sexta-feira, 30 de novembro de 2012

PESCANDO OS MAIS CARENTES



Dizia mais Absalão: Ah! Quem me dera ser juiz na terra, para que viesse a mim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça! Também, quando alguém se chegava para inclinar-se diante dele, ele estendia a mão, pegava-o e o beijava. Desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo e, assim, ele furtava o coração dos homens de Israel. 2 Samuel 15:4-6.
Todos nós somos carentes. Uns mais, outros menos. Estes mais carentes são mais exigentes e mais vulneráveis. Vivem sempre com um crédito inegociável. O mundo inteiro deve a eles somas impagáveis. São pessoas cheias de direitos e reivindicam toda atenção do universo para suas causas. Freqüentemente se constituem o centro dos jogos emocionais, que visam captar os holofotes para suas histórias. São escravos de cuidados especiais e manipulam os outros com os seus gemidos. Vivem na berlinda psicológica e são atores especialistas no palco dos aproveitadores emocionais.

Os mais carentes sofrem constantemente de uma dor profunda. Eles mitigam cuidados especiais. Chamam a atenção com comportamentos bizarros. Sentem-se desprezados e carecem de mel. A criancice faz parte deste comportamento pegajoso das pessoas mais exigentes. Por isso mesmo, elas estão mais sujeitas ao envolvimento dos caçadores políticos. Ninguém é mais vulnerável aos ardis do comércio afetivo do que os mais carentes. Como estão constantemente cobrando atenção, ficam visíveis no mercado da escravização psíquica e se tornam dependentes de farelos emocionais.

Absalão era um estrategista da alma humana. Ele furtava o coração do povo israelita com as teias do humanismo. Sabendo que as pessoas precisavam de cuidados, ele se apresentava como um solucionador dos negócios e, com gestos afetuosos, conquistava os sentimentos dos mais carentes. Com a habilidade dos mestres humanistas, valorizava a pessoa e, com lisonjas, supria as deficiências daqueles que sangravam em suas comiserações. Ele sabia apoderar-se das vítimas e, com a esperteza dos dominadores, aliciava os pobres coitados como correligionários. Ninguém atrai moscas com vinagre. É preciso adoçar a massa, e o pote de mel é o melhor chamariz.

Remo Cantoni
disse que as raízes da adulação se encontram na vaidade de quem sente prazer ao ser louvado. Por trás das louvaminhas há permanentemente uma forte necessidade de ser louvaminhado. Gambá cheira gambá. Os doentes emocionais se agrupam e os líderes destes magotes reforçam a conduta enfermiça com um incentivo chantagista. O jogo da mendicância por louvação reflete uma parceria de gente com um alto grau de rebaixamento. Os inferiorizados precisam de jiraus. As pulgas são os maiores acrobatas do planeta, e parece que o salto mais alto é aquele que exibe a maior necessidade de superação. Sendo o homem extremamente desprovido de suficiência, tudo aquilo que lhe agrega algum valor acaba por merecer sua atenção. O comércio nesta área é muito rico e um dos negócios mais lucrativos do mundo. Comprar as pessoas com os níqueis da afabilidade barata e torná-las aliadas às causas pessoais mais injustificáveis, gera dividendos vantajosos no mercado dos escravos apaixonados.

O apóstolo Pedro foi conciso: Movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias. 2Pedro 2:3a. Muitos ficam encabrestados facilmente com os confetes. As iscas do gabo artificial servem para atrair os incautos famintos por atenção. Como todos nós somos necessitados de cuidados emocionais, qualquer migalha de zelo acaba despertando o apetite pela aceitação e, acorrentando-nos nas algemas invisíveis dos elogios comerciais, nos mantêm subalternos aos interesses do egoísmo mais primitivo.

O pecado nos fez profundamente carentes. O homem só encontra verdadeiro significado e satisfação plena em Deus. Nada mais o pode preencher. Por isso, o homem sem a plenitude de Cristo fica muito susceptível à menor sinalização de reconhecimento. Cantoni insiste: muito poucos são os que permanecem insensíveis às lisonjas da aprovação e do elogio, que acariciam o amor-próprio. Somos uma raça viciada em incenso. Ficamos inebriados com as homenagens e lambemos as mãos daqueles que nos aplaudem.

Porém, é preciso muita cautela neste terreno. Não estamos negando a necessidade de incentivo. O encorajamento faz parte de uma relação saudável. Todos nós carecemos de estímulos no processo da existência. Não podemos negar a importância do elogio como impulso para o progresso. Mas, no reino de Deus, incentivar não é a mesma coisa que incensar. O incentivo se fundamenta no amor e na vontade de ver o outro crescendo para a glória de Deus, dentro da verdadeira liberdade em Cristo. A louvação é uma teia de aprisionar os mais carentes, para torná-los lacaios emocionais. O homem que lisonjeia a seu próximo arma-lhe uma rede aos passos. Provérbios 29:5. As aranhas prendem outros insetos em sua rede, para depois comê-los. Há muito afago emocional que visa domesticar os sentimentos dos inconformados, para depois usá-los nos seus objetivos políticos. A adulação é uma trama ardilosa para as conveniências. Quando temos algum interesse a preservar ou algum alvo a conquistar, freqüentemente armamos o bote com as lambidelas que mascaram a picada. Dizem que o morcego sopra antes de golpear, e depois lambe a ferida. A sensação agradável anestesia a dor da ferrada. O galanteio, com certeza, faz parte de uma boa paquera e a bajulação é a moeda diplomática para as conquistas políticas. Não é sem razão que a Bíblia publica: Ao generoso, muitos o adulam, e todos são amigos de quem dá presentes. Provérbios 19:6. Há sempre um troco proveitoso nesta aproximação lisonjeira. Mas a mentira da adulação é decifrada como verdade, porque o interesse do adulador coincide, dentro de certas proporções, com os interesses do adulado.

A enfermidade é grave. A alma mais carente vive como indigente psicológico e os aproveitadores como vampiros emocionais. Neste contexto, uma pequena sociedade de adulação mútua se desenvolve, para a manutenção da atmosfera ambígua onde um vínculo de cumplicidade perpetua a doença. Tanto o adulador como o adulado são escravos de um vício sufocante. O adulador é o servo de todos os patrões, de todas as idéias e de todas as causas. O adulado é o criado servilheta dos sentimentos mais distorcidos do caráter humano. Precisamos de cura. Ninguém pode viver com saúde emocional sendo subjugado através dos apelos da apreciação. O homem dependente de consagração precisa ser liberto urgentemente da mania de pódio. Somente os homens livres da necessidade de consideração gozam uma saúde relacional verdadeira. Como o crisol prova a prata, e o forno, o ouro, assim, o homem é provado pelos louvores que recebe. Provérbios 27:21. Quem se delicia com o elogio ou quem se magoa com a crítica precisa desesperadamente de cura. A cruz de Cristo é a clínica universal para o tratamento deste mal da alma. Não podemos tratá-lo com medicação diluída. Só a morte do pecador juntamente com Cristo pode garantir a cura deste mal tão insidioso. A terapêutica para o mal de louvação tem que ser radical. Só a morte da raiz da doença pode garantir salvação. Jesus mostra a profundidade do tratamento com estas palavras: Assim também vós, depois de haverdes feito tudo quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer. Lucas 17:10. Aqui não há lugar para troféus nem homenagens. Ninguém precisa de aplausos nem prestígio na platéia dos santos. Todos aqueles que já foram tratados com a terapêutica do Calvário, sabem muito bem que o único louvor fica voltado para a tribuna principal onde está assentado o Rei dos reis.

A cura do mal de louvação e da coceira por louvaminhas é imprescindível para o progresso da saúde nas relações do povo de Deus. Sabemos perfeitamente que uma pessoa está liberta espiritualmente quando não fica mais fisgada pelas emoções excitantes dos aplausos nem amofinada com as apelações da crítica. Os salvos sabem que: Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos. Provérbios 27:6. Os santos sarados pela graça de Cristo não se embriagam com as orgias emocionais das ovações nem se deprimem com o veneno acre da censura ríspida. Quando alguém se acha aceito pela graça de Cristo não precisa mais da mera aceitação humana, pois não teme qualquer tipo de rejeição. Aqueles que tiveram a aprovação em Cristo não podem ser pescados com simples louvação. Louvado seja o Senhor que nos salva e nos sara deste mal tão embriagante e tão mesquinho. Amém.
 
Soli Deo Glória.

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