segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O PODER DO EVANGELHO NA PRÁTICA

Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; Romanos 1:16.
A vergonha cora uns e descora outros. Quem tem brio, diante do vexame, fica rubro, ou, quem sabe, vermelho por fora e irado por dentro. Quem não tem, deixa os tímidos pálidos, por isso, aquilo que nos envergonha é ridículo, por todos os lados.
A religião estimula o mérito ao máximo, enquanto desperta no íntimo a vergonha, quando se pisa na bola. Aquele que não alcança a nota de aprovação na escola do êxito, acaba sofrendo, envergonhado, por não poder desempenhar a contento. É triste e cansativo viver sob a cobrança de um modelo inatingível.
A vergonha também financia a hipocrisia pelos bastidores. As máscaras que usamos no dia a dia servem para esconder as cicatrizes da alma ou a nossa falta de aceitação. Usamos disfarces para não mostrar aquilo que nos desabona.
O evangelho não exige a performance do ego, uma vez que a única vida que vence é a de Cristo. Logo, esse modo do viver cristão se trata de uma vida substituída e nunca de uma existência desenvolvida a custo do esforço pessoal. Nada de mérito por aqui.
O evangelho é a boa notícia da nova Aliança. É o assunto da graça e o tema radical do sacrifício do Cordeiro de Deus, que promove a alforria e aceitação do pecador; tudo patrocinado pela morte e ressurreição de Cristo Jesus.
No evangelho não há espaço para a vergonha. O fracassado é aceito pelos méritos de Cristo e nunca pelo seu sucesso pessoal. O falido teve a sua conta paga de modo cabal, bem como o débito perdoado de uma vez para sempre. A sua dívida não só foi quitada, como a sua responsabilidade por pagá-la ficou sem efeito. No reino da graça não há prestações a pagar, nem Serviço de Proteção ao Crédito.
O evangelho aborda a libertação do devedor pecaminoso através da sua morte e a ressurreição juntamente com Cristo. Trata-se de uma obra de poder descomunal e fora de série, pois, mediante a graça, liberta o pecador da sua incredulidade, isto é: do pecado dos pecados. Assim, o bastardo e endividado se torna aceito como filho legítimo.
O apóstolo Paulo vê no evangelho o poder de Deus. Para ele esse poder se cristaliza na mensagem da cruz. Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. 1 Coríntios 1:18.
A salvação do pecador incrédulo é mediante a fé, e esta, é um milagre da graça, por meio da vida e obra de Cristo Jesus. Ninguém nasce neste mundo portando um mínimo de fé. Ela nos é dada pelo ouvir da palavra de Cristo, e este, crucificado.
A maior concentração das ogivas celestiais na terra ou o arsenal das dinamites divinas encontra-se na obra da cruz. Nunca houve maior poder de Deus entre os homens do que o poder da renúncia de Cristo diante da encarnação e da morte.
Aquele que teve todo poder para criar o universo, e que tinha toda a capacidade na terra para resistir àqueles que o levaram à cruz, e não o fez, é porque estava investido de um poder muito maior do que a preservação de sua identidade.
Quem é onipotente e tem todo o poder para vencer os seus inimigos, bem mais fracos, e se deixa ser vencido por esses adversários, tem que ser movido por um poder maior do que todo o poder da criação e preservação de sua imagem divina.
O Deus Criador do mundo, quando se deixou ser crucificado pela criatura imunda e presunçosa, foi muito mais poderoso, ou, melhor dizendo, exerceu muito mais do seu poder na redenção do pecador, do que em seu processo criacionista do universo. O Onipotente passivo sobre a cruz é o máximo da revelação de Deus aos homens.
O poder da renúncia divina ou da submissão de Cristo diante da morte, sim, de uma morte vil e cruel como a da cruz, é muito superior a todo poder que ele exerceu no momento da criação do cosmos.
A obra de Cristo crucificado é extremamente gloriosa e mais extraordinária do que tudo o que se pode imaginar neste mundo. Nenhum poder pode ser maior do que aquele exercido por Deus ao ser humilhado para salvar o indigno pecador, acionado e determinado por um amor incondicional.
Foi por isso que o apóstolo Paulo considerou a obra da cruz como sendo o poder de Deus por excelência, embora os gregos, em sua sabedoria, a consideram uma loucura, e os judeus, em busca de sinais e espetáculos, a vejam como um escândalo.
Contudo, esta loucura total diante da nossa teomania e este tropeço incoerente por causa do nosso esnobismo religioso, é, na verdade, a maior fortaleza divina aqui na terra. Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. 1 Coríntios 1:25.
O Deus louco de amor e despido de qualquer arrogância é capaz de revolucionar todo o sistema do poderio humano, instigado pelo veneno da Serpente. A fraqueza da cruz revela o extraordinário poder de quebrantamento da soberba pecaminosa. A humildade do Cordeiro deixa por terra a altivez do dragão.
Nada pode ser mais poderoso neste mundo de ostentações humanas do que a astenia divina. A fragilidade de Deus, entre nós, é a exuberância do seu poder, pois, nesta debilidade ele revela o seu amor infinito e incondicional.
O Cristo aparentemente fracassado na cruz era infinitamente mais forte do que qualquer Apolo no panteão, além do que, o escândalo da crucificação ultrapassa em sabedoria a galeria do conhecimento de todos os filósofos, em todos os tempos.
Nesta cena dantesca de horror inconcebível e fraqueza visível reside uma sabedoria ímpar e um poder inigualável, que transforma, pela graça suficiente do Cordeiro, o incrédulo, indigno e ímpio pecador, em filho legítimo de Abba.
A mensagem de Paulo se resume: Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. 1 Coríntios 2:2. Por que esta decisão tão absurda? Por que fazer um doutorado num tema insignificante perante a academia do saber global?
Para o apóstolo das contradições, o verdadeiro saber e a suficiência do poder se encontraram na via crucis. Aí, a sabedoria das palavras se evapora na vacuidade dos termos e na imprecisão dos seus significados. Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. 1 Coríntios 2:1. A cruz fala por si só. É o discurso dos discursos.
O poder do evangelho não se encontra nos milagres, nem na exatidão hermenêutica, mesmo que estes possam ter alguma importância. Mas o poder do evangelho reside, de fato, no escândalo da cruz e na loucura da pregação de Cristo crucificado.
Ninguém pode esgotar esse conhecimento da crucificação de Cristo, nem exaurir o poder que emana desta loucura escandalosa. A mensagem do evangelho pode ser sempre a mesma, mas o seu poder é cada vez mais abrangente e transformador.
Fico admirado quando ouço alguém dizer: "eles só pregam a cruz". Quem me dera que eu fosse um destes pregadores que só pregasse Cristo crucificado! Oh! Se eu pudesse pregar sempre e apenas a mesma verdade da cruz, eu seria, certamente, um dos pregadores mais bem sucedidos do nosso planeta.
Para Paulo, tanto a proclamação da mensagem, como o ensino mais profundo do evangelho se fundem na obra da cruz de Cristo. Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; 1 Coríntios 2:6. Esta sabedoria aqui é a da cruz. Não se trata de um conhecimento acadêmico, mas experimental.
Ele já havia comentado anteriormente que a filosofia deste tempo é vã em relação à sabedoria da cruz, e que o poder de todos os poderes deste mundo é nada em razão do amor revelado pela obra consumada na cruz, por Cristo.
Não há nenhum assunto bíblico mais profundo, poderoso e relevante do que a mensagem do evangelho focalizado na morte e ressurreição de Cristo e em nossa morte e ressurreição com Cristo. Nada é mais poderoso do que o milagre da libertação de nosso ego egoísta, egocêntrico e ególatra.
Mas aqui é como quem cava poço. Enquanto não chegarmos ao lençol d'água, não conhecemos na prática a realidade que nos satisfaz. Muitos até têm um saber intelectual do assunto, mas lhes falta a experiência. Uma coisa é saber, outra, bem diferente, é crer e considerar-se morto para o pecado e vivo para Deus em Cristo Jesus.
Como disse o apóstolo, o saber incha, mas o amor edifica. Aquele que vive a dimensão do poder do evangelho experimental vive-a pelo modelo do amor.
Já ouvi até certos inimigos da cruz pregando "redondinho" a mensagem certa da cruz. O discurso estava corretíssimo, mas o curso da vida descambava para o governo do ventre, como diz o apóstolo Paulo; ou seja, os desejos do ego.
O poder do evangelho converte o incrédulo num crente em Cristo; o egoísta num gracioso e amável; o filho do diabo num filho de Deus; o religioso num liberto; o ensimesmado num dedicado e sempre serviçal membro da família Real, onde Cristo vive nele.
Uma coisa é ser membro de um sistema religioso qualquer, outra, totalmente diferente, é ser um filho de Abba. Como costuma dizer um dos meus irmãos, "não confunda a abóboda celeste com a boba da Celeste".
O poder do evangelho não me transforma num fanático religioso ou num preconceituoso sectário, que se preocupa com detalhes do legalismo humanista, mas num filho de Deus que ama, perdoa e acolhe os diferentes com o amor de Cristo Jesus.
O poder de evangelho nos salva de nós mesmos, de nosso egoísmo desenfreado e nos transforma em expressões da vida de Cristo, vivendo em nós. Mas, tudo isso, meus amados, unicamente, pela graça. Aleluia. Amém.

Solo Deo Glória.

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