quarta-feira, 21 de março de 2012

DOIS HOMENS, DOIS DESTINOS





Havia certo homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo e que, todos os dias, se regalava esplendidamente. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio. Lucas 16:19-21

Jesus contou esta parábola que salienta dois homens. Dois homens, com dois rumos. São duas vidas que seguem sentidos contrários. Estes homens são da mesma raça, filhos do mesmo pai, Abraão. Ambos são judeus. Vivem no mesmo país e na mesma cidade. Os dois tinham algumas semelhanças, mas várias diferenças. A última semelhança foi a morte. Ambos morreram. Embora fossem tão diferentes em suas vidas, os dois chegaram ao mesmo fim. Este é o destino de todos os homens.


Eles eram muito diferentes. Um era rico, o outro mendigo. Um comia com fartura as iguarias requintadas, enquanto o outro se satisfazia com o sobejo, com as migalhas que caíam da mesa do rico. O nobre se vestia com roupas de grife, o mendigo com os seus andrajos. A pele do homem rico era lustrosa e sadia, mas a de Lázaro era coberta de chagas. Com muita probabilidade, mãos macias, de criadas treinadas, massageavam, com cremes do mar Morto, o corpo nédio do ricaço, enquanto a língua dos cães lambia as feridas do pobre indigente. Nas diferenças, aqui na terra, só no nome o pobre levou vantagem. Jesus chama um de rico, e o pobre de Lázaro. O rico parece que tinha tudo, mas não tinha nome. O pobre era destituído de quase tudo, mas era conhecido pelo seu nome. Lázaro era a forma grega de Eleazar, no hebraico, Deus nos auxilia. Lázaro era pobre, mas tinha nome e tinha Deus como seu arrimo. O rico se bastava, porém ficou incógnito. Era apenas um rótulo. Valia pelo que tinha. Não era um substantivo próprio, apenas um adjetivo.
Mas, como falamos anteriormente, ambos morreram. A morte não poupa ninguém. Morreu primeiro o mendigo, mais fraco, debilitado pela vida. Porém, foi carregado pelos anjos para o Paraíso. A Bíblia não fala de seu sepultamento. Não tinha dinheiro para comprar caixão e terreno em cemitério. Não tinha parentes nem aderentes. Morreu como indigente. Contudo, teve um séquito de anjos. O céu estava presente no seu transporte. Morreu também o rico, e foi sepultado. Certamente, teve enterro com pompas. Teve gente importante carregando seu esquife. Velório de bacana é concorrido. Mas não tinha a carruagem de Deus fazendo o transporte. Foi direto para o inferno. Que paradoxo há entre aqui e lá!

Ambos morreram, Lázaro e o rico. Entretanto, Lázaro foi para o Paraíso e o rico para o inferno. Os destinos são diferentes. Um foi salvo e o outro estava perdido. Será que a pobreza salva e a riqueza manda para o inferno? Esta é uma questão muito apreciada por alguns. Há um grupo de religiosos que pensa que a pobreza e o sofrimento servem para purificação dos pecados. Ser pobre é uma virtude e ser rico é um defeito. Já vi pregação que sustenta a pobreza como meio de salvação. Alguns defendem que é impossível um rico se salvar, baseando-se na palavra de Jesus: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Marcos 10:25. É verdade. Um rico que confia em sua riqueza como fonte de merecimento, ou que depende de sua riqueza para negociar a salvação, está totalmente perdido. Jesus foi específico: Filhos, quão difícil é para os que confiam nas riquezas entrar no reino de Deus! Marcos 10:24b. Porém, não há perdição de rico por causa de sua riqueza, nem salvação de pobre por causa de sua pobreza. A salvação, do ponto de vista bíblico, é totalmente pela graça, sem qualquer ingrediente humano. Deus não salva uma pessoa por ser pobre, nem condena alguém por ser rico. A salvação de Deus é obra absoluta da graça imerecida e do seu amor incondicional.

Lázaro foi salvo porque confiou totalmente na suficiência da graça de Deus. O rico foi para o inferno por causa do seu pecado de incredulidade. Lázaro dependeu das misericórdias de Deus. O rico era um auto-suficiente. Humildade e orgulho nada têm a ver com pobreza e riqueza. Há muitos pobres orgulhosos, como também, há ricos humildes. O orgulho fala de uma pessoa que se basta, que se apoia em seus próprios méritos. A humildade aponta para aquele que, se vendo indigno, depende completamente da graça de Cristo. Por isso, a Bíblia ressalta: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Tiago 4:6b. A humildade... é simplesmente a percepção da completa nulidade, assina Andrew Murray. O grande contraste existente entre os dois homens da parábola não é a riqueza e a pobreza, mas o orgulho e a humildade. Um era incrédulo e não confiava na graça de Deus, o outro dependia totalmente da suficiência da graça. Do ponto de vista de Deus, o rico era pobre e o pobre era rico. Há valores que enriquecem os pobres e outros que empobrecem os ricos. Não basta ter uma grande fortuna, é preciso ser afortunado com as riquezas soberanas de Deus. O homem sem nome armazenou muito tesouro, mas quando as coisas boas desta vida lhe foram tiradas, ele não tinha nada com que atravessar o portão. O pobre mendigo só conseguiu, aqui na terra, ajuntar moscas sobre suas chagas, mas ainda assim, sua fé tinha crédito nos bancos celestiais. Os melhores amigos de Deus são os homens humildes.

A história dos dois continua atrás das cortinas. Jesus deu uma pala do que acontece depois do desenlace. O que sabemos do outro lado da vida foi contado por Jesus. Lázaro, de férias eternas, goza as delícias da plenitude divina. No seio de Abraão, ele usufrui de todas as bênçãos que a graça faculta. Mas o pobre rico, que parece nunca ter erguido os olhos, de repente levanta sua cabeça e lamenta-se com a quentura do aquecedor. O termostato do inferno vive quebrado e a estufa assa sua alma. O calor o atormenta. Ele, que teve tanta mordomia, agora, em razão da secura, suplica pelos favores de um mendigo, que viveu desprezado em sua porta. Orgulho, no inferno, é patético. O comando da terra se torna em queixa e lamentação, ainda que em tom de autoridade: manda a Lázaro... Apreciador de boa bebida, tenta refrescar sua garganta com uma lambida na ponta do dedo do pobre pedinte, umedecido com gotas de água. Que tragédia! O inferno é desolador. Tanta fartura na terra e tanto tormento nesta sauna sem suor. Seu clamor por misericórdia veio tarde demais. Não há ponte do inferno para o céu e o abismo entre os dois é intransponível. Por outro lado, a misericórdia só liga o céu e a terra. Não há qualquer transação entre o Paraíso e o inferno, pois a misericórdia está associada aos homens falidos em suas chances. Não existe habeas-corpus para prisioneiros eternos. O tempo da oportunidade fechou sua porta e não há chave que abra esta fechadura. Tudo que precisamos decidir, com relação à salvação, fica por conta da existência na terra.

O tolo ainda continua tentando alternativas para o seu egoísmo. Lembra de sua família, de seus cinco irmãos, e propõe uma solução fantástica: Pai, eu te imploro que o mandes à minha casa paterna... a fim de não virem também para este lugar de tormento. Lucas 16:27-28b. A pedagogia do inferno sempre quer mudar a metodologia de Deus. A reivindicação advogava a transigência dos propósitos divinos. Mas, a resposta do céu é categórica: Eles têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. Lucas 16:29. Não há trambiques nos critérios espirituais. A salvação de Deus será sempre pela graça e por meio de sua Palavra imutável. Deus não faz concessões: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos. Lucas 16:31. Da mesma forma que Jesus é a única pessoa que pode salvar os homens, a Bíblia é o único livro que revela, claramente, Jesus como a salvação. Ignorar as Escrituras é ignorar Cristo e a salvação. Não há alternativa: O caminho mais curto para entender a Bíblia é aceitar o fato de que Deus está falando em cada linha. A Bíblia é um livro escrito com o sotaque de Deus e, se não damos crédito a este livro, não temos outra escolha. O destino destes dois homens foi traçado pela acústica. Um ouviu a Palavra de Deus, o outro nada ouviu. A fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus. Romanos 10:17.

Solo Deo Glória

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