terça-feira, 20 de novembro de 2012

A RELEVÂNCIA DA RECONCILIAÇÃO

A reconciliação é um programa da administração divina. Deus é quem toma a iniciativa da harmonização das partes ao tornar-se confinante com o fugitivo, a fim de poder aproximar-se dele. Primeiro Deus se achega ficando bem perto do pecador rebelde para em seguida atrair o seu coração para ele mesmo.
Eu só posso buscar a Deus realmente porque ele se aproximou da humanidade e se revelou na dimensão do meu entendimento. Ninguém consegue buscar um Deus absoluto e invisível, escondido nas nuvens do desconhecido, se ele mesmo não se manifestar dentro dos limites da nossa abrangência racional. Mesmo antes da encarnação do Verbo divino foi necessário ouvir a voz de Deus para iniciar a aproximação. E chamou o SENHOR Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Gênesis 3:9.
O pecado separou a humanidade de Deus tornando-a desertora. A história da nossa raça é um assunto de evasão e invasão. Evadimos da presença de Deus e invadimos o mundo dos esconderijos. Somos uma espécie apavorada que vive de máscaras procurando labirintos e escondida em tangas e tocas construídas pela religião. Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. Gênesis 3:10.
Não foi o pecador sentenciado pela desobediência e estigmatizado pela culpa quem deu o primeiro passo em direção ao encontro. O pecado nos encheu de arrogância e nos fez autônomos em relação ao Criador. No fundo da nossa alma há uma aversão contra Deus que nos deixa indispostos para com ele. Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar. Romanos 8:7.
O ser humano nunca iria se reconciliar com Deus por conta própria. A reconciliação é um empreendimento da graça de Deus, que se tornou impecavelmente concreto na encarnação de Cristo. Foi justamente no corpo de Jesus que Deus e a humanidade ficaram vizinhos na mesma pessoa. As duas naturezas, divina e humana, unidas numa mesma pessoa é o mais próximo de Deus que se pode chegar. Buscar ao Senhor enquanto está perto é encontrar-se com Deus em Jesus.
Cristo Jesus é a aproximação de Deus mais achegada ao ser humano que se pode ter. Quando as duas naturezas se encontram numa única pessoa sem qualquer alteração na essência ou redução na identidade, temos o milagre de um acordo que vem promover a amizade eterna entre as partes. A união da divindade com a humanidade é a reunião de conciliação onde são desfeitos os efeitos da hostilidade do pecado.
A reconciliação que desfaz a desavença não vem acusando o culpado. Ainda que o pecador seja o responsável pelo desacordo, Cristo não incrimina o réu. A mensagem do evangelho apresenta a parte ultrajada vindo em busca daquela que afrontou sem qualquer incriminação. Na verdade, Cristo, a parte afrontada, vem assumindo a culpa do culpado e oferecendo o seu perdão incondicional sem acusá-lo por causa do seu tropeço.
Jesus não envergonha o pecador por seu pecado, antes assume a vergonha do transgressor, sem, contudo, culpá-lo por sua transgressão. O perdão só é verdadeiro perdão quando aquele que perdoa assume a conta do devedor pagando-a integralmente, sem acusá-lo pela dívida, nem cobrá-lo posteriormente.
O perdão não é dado ao pecador em decorrência do seu arrependimento, mas este passa a existir em razão daquele. O arrependimento do sujeito não produz a reconciliação com Deus, uma vez que é o perdão de Cristo que gera o arrependimento, e ao mesmo tempo, a reconciliação. Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. 2 Coríntios 5:18-19.
Cristo levou sobre si os pecados dos pecadores e não jogou em rosto a culpa dos culpados. A vergonha dos nossos atos lhe fora imputada, mas ele não nos envergonhou atirando sobre nós a nossa infâmia. A reconciliação não agita a sujeira decantada, nem sopra sobre a carniça para espalhar o mau cheiro. O Espírito Santo não assopra corrupção. O Pai assume a desmoralização do pecador e imputa a sua justiça através de Cristo.
A reconciliação, portanto, parte do Pai que resolve assumir os pecados dos pecadores mediante a morte de seu Filho, sem fazer qualquer acusação contra os transgressores mais indignos. Todo sistema de denúncia e incriminação não faz parte da obra da redenção. A acusação é papel do Maligno e de sua tropa. Então, ouvi grande voz do céu, proclamando: Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus. Apocalipse 12:10.
Na visão bíblica, a delação é um papel sujo do acusador. O Espírito Santo nunca recrimina o implicado a fim de aviltá-lo, nem expõe ao ridículo a feiúra do culpado. Ainda que ele convença o réu da sua terrível infração, não é do caráter divino a censura pública dos pecadores. O Advogado do evangelho não faz exigências que maculem os seus clientes. Jesus jamais defendeu o doloso realçando ao espectador a sua falcatrua.
A reconciliação promovida pelo Pai não vem instigada por qualquer fórmula de repreensão ou acusação. Na verdade Cristo assume a censura do acusado e levando sobre si a pena do pecador não o bombardeia de queixas ou ensaboadelas. A obra da redenção não salienta a vileza inegável do fraudulento diante dos outros, uma vez que toda a sua culpa recai sobre o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Olhando para a seriedade do julgamento onde Cristo Jesus foi condenado é que nós podemos perceber a gravidade do nosso pecado. Ao observar a truculência da sentença vemos a magnitude da nossa transgressão, mas vemos também que não há qualquer acusação da parte de Deus para nos enrubescer.
Todo aquele que procura acusar um infrator não consegue promover uma verdadeira reconciliação. A argüição em si mesma só fomenta resistência, ocasionando ainda mais desavença. Por esse motivo, todo arrependimento genuinamente cristão tem que ser a rigor livre de apelações e denúncias. Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento? Romanos 2:4.
O remorso, normalmente, é fruto de uma descoberta. Quando alguém é apanhado com a boca na botija, se tem algum senso moral, com freqüência fica cabisbaixo. O fato de ter sido desvendado o acontecimento acaba gerando vergonha e remorso. Mas o arrependimento, primeiramente, não significa acabrunhamento moral. O que leva o pecador a se arrepender é a bondade incondicional de Deus.
Na obra da reconciliação com Deus há um desgosto que é a causa da contrição, mas isto não quer dizer vexame. O Pai não encabula o filho afrontando-o diante dos outros, mesmo porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte. 2 Coríntios 7:10.
Sendo assim, buscar ao Senhor enquanto está perto é buscar o Deus que nos buscou em seu amor eterno. Nós só podemos buscá-lo porque ele nos buscou primeiro. Ele se tornou adjacente ao homem na encarnação ao receber a natureza humana, e mais achegado ainda na crucificação, quando tomou sobre si também os nossos pecados. Aqui nós temos a perfeita identificação do Salvador com o pecador trazendo a libertação da culpa.
Toda a operação que nos reconcilia com Deus foi realizada pela Trindade Santa mediante o sacrifício de Cristo. Embora tenhamos parte nesse processo, essa participação vem através da nossa natureza pecadora e dos seus pecados, por isso não temos nenhum direito. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida; e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação. Romanos 5:10-11.
A rebeldia do pecado nos fez inimigos de Deus, mas a obra perfeita de Cristo nos reconciliou com ele para que sejamos também agentes da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus. 2 Coríntios 5:20.
Os embaixadores do Reino de Deus não são acusadores da vida alheia, muito menos jogadores politiqueiros. O papel de um diplomata de Cristo é falar a mensagem da redenção com o sotaque do céu. Os filhos de Aba não abonam qualquer tipo de conversa maledicente, nem fazem parte do correio de más notícias. O discurso desse corpo diplomático é construído no sentido da reconciliação dos pecadores através da suficiência de nosso Senhor Jesus Cristo.
Do mestre de canto sobre a ária “os lírios”, dos filhos de Coré, o salmista diz: És os mais belo dos filhos dos homens, a graça escorre dos teus lábios, porque Deus te abençoa para sempre. Salmo 45:3 (BJ). A linguagem dos filhos abençoados de Deus é o fluir gracioso da reconciliação dos sublevados e da edificação de sua família. Nenhum membro da casa do Amor tem direito de falar a lengalenga que ofende os trôpegos ou fere os sarados. Cristo se tornou próximo para nos reconciliar com o Pai, e nós somos agora os embaixadores da reconciliação para com todos os eleitos da graça. Bendito sejam os reconciliados que vivem para o ministério da reconciliação.
 
 
Soli Deo Glória.

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