sábado, 21 de abril de 2012

O DEUS INCANSÁVEL


Não sabes, não ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode esquadrinhar o seu entendimento. Isaías 40:28.

Por definição, Deus não precisa de coisa alguma. Ele não carece de nada. Se ele precisasse de algo, seria um ser necessitado, em que faltava alguma coisa; porém, na Bíblia ele se manifesta por sua aseidade, isto é: um ser que se basta a si mesmo. Deus não precisava criar nada do que existe para se realizar.


Ele não requer qualquer realização. O Deus coletivo, revelado no seu nome Elohim; (um plural majestático e mais abrangente do que um aumento quantitativo) é a realeza real realizada realmente por sua natureza Divina.


A Trindade se satisfaz a si mesma. Nela não há carência em seu íntimo, nem solidão em seus relacionamentos. Além do que, só o Deus triúno, todo suficiente, é capaz de satisfazer a carência de todos os carentes.


Deus é o eterno antes da criação e nele não há os efeitos do tempo. Ele nunca envelhece, nem se desgasta. Não há entropia na eternidade, por isso, ele é o mesmo, tão eterno no princípio quanto o é no fim, já que ele nunca será mais do que é, uma vez que é sempre o mesmo em qualquer tempo ou fora dele.

Para a Divindade não há passado, nem futuro. Há um presente permanente; um tempo que não tem tempo, nem compasso, nem cronômetro, nem espaço. Deus não se cansa e jamais se fatiga. Ele nunca perde energia de seu ser.

Depois de ter criado o universo, Deus continua o mesmo, sem a exclusão de um átomo sequer de energia do seu ser Divino. Ele não se consome por qualquer ação que fizer.

A Trindade é laboriosa, mas não se exaure. Trabalha sempre sem jamais sentir cansaço ou enfado. O descanso do Deus trino na criação não é o de férias remuneradas por tempo de serviço, muito menos o de um empregado que saiu da empresa por causa de estafa. O descanso era apenas a conclusão plena da sua obra perfeita.

Em Deus não há stress, mas em suas ações há um certo strike, como num jogo de boliche. Ele derruba toda presunção que quer entender e explicar a grandeza do seu trabalho. Ele trabalha e não se cansa, mas nós, seres arrogantes, ficamos cansados só em pensar na grandeza incansável do labor Divino.

Jesus foi muito claro quanto ao trabalho Divino: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. João 5:17.

Aqui também temos uma grande dificuldade de compreensão desta realidade, visto que lidamos com o eterno e o temporal ao mesmo tempo. Fica muito difícil entender o incansável Divino com o cansaço humano. É complicado encontrarmos um Deus exausto no esqueleto humano.

Na dimensão divina, Cristo nunca se cansa, mas em sua condição humana, Jesus se cansou: Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. João 4:6.


Com certeza aqui reside o mistério da redenção. O Verbo encarnado se cansou. O Deus que nunca se cansa, acaba fatigado pela sua natureza humana. Não podemos separar as duas naturezas da pessoa de Cristo Jesus.


Mesmo assim, este era um cansaço que vinha promover o descanso da humanidade consumida pelo enfado do pecado. A encarnação Divina trazia no seu âmago a proposta do descanso para as almas cansadas. Jesus se cansou para nos conduzir ao descanso da sua graça plena, através de nossa morte e ressurreição com ele.


Nisto ele foi incansável até a sua ressurreição. Aquele que é o Eterno e nunca se cansa, entrou no tempo e cansou-se por algum tempo, a fim de produzir um descanso eterno para todos que receberem o seu convite: Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mateus 11:28.

 

Paradoxalmente, o ser humano cansado não aprecia a proposta do descanso oferecido por Deus. O Senhor oferece descanso ao cansado, mas ele não quer: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir. Isaías 28:12.


Para o presunçoso, especialmente o religioso legalista, mais vale um pouco de esforço do que a abundância do descanso. Ele prefere ser um conquistador ao pódio do que ser um herdeiro na rede.


É difícil Sua Alteza se reconhecer um mendigo vivendo da graça, e mais complicado ainda é receber a esmola da misericórdia.


Por causa do nosso sistema pedagógico do mérito e a nossa soberba pecaminosa, fica impossível, para o ego, receber algo que não lhe tenha custado algum esforço, sem antes ser convencido pelo poder do Espírito Santo e pelo quebrantamento por meio das marteladas do sofrimento.


Do ponto de vista espiritual, o ser humano é avesso a tudo o que é rigorosamente gracioso. Ele sempre quer corresponder com alguma participação por menor que seja. A graça o ofende em cheio.


Um morto espiritual não tem nada espiritual para poder contribuir para a sua vida espiritual, pois está morto. Um defunto, fisicamente falando, só evolui em sua podridão, e um morto espiritual, vivendo no pecado, cresce apenas em sua incredulidade pecaminosa.


Ninguém pode viver neste mundo se primeiro não for gerado fisicamente, vindo depois a nascer. Ninguém pode renascer espiritualmente, se antes não for vivificado, pelo poder do Espírito Santo, através da semente divina ou o esperma espiritual que é a Palavra de Deus.


O ser humano natural não busca a Deus naturalmente. Ele é um fugitivo de Deus e amante exclusivo de si mesmo.


O pecado tornou o gênero adâmico inimigo de Deus, criando, ele mesmo os seus deuses à sua imagem e semelhança. Aqueles que foram criados a imagem e semelhança do próprio Criador, agora criam os seus deuses à imagem de sua criação decaída.


Assim, a religião criada pela criatura fraturada pela queda, acaba faturando um saldo positivo aos seus olhos, e criando um sistema de aceitação pelo desempenho. Na religião, o que tem valor é a conduta movida à justiça própria.


Já vimos que Deus, sendo Deus, não pode se cansar. Ele não se desgasta, nem perde energia alguma. Mas o que me assusta em tudo isso é a incansável persistência de Deus em buscar um fugitivo que não lhe quer de modo nenhum.


Vejamos como Deus fala do seu povo, Israel: Quanto mais eu os chamava, tanto mais se iam da minha presença; sacrificavam a baalins e queimavam incenso às imagens de escultura. Oséias 11:2.


Embora o povo continuasse rebelde e sujeito às consequências de sua rebeldia, mesmo assim o Senhor continuava atraindo o seu povo para si. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. Oséias 11:4.

Abba é incansável na busca do filho alongado, eleito para ser conforme a imagem do seu Filho. Ele nunca se impacienta com a demora do fugitivo, pois em sua graça, ele sabe quando agir para que o pródigo caia em si e volte para o aconchego daquele que nunca desiste de amar incondicionalmente.


O Deus infatigável nunca se cansa em amar o inamável com o seu amor imorredouro. O verdadeiro amor nunca se cansa de amar o sujeito amado.

O amor de Deus não perde o tempo de validade e nunca caduca. Por outro lado, amor condicional é troca. Puro comércio. Uma condição positiva, seja ela qual for, pressupõe mérito, e este desqualifica a graça.


Qualquer valor pessoal, por mais insignificante que seja, invalida a obra da graça de Deus manifesta em Cristo Jesus. Sendo assim, o Deus da graça financia graciosamente a humilhação do arrogante, para que, pela graça, o quebrantado receba a suficiência de Cristo como única forma de sua aceitação pelo próprio Deus.


Deus, em sua incansável paciência, salva o pecador indigno pela graça, convencendo-o do pecado, por meio do Espírito Santo; santifica o salvo, também pela graça eficiente, mediante a vida de Cristo em seu interior; e quebranta o que está sendo santificado, pela mesma graça, através dos sofrimentos, a fim de que este quebrantado seja, de fato, a morada do Altíssimo, sobre a terra.


Deus trabalha o tempo todo incansavelmente. Ele nunca descansa, mas também não se cansa na obra da redenção daqueles que foram predestinados para serem conformes a imagem do seu Filho.


Tendo Deus começado uma boa obra na vida de alguém, certamente vai terminá-la. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. Filipenses 1:6.


Depois de vermos a incansabilidade Divina em sua natureza e em suas ações, temos, contudo, que apresentar uma área em que Deus se mostra cansado. É uma metáfora desconcertante. As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Isaías 1:14.


O Deus incansável se cansa desta adoração vazia e deste ritualismo sem qualquer significado. O Deus que nunca se cansa fica cansado com a nossa religiosidade humanista e totalmente oca.


Aqui precisamos fazer uma avaliação criteriosa. Será que o nosso culto não está sendo motivo de enfado Divino? Precisamos averiguar a nossa atitude de adoração diante do expressado cansaço de Deus em relação aos nossos rituais antropocêntricos e vazios.


Ó incansável Pai, dá-nos o adequado senso de adoração diante do teu trono de graça. Faze-nos verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Amém.


Solo Deo Glória

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