Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.
Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de
escravidão. Galátas 5:1.
O escravo não possui liberdade. Um escravo pode ser libertado
da sua escravidão, e, neste caso, ele não será mais escravo. Um ex-escravo pode
ter sido liberto, porém, um escravo livre é uma contradição de termos. Se for
escravo, não estará livre. Se estiver livre, não será mais escravo. A questão é
que: o cristão é um escravo de Jesus Cristo, mas é livre. E, agora, não há
contradição.
Nós éramos escravos do pecado. Jesus foi muito enfático ao
dizer: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do
pecado. João 8:34. Como todos nós nascemos pecadores, todos nós nascemos
escravos do pecado. Aqui, neste caso, não há liberdade.
Adão e Eva foram criados livres. Aliás, eles foram as únicas
pessoas criadas, de fato, com livre-arbítrio. Somente eles tinham a condição de
poder não pecar e poder pecar. A sua descendên-cia já nasceu escrava do pecado.
Nós não podemos não pecar, pois viemos ao mundo com a escra-vidão do pecado no
DNA de nossas células. Todos nós nascemos escravos da rebeldia pecaminosa.
Todavia, Jesus foi também muito incisivo, quando afirmou:
Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. João 8:36.
Todos nós viemos ao mundo escravos do pecado, mas podemos ser tornados livres.
Nós não podemos nos libertar do pecado, embora possamos ser liber-tos dele. O
xis do problema é que a pessoa liberta do pecado acaba se tornando uma escrava
de Cristo. Contudo, Cristo nos libertou para a liberdade, visto que, só seremos
seus escravos, sendo livres.
A proposta de Cristo é em favor de uma libertação que nos
transforma em livres do pecado da incredulidade e da soberba do egoísmo, embora,
servos permanentes da Trindade divina Agora, porém, libertados do pecado,
transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por
fim, a vida eterna. Romanos 6:22. Esta implicação acaba promovendo a
escravatura da liberdade dos filhos de Aba, como escravos livres em Jesus
Cristo.
Ser um escravo livre é algo extraordinário. Isto significa
viver livre com um escravo na escravidão da liberdade. Nada além da emancipação
alforriada em Cristo pode contagiar os filhos de Deus. Por isso o Pai nos
libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu
amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Colossenses 1:13-14.
O cristão é um sujeito liberto, apesar de viver sujeito à
escravidão da liberdade. Ele é um objeto da libertação de Cristo, mas só existe,
sujeito à liberdade, como um sujeito da liberdade. Sua vivência como um sujeito
da liberdade tem como escopo a libertação de outros escravos do pecado, para
liberdade dos escravos livres. Somente o escravo da liberdade pode defender a
liberdade dos escravos do pecado. A verdadeira liberdade consiste na observância
da lei da liberdade.
A libertação do império das sombras não nos permite viver mais
assombrados com as som-brias assombrações das ditaduras do medo, do preconceito,
do legalismo e de todas as prisões das religiões. Uma pessoa liberta em Cristo é
uma advogada de libertação dos escravos. Deste modo, ela nunca poderá pregar
algo que venha a se constituir numa forma de cerceamento da liberdade.
Restringir ou proteger a liberdade revela total ignorância de
sua essência. Liberdade vigiada é pseudo liberdade, que mais se parece com uma
prisão disfarçada. Ninguém pode seguir a Cristo, livremente, tendo de prestar
contas às pessoas intrusas que especulam e exigem relatórios, querendo
satisfação daqueles atos executados diante do trono. Ninguém pode ser livre com
um fiscal no pé.
Foi para liberdade que Cristo nos libertou e é apenas,
permanecendo na liberdade, que po-demos continuar verdadeiramente livres,
promovendo libertação aos aprisionados do pecado e justiça entre os
injustiçados. Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo,
viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma
vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Romanos 6:17.
Obediência de má vontade ou submissão à força não procedem do
estilo livre do Evange-lho de Cristo. É preciso uma vontade liberta para uma
obediência voluntária. Se estivermos livres, de fato, estaremos livremente
envolvidos com os fatos marcantes, que conduzem ao programa da libertação dos
algemados da religião e dos prisioneiros do pecado.
É impossível alguém ser liberto e, ao mesmo tempo, ser um
carcereiro contundente de uma penitenciária de segurança máxima. A igreja nunca
foi uma cadeia, nem a assembléia do povo de Deus um campo de concentração com
vigias a postos. Por outro lado, nenhum liberto é libertino, tampouco pode se
tornar num delegado da polícia clerical, dando voz de prisão aos prisioneiros do
pecado, que ainda não conhecem a suficiência da graça plena em Cristo Jesus.
Não há um filho de Deus que seja legalista. Aquele que foi
liberto do pecado jamais viverá como escravizado da lei, escravizando legalmente
as vítimas do medo, com regras de regimentos arbitrários. Todos os libertos do
pecado são libertários e promotores da plena libertação em Cristo Jesus. A
mensagem da graça é de soltura e nunca de detenção do réu. O pregador do
Evangelho é um arauto do habeas-corpus eterno de Deus.
Temos que entender ainda que, falar de uma liberdade
condicional não tem nada a ver com a obra do Espírito Santo. Ora, o Senhor é
o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. 2 Coríntios
3:17. Se a minha liberdade em Cristo pressupõe uma condição para usu-fruí-la,
então esta condicional torna-se num limitador incontestável, que acaba cerceando
todo e qualquer sentido da verdadeira liberdade cristã. Essa condição
acondiciona a liberdade numa prisão.
Ora, se nascemos escravos do pecado e só podemos pecar, a
libertação desta escravatura tem que ser, necessariamente, a possibilidade de
que, em algum momento, também, não possamos pecar. O ser humano só será livre de
fato se ele puder fazer ou deixar de fazer algo que faz. Veja como Paulo coloca
esta tese: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as
coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. 1
Coríntios 6:12.
Por que ele tinha esta postura de não se deixar dominar por
nada? Porque ele era livre. A pessoa liberta pode fazer ou não fazer qualquer
coisa. A pessoa que é escrava do fazer algo, só poderá fazer aquilo a que ela
está escravizada, bem como aquela que é uma escrava do não fazer, somente poderá
não fazer. Neste caso, tanto a escravatura da ação, como da abstenção são
opressivas.
O ébrio é o escravo do álcool e o abstêmio é o escravo da
ausência da bebida alcoólica. Em termos práticos, na vida comunitária, o
abstêmio leva vantagem, mas em termos morais e espirituais, ele pode se tornar
um arrogante legalista, dando de dedo nos outros que são dependentes alcoólicos.
A conveniência de fazer ou não fazer alguma coisa deve me deixar conveniente
para não impor o meu modelo de vida aos outros que são diferentes de mim.
Uma pessoa liberta tem uma conduta libertadora. Conviver com os
legítimos cristãos é conviver com pessoas destituídas de camisa de força, pois a
lei do Evangelho é a lei da liberdade em que os filhos de Aba vivem para si
mesmos, na dependência da lei do amor. Mas aquele que considera, atentamente,
na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte
negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que
realizar. Tiago 1:25.
Quem é liberto não se preocupa em aprisionar ninguém. Todo
sistema de segurança má-xima pressupõe ausência de liberdade. Tentar controlar
os irmãos e tentar julgar a aparência das pessoas é, no mínimo, ignorar a
jurisdição do verdadeiro Juiz, desconhecendo o código que pode disciplinar a
conduta dos autênticos filhos de Deus. Falai de tal maneira e de tal maneira
procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade. Tiago
2:12.
Não estou propondo anarquia generalizada, por meio do
anominianismo, isto é, a ausência de lei. Na vida cristã a presença e a vigência
da lei é o amor. A lei da liberdade é governada pela essência do amor de Deus
chovido em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. En-tão, o ponto
fica assim: se amo – não mato. Tudo se resume neste principio universal. O
amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o
amor. Romanos 13:10.
Veja isto como a verdade cabal. Somente as pessoas livres podem
amar com a liberdade do amor liberto. A fé cristã não encabresta as ovelhas do
rebanho. Todas elas precisam ser livres para obedecer com a liberdade da
obediência fundamentada no amor ao Pai. Qualquer obediência exi-gida não passa
de abuso moral pela conexão de um braço-de-ferro. O amor nunca decreta uma
conduta esperada, nem demanda por seus afetos ofertados. Ele não paga o que
recebe e não cobra o que dá.
A liberdade não é o direito de fazer o que se quer, mas, sim, o
privilegio de se fazer o que o amor motiva através da sua essência. Agostinho
foi milimétrico nesta afirmação: "ama e faze o que quiseres". Quem ama cumpre a
lei de Deus, pois o amor é o código que orienta a alma liberta dos filhos de
Aba, no modo de viver a legalidade do amor, a cada dia. "Seja o que for o amor,
ele não é passivo, nem destrutivo". No que se refere às coisas sacrificadas a
ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber. O saber ensoberbece, mas
o amor edifica. 1 Coríntios 8:1.
Cristo nos libertou da escravidão do pecado, para que, nós,
livremente, fôssemos escravos da liberdade, pelo amor à liberdade dos outros que
vivem na escravidão do pecado. Quem é livre em Cristo prega a libertação que
conduz à liberdade por meio do Evangelho de Cristo. O rebanho do Senhor não foi
arrebanhado pela coação, nem é mantido por um servilismo estupidificado.
Na igreja de Cristo Jesus não há rebanhos aprisionados pelas
cercas dos regulamentos ou encabrestados pelas rédeas do dever, do interesse ou
do medo. Somos uma grei liberta pela graça a serviço da liberdade do amor sem
fronteira, pois, como dizia John Knox, "maior que os exércitos é a bondade; mais
forte do que as espadas é a liberdade". Liberdade sim, nunca liberalismo ou
libertinagem. Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não
useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros,
pelo amor. Gálatas 5:13. Amém.
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
ESCRAVOS LIVRES
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