domingo, 22 de abril de 2012

A VISÃO CELESTIAL

"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial". Atos 26:19
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O apóstolo Paulo, em sua defesa perante o rei Agripa, faz alusão à visão celestial que o marcou definitivamente em toda a sua jornada terrena. Ele foi um homem demarcado, no caminho de Damasco, pela revelação de Jesus Cristo crucificado e ressurreto.


Saulo era um fariseu convencido, convincente e fanático. Foi um perseguidor implacável da Igreja, até o momento desta súbita visão. Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Atos 9:3-4.


Esse judeu apaixonado viajava com outros correligionários exaltados na busca dos cristãos dispersos, para persegui-los e exterminá-los. De repente, uma aparição imprevista. Jesus resolveu dar as caras no caminho e mudar a agenda deste maníaco religioso.


A visita era bem reservada, ainda que ele estivesse andando na companhia de um contingente de sectários, também odientos como ele, porém só Saulo teve aquela visão. Isto aponta para a exclusividade desta revelação. Os seus companheiros de viagem pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém. Atos 9:7.


O Senhor queria ter uma prosa em particular com Saulo e, para isto, revelou-se apenas a ele. Os “cúmplices”, bem ali, ficaram de fora da reunião, embora ouvissem a voz, não tinham ideia do que ocorria. A revelação de Abba é sempre subjetiva. Ele trata com cada filho individualmente. O Pai não fala com bandos, mas com cada um de per si.


Neste encontro temos uma apresentação exclusiva para um homem escolhido. A visão especial tem como objetivo especificar a seleta eleição de Saulo e a sua missão como mensageiro do evangelho aos gentios. Era uma reunião acordada nas eras eternas.


A visão da pessoa de Cristo mudou, por completo, o caráter de Saulo. O “vidente” físico ficou, evidentemente, como um cego, enquanto o “ceguinho” tornou-se um profeta, vendo o que pouca gente vê no reino de Deus. Depois da visão celestial caíram as escamas dos seus olhos e, em seguida, Paulo passou a enxergar a suficiência do evangelho da graça.


Paulo avistou a singularidade do evangelho como ninguém, garantindo que vira a Cristo ressuscitado, ao enumerar várias testemunhas deste fato: e, afinal, depois de todos, foi visto também por mim, como por um nascido fora de tempo. 1 Coríntios 15:8.


A visão celestial mudou a sua visão terrena. Saulo era um cego espiritual, ainda que fosse um vidente religioso; enquanto Paulo acabou se tornando em um novo homem de visão, esclarecido pela revelação celestial. Quando viu que as pessoas que ele vinha perseguindo eram autênticas encarnações do Cristo ressurreto, tudo mudou em sua vida.


Por meio desta visão, o religioso Saulo foi convertido no apóstolo Paulo. O perseguidor da Igreja foi transformado num perseguido pelo judaísmo. A religião perdeu um dos seus promotores mais importantes e o evangelho ganhou o seu principal propagador.


A falta da visão celestial bem clara leva o povo a perecer aqui na terra. Aquele que não sabe para onde vai, ou está totalmente perdido, ou, já chegou, e mesmo assim, não sabe onde está. Sem um objetivo definido, ninguém sabe qual é o seu destino. A questão básica de qualquer viagem é o alvo a ser alcançado. O nosso alvo é: Cristo crucificado.


A visão desta igreja é: “conhecer a Cristo crucificado e fazê-lo conhecido em todo o lugar, por meio da graça”. Aqui temos uma visão celestial que precisamos enfocar com a maior diligência e realidade espiritual possíveis. Não há nenhum outro alvo maior do que este, para tratar, neste mundo, com os egos inflados e inchados.


A vida cristã se baseia, acima de tudo e de todos, em conhecer, pessoal e intimamente, a Cristo Jesus crucificado e ressurreto, através da graça plena: antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno. 2 Pedro 3:18. Esta ordem e, nesta ordem, é fundamental para o desenvolvimento saudável e maduro da verdadeira vida espiritual.


Sem o crescimento na graça, não há o adequado crescimento em Cristo. Aliás, fora da graça não há a menor noção, nem crescimento em Cristo. Disse George Herbert, “o conhecimento não passa de estultícia, a não ser que seja orientado pela graça”. Justiça e direito são o fundamento do teu trono; graça e verdade te precedem. Salmos 89:14.


Quando Cristo se encarnou como o Verbo de Deus, ele veio pleno de graça e verdade, suprindo a deficiência de nossa condição humana. Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. João 1:17.


Pela graça, nós cremos na pessoa e obra de Cristo crucificado. Pela graça, nós somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem. Pela graça, nós desenvolvemos a nossa salvação, uma vez que, ela mesma financia e patrocina, tanto o nosso querer como o efetuar, segundo a boa vontade de nosso amado Abba.


Conhecer a Cristo crucificado é um assunto pessoal, ensinado de modo particular pela Escola permanente do Espírito Santo, favorecido e subvencionado somente pela graça suficiente do Cordeiro de Deus. Não se trata de uma educação preliminar, ou como querem alguns, simplesmente, um jardim da infância da fé cristã.


Se alguém disser que o novo nascimento é o inicio da vida cristã, esta pessoa encontra-se totalmente equivocada. Tudo começa em Deus, na eternidade passada, e culmina em Deus, na eternidade futura. Sendo assim, a nossa eleição, vocação, justificação e vivificação precedem à fé, ao arrependimento, ou seja, à conversão e à regeneração.


O nosso teste na história é antecipado por fatos espirituais eternos. A redenção das almas, pelo sangue do Cordeiro de Deus, foi notória antes da fundação do mundo, (1Pe 1:17-21), embora, o Cordeiro tenha sido imolado apenas nos alicerces do crônos. Mas, deste sacrifício, não tomam parte aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Apocalipse 13:8.


A visão celestial tem a ver com a realidade espiritual em sua dimensão eterna. Conhecer a Cristo crucificado é uma avaliação que parte antes do Alfa e vai até depois do Omega, ou seja, é um assunto de eternidade a eternidade, de modo contínuo e constante.


O conhecer a Cristo crucificado, além de ser eterno, é, também, compartilhado. Não basta eu conhecê-lo. É preciso que Cristo seja conhecido, deste modo, pelo maior número de pessoas. Quem foi beneficiado pelos favores do evangelho da cruz, torna-se um evangelista. Não é cabível ao salvo não se interessar pela salvação dos ensimesmados.


Não basta conhecer a Cristo crucificado e ressurreto, como o nosso estilo de vida cristã. Agora, é imperioso, na prática, fazê-lo conhecido a todos e em todo o lugar, por meio da graça, isto é, rigorosamente, pela graça. “Tudo é pela graça na vida cristã, do início ao fim”, já dizia D. Martyn Lloyd-Jones, mas é bom relembrar, pois muitos objetam.


A vida eterna é definida por Jesus, como o conhecimento íntimo e relacional dele mesmo e do seu Pai, o Deus absoluto e singular. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. João 17:3.


Ninguém poderá conhecer o Pai, senão pelo Filho. Ninguém poderá conhecer o Filho, a não ser através da sua expiação na cruz com o Filho, isto é, com Cristo. Conhecer a Cristo crucificado é o auge da realidade espiritual na Bíblia, destinada à fé cristã.


Para o apóstolo Paulo, o fundamento do evangelho encontra-se na loucura da cruz de Cristo. Ele não avistava outra realidade mais significativa do que a extravagância da cruz, por isso, colocou a ênfase de sua visão celestial, nestas palavras imorredouras. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. 1 Coríntios 2:2.


Tanto o seu saber teológico como a sua ética pessoal se baseiam na excelência da pessoa e obra de Cristo crucificado. Para ele, a sua própria glória reside nesta ocorrência: Mas longe esteja de mim, gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:14.


Se alguém supõe que existe alguma sabedoria maior do que em Cristo crucificado, então eu gostaria de sublinhar este texto, dentro do seu contexto, como a grande visão celestial que norteou a vida do apóstolo Paulo: Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória; mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. 1 Coríntios 2:6-9. Glória ao Pai por tão grande visão celestial.


Solo Deo Glória

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