Dizia mais Absalão: Ah! Quem me dera ser juiz na
terra, para que viesse a mim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que
lhe fizesse justiça! Também, quando alguém se chegava para inclinar-se diante
dele, ele estendia a mão, pegava-o e o beijava. Desta maneira fazia Absalão a
todo o Israel que vinha ao rei para juízo e, assim, ele furtava o coração dos
homens de Israel. 2 Samuel 15:4-6.
Todos nós somos carentes. Uns mais, outros menos.
Estes mais carentes são mais exigentes e mais vulneráveis. Vivem sempre com um
crédito inegociável. O mundo inteiro deve a eles somas impagáveis. São pessoas
cheias de direitos e reivindicam toda atenção do universo para suas causas.
Freqüentemente se constituem o centro dos jogos emocionais, que visam captar os
holofotes para suas histórias. São escravos de cuidados especiais e manipulam os
outros com os seus gemidos. Vivem na berlinda psicológica e são atores
especialistas no palco dos aproveitadores emocionais.
Os mais carentes sofrem constantemente de uma dor
profunda. Eles mitigam cuidados especiais. Chamam a atenção com comportamentos
bizarros. Sentem-se desprezados e carecem de mel. A criancice faz parte deste
comportamento pegajoso das pessoas mais exigentes. Por isso mesmo, elas estão
mais sujeitas ao envolvimento dos caçadores políticos. Ninguém é mais vulnerável
aos ardis do comércio afetivo do que os mais carentes. Como estão constantemente
cobrando atenção, ficam visíveis no mercado da escravização psíquica e se tornam
dependentes de farelos emocionais.
Absalão era um estrategista da alma humana. Ele
furtava o coração do povo israelita com as teias do humanismo. Sabendo que as
pessoas precisavam de cuidados, ele se apresentava como um solucionador dos
negócios e, com gestos afetuosos, conquistava os sentimentos dos mais carentes.
Com a habilidade dos mestres humanistas, valorizava a pessoa e, com lisonjas,
supria as deficiências daqueles que sangravam em suas comiserações. Ele sabia
apoderar-se das vítimas e, com a esperteza dos dominadores, aliciava os pobres
coitados como correligionários. Ninguém atrai moscas com vinagre. É preciso
adoçar a massa, e o pote de mel é o melhor chamariz.
Remo Cantoni
disse que
as raízes da adulação se encontram na vaidade de quem
sente prazer ao ser louvado. Por trás das louvaminhas há permanentemente uma
forte necessidade de ser louvaminhado. Gambá cheira gambá. Os doentes
emocionais se agrupam e os líderes destes magotes reforçam a conduta enfermiça
com um incentivo chantagista. O jogo da mendicância por louvação reflete uma
parceria de gente com um alto grau de rebaixamento. Os inferiorizados precisam
de jiraus. As pulgas são os maiores acrobatas do planeta, e parece que o salto
mais alto é aquele que exibe a maior necessidade de superação. Sendo o homem extremamente desprovido de suficiência, tudo aquilo que lhe
agrega algum valor acaba por merecer sua atenção. O comércio nesta área é muito
rico e um dos negócios mais lucrativos do mundo. Comprar as pessoas com os
níqueis da afabilidade barata e torná-las aliadas às causas pessoais mais
injustificáveis, gera dividendos vantajosos no mercado dos escravos apaixonados.
O apóstolo Pedro foi conciso: Movidos por
avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias. 2Pedro
2:3a. Muitos ficam encabrestados facilmente com os
confetes. As iscas do gabo artificial servem para atrair os incautos famintos
por atenção. Como todos nós somos necessitados de cuidados emocionais, qualquer
migalha de zelo acaba despertando o apetite pela aceitação e, acorrentando-nos
nas algemas invisíveis dos elogios comerciais, nos mantêm subalternos aos
interesses do egoísmo mais primitivo.
O pecado nos fez profundamente carentes. O homem
só encontra verdadeiro significado e satisfação plena em Deus. Nada mais o pode
preencher. Por isso, o homem sem a plenitude de Cristo fica muito susceptível à
menor sinalização de reconhecimento. Cantoni insiste: muito poucos são os que permanecem insensíveis às lisonjas da
aprovação e do elogio, que acariciam o amor-próprio. Somos uma raça viciada
em incenso. Ficamos inebriados com as homenagens e lambemos as mãos daqueles que
nos aplaudem.
Porém, é preciso muita cautela neste terreno. Não
estamos negando a necessidade de incentivo. O encorajamento faz parte de uma
relação saudável. Todos nós carecemos de estímulos no processo da existência.
Não podemos negar a importância do elogio como impulso para o progresso. Mas, no
reino de Deus, incentivar não é a mesma coisa que incensar. O incentivo se
fundamenta no amor e na vontade de ver o outro crescendo para a glória de Deus,
dentro da verdadeira liberdade em Cristo. A louvação é uma teia de aprisionar os
mais carentes, para torná-los lacaios emocionais. O homem que lisonjeia a
seu próximo arma-lhe uma rede aos passos. Provérbios 29:5. As aranhas prendem outros insetos em sua rede, para depois comê-los. Há
muito afago emocional que visa domesticar os sentimentos dos inconformados, para
depois usá-los nos seus objetivos políticos. A adulação é
uma trama ardilosa para as conveniências. Quando temos algum interesse a
preservar ou algum alvo a conquistar, freqüentemente armamos o bote com as
lambidelas que mascaram a picada. Dizem que o morcego sopra antes de golpear, e
depois lambe a ferida. A sensação agradável anestesia a dor da ferrada. O
galanteio, com certeza, faz parte de uma boa paquera e a bajulação é a moeda
diplomática para as conquistas políticas. Não é sem razão que a Bíblia publica:
Ao generoso, muitos o adulam, e todos são amigos de quem dá presentes.
Provérbios 19:6. Há sempre um troco proveitoso nesta
aproximação lisonjeira. Mas a mentira da adulação é decifrada como verdade,
porque o interesse do adulador coincide, dentro de certas proporções, com os
interesses do adulado.
A enfermidade é grave. A alma mais carente vive
como indigente psicológico e os aproveitadores como vampiros emocionais. Neste
contexto, uma pequena sociedade de adulação mútua se desenvolve, para a
manutenção da atmosfera ambígua onde um vínculo de cumplicidade perpetua a
doença. Tanto o adulador como o adulado são escravos de um vício sufocante. O
adulador é o servo de todos os patrões, de todas as idéias e de todas as causas.
O adulado é o criado servilheta dos sentimentos mais distorcidos do caráter
humano. Precisamos de cura. Ninguém pode viver com saúde
emocional sendo subjugado através dos apelos da apreciação. O homem dependente
de consagração precisa ser liberto urgentemente da mania de pódio. Somente os
homens livres da necessidade de consideração gozam uma saúde relacional
verdadeira. Como o crisol prova a prata, e o forno, o ouro, assim, o homem
é provado pelos louvores que recebe. Provérbios 27:21. Quem se delicia com o elogio ou quem se magoa com a crítica precisa
desesperadamente de cura. A cruz de Cristo é a clínica
universal para o tratamento deste mal da alma. Não podemos tratá-lo com
medicação diluída. Só a morte do pecador juntamente com Cristo pode garantir a
cura deste mal tão insidioso. A terapêutica para o mal de louvação tem que ser
radical. Só a morte da raiz da doença pode garantir salvação. Jesus mostra a
profundidade do tratamento com estas palavras: Assim também vós, depois de
haverdes feito tudo quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque
fizemos apenas o que devíamos fazer. Lucas 17:10.
Aqui não há lugar para troféus nem homenagens. Ninguém precisa de aplausos nem
prestígio na platéia dos santos. Todos aqueles que já foram tratados com a
terapêutica do Calvário, sabem muito bem que o único louvor fica voltado para a
tribuna principal onde está assentado o Rei dos reis.
A cura do mal de louvação e da coceira por louvaminhas é imprescindível para o progresso da saúde nas relações do povo de Deus. Sabemos perfeitamente que uma pessoa está liberta espiritualmente quando não fica mais fisgada pelas emoções excitantes dos aplausos nem amofinada com as apelações da crítica. Os salvos sabem que: Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos. Provérbios 27:6. Os santos sarados pela graça de Cristo não se embriagam com as orgias emocionais das ovações nem se deprimem com o veneno acre da censura ríspida. Quando alguém se acha aceito pela graça de Cristo não precisa mais da mera aceitação humana, pois não teme qualquer tipo de rejeição. Aqueles que tiveram a aprovação em Cristo não podem ser pescados com simples louvação. Louvado seja o Senhor que nos salva e nos sara deste mal tão embriagante e tão mesquinho. Amém.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
PESCANDO OS MAIS CARENTES
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