sábado, 17 de novembro de 2012

AS SOMBRAS ASSOMBROSAS

Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz. Salmos 36:9.
Deus é luz e nele não há treva nenhuma. 1 João 1:5b. Em Deus não há obscurecimento. Se houver sombra no âmbito da iluminação divina é porque um corpo se antepôs diante desta luz. Só algo opaco pode eclipsar a luz. As sombras no reino espiritual são obstáculos diante da revelação divina. A mente natural encontra-se impedida do saber celestial.
O Pai nos retirou do domínio da escuridão para o estado da luz e do amor incondicional do seu Filho. Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Colossenses 1:13-14.
O pecado nubla a alma ou anuvia a mente. Uma pessoa vivendo no pecado reside no vale das sombras escuras da morte sem qualquer sinal de iluminamento espiritual. Os estorvos da fé são, normalmente, os conceitos deturpados da razão humanista arrogante. O homem sem Cristo é cego, alem do que, sem a luz divina, ele não tem possibilidade de revelação espiritual.
O pecado é incredulidade e, consequentemente, cegueira no espírito. Viver no pecado é viver nas trevas ou ignorância das realidades divinas. Cristo é o Logos divino e a origem da vida humana. A vida estava nele e a vida era a luz dos homens. João 1:4. Sem a vida de Cristo não há luz espiritual e vivemos envoltos nas sombras da razão limitada pelos sentidos.
O Iluminismo que pavimentou a Revolução Francesa, no século XVIII, foi uma fumaça humanista que turvou a via da iluminação espiritual. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 1 Coríntios 2:14. É impossível haver revelação de Deus para uma mente carnal, contida pelos limites da sua compreensão.
Os iluministas afirmam que a idade média foi uma época de trevas. Podemos concordar que neste tempo houve um reduzido conhecimento racional e cientifico, mas, particularmente, não posso concordar que foi uma temporada de blecaute espiritual. Houve muita bobagem em nome de Deus, embora muita coisa séria fosse dita pelos verdadeiros cristãos.
Acredito que é agora que estamos vivendo numa estação sombria deste inverno espiritual, onde o amor vem esfriando de quase todos e um negrume estúpido tem tomado conta das almas obcecadas pelas emoções sem significado. As sombras das ilusões cobrem o universo dos sentimentos alucinados, enquanto a fé na Palavra de Deus se tornou uma matéria rara nos corações do remanescente atordoado pelos problemas sociais.
Permanecemos no último período da história da igreja. Laodicéia, a derradeira igreja da descrição apocalíptica, é a temporada final da narrativa eclesiológica. É uma igreja autossuficiente, que não tem falta de coisa alguma, embora Cristo esteja do lado de fora. Esta época é uma estação humanista por excelência, mas é também a era das sombras espirituais.
A fonte da vida espiritual encontra-se em Cristo e nele está a luz que nos faz ver com clareza a realidade imaterial. Por falta da revelação em Cristo vivemos de utopias. Uma das ilusões que obscurece a caminhada cristã é a premissa humanista de que o ser humano é bom. É triste vermos os líderes religiosos afirmando para os perversos: “vocês são bons”.
Não há uma terapia adequada sem um diagnóstico preciso. Quando um religioso quis impressionar a Jesus com o seu discurso baba-ovo, o Senhor foi incisivo com ele: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Marcos 10:18.
O Mestre queria demover o conceito errado da bondade humana essencial, além do que, pretendia aniquilar com o mérito embutido nas qualidades pessoais. O mundo estima os sujeitos pelos seus valores e os elogios servem como moedas de troca para comprar, por pechincha, escravos baratos. Muitos são iludidos pelos discursos bajuladores, não obstante, leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos. Provérbios 27:6.
A Bíblia não avaliza esta quimera. Não há pessoas boas na terra. Há sim, pessoas más que fazem coisas boas com algum interesse em jogo. Jesus foi ainda muito mais claro quando disse: Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? Mateus 7:11. Ele não disse que somos pessoas do bem. Suas palavras são: ninguém é bom e vós que sois maus. Isto é duro, mas é a verdade.
Mexer neste assunto é agitar um vespeiro zangado. Dizer que não somos bons de fato é provocar reações contrárias naqueles que se julgam realmente plenos de toda bondade. Esta é uma das sombras que assombram os paladinos do humanismo religioso.
Outra sombra que causa assombração é procurar desvendar a inconfiabilidade do coração humano. Tenho sido atacado fortemente quando abordo este tema por aí. Muitos jogam pedra no púlpito que prega o colapso da confiança humana. Por isso precisamos da luz divina, para podermos ver com mais clareza a realidade do coração inconfiável. Somos uma raça corrupta.
O ser humano é mau por natureza e falso, por essência. Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR! Jeremias 17:5. Aqui o profeta não está dizendo que maldita é a pessoa que confia na outra, ainda que isto também seja verdade. O problema mais sério é a autoconfiança.
Somos uma raça censurável e insincera em consequência do pecado. A lealdade é fruto tão somente da obra Cristo no coração dos filhos de Deus, pois mesmo as pessoas mais confiáveis, neste mundo, não são garantidas. Somente vaidade são os homens plebeus; falsidade, os de fina estirpe; pesados em balança, eles juntos são mais leves que a vaidade. Salmos 62:9.
Se a autoconfiança é um desastre pessoal causando grandes desilusões e depressões, a confiança nos outros gera decepções e desencantamentos. Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar. Salmos 41:9.
Este salmista se refere a alguém muito próximo que “deu o fora nele” ou que “o chutou depois de nocauteá-lo”. A expressão idiomática ligada a este coice tem o mesmo sentido daquele jogo de Jacó que segurava com a mão o calcanhar de Esaú. Portanto, este significado por trás do pontapé no salmista é o mesmo engano que Judas demonstrou ao trair o Senhor.
A traição é própria da natureza adâmica. Não há confiabilidade naquele que não tenha sido regenerado. Não há regeneração sem a morte e ressurreição do pecador com Cristo. A autoconfiança é um estimulo ao auto-engano. Afastai-vos, pois, do homem cujo fôlego está no seu nariz. Pois em que é ele estimado? Isaías 2:22. Em matéria de confiança, eu não devo me apartar apenas dos outros enganosos, mas também, de mim mesmo.
A terceira sombra assombrosa neste palco dos humanistas sacramentados é a dignidade dos indignos. Considerar uma pessoa indigna é algo que assusta os membros da confraria dos impostores. Somos uma raça em busca da relevância ou do reconhecimento a qualquer custo.
Ir à cata da dignidade no reino de Deus é nadar contra a correnteza. Ora, se Cristo, o Senhor do Universo, se esvaziou de sua grandeza, tornando-se um servo, por que havemos de procurar ser reconhecidos neste planeta onde ele foi apenas humilhado? Esta é uma questão fundamental para aqueles que o querem segui-lo de fato.
No reino da graça, o filho que recebe o acolhimento do seu Pai é aquele que se considera indigno de ser notado como um filho legítimo. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Lucas 15:21. Mesmo avaliando a sua indignidade, ele ousa abraçar o seu genitor como pai. Ele é desprezível, embora não deixe de ser filho. Era um crápula e detestável por todos, mas aceito e amado pelo Pai.
Nenhum filho de Abba que for realmente indigno precisará buscar a sua dignidade neste mundo, quando se perceber amado por seu Abba. Foi assim que Jesus considerou os ultrajados que são filhos de Deus, envolvidos com a causa do Filho do Homem: Bem-aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem. Lucas 6:22.
Em termos espirituais, o grande perigo se encontra na unanimidade do prestígio ou na caça do reconhecimento da plateia. Aqueles que buscam a consideração de todos, acabam desconsiderados como membros da família do Pai. Quem anda a procura dos holofotes dos homens, com certeza, ficará longe da iluminação do Espírito Santo. Ai de vós, quando todos vos louvarem! Porque assim procederam seus pais com os falsos profetas. Lucas 6:26.
Os catadores de bondade no lixão da opinião pública, os defensores da justiça própria e os membros da confraria da honorabilidade são humanistas que nublam a realidade espiritual com as sombras assombrosas do seu altruísmo mascarado. Eles são falsos e se assemelham com o sal que não salga e que, nas palavras de Jesus, nem presta para a terra, nem mesmo para o monturo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Lucas 14:35.
 
Soli Deo Glória.

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