domingo, 15 de abril de 2012

A GRAÇA NO BANCO DOS RÉUS 3



“E por que não dizemos, como alguns caluniosamente afirmam que o fazemos: Pratiquemos males para que venham bens? A condenação destes é justa. Romanos 3:8.”
Ha uma imensa dificuldade no gênero humano caído, em compreender a graça de Deus. O Dr. Martyn Lloyd Jones, ao falar sobre a pregação do evangelho da graça de Deus, faz a seguinte afirmação: “Se ao pregar o evangelho da graça de Deus em Cristo Jesus, você não for mal interpretado, muito provavelmente você não pregou a graça”. Por meio de alguns trechos da carta de Paulo aos romanos podemos identificar que, o apóstolo também passava por dificuldades como esta em seu ministério.

Algumas pessoas ou grupos - através do que Paulo dizia ou escrevia - promoviam distorções da graça, como a que podemos verificar no texto de Romanos 3:8. Pedro, em uma de suas cartas, também já havia identificado esta situação: E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais escrituras, para a própria destruição deles. 2 Pedro 3: 15 e 16.

Temos procurado já há algum tempo refletir sobre algumas questões referentes ao evangelho da graça. Uma destas questões faz referência a esta espécie de ódio da graça, o qual faz com que ela seja levada ao banco dos réus. Quando digo graça, quero dizer graça plena, o tipo de graça que não necessita de nenhum complemento, porque é exatamente a graça plena que suscita este ódio. Verificamos nos estudos passados que existe uma graça que não é graça, pois não subsiste ao teste da palavra de Deus que diz: E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça. Romanos 11:6

Não é desta pseudo-graça que estamos falando, e sim, da graça escandalosa, que reflete a loucura de um Deus extravagante em amor que, a partir da cruz, subverte toda sabedoria humana e
o pretensioso senso de justiça do homem. Que lança por terra todo o medo de Deus, pela grandeza do Seu amor por nós; que tira de nós a tentação de nos aproximar Dele por interesse, tendo em vista que Ele, de maneira irrevogável, nos dá tudo em seu filho Jesus Cristo, para que também, não tenhamos medo de sofrer perdas.

Esta é Graça que nos liberta da escravidão do culto à performance, isto porque, Nela, encontramos um Deus único, que não está a procura de atletas espirituais para se divertir com eles, os observando na arena do coliseu da religião, enquanto digladiam entre si para ver quem será o maior no reino de Deus, mas, um Pai, que veio buscar apenas filhos. Filhos que choram com fome, aos quais Ele tem que alimentar. Filhos que muitas vezes lhe dão trabalho, os quais Ele tem o prazer de educar e ensinar o caminho da vida.

Estes filhos são a expressão da carência, para os quais Ele tem que ser tudo. Filhos que têm a ousadia, em Cristo Jesus, de lhe chamarem de Pai, pois não estão sustentados em si mesmos, em seus êxitos, méritos ou justiça, e sim, no êxito, nos méritos, na justiça e vitória de Cristo na cruz do calvário, assim como, no amor do Pai que foi expresso em Cristo crucificado, amor este do qual nada mais pode separá-los.

Esta questão de graça é algo decepcionante para os halterofilistas da fé, pois gostariam de ser aceitos por Deus, não como filhos carentes ou crianças dependentes, mas sim, por sua própria força e capacidade de resistência; pelos dízimos que acham que dão para um deus de chapéu na mão, pelas horas de fome que passam, mostrando o quanto são resistentes a fim de manipular esse deus e convencê-lo a satisfazer mais um de seus desejos egoístas.


Muitos têm a coragem de chamar isto de jejum, e por isso tropeçam na palavra de Deus que diz: Em verdade vos digo que qualquer que não receber o reino de Deus como menino, de maneira nenhuma entrará nele. Marcos 10:15.


Para estes, amar maltrapilhos e fracos é uma desonra para Deus. A projeção que eles fazem de Deus é outra. Seria motivo de grande alegria para eles, se Deus, ao invés de ser o Pai gracioso revelado em Cristo, fosse uma espécie de adestrador de cães, capaz de recompensá-los cada vez que conseguissem fingir-se de mortos ou, quem sabe, um personal training que, a partir de exercícios cada vez mais pesados, pudesse deixá-los cada vez mais robustos, se achando melhores que os demais.

Paulo estava sofrendo com estes falsos irmãos, pois, como não tinham a revelação da graça, lidavam com ela, não a partir do novo homem inaugurado em Cristo Jesus, mas a partir do velho homem, Desta forma, não conseguiam entender o conceito de “graça”, por isto afirmavam que o que Paulo dizia era: “façamos o mal, para recebermos o bem”.Para estes a graça é loucura. Porém, para os alcançados pela graça, loucura é a distorção do evangelho que eles promovem.

E, por não entendê-la acham que a graça é um convite à promiscuidade, à mentira e ao pecado, pois desconstroem os mecanismos de punição sustentados pela “lei”, que até então era a ferramenta mais eficaz para contê-los. No fundo, têm medo da liberdade, uma vez que não conseguem ver que a liberdade que a graça traz é justamente a libertação do pecado: Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna. Romanos 6:20.

Se não passarmos por uma experiência de cruz de novo ser, como diz Paul Tillich, é impossível assimilarmos a graça e, continuaremos sob o domínio do prazer no pecado. Somente a experiência de cruz nos dá o prazer na palavra de Deus. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Romanos 7:22.


Sem cruz não existe verdadeiramente a percepção da graça. O problema é que a cruz pressupõe a morte do pecador e muitos querem apenas o ambiente cristão, os valores cristãos, a ética cristã, mas ninguém quer morrer, “negar a si mesmo dia a dia tomar a sua cruz e seguir após Jesus”. Nasce ai a primeira razão pela qual a graça é tão odiada, como ressalta Karl Barth.


O mais chocante é como uma expressão como esta de romanos 3:8 pode fazer sentido no meio cristão. Tal hipótese tinha que soar para nós como o absurdo dos absurdos, tal como: Deus é o diabo”. A simples idéia de que a pregação da graça servirá de estimulo para o pecador viver em pecado, demonstra um total desconhecimento da graça, alem de apontar para uma necessidade patente de cruz.

A solução que a igreja tem encontrado para resolver este problema é igualmente absurda. Ao invés de crermos no evangelho da graça e pregarmos com convicção e coragem, crendo que o evangelho da graça de Deus em Cristo Jesus é o único poder capaz de transformar um filho do diabo em filho de Deus, tal como revelado nas escrituras: Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego. Romanos 1:16; preferimos adulterar a mensagem mantendo o pecador como está; nos contentando com um filho do diabo bem educado e com um evangelho 99% gracioso, que nada mais é do que um pseudo-evangelho, 100% falso e ineficaz.

Outro problema que talvez suscite a possibilidade da expressão de romanos 3:8 perder sua qualificação de absurdo, é que os filhos de Deus têm deixado de meditar na palavra de Deus. Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Mateus 22:29. Com isto acabam vivendo “por vista”e deixando de lado o único modo de vida pelo qual um filho de Deus pode viver em comunhão com seu Pai. Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé. Romanos 1:17. A fé traz a realidade eterna e escatológica do nosso novo ser em Cristo para a nossa temporalidade histórica.

Para compreendermos a mente Paulina, temos que ter a fé como leito hermenêutico. Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem. Hebreus 11:1.

 É realidade que não vemos, mas que podemos viver aqui e agora. Para Paulo tudo estava consumado, ele já havia morrido e também ressuscitado, havia uma convicção trazida pela fé de que:
Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. 2 Cor 5:17.



Mas, o que vemos hoje na igreja é uma conformação com o velho, e um viver por vista. Sentimos falta da luta e do desespero de Paulo descritos no capitulo 7 de Romanos; daquela indignação e inconformidade do apóstolo com a realidade visível do seu pecado. Bom seria se a igreja toda deixasse de lado sua síndrome de Gabriela: “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim” e passasse a viver por fé, buscando ser hoje, o que já é em Cristo. Ser hoje o que já somos em Cristo é não aceitarmos de maneira passiva a realidade adâmica, mas sim, sermos sustentados pela palavra de Deus que afirma: sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos. Romanos 6:6.

Aqueles que são sustentados por Sua graça, seguem em sua jornada continua, na disposição de esquecer as coisas que para traz ficam e, olhando atentamente para Jesus, respondem positivamente ao chamado de Deus para, buscar o prêmio da soberana vocação de serem como Cristo, deixando para traz tudo o que se refere ao velho, andando a cada dia a partir do novo, buscando sua identidade em Cristo e não em Adão.

Tudo isto se daria sem o peso que tal tarefa poderia representar, pela antecipação que surge da aceitação plena de Deus em Cristo Jesus. Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito. Romanos 8:1 E, alem de não haver mais condenação, por estarem em Cristo, serão sustentados pela vida de Cristo. Porque a lei do Espirito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Romanos 8:2. Isto representará sim, um desespero para a carne, Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Romanos 8:7, ao mesmo tempo em que produz um prazer enorme no nosso homem interior.

A questão que se apresenta é a seguinte: onde você está? Em Cristo ou fora Dele? Se você está em Cristo, é porque o seu velho ser morreu em Cristo, Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo. Colossenses 2:20. Se você afirma que Cristo é sua vida, é porque você foi ressuscitado com Cristo. Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Colossenses 3:1. Pense nisto: se você morreu com Cristo as regras não têm mais sentido, assim como não tem mais sentido a vida velha se você é uma nova criatura. É assim que a vida é. É assim que a nova vida é.


Solo Deo Glória

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