Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos
homens. Marcos 7: 8
Quando olhamos com cuidado para as escrituras, e também para a
história da igreja, ou dos movimentos avivalistas, podemos verificar uma
dinâmica recorrente. Trata-se do fato do distanciamento do objetivo original
proposto pelo movimento, que vai corrompendo os ideais, até que muito pouco
reste do projeto original.
Na grande maioria das vezes, aquilo que surgiu com uma
determinada intenção, com o passar dos anos se transforma em algo que é
contrário, por mais absurdo que isto pareça, ao espírito, ou a essência daquilo
que motivou o surgimento do próprio movimento. Os estudiosos dizem que todo
movimento profético tende com o passar dos anos a se tornar sacerdotal.
Como exemplo histórico, podemos destacar o movimento da reforma
protestante, que nasce com o objetivo de restaurar verdades bíblicas que, depois
de muitos séculos, haviam sido substituídas por doutrinas humanas, além de uma
ingênua pretensão de reformar a igreja católica romana.
Na perspectiva do evangelho, os grandes movimentos avivalistas
da história como, por exemplo, o avivamento Morávio do conde Zinzendorf no
século XVIII, que deu base para avivamentos posteriores e o caso de um evento
tão importante quanto à reforma protestante, não têm como fundamento a
descoberta de uma nova idéia a cerca do evangelho, o evangelho por si só já é
novo.
Antes sua beleza esta em redescobrir a mesma verdade imutável e
libertadora da palavra de Deus, do evangelho da graça de Cristo Jesus. No
avivamento Moraviano, o que começou a fazer toda diferença, era a dedicação à
prática da oração, leitura das escrituras, dos relacionamentos e da ajuda mutua.
Não há nada de novo nisto, aliás, nada é mais básico para a fé
cristã do que orar e ter comunhão com a palavra e uns com os outros, como
podemos verificar no livro de Atos. "E perseveravam na doutrina dos apóstolos
e na comunhão, no partir do pão e nas orações."Atos 2:42
Já na reforma, apesar das 95 teses de Lutero, podemos destacar
aquilo que ficou conhecido como às cinco colunas ou pilares da reforma, que
eram, 1º Sola Scriptura, 2º Sola Gratia, 3º Sola Fide, 4º Solo Christi, 5º Soli
Deo Glória. A reforma surge num momento em que as encíclicas papais tinham mais
autoridade que as Escrituras, onde as pessoas não podiam ler a bíblia, mesmo que
a bíblia nos dissesse, " Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para correção, para educação na justiça, a fim de que
o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra." II Timoteo 3:16-17 .
Onde a graça era desprezada ou inexistente, sendo substituída
pelo pagamento de indulgências e a fé era forjada na fogueira, mesmo que a
palavra de Deus nos ensinasse que "...pela graça sois salvos, mediante a fé;
e isto (a fé) não vem de vós; é dom de Deus; não de obras para que ninguém se
glorie." Efésios 2:8-9.
A intermediação de Cristo era insuficiente, bem como sua obra
na cruz, fazendo-se necessários outros mediadores entre Deus e os homens, ainda
que a palavra de Deus nos afirmasse: "Porquanto há um só Deus e um só
mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem." I Timóteo 2:5. A
glória de Deus foi substituída pela glória dos homens, algo que estava em
contradição com a palavra de Deus.
O que promove esta deteriorização é a associação do tempo mais
a obstinação de homens, de não abandonar a sabedoria deste mundo, "acaso não
tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?" I Coríntios 1:20c, que amam a
ordem criada pelas regras em detrimento da vida e da liberdade promovidas pelo
evangelho. Esta associação produz uma das fortalezas mais terríveis, a qual se
da o nome de tradicionalismo, de modo que estas pessoas passam a se sustentarem
na tradição humana e não na palavra de Deus.
Um exemplo disso é quando a igreja hoje, diante de uma mulher,
a qual foi descoberto seu adultério, a julga e a condena, segundo o
tradicionalismo religioso, enquanto o evangelho encarnado, Cristo Jesus diz:
"nem eu tampouco te condeno, vai e não peques mais." João 8:11b. E ainda
que não seja possível apedreja-la com pedras, apedrejamo-a com nossos olhares de
condenação, e ainda que não seja possível mata-la, fazemos isto socialmente
tirando-a de nosso convívio.
Fazendo assim agimos em contradição ao Cristo que dizemos crer,
e em conformidade com a tradição religiosa dos fariseus e escriba e dos
sacerdotes exigentes que crucificaram a Jesus. Brennan Manning escreve em seu
livro; "O evangelho maltrapilho" "Jesus sentava-se à mesa com qualquer
um que queria estar presente, inclusive os que eram banidos das casas
decentes.Compartilhando da refeição eles recebiam consideração em vez da
esperada condenação. Um perdão misericordioso em vez de um apresado veredicto de
culpa. Graça admirável em vez de desgraça universal.Eis aqui uma demonstração
muito prática da lei da graça, uma nova chance na vida."
Para que houvesse a reforma, foi necessário que se buscasse com
sinceridade na fonte, a verdadeira essência do evangelho, separando-o de todo o
entulho possível, que os homens no decorrer dos tempos, tendo em vista à
sabedoria deste mundo, interesses mesquinhos, a glória humana e não a glória de
Deus, acrescentaram ao evangelho. Este fato acabou por descaracterizá-lo,
portanto negando sua eficácia. É o que Paulo vai chamar de outro evangelho.
"Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça
de Cristo para outro evangelho." Gálatas 1:6 .
Alem desta busca, o que foi mais importante para que a reforma
ocorresse, foi Deus pelo seu Espírito, levantar homens, que nada mais possuíam
se não somente a Jesus, homens mortos para sua reputação, para si mesmos, mas
vivos para Deus. Esta condição lhes deu ousadia para romper com toda a tradição
religiosa estabelecida ao longo de séculos.
Hoje, 493 anos depois da reforma protestante, nos deparamos com
os mesmos problemas que Lutero e Calvino enfrentaram, a tradição religiosa fala
mais forte que a palavra de Deus, a graça tem sido desprezada, a fé passou a ser
acreditar em qualquer coisa, desde que o individuo não tenha que se comprometer
com aquilo que diz crer, Cristo não é suficiente e Deus só serve, se puder
elevar a glória humana segundo este mundo, concedendo ao fiel distinção dos
demais homens. E isto, até mesmo dentro das igrejas que foram frutos da reforma.
Não devemos nos espantar, esta tensão sempre existirá, devemos
antes é nos abrir para o novo trazido pelo evangelho, rejeitando sempre esta
estrutura aprisionante do mundo, que tenta nos colocar numa forma, como esta
escrito: "Não tomeis a forma deste mundo, mas transformai-vos pela renovação
da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus". Romanos 12:2
A tradição humana, sempre será uma das armas do inimigo de
nossas almas, para nos aprisionar no pecado, porque a obediência a
tradicionalismo nunca poderá libertar o homem do seu pecado, pois somente a
obediência ao evangelho da graça de Deus em Cristo Jesus pode salvar o homem,
libertando-o de si mesmo e de seu pecado mediante sua morte e ressurreição com
Cristo.
Sim, o evangelho, a boa nova de Deus, a novidade trazida na
encarnação de Cristo, como João diz: "Porque a lei foi dada por intermédio de
Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo." João 1:17, e
não o tradicionalismo da lei, que em Cristo foi removido,como Paulo afirma:
"Mas o sentido deles se embotaram. Pois até o dia de hoje, quando fazem a
leitura da antiga aliança o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em
Cristo, é removido." II Coríntios 3:14.
Mas o vinho novo que rompe o odre velho, que para o
tradicionalismo religioso é vergonha e escândalo, mas que para nós os que cremos
deve ser sempre motivo de alegria como esta escrito: " Pois não me envergonho
do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê,
primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se revela no
evangelho, de fé em fé, como esta escrito: O justo viverá por fé." Romanos
1:16-17 . Sim somente o evangelho é o poder de Deus para a libertação humana e
não a nossa obediência as tradições humanas.
Jesus ao ser interrogado pelos fariseus e escribas, no verso 5
do capitulo 7 do evangelho de Marcos, sobre o motivo pelo qual seus discípulos
não andavam segundo a tradição dos mais velhos responde: "...Bem profetizou
Isaias a respeito de vós, hipócritas, como esta escrito: este povo honra-me com
os lábios mas seu coração esta longe de mim. E em vão me adoram, ensinando
doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus,
guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o
preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição." Marcos 7:6-9
Que Deus nos livre disso, e nos de a ousadia de viver, somente
com sua palavra, confiando somente em sua graça, sustentado somente pela fé, na
suficiência única de Cristo para que em tudo somente Deus o Pai seja
glorificado.Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solo Christi, Soli Deo
glória.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 17 de novembro de 2012
A TENTAÇÃO DO TRADICIONALISMO
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