Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a
luz. Salmos 36:9.
Deus é luz e nele não há treva nenhuma. 1 João 1:5b. Em
Deus não há obscurecimento. Se houver sombra no âmbito da iluminação divina é
porque um corpo se antepôs diante desta luz. Só algo opaco pode eclipsar a luz.
As sombras no reino espiritual são obstáculos diante da revelação divina. A
mente natural encontra-se impedida do saber celestial.
O Pai nos retirou do domínio da escuridão para o estado da luz
e do amor incondicional do seu Filho. Ele nos libertou do império das trevas
e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a
remissão dos pecados. Colossenses 1:13-14.
O pecado nubla a alma ou anuvia a mente. Uma pessoa vivendo no
pecado reside no vale das sombras escuras da morte sem qualquer sinal de
iluminamento espiritual. Os estorvos da fé são, normalmente, os conceitos
deturpados da razão humanista arrogante. O homem sem Cristo é cego, alem do que,
sem a luz divina, ele não tem possibilidade de revelação espiritual.
O pecado é incredulidade e, consequentemente, cegueira no
espírito. Viver no pecado é viver nas trevas ou ignorância das realidades
divinas. Cristo é o Logos divino e a origem da vida humana. A vida estava
nele e a vida era a luz dos homens. João 1:4. Sem a vida de Cristo não há
luz espiritual e vivemos envoltos nas sombras da razão limitada pelos sentidos.
O Iluminismo que pavimentou a Revolução Francesa, no século
XVIII, foi uma fumaça humanista que turvou a via da iluminação espiritual.
Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 1
Coríntios 2:14. É impossível haver revelação de Deus para uma mente carnal,
contida pelos limites da sua compreensão.
Os iluministas afirmam que a idade média foi uma época de
trevas. Podemos concordar que neste tempo houve um reduzido conhecimento
racional e cientifico, mas, particularmente, não posso concordar que foi uma
temporada de blecaute espiritual. Houve muita bobagem em nome de Deus, embora
muita coisa séria fosse dita pelos verdadeiros cristãos.
Acredito que é agora que estamos vivendo numa estação sombria
deste inverno espiritual, onde o amor vem esfriando de quase todos e um negrume
estúpido tem tomado conta das almas obcecadas pelas emoções sem significado. As
sombras das ilusões cobrem o universo dos sentimentos alucinados, enquanto a fé
na Palavra de Deus se tornou uma matéria rara nos corações do remanescente
atordoado pelos problemas sociais.
Permanecemos no último período da história da igreja.
Laodicéia, a derradeira igreja da descrição apocalíptica, é a temporada final da
narrativa eclesiológica. É uma igreja autossuficiente, que não tem falta de
coisa alguma, embora Cristo esteja do lado de fora. Esta época é uma estação
humanista por excelência, mas é também a era das sombras espirituais.
A fonte da vida espiritual encontra-se em Cristo e nele está a
luz que nos faz ver com clareza a realidade imaterial. Por falta da revelação em
Cristo vivemos de utopias. Uma das ilusões que obscurece a caminhada cristã é a
premissa humanista de que o ser humano é bom. É triste vermos os líderes
religiosos afirmando para os perversos: “vocês são bons”.
Não há uma terapia adequada sem um diagnóstico preciso. Quando
um religioso quis impressionar a Jesus com o seu discurso
baba-ovo, o Senhor foi incisivo com ele: Por que me chamas bom?
Ninguém é bom senão um, que é Deus. Marcos 10:18.
O Mestre queria demover o conceito errado da bondade humana
essencial, além do que, pretendia aniquilar com o mérito embutido nas qualidades
pessoais. O mundo estima os sujeitos pelos seus valores e os elogios servem como
moedas de troca para comprar, por pechincha, escravos baratos. Muitos são
iludidos pelos discursos bajuladores, não obstante, leais são as feridas
feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos. Provérbios
27:6.
A Bíblia não avaliza esta quimera. Não há pessoas boas na
terra. Há sim, pessoas más que fazem coisas boas com algum interesse em jogo.
Jesus foi ainda muito mais claro quando disse: Ora, se vós, que sois maus,
sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos
céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Mateus 7:11. Ele não disse que
somos pessoas do bem. Suas palavras são: ninguém é bom e vós que sois
maus. Isto é duro, mas é a verdade.
Mexer neste assunto é agitar um vespeiro zangado. Dizer que não
somos bons de fato é provocar reações contrárias naqueles que se julgam
realmente plenos de toda bondade. Esta é uma das sombras que assombram os
paladinos do humanismo religioso.
Outra sombra que causa assombração é procurar desvendar a
inconfiabilidade do coração humano. Tenho sido atacado fortemente quando abordo
este tema por aí. Muitos jogam pedra no púlpito que prega o colapso da confiança
humana. Por isso precisamos da luz divina, para podermos ver com mais clareza a
realidade do coração inconfiável. Somos uma raça corrupta.
O ser humano é mau por natureza e falso, por essência. Assim
diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o
seu braço e aparta o seu coração do SENHOR! Jeremias 17:5. Aqui o profeta
não está dizendo que maldita é a pessoa que confia na outra, ainda que isto
também seja verdade. O problema mais sério é a autoconfiança.
Somos uma raça censurável e insincera em consequência do
pecado. A lealdade é fruto tão somente da obra Cristo no coração dos filhos de
Deus, pois mesmo as pessoas mais confiáveis, neste mundo, não são garantidas.
Somente vaidade são os homens plebeus; falsidade, os de fina estirpe; pesados
em balança, eles juntos são mais leves que a vaidade. Salmos 62:9.
Se a autoconfiança é um desastre pessoal causando grandes
desilusões e depressões, a confiança nos outros gera decepções e
desencantamentos. Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do
meu pão, levantou contra mim o calcanhar. Salmos 41:9.
Este salmista se refere a alguém muito próximo que “deu o fora
nele” ou que “o chutou depois de nocauteá-lo”. A expressão idiomática ligada a
este coice tem o mesmo sentido daquele jogo de Jacó que segurava com a mão o
calcanhar de Esaú. Portanto, este significado por trás do pontapé no
salmista é o mesmo engano que Judas demonstrou ao trair o Senhor.
A traição é própria da natureza adâmica. Não há confiabilidade
naquele que não tenha sido regenerado. Não há regeneração sem a morte e
ressurreição do pecador com Cristo. A autoconfiança é um estimulo ao
auto-engano. Afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego está no seu nariz. Pois
em que é ele estimado? Isaías 2:22. Em matéria de confiança, eu não devo me
apartar apenas dos outros enganosos, mas também, de mim mesmo.
A terceira sombra assombrosa neste palco dos humanistas
sacramentados é a dignidade dos indignos. Considerar uma pessoa indigna é algo
que assusta os membros da confraria dos impostores. Somos uma raça em busca da
relevância ou do reconhecimento a qualquer custo.
Ir à cata da dignidade no reino de Deus é nadar contra a
correnteza. Ora, se Cristo, o Senhor do Universo, se esvaziou de sua grandeza,
tornando-se um servo, por que havemos de procurar ser reconhecidos neste planeta
onde ele foi apenas humilhado? Esta é uma questão fundamental para aqueles que o
querem segui-lo de fato.
No reino da graça, o filho que recebe o acolhimento do seu Pai
é aquele que se considera indigno de ser notado como um filho legítimo. E o
filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de
ser chamado teu filho. Lucas 15:21. Mesmo avaliando a sua indignidade, ele
ousa abraçar o seu genitor como pai. Ele é desprezível, embora não deixe de ser
filho. Era um crápula e detestável por todos, mas aceito e amado pelo Pai.
Nenhum filho de Abba que for realmente indigno precisará
buscar a sua dignidade neste mundo, quando se perceber amado por seu
Abba. Foi assim que Jesus considerou os ultrajados que são filhos de
Deus, envolvidos com a causa do Filho do Homem: Bem-aventurados sois quando
os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e
rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. Lucas
6:22.
Em termos espirituais, o grande perigo se encontra na
unanimidade do prestígio ou na caça do reconhecimento da plateia. Aqueles que
buscam a consideração de todos, acabam desconsiderados como membros da família
do Pai. Quem anda a procura dos holofotes dos homens, com certeza, ficará longe
da iluminação do Espírito Santo. Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque
assim procederam seus pais com os falsos profetas. Lucas 6:26.
Os catadores de bondade no lixão da opinião pública, os
defensores da justiça própria e os membros da confraria da honorabilidade são
humanistas que nublam a realidade espiritual com as sombras assombrosas do seu
altruísmo mascarado. Eles são falsos e se assemelham com o sal que não salga e
que, nas palavras de Jesus, nem presta para a terra, nem mesmo para o
monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Lucas
14:35.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 17 de novembro de 2012
AS SOMBRAS ASSOMBROSAS
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