sábado, 11 de agosto de 2012

ABC DA FÉ - A CRISE

Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria, mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios. 1 Coríntios 1:22-23.
No último estudo tratamos da causa fide. O ser humano não nasce crendo em Deus. Todos nós somos, em relação a Cristo, incrédulos por natureza, e, em relação à vida, materialistas por inclinação. A fé não é natural nos descendentes de Adão. Ninguém nasce crendo em Deus.
Nascemos mortos espiritualmente e destituídos de qualquer indício de fé. Cristo é o autor da fé e a sua palavra a causa fide. Sem Cristo a humanidade vive no pecado, por conta própria. O pecador encontra-se separado de Deus e incapaz de crer. Um morto no espírito não pode entender as coisas espirituais, sem antes nascer de novo, no espírito, através do Espírito Santo.
A pregação da palavra de Cristo, focalizada no evangelho, é o esperma da vida zoê e o agente da fé na transformação de uma existência incrédula, em uma vida crente. Diante do vale de ossos secos, Ezequiel recebeu uma ordem estranhíssima do Senhor. Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR. Ezequiel 37:4.
A proclamação profética é a causa do avivamento. Um defunto espiritual só poderá ser vivificado pela pregação das boas novas. A palavra do Senhor gera vida no espírito e fé naqueles que estão ouvindo a palavra. Mas, como um osso seco pode dizer, eu ouço a palavra do Senhor? É impossível haver audiência espiritual, sem que haja primeiro, a vida de Deus, no espírito humano.
A pregação gera vida espiritual, vida que ouve a palavra crendo para o arrependimento da incredulidade. A transformação começa com a proclamação da palavra de Deus. Então, ele me disse: Profetiza ao espírito, profetiza, ó filho do homem, e dize-lhe: Assim diz o SENHOR Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre estes mortos, para que vivam. Ezequiel 37:9.
A vida espiritual vem de um modo miraculoso e imaterial. O Espírito de Deus e a palavra profética produzem vida no espírito morto em descrença íntima. A fé rompe das entranhas auditivas do vivificado pelo poder da palavra de Deus, lançando confiança no autor da fé. Cristo ao nos dar fé para crermos nele, é como um pai que dá dinheiro ao seu filhinho que quer lhe presentear no dia dos pais. Profetizei como ele me ordenara, e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso. Ezequiel 37:10.
A metáfora do profeta Ezequiel é uma figura da obra regeneradora. A palavra pregada gera vida espiritual e esta vida regenerada ouve a palavra e recebe o dom da fé para crer na palavra. Se o pecador tivesse fé natural, sua fé estaria contaminada pelo pecado da incredulidade. Então, como a descrença poderia redundar em uma crença pura? Ateísmo e fé se excluem mutuamente.
O pecador não pode crer automaticamente em Cristo. Não existe fé espontânea. Não há instinto de fé no homem natural. O pecado dos pecados é a incredulidade diante de Cristo Jesus e ninguém pode crer em Cristo sem o milagre da vivificação, por meio da palavra de Deus. A minha alma está apegada ao pó; vivifica-me segundo a tua palavra. Salmos 119:25.
A criança nasce descrente e os pais a tornam uma religiosa. Religião é a ação do ser humano em direção ao seu deus. O deus do ser religioso é feito à sua imagem e envolvido nos limites de sua imaginação. O Deus do evangelho é espiritual e não é compreendido pela mente natural.
A educação religiosa cristã ou de qualquer outro credo transforma um ateu de nascença num duvidoso, praticante de rituais. O cerimonialismo religioso e as práticas místicas ou beatas não tornam ninguém crente em Cristo. O condicionamento clássico pavloviano dos cães e o treinamento religioso dos guris têm os mesmos efeitos. Muitos são condicionados a acreditar, mas não crêem de fato na suficiência de Cristo. São treinados com metodologia, mas não vivem pela fé.
A fé transcende a física. Ela não é natural da raça humana. A Bíblia explica que a fé vem pela pregação da palavra de Cristo. Toda bebê nasce ignorante. Ele tem potencialidade de conhecimento, mas nasce analfabeto, apedeuta e agnóstico. As noções educacionais lhe são dadas e ele aprende. Todavia a fé não é aprendida. Ela é um dom da graça que brota da pregação da palavra de Deus. A kerukson, pregação é diferente da didachê, ensino. Ensinar Bíblia ao incrédulo é loucura.
O pregador ungido pelo Espírito Santo prega a mensagem inspirada da palavra de Deus e toca no espírito morto, gerando vida espiritual e dando a capacidade ao vivificado de responder mediante a fé na palavra pregada. Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que crêem. Gálatas 3:22.
A fé em Jesus Cristo é a fé proveniente de Jesus Cristo, pois ele é o autor e o consumador da fé. Ora, se o homem natural não possui fé naturalmente, então é preciso o milagre do novo nascimento para que a nova criatura se manifeste pela fé doada por Cristo, crendo em Cristo.
O escritor da carta aos Hebreus diz: De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam. Hebreus 11:6. Como, porém, uma pessoa que não nasceu espiritualmente pode buscar a Deus que é espírito? Como uma mente tridimensional pode se aproximar da realidade espiritual que ela não consegue discernir?
Neste caso os judeus pedem sinais. Para eles, milagres seriam evidências da operação divina. Mas essa questão aqui traz dificuldades extremas, porque a existência do milagre não é causa da fé. O sinal pode ser causado pela fé, mas nenhum sinal pode ser a causa da fé. Se a fé viesse por um prodígio visível, então a fé não seria realidade espiritual, mas o efeito de algo comprovado.
Quem acredita a partir dum ato miraculoso provado, não crê por fé. A evidência dum fato palpável só evidencia que há um fato de ciência e não de fé, em jogo. Um dado comprovado pode ser a prova da fé, nunca a sua causa. Aquele que pede um sinal para crer, pede porque não sabe o que é fé, pois se soubesse, saberia que a fé é a confiança no autor da palavra que não aparece visivelmente no palco. Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem. Hebreus 11:1.
Esperança visível não é esperança. Ter esperança é ver a realidade espiritual, sem enxergar o objeto da concretização aguardada. A fé é a confiança da invisibilidade esperada, em razão da absoluta consistência de quem fez a promessa. Não há fé, senão em Deus, pois ninguém é absolutamente consistente e inteiramente confiável. Se alguém precisar de um sinal para poder crer, nega categoricamente a fé e desconsidera por inteiro a imutabilidade divina.
Crer em sinais é total descrença em Cristo. Jesus nunca deu crédito em que precisasse de sinais para fundamentar a sua crença. Estando ele em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos, vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome; mas o próprio Jesus não se confiava a eles, porque os conhecia a todos. João 2:23-24. Eles viam os sinais de Jesus e Jesus via que eles não tinham fé. A fé não requer sinais, pois um sinal da fé é que ela não se baseia em sinais.
Por outro lado, diz Paulo analisando o problema da fé, os gregos buscam sabedoria. Aqui também temos problemas sérios. Apesar da fé não ser ilógica, ela ultrapassa, em muito, os limites da razão. Nem a ciência, nem a filosofia conseguem explicar as dimensões da fé. Se ela fosse perfeitamente explicável pelo homem natural, ela não seria verdadeiramente uma realidade espiritual.
Deus é o eterno absconditus e o inescrutável de eternidade a eternidade. Ninguém poderá explicá-lo, pois "o máximo que conhecemos de Deus é nada em relação ao que ele é", dizia Tomas de Aquino. Um deus que pode ser compreendido não é absolutamente o Deus absoluto. Ora, se Deus for incompreensível e a fé for um dom gracioso de Deus para seus filhos, então a fé será incrível e enigmática para o homem adâmico incrédulo.
O Senhor Deus pode ser conhecido em relacionamento pessoal, nunca em sua essência. Podemos conhecê-lo em comunhão íntima, jamais em compreensão intelectual. Um dos perigos da sofia grega é o lance da arrogância. A Bíblia diz que o saber incha. A humildade é o selo de autenticidade da sabedoria, uma vez que um PhD em divindade é uma ameaça ao corpo de Cristo.
Finalizando: a fé não precisa de qualquer outro sinal, pois o único sinal que causa a fé é Cristo. A fé deve se concretizar, mas não é a concretização da fé que explica a sua causa. Os judeus pedem sinais e os gregos buscam sabedoria, mas nós anunciamos a Cristo crucificado, loucura para os helênicos e escândalo para os hebreus, mas para nós, o Israel de Deus, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Ele é o sinal da fé e a encarnação do saber absoluto. Aleluia.

Solo Deo Glória.

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