domingo, 15 de abril de 2012

COMISSIONADOS


Ide, pois, e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; instruindo-os a observar todas as coisas que vos tenho mandado. Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo. Mateus 28:19-20

Este texto é geralmente conhecido pelo nome de “a grande comissão”. Mas, qual é o sentido do termo comissão? Sejam quais forem os muitos conceitos que a missiologia (estudo sobre a missão cristã) traz sobre a palavra comissão, há um princípio que jamais poderá e deverá ser esquecido: toda missão cristã não pode ser outra coisa senão o reflexo da ação de Deus em e através do Seu povo adquirido!

Quem são os comissionados? Comissionados são as pessoas conquistadas pelo amor do Pai presente na obra do Seu Filho e revelada pelo Seu Espírito! São pessoas chamadas para viver, proclamar e ensinar em nome Daquele que as chamou para partilhar da Sua glória. É por esta razão que na igreja de Cristo não existem voluntários predispostos a “tapar brechas” ou “cargos eclesiásticos” mas, chamados a exercer e suportar as cargas de ministérios que foram dados e capacitados pelo Pai.

Através do texto bíblico em questão, podemos constatar que os comissionados são toda a Sua igreja e em todas as épocas! A missão destes comissionados consiste em glorificar a Deus, vivenciando, proclamando e ensinando sobre a revelação da Pessoa e Obra de Deus em Cristo e capacitados pela ação do Seu Espírito! Logo, na comissão dada pelo Pai Celestial não há nada que possamos fazer por nós mesmos! Nossa nova vida (regeneração) e comissão (ministérios) são somente e inteiramente o reflexo da ação de Deus em Cristo!


Mergulhando neste texto bíblico podemos observar que o verso 19 traz uma forma verbal que sinaliza um tipo de ação inequívoca e certeira que deveria ser praticada pelos discípulos de Cristo. É um modo verbal definido pela realidade de um fato crido e praticado. Expressa a maneira como o “ide” deveria ser praticado: eles deveriam “indo sempre”. É um sentido imperativo (uma ordem) para se praticar uma ação de modo dinâmico e jamais estático.

Aqui o ide de Jesus é uma ação que não transmite a ideia de término ou cessação de atividade. Fazer discípulos a maneira de Deus em Cristo deve ser encarado como atividade constante da igreja cristã e sem se preocupar com a limitação de tempos na cronologia da história humana. O pronunciamento de Jesus é direcionado àquelas pessoas que praticariam ação do “ide” durante toda a trajetória terrena da igreja de Cristo.

A conjunção portanto nos dá uma ideia de continuidade daquilo que Jesus havia falado com o ensinamento que virá a seguir. Aqui, a palavra portanto tem a função de ligar enfaticamente a ordem inicial do ide a outra ação subsequente, dando-lhe a conotação de continuidade dos propósitos de Deus na e para a vida de Seus discípulos.

O verbo fazei discípulos também pode ser traduzido como “façam com que sejam Meus discípulos”. Na verdade os discípulos são feitos pala ação Divina e o mandado é dado aos discípulos no sentido de serem os pregadores e ensinadores de um discipulado que só O Senhor pode fazer! Só Deus faz discípulos em Cristo e pela ação do Seu Espírito. Neste caso a função da Sua igreja é “sair a campo” com esta comissão.

Também é importante ressaltar que nos primórdios do cristianismo não havia “classes de discipulado” por tempo determinado e com direito a certificados de conclusão. Existiam discípulos e discípulas sendo “moldados” à imagem do Filho de Deus! Muitas vezes importamos modelos criados pela pedagogia humana e os incorporamos às atividades da igreja de Cristo sem muito critério bíblico. É imprescindível que examinemos a essência, a sequência e a maneira de Deus fazer Seus discípulos, para que não façamos nada que não seja orientado pela Sua palavra revelada.

O discipulado é uma atividade que também envolve o treinamento de pessoas por tempo “indeterminado”. Discipular é um imperativo ou uma ordem a ser cumprida por toda a “era da evangelização” sem que haja a preocupação com a sua cessação por parte da igreja.

Ninguém faz de ninguém um discípulo de Cristo. Também ninguém nasce discípulo. Discípulos são feitos exclusivamente pela ação do Pai! O discipulado de Cristo é um trabalho que enfatiza a extensão grandiosa e sem fronteiras desta ação de Deus em alcançar e moldar pessoas de todas as nações e povos do mundo. Por isso, é impossível à igreja medir ou determinar o número de pessoas a serem alcançadas pelo evangelho e os limites geográficos da sua comissão. Fica evidente que neste texto bíblico não existe a ideia de que O Pai faça alguma distinção entre pessoas de qualquer nação organizada ou grupo étnico isolado da suposta “civilização humana”.

O verbo batizando-os, também pode ser traduzido como batizando esses seguidores. Isto dá uma ideia muito interessante sobre a ordem das coisas. O batismo seria uma ordenança para tornar pública a experiência de uma pessoa já conquistada pelo Espírito Santo! Ou seja, o batismo seria ministrado somente aos que já eram discípulos de Cristo!

O batismo era uma cerimônia celebrada e repetida cada vez que novos discípulos eram ganhos para Cristo. É como se fosse um ato de obediência para com aqueles que já haviam respondido positivamente ao “ide” e ao “fazei discípulos”. Batizando-os é um verbo particípio presente ativo, denota uma ação de natureza contínua, devendo ser praticada sempre e em obediência à comissão dada pelo Mestre.

O jogo de palavras em o nome traz-nos uma ideia que salienta a instrumentalidade do “nome” ou da pessoa de Jesus como o fundamento e agente do ato batismal mencionado acima. Todas estas ações anteriores (ide, fazei discípulos e batizando-os) seriam legitimadas pela participação da Trindade Santa: em o nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. O batismo bíblico é uma ação da Trindade! A sequência formada pela preposição, pelos artigos e substantivos que identificam a Trindade enfatiza claramente de quem vem a autoridade de quem comissiona a igreja para ir, fazer discípulos e batizá-los.

É importante deixar claro que a primeira palavra desta sequência, a preposição em, dá-nos um sentido de “inclusão” numa nova realidade. Tal batismo simbolizaria externamente uma realidade espiritual interna de inclusão da pessoa discipulada e batizada na obra de Deus em Cristo e pela ação do Espírito. Inclusão legitimada com a participação ativa de toda a Trindade.

O verso 20 começa com o verbo instruindo-os que possui também uma força “imperativa” em relação aos seus futuros seguidores, ou seja, trata-se de outra ordem ou mandado expresso e enfático da parte de Jesus. A ordem agora é que os Seus discípulos sejam encarregados da continuidade do projeto evangelístico de Deus: instruir pessoas vivas para Deus que irão viver a nova vida que receberam. É gente viva ensinando pessoas vivas a viverem a vida de Cristo!

É uma “classe de gente que tem a vida do Filho”. Esta é a instrução bíblica relacionada somente aos viventes seguidores, aptos a receber o ensino sobre o evangelho de Cristo. A ação deveria ser contínua por causa do modo particípio e do tempo presente. Também, fica claro que a ação de ensinar deveria ser da responsabilidade dos que já fossem discípulos de Cristo.

Aqui temos também a ideia da obediência como forma de resposta da parte da turma de novos discípulos de Cristo. Estes novos discípulos deveriam refletir uma postura de contrapartida ativa àquilo que lhes fora ensinado sobre as verdades concernentes ao evangelho. É uma questão de compartilhar do evangelho através da vida de Cristo gerada nestes novos discípulos.
Instruindo-os a observar


significa que a verdadeira vida só se transmite através da Vida de Cristo. Observar não tem o sentido de mera transmissão de conceitos sobre Deus. A expressão pode ser traduzida como instruindo-os a conservar ou manter aquilo querendo ressaltar a vida que já lhes foi implantada: a vida de Cristo!O tempo presente e a voz ativa aplicada definem que a ação de discipular pessoas deveria ser uma prática constante da parte dos discípulos.

A palavra toda ou todos significa que o ensino do evangelho deveria ser observado em todas as suas implicações da vida humana. O ensino de Cristo deveria invadir todas as dimensões da vida de Seus discípulos. A expressão que é uma forma enfática de se falar de todas as coisas que deveriam ser ensinadas, em outras palavras, os ensinos de Jesus deveria ser transmitidos em sua “integralidade”. A revelação bíblica sobre o evangelho de Cristo não aceita as fragmentações teológicas que somos capazes de produzir.

O verbo eu ordenei ou tenho ordenado nos dá a ideia de uma ação sem tempo definido para acabar, ou melhor, de uma prática ininterrupta até segunda ordem, de forma certeira e de uma maneira que implicaria em benefício aos Seus discípulos. Ou seja, é como se Jesus estivesse dizendo assim: “Eu ordeno que vocês certamente transmitam o Meu ensino, por tempo indeterminado, como forma de benefício para vocês mesmos”.

E, por fim, o verbo eu estarei sempre convosco ou estou sempre vocês menciona uma ação inerrante, certeira, constante e ativa que tão logo estará sendo praticada por Jesus Cristo. Estou ou estarei, são as possibilidades de se traduzir para a nossa língua uma realidade (ação) constante da parte do nosso Mestre. As palavras todos os dias já nos trazem uma dimensão temporal até o cumprimento previsto pelo Pai e uma ênfase na segurança em relação à presença de Cristo em Seus discípulos.

A última palavra desta série merece uma atenção especial pelo fato de ser um elemento determinante, indicando um tempo futuro e indefinido, sendo traduzida por até e que tem a função de fechar o pronunciamento de Jesus como últimas instruções aos Seus discípulos. Ressalta que a soberania sobre o “tempo” pertence em última instância a Deus. Podemos traduzir este jogo de palavras assim: o fim dos tempos ou até que os tempos sejam completados.

Por aquilo que esse conjunto de palavras representa, temos a nítida ideia de que o tempo de Deus está além da sequência e da medição da cronologia humana. O tempo de Deus é um tempo sem tempo. É a eternidade invadindo a finitude da história humana. Mais do que as dimensões de tempo, de espaço e de matéria, Jesus se apresenta “a garantia da presença de sua Pessoa e Obra” naqueles que foram conquistados pelo Seu amor e são reproduzidos através da Sua vida! Amém!

Solo Deo Glória

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