segunda-feira, 26 de novembro de 2012

E ERA NOITE

E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa... E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite. João 13:27-30.
Após o bocado de pão molhado, Satanás entra nele, toma posse de Judas para endurecê-lo contra tudo o que pudesse fazer-lhe sentir, mesmo como homem natural, o horror da sua ação, enfraquecendo-o e preparando-o para a realização do mal, a fim de que nem a sua consciência nem o seu coração despertassem ao fazê-lo.
Mas, o que sabia Judas dos propósitos de Deus? Não sabemos, mas por certo, a sua alma estava mergulhada em densas trevas espirituais porque ele rejeitou a Luz. Por isso, o Espírito Santo não deixou de registrar a verdadeira condição do coração de Judas nestas palavras: E era noite. ‘Noite’ na Bíblia sempre fala da ausência do Senhor.
Esta é a história espiritual de todos os homens, todos nascem mergulhados em densas trevas, longe da presença de Deus. Os contornos da pintura podem variar. A coloração pode às vezes estar mais escura ou, às vezes, com matiz mais leve. Mas, os princípios da composição são os mesmos em toda parte.
Para onde quer que voltemos nossos olhos, descobrimos provas deprimentes de nossa depravação. Quer olhemos para os tempos antigos quer para os modernos, para as nações bárbaras ou civilizadas, ou mesmo para aquilo que lemos, ouvimos, executamos, pensamos ou sentimos, a mesma lição humilhante se impõe sobre cada um de nós - Somos por natureza depravados.
As circunstancias podem variar de indivíduo para indivíduo. Não importa se ele nasceu no berço de ouro ou numa choupana, se é pobre ou rico, se confessa um credo ou não, se foi educado nas melhores escolas ou nunca passou por elas, se é culto ou inculto, o veredicto divino está posto: Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. Romanos 3:10-12.
Aprendemos a partir desta revelação de Deus, que o homem é um ser apóstata. Ele caiu de seu original estado de perfeição. Ele é degradado em sua natureza e depravado em suas faculdades. Ele não tem disposição para o bem, mas sim, para o mal.
O homem está, no cerne do seu ser, na sua essência, radicalmente corrompido pelo pecado. É de fundamental importância compreender, que o homem no seu estado natural não busca a Deus, posto que: Não há ninguém que busque a Deus.
Não há nada que seja tão antibíblico do que dizer que o homem natural busca a Deus, e que o seu problema é que ninguém lhe anunciou a Boa Nova. Por natureza o homem odeia a Deus; está em inimizade com Deus e morto em seus delitos e pecados: Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Efésios 2:3.
O Espírito Santo não fala aqui que o homem está condenado diante de Deus por ter cometido pecados, nem por ter falhado no seu relacionamento com Deus ou por ter caído na idolatria. O Espírito Santo aqui, nada fala sobre o que homem tinha feito. O problema do homem é um só: Ele é por natureza, filho da ira.
Que nenhum de nós perca de vista o fato de que, o problema do homem não é que ele faz, mas sim, o que ele é. Este é o efeito devastador da queda: todas as pessoas que nasceram neste mundo, desde a queda de Adão, são portadoras de uma natureza rebelde e filhos da ira.
O homem nestas condições é semelhante ao sal que perdeu o gosto. Como torná-lo salgado novamente? A princípio era útil, mas perdeu o sabor e se tornou inaproveitável, seu fim é o lixo. É, portanto, de fundamental importância se obter um bom diagnóstico para uma boa terapêutica.
Se a nossa condição é assim tão degradante, o que deve ser feito? Há alguma esperança? Àquele que tem conhecimento de seu verdadeiro estado de perdição e desamparo, só lhe resta um pedido de misericórdia, à semelhança do publicano: O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Lucas 18:13.
É aqui que a nossa fundação deve ser lançada. Devemos ter em mente que somos incapazes, por nós mesmos, de desejar ou agir em direção a Deus. Deus mesmo proveu toda a ajuda. Assim como, Ele encerrou a todos os homens debaixo da desobediência, também usou de misericórdia para com todos: Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. Romanos 11:32
Aqui temos o propósito de Deus revelado: Ele encerrou a humanidade em um estado orgulhoso e condenado, sem Cristo, para usar de Sua misericórdia para com todos, em Cristo.
Depois da queda, o homem se distanciou de Deus. Por isso, o reino dos céus é para ele como um distante lugar e muito estranho. Na experiência de Santo Agostinho, ao dizer de si mesmo que se encontrava “distante de Deus numa terra estranha, da desigualdade”.
Por isso, Deus em Cristo desce do céu para dessedentar o sedento: Como água fria para o sedento, tais são as boas-novas vindas de um país remoto. Provérbios 25:25. Aqui está a Boa Nova do evangelho, um mensageiro trazendo o céu para a terra.
Assim, a Boa Nova era como “uma água fresca para a alma sedenta”. Deus nos deu o seu reino, Deus nos deu o seu Filho. O Filho nos foi dado para ser a nossa vida. Isso é o suficiente. Deus não nos deu coisas “espirituais”, Ele nos deu o seu próprio Filho. “Nele temos a plenitude de sua graça”.
A “noite” de Judas serviu para que a história mais negra do homem se tornasse a mais radiante. A Cruz transforma-se num trono. O fim em um novo começo. Na Cruz estava a injustiça mais profunda que já se cometeu, e Jesus a transforma completamente, na cura da injustiça e do pecado.
Na Cruz revela o que há de pior nos homens, e o melhor de Deus. Nada havia em nós a não ser pecados. Nós nos encontrávamos em profundas trevas. Mas Deus, com seu amor e poder, vem nos livrar do poder das trevas.
Não havia em nós nenhuma inclinação para o bem, estávamos espiritualmente mortos à semelhança da terra sem forma e vazia, a espera do mover do Espírito de Deus: A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Gênesis 1:2.
O movimento – graças Lhe sejam dadas! – veio Dele. Ele nos resgatou das trevas. Ele nos vivificou, e não somente isso, nos vivificou juntamente com Cristo. Aquele que possui a voz, “como voz de muitas águas”, irrompeu com a chama do amor divino, aniquilando o poder das trevas.
A noite fala da ausência de Deus. Logo após a queda a “terra” fugiu da presença de Deus. A partir daí a desigualdade entre o céu e a terra ficou estabelecida. A terra sentiu na sua natureza que ela é distante e diferente do céu. Por isso, ela fugiu diante do céu até ao lugar mais baixo. É por esta razão, que a terra está imóvel na espera de um mover divino. Da terra brota a verdade, dos céus a justiça baixa o seu olhar. Salmos 85:11.
O “céu”, porém, percebeu na sua natureza que o reino da terra lhe fugiu e se estabeleceu no lugar mais baixo. Por isso o céu se derrama inteiramente de um modo profundamente amoroso. O céu foi aberto, agora, temos acesso ao Pai, por meio de Cristo.
Dos céus a justiça baixa o seu olhar. O Senhor Jesus não só desce do céu, mas abre-o para que os indignos pudessem entrar. E, o caminho escolhido pela trindade foi o Calvário: E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isso significando de que morte havia de morrer. João 12:32-33.
O método divino foi o mais penoso possível. Contudo, foi ali na Cruz que se manifestou o poder de Deus para desfazer todo o poder das trevas. A Cruz foi o tribunal de Deus para o mundo. Ali na Cruz todos os homens foram julgados. Ali na Cruz Deus pôs fim na raça adâmica.
Na Cruz o Seu amor julgou o nosso ódio, a sua magnanimidade julgou a nossa mesquinhez. Ali na Cruz, o nosso velho homem foi julgado. E, aquele cujos olhos foram abertos por Deus; pode cantar “o cântico do Cordeiro”. A canção de um novo começo.
O começo de uma vida em Cristo. A bem-aventurança de ser uma habitação de Deus. E de ter sido feito “agradáveis” em Cristo. Como é maravilhoso compreender e ser compreendido, contemplar e ser o próprio contemplado, conter e ser contido: este é o fim, onde o espírito do homem permanece, em repouso na união com Cristo. Como disse Santo Agostinho: Fecisti nos ad Te et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in Te. Criastes-nos para Ti e o nosso coração vive inquieto, enquanto não repousar em Ti.
Que Deus na Sua infinita graça nos leve a dizer como a Sulamita: Leva-me tu; correremos após ti. O rei me introduziu nas suas câmaras; em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que do vinho; os retos te amam. Cântico dos Cânticos 1:4. Amém.
 
Soli Deo Glória.

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