sábado, 7 de abril de 2012

UM HOMEM ESBANJADOR


O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo. Mateus 13:44.


Alguns termos desta parábola já foram interpretados pelo nosso Senhor, exemplo: o “campo” é o “mundo” - aqui entendido como o globo terrestre no qual vivemos. Não podemos interpretar que este homem que achou o tesouro é o pecador, a não ser que a salvação seja pelas obras. Caminho este, contrário à revelação da palavra de Deus. O homem aqui, e em todas as sete parábolas do capítulo treze de Mateus é o próprio Jesus.


Com a parábola do fermento (v. 33) o Senhor dá por terminado as Suas instruções à multidão. Ele não mais se encontrava com a multidão na beira do mar - local para onde Ele se dirigiu quando saiu de casa para falar aos homens sobre as coisas concernentes ao Seu reino: saindo Jesus de casa, assentou-se à beira-mar. (v. 1)


Agora, Jesus regressa a casa com os Seus discípulos: despedindo as multidões, foi Jesus para casa, (v. 36) e ali, em intimidade com eles, revela-lhes o verdadeiro caráter e propósito do reino dos céus.


Jesus despede a “multidão” - símbolo de um mundo agitado. E, em casa, com os Seus discípulos, o Senhor comunica-lhes os pensamentos de Deus acerca dos acontecimentos que estavam por vir na terra.


Nesta parábola vemos um profundo poder de atração que o tesouro exerceu sobre aquele homem. O tesouro induziu aquele que o tinha descoberto a desfazer-se de tudo para obtê-lo. Com o propósito de adquirir o tesouro este homem compra o campo. O reino dos céus era para ele - e para aquele que compreendesse o propósito de Deus - como um tesouro escondido num campo. Um homem encontra o tesouro e compra o campo a fim de possuí-lo.


O campo não era o seu propósito, mas sim o tesouro que nele estava escondido. Então, quem poderia vender tudo que tinha para comprar aquele campo? Os descendentes de Adão? O que tem o homem que ele possa “vender” para adquirir algo de valor?


Considerando o estado espiritual do homem, não há nada nele que possa ser aproveitado. Todos os descendentes de Adão estão irremediavelmente enfermos, espiritualmente falidos e longe de adquirir algo de bom.


Também, a parábola mostra este homem se sacrificando para obter o tesouro. Isto não se harmoniza com a revelação da palavra de Deus, que diz: Não há quem faça o bem, não há nem um sequer. Romanos 3:12b.


Assim sendo, esta parábola não fala do homem, como descendente de Adão, que vende tudo que tem e compra o tesouro. Não. Este homem é o nosso Senhor Jesus. Esta parábola fala do amor esbanjador de Deus pelo homem. E, Aquele que “vendeu” tudo para comprar o campo, foi o nosso Senhor Jesus Cristo. E, o tesouro é a Sua Igreja.


Com efeito, Cristo tudo deixou. Não só Se aniquilou a Si mesmo para nos remir, mas também renunciou a tudo o que lhe pertencia como homem, como o Messias na terra: as promessas, os Seus direitos reais, a Sua vida, para tomar posse do mundo, que continha em si este tesouro, o povo que Ele amava.


Cristo redimiu o mundo no qual vivem os homens e, ao mesmo tempo, também os comprou, não com prata ou ouro, mas com o seu precioso sangue, o Cordeiro sem mancha: Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós que, por meio dele, tendes fé em Deus, o qual o ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória, de sorte que a vossa fé e esperança estejam em Deus. 1 Pedro 1:18-21.


A glória de Deus pedia que tudo fosse abandonado a fim de possuir este tesouro, porque nada havia no homem que Cristo pudesse tomar para Si. O Senhor encontrava prazer em deixar tudo para possuir este tesouro, por ser o que o Seu coração procurava.


Aquilo que não encontrava em qualquer outra parte, encontrou-o no que Deus lhe deu, no reino. Não comprou outra coisa. Antes de ser achado este tesouro, Ele não tinha nenhum motivo para se desfazer de tudo o que tinha. Mas logo que achou, tomou uma decisão: Abandona tudo por amor ao tesouro.


Esta parábola, no seu pleno alcance, não se aplica senão a Cristo: E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade! E vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. João 1:14.


Atraído por um profundo amor por nós, o Senhor deixou Sua glória, abandonou todos os seus privilégios e veio habitar entre nós, na forma de homem, cheio de graça e de verdade.


Deus-Homem presente na terra - é o próprio amor que se revela em favor dos pecadores. O Verbo Se fez carne e habitou entre nós na plenitude da graça e da verdade. Eis o grande fato de que o evangelho nos fala: Deus em graça, fonte de toda a benção Se expressando em amor e misericórdia para com os pecadores.


Considerando o homem como perdido, espiritualmente morto, então, a graça surge com o poder de dar a vida. O Salvador dos perdidos; Perdoador dos culpados; Vivificador dos mortos atraiu-os para Si, não exigindo nada do homem, mas mostrando a Sua graça em redenção.


Atraído por um profundo amor pela humanidade, atrai a humanidade para Si no momento em que Ele foi levantado naquela cruz: E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim mesmo. João 12:32.


Levantado na Cruz, entre Deus e o mundo, e levando sobre Si o nosso pecado e toda a culpa do pecado, Cristo se tornou o ponto de atração para todos os homens. Levantado da terra como vítima perante Deus, e agora, não mais sendo da terra como vivente sobre ela, Jesus tornou-Se o centro divino para todos.


A cruz é o fundamento que Deus apresentou. E, aqueles que pela fé, e movidos pela graça, crerem na sua inclusão no corpo do Senhor Jesus, por meio dessa inclusão, encontram a Vida pela morte do Salvador. Não haveria expiação para a culpa; não haveria vitória sobre a morte sem a morte de Cristo.


A chave que destranca todo o mistério do reino dos Céus é a revelação de que fomos inseridos ou incluídos pela atração em Seu corpo, no momento de Sua crucificação.


O Calvário é o sublime lugar de encontro entre Deus e os homens. Ele traz consigo a lei da vida para todos nós. “Morrer é lucro”.


A mesma cruz que nos une com Cristo e nos liga com Deus, nos separa do mundo. Um homem morto, evidentemente, morreu para o mundo; e por isso, tendo morrido com Cristo acabou para o mundo; e tendo ressuscitado com Cristo, está ligado com Deus no poder de uma nova vida, uma nova natureza.


Estando assim inseparavelmente unido com Cristo, ele participa da Sua aceitação com Deus, e na sua rejeição pelo mundo: Basta ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor. Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos? Mateus 10:25.


Enfim, os discípulos deviam estar imbuídos da convicção de que o Senhor não tinha vindo para trazer paz à terra, pelo contrário, seria a divisão, até mesmo no seio da família. Mas Cristo devia ser mais precioso do que pai ou mãe, e até mesmo que a própria vida: Quem acha a sua vida, perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa, acha-la-á. Mateus 10:39.


Não há como seguir na vida cristã sem a identificação na morte com Cristo. A vida de vitória é uma vida substituída. Não mais eu, mas Cristo. Portanto, o segredo de uma vida vitoriosa não está em imitar o Senhor, tentar fazer o que Ele fez, nem tão pouco pedir poder para ser como Cristo, amar como Ele amou perdoar como Ele perdoou. Não.


O segredo de uma vida vitoriosa, ou o caminho de Deus está revelado nestas palavras: Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2:20. Assim, não é o nosso imitar a Cristo nem o receber do Seu poder, mas ser simplesmente substituído.


No dia em que você ouviu que morreu com Cristo, foi uma notícia maravilhosa. E agora, noutro dia, você ouviu que não precisa viver a vida Cristã. Esta foi também uma notícia grandiosa. Este é verdadeiramente o genuíno Evangelho.


Cristo se deu por nós, ele nos adquiriu por um alto preço. Somos membros do Seu corpo que é a Sua Igreja. Cristo é o Cabeça da Igreja sobre todas as coisas: E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas. Efésios 1:22.


Será Seu gozo, em toda a eternidade, exibir a Igreja na glória e beleza com que Ele a dotou, pois a sua glória e beleza serão apenas o Seu reflexo. A beleza do tesouro nada mais é do que a glória de Cristo.


 

Solo Deo Glória

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