domingo, 1 de abril de 2012

MENTALIDADE DE FILHO MAIS VELHO




Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos. Lc.15:29

Este versículo faz parte de uma das mais conhecidas e queridas parábolas ensinadas por Jesus, a “parábola do filho pródigo”. Esta parábola, diferentemente da maioria, traz mais de uma mensagem. A mais comentada e pregada é a maneira graciosa com que o pai recebe o filho gastador, que se arrepende após ter dissipado a herança recebida. Ou seja, trata da mensagem do amor perdoador que Deus tem para com os pecadores.

Alguns títulos dados a esta passagem são: “a parábola do filho pródigo”, “o filho pródigo”, “a parábola do filho perdido”. Observamos, com isto, que a ênfase dada a este texto recai sempre sobre o filho mais novo. Todavia, no versículo 11, Jesus inicia sua fala da seguinte maneira: “certo homem tinha dois filhos”. Sendo assim, nosso olhar precisa estar atento não somente ao que acontece com o filho mais novo, que é o mais famoso da história, mas também ao que acontece com o filho mais velho.

E para entendermos o que acontece com o filho mais velho, é preciso destacar o contexto em que Jesus conta esta parábola. No início do capítulo 15 de Lucas, está a explicação das três parábolas que se seguem. Jesus estava, mais uma vez, falando a publicanos e pecadores.

O texto nos diz que essas pessoas aproximavam-se de Jesus, achegavam-se a ele. Jesus não só os recebia, como também fazia refeições com eles (verso 2). Na verdade, não era Jesus quem procurava por estas pessoas, mas elas é que eram atraídas por Jesus. Por outro lado, ao mesmo tempo que Jesus atraía os proscritos da sociedade, ele também incomodava, em muito, um outro tipo de pessoas, os religiosos daquela época, ou seja, os fariseus e os escribas. Para estes, ajuntar-se com pecadores, até mesmo para ensinar a Lei, era algo proibido. Comer com estas pessoas, então, era o mesmo que dar boas-vindas a elas e isto era algo inaceitável.

Esta introdução do capítulo 15 do Evangelho de Lucas é essencial para o entendimento da parábola do filho pródigo. O cenário, segundo o qual ela é contada, é este: Jesus atraía pecadores e comia com eles; e este seu comportamento incomodava os religiosos, que viviam murmurando. Por causa desta reclamação dos religiosos, Jesus, então, apresenta três parábolas. A primeira (versículos 3 a 7), que é a da ovelha perdida. A segunda (versículos 8 a 10), que é a da dracma perdida. E a terceira (versículos 11 a 32), que é a do filho pródigo. A essência da mensagem das duas primeiras parábolas é mostrar o amor de Deus pelo pecador e que é Ele quem busca o perdido e não o inverso. Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. João 6:44. Nós o amamos porque ele nos amou primeiro. 1 João 4:19.

Destas três parábolas contadas por Jesus, a parábola do filho pródigo é a mais detalhada. Nesta parábola, existem duas seções principais. A primeira, do versículo 11 ao 24, mostra a graça de Deus, através do seu amor pelos pecadores, que é a força motriz do Evangelho. A segunda seção, do versículo 25 ao 32, mostra a indignação do filho mais velho, resumida na seguinte fala: há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos.Lc 15:29.

Alguns estudiosos sugerem que esta parábola possui um título inadequado, que ela deveria se chamar a “parábola dos dois filhos perdidos”, numa clara indicação de que, muito embora o filho mais velho estivesse em casa, seu coração estava, de fato, muito distante do pai, tão perdido quando o mais novo. Alguns até sugerem que esta passagem deveria se chamar “a parábola do filho mais velho”, numa demonstração de que a mensagem transmitida refere-se mesmo a este último. A intenção maior é destacar a reação inesperada e egoísta daquele que, aparentemente, era o filho obediente e bem comportado.

Já foi sustentado, por alguns, que a porção do texto que trata do filho mais velho (versículos 25 a 32) deveria ser dissociada da primeira seção, que trata do filho mais novo. Este é um raciocínio equivocado. Em verdade, as duas seções precisam ser lidas e interpretadas como sendo uma só. É bem possível afirmar que o alvo desta terceira parábola é exatamente contrastar as reações do pai e do filho mais velho diante do pródigo, ou seja, a passagem do filho pródigo existe para se poder demonstrar e evidenciar a reação e a mentalidade do mais velho.

Quando nos lembramos do murmúrio dos escribas e fariseus (versículo 2) diante das confraternizações de Jesus, conclui-se que a parábola do filho pródigo tem mesmo este sentido de tratar com os religiosos: todos os excessos do filho mais novo não lhe fecharão a entrada do céu, pois ele veio arrependido até seu pai; mas todas as virtudes do filho mais velho, de nada lhe aproveitarão. Portanto, a passagem trata não dos pecados como empecilho para o céu, mas, por incrível que possa parecer, das “virtudes”. Na realidade, é a justiça própria escondida pelo manto da virtude que impede o filho mais velho de ser reconciliado com o pai. Digo-vos que, assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Lucas 15:7.

Jesus quis ensinar que Deus recebe e perdoa pecadores. Todavia, mais ainda, quis ensinar que aqueles que se consideram justos aos seus próprios olhos, estes não têm lugar no reino dos céus. Os escribas dos fariseus, vendo-o comer em companhia dos pecadores e publicanos, perguntavam aos discípulos dele: Por que come [e bebe] ele com os publicanos e pecadores? Tendo Jesus ouvido isto, respondeu-lhes: Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores. Marcos 2:16-17.

Na verdade, Jesus quer mostrar com esta parábola que tanto um filho como o outro estão perdidos, que ambos se rebelaram, ainda que um tenha feito isso ao ser muito mau e o outro, ao ser extremamente bom. O irmão mais novo representa o homem que não conhece a Deus, está separado Dele e vive por seu autoconhecimento.



O irmão mais velho representa o fariseu, o religioso que faz da sua conformidade moral e de seus esforços, um meio para se salvar. O pecado do irmão mais novo é imaginar que não precisa de Deus. O pecado do irmão mais velho é imaginar que é o próprio Deus, o seu próprio Salvador.


Tendemos a nos ver sempre como o filho mais novo, como se fôssemos o filho pródigo e nos regozijamos ao ver o amor acolhedor de Deus, nosso Pai, à nossa disposição.


Todavia, é muito comum também imaginar que não somos tão estimados por Deus, como deveríamos ser; que não somos tão reconhecidos por Ele, como deveríamos ser; que não somos tão recompensados por Ele, como deveríamos ser; que não somos tão valorizados por Ele, como deveríamos ser; e nos indignamos quando alguém é mais estimado, mais reconhecido, mais recompensado, mais valorizado, do que nós. Esta é a mentalidade do filho mais velho. E ele está tão perdido quanto o filho mais novo.



O autor Timothy Keller, ao falar desta parábola, argumenta que era o orgulho por suas boas ações, e não o remorso por suas falhas, que impedia o filho mais velho de participar do banquete da salvação.


O problema do filho mais velho era seu farisaísmo, o modo como ele usava seu histórico moral para colocar Deus e as outras pessoas em uma posição de dívida e para poder controlá-los, para que fizessem o que ele desejava.


O que separa o filho mais novo de Deus é, obviamente, o pecado. E pecado significa errar o alvo, significa incredulidade. O que separa o filho mais velho de Deus é o pecado da justiça própria. As Escrituras dizem que a nossa justiça é como “trapo de imundície”. Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia. Isaías 64:6a.


O filho mais velho lembra o pai que tem direitos, pois o serve há muitos anos e nunca o desobedeceu. Em outras palavras, quer mostrar o quanto é justo e merecedor.


Por outro lado, o que nos reconcilia com o Pai celeste é a justiça de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (Romanos 3:22).


 A justiça de Deus nos foi imputada, mediante a obra redentora de Cristo, na cruz do Calvário. É assim que somos justificados de nossos pecados, é assim que somos tornados justos diante de Deus. A grande pergunta que nos é feita e não quer calar é: como pode o homem ser justo para com Deus? Jó 9:2b. Não há meio algum de se obter esta justiça, a não ser pela graça do Pai. Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Romanos 3:24.



Onde você está baseando a sua salvação? Em seus méritos? No seu tempo de “serviço” para Deus? Você busca controlar Deus por meio de sua obediência a Ele e a sua lei? Você transforma sua própria história pessoal em créditos colocando Deus em uma posição de devedor? Você é um justo que não precisa de arrependimento? Lembre-se que a salvação é pela graça, unicamente pela graça. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Ef. 2:8-9.



Em nossa história pessoal com Deus, começamos como filhos mais novos, pródigos. Mas, antes de terminarmos a história como filhos mais novos que retornam à casa do Pai, arrependidos e perdoados, mudamos de história, e assumimos a posição e a mentalidade de filhos mais velhos, cheios de justiça.


Só que os filhos mais velhos também estão perdidos. Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Tito 3:5-7.


Lembre-se que, agora, a justiça de Deus se manifestou SEM lei. Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção. Rom 3:21-22.


Se você tem alguma coisa do que se orgulhar; acha que tem algum direito para reivindicar; ou, sente-se, algumas vezes, injustiçado; você está transitando no perigoso território das obras, isto é, você está na posição do filho mais velho, contabilizando seus feitos. Contudo, a salvação não vem de obras. A glória é somente de Deus e Ele não a divide com ninguém.




Solo Deo Glória

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