domingo, 8 de abril de 2012

A GRAÇA NO BANCO DOS RÉUS 1

“Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é mais graça.” Romanos 11:6
Nada é mais essencial, fundamental e inegociável para a fé em Jesus Cristo e em seu evangelho do que a graça. Tipificando, a graça é como uma das pernas de Deus que se alterna com a outra chamada misericórdia, em todo movimento de Deus em nossa direção. Antes de prosseguirmos em nossa reflexão, entendemos ser importante uma definição de graça.

O sentido desta palavra tem se desgastado ao longo dos anos e, atualmente, é difícil encontrar pessoas que entendam o verdadeiro significado da palavra graça. Isto não quer dizer que a tenham omitido dos jargões corriqueiros da cristandade, pois continua fazendo parte do linguajar cristão. Mas, mesmo com a fala aparentemente correta, é comum verificar sua utilização para representar o oposto de seu significado original, como por exemplo, a expressão “estou pagando por uma graça recebida”.

Poucas coisas podem ser tão confusas como a expressão acima. Outra sentença que suscita certa confusão é “graça barata”.Dietrich Bonhoeffer popularizou esta expressão. É indiscutível o caráter e a contribuição de Bonhoeffer para igreja e para o povo alemão durante a segunda guerra mundial. E fica clara a sua intenção ao utilizá-la; a de combater aqueles que usavam do conceito de graça, como um meio para viver uma vida mergulhada, acostumada e conformada com o pecado de viver para si.

O problema surge quando a expressão “graça barata” suscita uma impossibilidade em atribuir valor no que se refere à graça de Deus. Alem de carregar em si uma incoerência lógica, pois, se é graça, não tem custo e se é barata já não é graça, ainda que o custo seja baixo.

Ao contrario do que muitas pessoas pensam, a graça representa a extrema valorização da obra de Deus consumada em Cristo a nosso favor, algo que é imensurável em valor. O que o Pai fez em Cristo Jesus, não pode ser obtido por preço, tendo em vista a grandeza de sua preciosidade. Nunca poderia ser desfrutado por nenhum de nós, a não ser que nos fosse concedido por graça.

Para algo imensurável em valor, qualquer tentativa de por preço, se constitui na mais alta afronta, além de representar a desvalorização do inestimável. No caso em questão, por ser de dimensões infinitas e eternas, como é a graça de Deus, o ato de valorar se constitui também num ato de desvalorização de proporções infinitas e eternas. Quanto mais tentamos comprar o favor de Deus, mais exposta fica a nossa ignorância a respeito do evangelho da graça.

Sendo assim, alguém arriscaria por um preço na vida daquele que criou e sustenta todo o Universo pelo poder de sua palavra? Quanto você tem em caixa para recompensar o Deus Criador do céus e da terra pela obra de oferecer a vida de seu filho como sacrifício na cruz do Calvário, com o objetivo gracioso de fazê-lo uma nova criatura, um filho e herdeiro dEele?

Ou quais são as habilidades e qualidades inerentes a você, ou seja, que fazem parte de sua essência, qualidades estas que não tenha recebido ninguém, mas como um ser pseudo- eterno e auto-divinizado, só exista em você? Que possa de alguma maneira, representar uma novidade para Deus, a ponto de suscitar nEle sua cobiça, revelando toda a carência de um Deus, que diante das posses e qualidades de um presunçoso ser humano, não tenha outra alternativa a não ser, lhe propor uma troca, uma barganha?

Em sua relação com o homem, Deus, não tem como existir, ser e fazer nada, a não ser movido por seu amor, sustentado por sua graça e misericórdia. Talvez, seja justamente por sua fundamentalidade inegociável, no que se refere à verdade do evangelho, que ela, a graça, tenha sido tão atacada no curso da história.

Esta atitude, de querer recompensar Deus, faz parte de uma filosofia satânica do mundo que quer fazer o homem igual a Deus, e Deus um mentiroso, mantendo a proposta da serpente no Éden. Além de ser contrario à glória de Deus, intenta, através de sutilezas, tirar a glória de Deus que se dá, para colocá-la no homem, exaltando sua capacidade de adquirir. Porem, não conseguem responder a pergunta de Deus. “Quem primeiro me deu a mim para que Eu possa restituí-lo?” Jó 41:11ª .


Em resumo, a ação de Deus em nosso favor não nos custa nada, e se custasse, jamais poderíamos pagar.

Hoje a graça, bem como aqueles que vivem em sua dimensão e seus pregadores, encontram-se no banco dos réus. Estes frequentemente são contados entre os hereges. Mas isto não é de agora. Desde a encarnação da Graça entre nós, aquele que foi chamado de: a graça, a verdade, o caminho, a vida, ou seja, Jesus Cristo o filho de Deus, a história se repete. “Pois a lei veio por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo”João 1:17 “...Eu sou o caminho, a verdade e a vida...”João 14:6ª

Na história da igreja, muitos irmãos morreram ou sofreram perseguições por terem seus nomes associados a esta “criminosa” de alta periculosidade, chamada Graça. Vários personagens conhecidos como, o apóstolo Paulo, santo Agostinho, Lutero e outros, além de incontáveis anônimos da graça, foram perseguidos e muitos perderam suas vidas por anunciar a boa nova de Deus. “... o Deus de toda graça, que em Cristo Jesus vos chamou a sua glória eterna...” 1Pedro 5:10ª .

Mas qual é a acusação que pesa sobre a graça? Em primeiro lugar, a graça é acusada de subversiva, pois pode representar um ato de extremo amor por parte de Deus em relação ao homem, lançando fora todo o sentimento de medo do homem em relação a Deus. Algo que inviabilizaria a sua obediência a Deus, que no mundo religioso é sustentada pelo medo, mas não é assim no reino de Deus. “E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor. Quem está em amor está em Deus, e Deus nele.” “No amor não há medo. Antes o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo produz tormento. Aquele que teme não é aperfeiçoado em amor.” 1 João 4: 16 e 18

Acaso tem sentido uma obediência produzida pelo medo? Ou ainda, seria isto obediência de fato? Só em Nárnia congelada; só num mundo que jaz no maligno. Se o evangelho de Deus fosse nestes termos, não representaria nenhuma novidade. Desde que o mundo é mundo, o forte impõe a subordinação e a obediência aos mais fracos pela ameaça que produz o medo. Sendo assim, a mensagem de Deus não poderia ser considerada boa, e muito menos nova, portanto, não poderia ser chamada de evangelho.

No reino de Deus a vida é diferente. No reino do Filho do seu amor, os filhos de Abba, sustentados pela graça, querem obedecer porque amam a seu Pai, porque tiveram suas consciências iluminadas pelo evangelho, a palavra de Deus. Querem obedecer porque morreram para o império do medo e do pecado em Cristo Jesus. “Sabendo isto, que foi crucificado com Cristo o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, a fim de não servirmos mais ao pecado como escravos” Romanos 6:6

Querem obedecer, porque nasceram de novo para o reino do amor. “Portanto se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram tudo se fez novo.” 2Corintios 5:17 .Ainda que muitas vezes não consigam, devido a sua condição humana. “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.”Romanos 7:19. E que apesar de sua condição de fraqueza, andam por fé, não se utilizando a graça pára pecar. “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que a graça aumente? Romanos 6:1. A resposta é “De modo nenhum.”Romanos 6:2ª.

O que percebemos na revelação de Deus em Cristo, é que não existe significado em nenhuma ação, que não seja fruto do amor, ainda que seja um ato de aparente obediência. “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para o sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.” 1Coríntios 13:3

Cristo foi levado aos tribunais porque era a graça entre os homens, porque se dizia o filho de Deus, fazendo-se igual a Deus. E na revelação de Deus expressa em Cristo Jesus, o Deus apresentado era o Deus de toda a graça. Algo intolerável para o sistema religioso do mundo, que não admite de forma alguma um Deus gracioso, no sentido exato do termo. “Vendo-o os principais sacerdotes e seus guardas, gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o!” João 19:6a.


O recado foi dado, por parte do sistema religioso do mundo, tendo Jesus Cristo o Nazareno como exemplo. Qualquer um que se atrever, no mundo dos homens, cegados pelo príncipe deste século, a tomar para si a prerrogativa de deus, e que se manifestar em graça e em verdade, será levado aos tribunais, será crucificado e morto, ainda que seja Deus de fato.

É intolerável para o mundo, com seus valores e qualidades, aceitar tal afronta: um Deus incapaz de tratar com distinção os melhores, desqualificando assim seus méritos. Que trata com dignidade samaritanos, adúlteras, publicanos pecadores e leprosos. Que olha com amor para um ladrão, réu confesso, concedendo-lhe o paraíso. E que ainda diz : “Eu não vim chamar justos, e sim, pecadores ao arrependimento.” Lucas 5:32. É digno de morte tal Deus, bem como seus seguidores e profetas.


 
Solo Deo Glória

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