sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A VISÃO DÁ O RUMO

Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu sou Deus, e não há outro. Isaías 45:22.
O viajante segue sempre em seu destino e ninguém vai além do alvo que o atrai. A direção da trilha é assinalada pelo objetivo para onde se quer ir, por isso, quem tem uma visão clara do seu propósito nunca se perde no meio do caminho. Quem não sabe para aonde vai não tem rumo para aonde ir. A falta de visão deixa o viageiro sem saber qual é a sua senda. E quem não sabe para onde vai já chegou. A falta de uma visão intensa do intento que se quer, ainda gera conflito. Quando a imagem não está clara corre-se o risco da confusão na mira. Antes de qualquer passo na peregrinação da fé cristã precisamos certificar o que queremos de fato, focalizando o objeto certo, pois astigmatismo provoca duplicidade na visão, acarretando um desastre.
O cristianismo é uma viagem com uma visão viva de Cristo. O alvo da experiência da vida cristã é Cristo. Ninguém pode começar uma excursão espiritual sem a revelação da pessoa sublime de nosso Senhor Jesus Cristo, e essa turnê será sempre olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hebreus 12:2.
A visão definida de Cristo é a causa do progresso espiritual. Enquanto o nosso olhar vesgo estiver desconectado desta única realidade salvadora, estaremos em perigo permanente. A duplicidade da visão suscita ambigüidade da fé, que produz esquizofrenia religiosa. A falta de integridade espiritual e da legítima inteireza moral é resultado da deficiência da visão de Cristo.
Vamos tomar um exemplo notável do Antigo Testamento. Moisés era um homem capaz e bem formado na corte de Faraó. Ele tinha sido educado na ciência do Egito e possuía um cabedal de conhecimento capaz de governar qualquer nação em sua época. Mas Moisés não conhecia Jeová. Ele era um administrador e jurista competente. Sabia muito da política palaciana e era um humanista extraordinário, todavia não tinha a visão do Deus de Israel. Ele não conhecia nada do Messias. Não sabia quem era Cristo.
Ser administrador e humanista não significa ser pastor no rebanho do Senhor. Moises foi preparado pela escola política do Egito e educado para governar as massas, contudo faltava-lhe a visão da realidade espiritual. Uma coisa é o fenômeno social de uma nação, outra bem diferente é o povo de Deus, a Assembléia dos redimidos. A visão de Moisés encontrava-se fora do foco. Ele sabia muito, mas não sabia o essencial para transportar o povo Deus do cativeiro para a liberdade. Ser competente no Egito não é a mesma coisa que ser conveniente no deserto para poder ser pastor das ovelhas nos apriscos de Canaã. Conduzir o povo de Deus é diferente de dirigir uma agremiação de classe. A Assembléia dos eleitos não é um partido político que se conquista com barganhas e astúcias estratégicas. Deus não usa promoter no seu fluxograma. O homem do Palácio carecia de treinamento no deserto. Moisés era forte demais para ser um canal da graça. Deus sempre quebranta os vasos do seu ministério. Antes da liderança eficaz é preciso a humilhação da carne. A equipe de Deus é formada por gente sovada no lagar da cruz. Sem a revelação interior de Cristo crucificado os mensageiros do evangelho estarão desclassificados para a missão de conduzir o seu povo.
A visão de Moisés era estrábica e ele estava mais preocupado com a opinião dos outros do que em ver a realidade espiritual. A ênfase de sua análise era essencialmente humanista, pois só via as coisas aparentes relacionadas ao ser humano. Naqueles dias, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos e viu os seus labores penosos; e viu que certo egípcio espancava um hebreu, um do seu povo. Êxodo 2:11.
Ele viu a aflição do povo e o espancamento de um hebreu e se viu como um Sassá Mutema ou salvador da pátria preparado para entrar em cena. A visão messiânica de Moisés era uma demonstração da onipotência pecaminosa. A teomania é a marca evidente de uma pessoa que nunca passou pelo vale de Baca. Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados, o qual, passando pelo vale árido, faz dele um manancial; de bênçãos o cobre a primeira chuva. Salmos 84:5-6.
Vale árido ou vale de Baca vem de uma raiz verbal que significa chorar. Os filhos de Coré ou os filhos do Calvário são marcados pelas lágrimas neste mundo, mas pela poder da graça manifesta na fraqueza costumam transformar os seus problemas em bênçãos. Moisés ainda não havia passado por esse vale, portando agiu na força da carne.
A carne só consegue ver a carne. Olhou de um e de outro lado, e, vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio, e o escondeu na areia. Êxodo 2:12. O olhar de Moisés foi calculado. Ele tinha dois objetivos em vista quando olhou de ambos os lados. Moisés lutava com o desejo da aprovação do seu povo e com o medo da rejeição dos egípcios. Ele queria ser o libertador do povo hebreu e não queria perder o prestígio do Egito. A carne deseja a salvação de Deus, mas não quer perder as honras do mundo. Moisés era um homem carnal que precisava da operação da cruz.
A visão zarolha nunca alcança o prumo espiritual. O príncipe do Nilo estava obstinado em suas idéias messiânicas. Saiu no dia seguinte, e eis que dois hebreus estavam brigando; e disse ao culpado: Por que espancas o teu próximo? Êxodo 2:13. Ele já tinha a toga do juiz e sabia quem era o culpado. A presunção é catastrófica.
Quem se vê como solução nunca se percebe como problema. Moisés era homem demais para enxergar a sua arrogância. O pecado faz do ser humano a solução dos seus enigmas e o torna cheio de si mesmo para ser reconhecido pelos outros. Ora, Moisés cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar por intermédio dele; eles, porém, não compreenderam. Atos 7:25.
Quando Moisés percebeu que o seu crime havia sido descoberto, uma vez que um dos briguentos o acusa de assassino, toma a iniciativa de fugir para o deserto, a fim de se esconder da ira de Faraó. Essa escapada foi o inicio de um tratamento profundo na escola do deserto. No Reino de Deus o esvaziamento precede o enchimento. Um homem prestigiado no mundo não pode ser usado com simplicidade no serviço de Deus. Um dos maiores perigos para os filhos de Deus são os holofotes da opinião pública. C H Mackintosh disse que Moisés havia recebido os seus títulos nas escolas dos homens, mas tinha ainda de aprender o alfabeto na escola de Deus, porque a sabedoria e ciência humanas, por muito valor que tenham em si mesmas, não podem fazer de ninguém um servo de Deus, nem qualificar alguém para desempenhar qualquer cargo no serviço divino. O homem estimado pelo Egito não tem valor para o povo no deserto.
Moisés tinha que ser desclassificado primeiro. A obra da cruz visa desconsertar os acordos do Egito ou padrões do mundo e desconstruir o homem que se auto-estima. O nobre precisava ser convertido em plebeu e o príncipe deveria virar pastor de ovelha. No Reino de Deus não há lugar para vedetismo ou exibição de capacidade.
Observem que uma das coisas mais abjetas para um egípcio é pastorear ovelhas. Vejam o conceito que essa classe gozava entre este povo, no argumento que os irmãos de José dariam a Faraó. Respondereis: Teus servos foram homens de gado desde a mocidade até agora, tanto nós como nossos pais; para que habiteis na terra de Gósen, porque todo pastor de rebanho é abominação para os egípcios. Gênesis 46:34.
Converter um homem admirado no palácio do rei, num sujeito abominado pelo Egito é algo terrível para essa pessoa. Mas é aqui que começa a escola de Deus. Aquilo que o mundo considera de valor supremo, Deus desconsidera integralmente. Para Moises só restava o desmonte de sua cultura, pastoreando no deserto.
No livro de Humberto X. Rodrigues, Jesus o Eu Sou, há um pensamento muito apropriado para essa abordagem. Ele disse que Moisés passou 40 anos no Egito aprendendo tudo para ser alguma coisa, depois mais 40 anos na terra de Midiã esquecendo-se do que aprendeu no Egito e, por fim, 40 anos no deserto descobrindo que Deus é tudo. Para saber que Deus é tudo, Moisés teve que desaprender que ele era alguma coisa. Ninguém pode depender da plenitude de Deus antes de chegar ao fim de si mesmo.
O homem presunçoso precisava de total esvaziamento. A visão bilateral e carnal daquele salvador da pátria carecia de uma revelação espiritual para que ele pudesse ver a sua real incompetência. A sarça ardente foi o enfoque que descortinou o horizonte de uma nova perspectiva na vida deste homem esculpido sob o sol causticante do ermo. O Moisés da planta que não carbonizava é um homem que não ardia mais pelo comando.
Moisés teve uma visão que causou uma revisão em todos os seus conceitos humanos. A visão era de um fogo que não tem combustível. Então, disse consigo mesmo: Irei para lá e verei essa grande maravilha; por que a sarça não se queima? Êxodo 3:3. A energia daquele fogo não dependia da madeira do arbusto, assim como o poder de Deus não depende da capacidade humana.
Quando o Senhor viu que Moisés estava vendo uma realidade além da visão física lhe propôs uma atitude de vigilância, bem como a retirada do último apetrecho de sua cultura natural. Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Êxodo 3:5.
Para o pródigo fracassado que chegava como escravo na casa do pai são-lhe dadas sandálias novas para a sua recepção como príncipe na família real. Para o príncipe egípcio que está sendo transformado em servo de Jeová são-lhe removidas as sandálias de uma cultura esnobe. Moisés precisava ganhar a singeleza da santidade. Depois da visão de Deus no meio da sarça ardente Moisés tomou outro rumo na vida. Ao perceber que o Eu Sou não dependia do que ele era, então se enxergou como de fato é. Quando Eu Sou diz: Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, Moisés objeta: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel? Êxodo 3:11.
A visão do Eu Sou desconserta a visão de quem sou eu. É preciso primeiro Jesus nos desmanchar na cruz, para, em seguida, nós ganharmos uma nova identidade na ressurreição. A substituição da vida é também uma mudança na visão. Ele sai do terreno onde é adorado no Egito, para o estado em que é adorador no deserto. Deus lhe respondeu: Eu serei contigo; e este será o sinal de que eu te enviei: depois de haveres tirado o povo do Egito, servireis a Deus neste monte. Êxodo 3:12.
Tudo o que Deus procura é adorador que o adore no espírito e em verdade. Jesus foi muito claro com respeito a este propósito, quando disse – Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. João 4:23.
A visão pela fé da pessoa de Cristo é a única opção para a verdadeira evolução na vida espiritual. A teomania faz o culto gravitar em torno do homem, seu entretenimento e suas preferências pessoais, enquanto a revelação de Cristo crucificados faz o homem cultuar apenas e tão somente a Trindade Santa. A igreja só tem um tema e um alvo – olhar para Cristo em profunda contemplação e adoração. A visão de Cristo Jesus crucificado, mas ressuscitado é o rumo certo na história do povo de Deus, por isso, como Moisés, olhemos apenas para Jesus Cristo, nosso Senhor. Pela fé, ele abandonou o Egito, não ficando amedrontado com a cólera do rei; antes, permaneceu firme como quem vê aquele que é invisível. Hebreus 11:27.
 
Soli Deo Glória.

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