulo amado, insiste em que andemos na luz e não nas trevas. Para ele, andar na luz é andar na presença do Cristo ressurreto, tendo o coração iluminado e aquecido pelo Seu Espírito. Andar na luz é experimentar a união do nosso espírito com o Espírito de Cristo. É ter a presença do Cristo vivo tanto em nós como entre nós.

Será possível uma pessoa ter um conhecimento bíblico e teológico e não andar na presença de Deus? Será possível uma pessoa trabalhar para Deus e não estar ouvindo Sua voz e a Sua direção ? Evidentemente que sim. Muitos podem pensar que este seria o caso apenas de pessoas não convertidas ou não regeneradas. Porém, podemos constatar que esta tem sido a experiência de muitos regenerados. Tornaram-se filhos da luz por meio de Cristo, mas não andam como filhos da luz. Pois outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Andai como filhos da luz. Efésios 4:8.

O primeiro resultado do pecado em nossa vida é sempre levar-nos a tentar esconder o que somos. O pecado fez os nossos primeiros pais esconderem-se atrás das árvores do jardim, e desde então, este efeito continua se perpetuando entre nós. Sabemos muito sobre Deus: teologia e doutrina, mas nossa experiência pessoal e afetiva com Ele é excessivamente pobre. Tal pobreza é determinada pela ausência de uma experiência real de amor e aceitação, que muitos de nós jamais tivemos na vida.

Na realidade, ter a salvação não implica automaticamente ter o estabelecimento de uma relação pessoal e afetiva com Deus. Um encontro pessoal e, o cultivo de uma relação de amizade com Deus, são coisas distintas. A vida cristã é caracterizada por pelo menos quatro estágios. O primeiro, é um encontro pessoal com Deus. O segundo, é um relacionamento com Deus. O terceiro é uma participação no propósito de Deus. O quarto, cooperação com Deus em tudo . Entretanto, muitos cristãos não avançam além do primeiro estágio. Por esta razão, o apostolo Paulo admoestou: Desenvolvei a vossa salvação. Filipenses 2.12

Desenvolver a salvação implica em disposição, estar aberto à transformação. É um ato de nossa vontade, ou seja, nos apresentar diante da luz divina expondo nossas mazelas, traumas e dificuldades diante de Deus. Pois, muitos aspectos de nossa própria história experiências negativas que carregamos desde a infância, feridas relacionais construídas ao longo da nossa vida podem estar presentes no nosso mundo interior, determinando nossas relações tanto com os homens quanto com Deus.

O fundamento para todo relacionamento é Deus. Deus é luz, e nele não há trevas nenhuma. 1 João 1:5. Luz transmite a idéia de que Deus é aberto e honesto, de que revela a verdade. A luz também representa bondade e pureza no sentido moral. John Piper afirma: Deus é luz, isto significa que Ele é a fonte e a medida de tudo o que é verdade. Em outras palavras, nada é verdadeiramente entendido até que seja discernido à luz de Deus. Mas todas as coisas manifestas pela luz tornam-se visíveis. Efésios 5:13.

No verso 6 lemos, Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos nas trevas, mentimos, e não praticamos a verdade. O que significa caminhar nas trevas ? No capítulo 2, versículos 8-11, encontramos algumas indicações reais do que isto significa. Aquele que odeia o seu irmão, até agora está em trevas, e anda nas trevas. Por outro lado, aquele que ama o seu irmão permanece na luz. Andar na luz é ter o caráter continuamente transformado pela graça, e ser capaz de amar o outro com o amor de Deus.

De acordo com Spurgeon ‘andar na luz’ significa ter a disposição de conhecer e ser conhecido. Em relação a Deus, isso significa que estamos prontos a conhecer toda a verdade a nossa respeito, e que estamos abertos à convicção de pecado. Tudo que ele nos mostra ser pecado trataremos como pecado sem esconder ou desculpar nada.Andar na luz é simplesmente andar na presença de Jesus. Por conseguinte, não deve haver qualquer escravidão nisso. Ter atitude constante de deixar que Ele ilumine nosso caminho e nos mostre o que se passa em nosso intimo. Andar na Luz é viver a partir do amor incondicional.

O maior interessado em ter o mundo iluminado com a Luz de Cristo é Aquele que no início de tudo disse: Haja Luz. Em outras palavras, Deus estava em Cristo, iluminando o mundo para nos trazer de volta e nos manter sempre junto Dele. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. João 1:9. O objetivo de Deus ao enviar o seu Filho ao mundo, foi fazer com que as trevas fossem dissipadas, e assim, que o Seu próprio propósito fosse alcançado. Disse Jesus: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida. João 8:12

Porém, a saúde do nosso relacionamento com Deus é um reflexo do nosso relacionamento com o próximo. Todo obstáculo entre eu e outra pessoa, por menor que seja, é obstáculo entre eu e Deus. Mas se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado. 1 João 1:7.

Como dizia um monge: “quanto mais me aproximo da luz, mais enxergo a minha pecaminosidade”. Quando andamos sob a luz, constatamos a nossa constante inclinação para o pecado e, enxergamos como pecado, as situações e sentimentos que nunca antes havíamos considerado como tal. Por essa razão, podemos ser tentados a ocultar o pecado e nos esquivar de andar na luz. Mas o texto continua trazendo a possibilidade de arrependimento e confissão: “Se confessarmos os nossos pecados ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça”. 1 João 1:9.

Andar na luz é permanecer em Jesus, e verdadeiramente experimentar “não mais eu, mas Cristo”. É ter um relacionamento dinâmico, vivo e transformador, o que nos faz cada vez mais parecidos com Deus. É caminhar com o olhar fixo na face de Jesus, reconhecendo que ele é suficiente para todas as nossas necessidades. É experimentar a graça curadora, restauradora, santificadora em todas as áreas de nosso ser. É poder enxergar toda a nossa história na perspectiva da soberania de Cristo, trazendo um novo significado para todos os momentos de nossa vida. É viver em confiança total na vida ressurreta de Jesus, que nos coloca em perfeito contato com o propósito de Deus, manifestando sua luz no mundo.

Solo Deo Glória

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