sábado, 17 de novembro de 2012

AS SOMBRAS SOBRE O CAOS

Acaso, nas trevas se manifestam as tuas maravilhas? E a tua justiça, na terra do esquecimento? Salmos 88:12.
Antes que houvesse o princípio, havia Deus. O Deus do amor eterno. Elohim, o Deus coletivo do amor é a Trindade unitária amorosa, é a Causa não causada e o Criador cósmico de tudo o que existe. Ele criou os céus e a terra ex-neil, isto é, do nada existente, mas os criou a partir do seu poder e em sua energia pré-existente. Deus criou os céus e a terra no princípio. Gênesis 1:1.
A concepção divina original não tinha senões. No primeiro versículo da Bíblia, a criação era cosmética ou ordenada. Não havia bagunça no mundo. O segundo versículo, entretanto, aponta para o colapso do deus-nos-acuda: A terra se tornou sem forma e vazia, havendo trevas sobre a face do abismo, enquanto o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Gênesis 1:2.
As palavras sem forma e vazia, no hebraico, são: tohu e vohu. Tohu é uma desordem caótica em oposição à ordem da criação divina. Ora, se Deus criou a terra caótica, isto, com certeza, traria um problema hermenêutico para interpretar o que disse o profeta: Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o SENHOR, e não há outro. Isaías 45:18.
O termo traduzido por caos é a palavra tohu. Agora temos que examinar bem os fatos. Se Deus não fez a terra para ser tohu, como a terra se desandou em tohu no verso dois de Gênesis um? Aqui entramos no mistério das trevas. Mas, como as trevas apareceram no mundo, se Deus é luz?
O apóstolo João afirma: Ora, a mensagem que, da parte dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. 1 João 1:5. Luz e trevas são contrárias e se repelem. Onde há luz, as trevas já se dissiparam. Onde há trevas, a luz se apagou. Fica claro que treva é ausência de luz e, enquanto houver luz brilhando, as trevas jamais terão vez.
Mas, como as trevas apareceram tão rápidas no processo da criação? Do primeiro verso de Gênesis um, ao segundo, houve um intervalo gigantesco e, grande conflito cósmico. Na ordem espiritual, numa dimensão diferente da matéria, surge a subversão da vontade criada contra a vontade do Criador. Antes de a criação tridimensional existir, havia outra criação espiritual que se rebelou diante de Deus. Esta oposição em frente à luz divina provocou sombra sobre a criação, suscitando o caos.
O império das trevas se contrapõe ao reino da luz. No mundo imaterial há uma birra acirrada da criação espiritual pela posição do Criador. O Querubim da guarda, um ser notável e singular, não admitiu ser menos do que o Supremo Deus. Ele quis ocupar o lugar de Deus como se ele fosse the Boss do universo, mas acabou se tornando num boçal despencado, dirigindo o reich das sombras.
Gênesis 1:2 expõe a crise cósmica de Lúcifer, o Querubim iluminado, com a distorção que redundou no pano de fundo que provoca as trevas caóticas. O versículo três é um novo começo ou o princípio da restauração da ordem conspurcada pelas sombras. Manifeste-se a luz!
Em seguida, no processo da revelação, Deus fez o isolamento do abismo. E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. Gênesis 1:4. Aqui não se tratava da luz solar, mas da luz cósmica, em oposição às trevas da rebelião espiritual, onde ficou definido o coroamento da vida e o desfecho da morte. A luz gera vida. As trevas produzem sombras, caos e morte.
A ação do pecado tem como objetivo principal encobrir a realidade espiritual da luz. Adão, em oposição à ordem divina, se esconde da presença de Deus, isto é, tenta se esconder da luz. A história da raça humana é uma saga de fugas e esconderijos da luz. A existência no pecado é uma caminhada no mundo das sombras, procurando se ocultar da difusão luminosa de Cristo.
Veja como Jesus, a Luz do mundo, esclarece esta marcha tenebrosa no obscurecimento do pecado. O ser humano invadido pela rebelião adâmica anda se escondendo da claridade, em meio ao lusco-fusco, para não se expor. O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. João 3:19.
A culpa determina uma excursão pelas noites escuras. As obras malignas são sempre realizadas no crepúsculo e com a ocultação do cadáver. Tudo o que é secreto ou sigiloso neste mundo tem as capas do capeta encobertando os fatos. A revolução silenciosa do maligno é sempre clandestina.
O ser humano vivendo no pecado é o operário das sombras. Mesmo os atos de bondade mais brilhantes encontram-se infectados por manchas escuras. Estas nódoas têm origem danosa no ego, que sempre exibe sua perversão nas sombras da serventia. Se servir, usa-se. Aqui há toxina suficiente para aleijar as amizades. Foi por isso mesmo que Jesus afirmou que as suas obras eram más.
Este diagnóstico de Jesus é duro de mais para ser suportado, sobretudo, por aqueles adoecidos emocionais mais sérios. Eles se entendem merecedores dos aplausos, só por causa da atuação, aparentemente sem retoques, diante da platéia distraída. Jesus foi o único a mexer na máscara. Ao abrir a caixa preta a motim se instaurou: Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más. João 7:7.
Se você quiser agitar um vespeiro feroz com a presença de apenas mais um, analise a conduta dúbia de qualquer sujeito que se acha primoroso no que faz. Mostre quem é o cara. Ele vai ficar possesso por ter sido descoberto. Revelar a farsa é uma tragédia. Quando o véu do templo foi rasgado e a arca não se encontrava lá, então a farsa caiu por terra e as feras feridas atacaram pelas costas.
Como operários padrões da iniquidade inata, nossa peregrinação trafega pelos corredores obscuros do disfarce e hipocrisia. A espécie adâmica vive o anonimato da verdadeira identidade, fugindo da luz e fingindo ser o que nunca foi, nem poderá ser sem a iluminação do Espírito Santo. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. João 3:20. O mundo da farsa é o verdadeiro teatro das lorotas.
A prática maliciosa envolve-nos num convívio de blecaute relacional horroroso. Quando vivemos no escuro somos demasiadamente artificiais. Por outro lado, o exercício da verdade leva-nos para o foco dos holofotes divinos, à busca de verdadeira identidade. Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus. João 3:21. Se nossa identidade é construída em Cristo, não há o que temer.
Aquele que acha aceitação incondicional na casa de Aba, não precisa mais viver escondido à cata de reconhecimento ou buscando se firmar numa identidade falsa. Tudo que é caricato é careta demais. Além do que, a vida nas sombras faz sobrar assombrações apavorando a personalidade frágil com fobias idiotas e com comportamentos esnobes, sem qualquer significado. Precisamos da Luz fulgurante da Casa do amor, para dissipar o menor sinal desta confusão caótica da mentira.
A prática da verdade, no ambiente do amor absoluto do Pai, desmonta totalmente qualquer necessidade de máscara para aprovação pessoal. Quem se vê aceito pela graça não vê graça numa aceitação firmada em méritos, desempenho ou avaliação de terceiros.
O medo foi o primeiro sentimento depois do pecado e a humanidade vive até hoje sob o pavor da rejeição e a necessidade alucinada de aceitação pessoal. Estes dois pólos opostos geram um conflito de identidade que só a luz da verdade em Cristo e o amor furioso do Pai podem solucioná-lo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. 1 João 4:18.
Quem tem medo do lobo mal é quem vive nas sombras do engano ou na dúvida do amor irrestrito. Para estes temerosos e inseguros temos boas notícias da parte do Pai. Primeiro, ele não é o lobo mal. Segundo, Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Colossenses 1:13-14.
A religião mantém a fidelidade dos pobres adeptos sob as ameaças do medo ou pelo imperativo de um desempenho que os façam aceitáveis e aprovados pela conduta. É triste vermos camundongos tremendo nas jaulas das serpentes. Muito mais triste, ainda, é vermos almas, por quem Cristo pagou um alto preço, vivendo como ratos paralisados por ameaças atrozes de seus líderes cruéis e desonestos. Eles se aprazem em assombrar criançinhas com exigências monstruosas de legalismo.
No reino do Filho do seu amor não há mais lugar para chantagens emocionais. Não há espaço para aleivosias, com o objetivo de intimidar gente liberta pela graça imerecida. Só os ignorantes e incrédulos ainda podem viver dominados pelos espantalhos sádicos do medo. Apenas os parvos carecem de elogios, a fim de manter a fragilidade do centro adoecido da personalidade traumatizada pela ausência de sentido ou pela falta de aceitação sem o menor desempenho pessoal.
Pouca gente neste planeta sabe que Deus não apenas ama loucamente o ser humano, como gosta de ter intimidade pessoal com seus filhos. O melhor que tenho visto com a iluminação da Palavra e a revelação do Espírito Santo é que Aba, não apenas ama a mim, mas gosta muito de mim.
Este muito de Aba é impossível calcular. O absoluto é inexplicável. O infinito é desmedido. Mesmo assim, podemos gozar deste relacionamento afetuoso de modo íntimo. Basta que a Luz fulgurante de Cristo brilhe sobre nós e em nós, para que as sombras do caos mentiroso do tártaro sejam removidas, e, destarte, gozemos de uma aceitação plena como filhos de Aba.
O texto inicial do salmista já assinalava que nas trevas ninguém pode ver as maravilhas do Pai e na terra das sombras e do esquecimento, a existência é obscura. Mas o Arauto proclama repetidamente: De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida. João 8:1. Esta, sim, é uma vida irradiante.
Não existem sombras, nem assombrações na vida construída em Cristo. Dizia Santo Agostinho, quia amasti me, fecisti me amabilem. (Em me amares, tornaste-me amável.) Sou aceito pelo Pai na terna aceitação de Cristo crucificado. Nada me torna mais digno do que a dignidade do Cordeiro.
Sou filho de Aba nas abas de Cristo. Sou aceito pela graça. Sou um mendigo, membro da realeza divina. O caos agora foi dissipado pela Luz da vida. Quero, porém, deixar um aviso aos desavisados. Cuidado com a religião e os seus méritos Prosseguiu Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos. João 9:39.
O evangelho pode ser resumido assim: a luz raiou um dia em meu espírito, pela graça soberana. Sem qualquer mérito ou desempenho da minha parte, eu cri. A luz brilhou e removeu as sombras do medo e da morte, dando-me, ao mesmo tempo, a certeza de que sou amado pelo obstinado amor do meu Pai. Que sou aceito em Cristo crucificado, por seu furioso amor incondicional. Que sou aperfeiçoado, diariamente, pela santidade no amor do Espírito Santo, que nunca desiste de mim.
O que você vê ou o que não vê determina se você vive na luz do evangelho ou nas sombras tenebrosas do caos. Define também, se você vive como um filho de Aba ou como um mero servo do Altíssimo, na companhia de Nabucodonosor, Dario, Ciro e até Lúcifer. O que você está vendo?
 
Soli Deo Glória.

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