segunda-feira, 13 de agosto de 2012

ESCRAVOS LIVRES

Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Galátas 5:1.
O escravo não possui liberdade. Um escravo pode ser libertado da sua escravidão, e, neste caso, ele não será mais escravo. Um ex-escravo pode ter sido liberto, porém, um escravo livre é uma contradição de termos. Se for escravo, não estará livre. Se estiver livre, não será mais escravo. A questão é que: o cristão é um escravo de Jesus Cristo, mas é livre. E, agora, não há contradição.
Nós éramos escravos do pecado. Jesus foi muito enfático ao dizer: Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. João 8:34. Como todos nós nascemos pecadores, todos nós nascemos escravos do pecado. Aqui, neste caso, não há liberdade.
Adão e Eva foram criados livres. Aliás, eles foram as únicas pessoas criadas, de fato, com livre-arbítrio. Somente eles tinham a condição de poder não pecar e poder pecar. A sua descendên-cia já nasceu escrava do pecado. Nós não podemos não pecar, pois viemos ao mundo com a escra-vidão do pecado no DNA de nossas células. Todos nós nascemos escravos da rebeldia pecaminosa.
Todavia, Jesus foi também muito incisivo, quando afirmou: Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. João 8:36. Todos nós viemos ao mundo escravos do pecado, mas podemos ser tornados livres. Nós não podemos nos libertar do pecado, embora possamos ser liber-tos dele. O xis do problema é que a pessoa liberta do pecado acaba se tornando uma escrava de Cristo. Contudo, Cristo nos libertou para a liberdade, visto que, só seremos seus escravos, sendo livres.
A proposta de Cristo é em favor de uma libertação que nos transforma em livres do pecado da incredulidade e da soberba do egoísmo, embora, servos permanentes da Trindade divina Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna. Romanos 6:22. Esta implicação acaba promovendo a escravatura da liberdade dos filhos de Aba, como escravos livres em Jesus Cristo.
Ser um escravo livre é algo extraordinário. Isto significa viver livre com um escravo na escravidão da liberdade. Nada além da emancipação alforriada em Cristo pode contagiar os filhos de Deus. Por isso o Pai nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Colossenses 1:13-14.
O cristão é um sujeito liberto, apesar de viver sujeito à escravidão da liberdade. Ele é um objeto da libertação de Cristo, mas só existe, sujeito à liberdade, como um sujeito da liberdade. Sua vivência como um sujeito da liberdade tem como escopo a libertação de outros escravos do pecado, para liberdade dos escravos livres. Somente o escravo da liberdade pode defender a liberdade dos escravos do pecado. A verdadeira liberdade consiste na observância da lei da liberdade.
A libertação do império das sombras não nos permite viver mais assombrados com as som-brias assombrações das ditaduras do medo, do preconceito, do legalismo e de todas as prisões das religiões. Uma pessoa liberta em Cristo é uma advogada de libertação dos escravos. Deste modo, ela nunca poderá pregar algo que venha a se constituir numa forma de cerceamento da liberdade.
Restringir ou proteger a liberdade revela total ignorância de sua essência. Liberdade vigiada é pseudo liberdade, que mais se parece com uma prisão disfarçada. Ninguém pode seguir a Cristo, livremente, tendo de prestar contas às pessoas intrusas que especulam e exigem relatórios, querendo satisfação daqueles atos executados diante do trono. Ninguém pode ser livre com um fiscal no pé.
Foi para liberdade que Cristo nos libertou e é apenas, permanecendo na liberdade, que po-demos continuar verdadeiramente livres, promovendo libertação aos aprisionados do pecado e justiça entre os injustiçados. Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça. Romanos 6:17.
Obediência de má vontade ou submissão à força não procedem do estilo livre do Evange-lho de Cristo. É preciso uma vontade liberta para uma obediência voluntária. Se estivermos livres, de fato, estaremos livremente envolvidos com os fatos marcantes, que conduzem ao programa da libertação dos algemados da religião e dos prisioneiros do pecado.
É impossível alguém ser liberto e, ao mesmo tempo, ser um carcereiro contundente de uma penitenciária de segurança máxima. A igreja nunca foi uma cadeia, nem a assembléia do povo de Deus um campo de concentração com vigias a postos. Por outro lado, nenhum liberto é libertino, tampouco pode se tornar num delegado da polícia clerical, dando voz de prisão aos prisioneiros do pecado, que ainda não conhecem a suficiência da graça plena em Cristo Jesus.
Não há um filho de Deus que seja legalista. Aquele que foi liberto do pecado jamais viverá como escravizado da lei, escravizando legalmente as vítimas do medo, com regras de regimentos arbitrários. Todos os libertos do pecado são libertários e promotores da plena libertação em Cristo Jesus. A mensagem da graça é de soltura e nunca de detenção do réu. O pregador do Evangelho é um arauto do habeas-corpus eterno de Deus.
Temos que entender ainda que, falar de uma liberdade condicional não tem nada a ver com a obra do Espírito Santo. Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. 2 Coríntios 3:17. Se a minha liberdade em Cristo pressupõe uma condição para usu-fruí-la, então esta condicional torna-se num limitador incontestável, que acaba cerceando todo e qualquer sentido da verdadeira liberdade cristã. Essa condição acondiciona a liberdade numa prisão.
Ora, se nascemos escravos do pecado e só podemos pecar, a libertação desta escravatura tem que ser, necessariamente, a possibilidade de que, em algum momento, também, não possamos pecar. O ser humano só será livre de fato se ele puder fazer ou deixar de fazer algo que faz. Veja como Paulo coloca esta tese: Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. 1 Coríntios 6:12.
Por que ele tinha esta postura de não se deixar dominar por nada? Porque ele era livre. A pessoa liberta pode fazer ou não fazer qualquer coisa. A pessoa que é escrava do fazer algo, só poderá fazer aquilo a que ela está escravizada, bem como aquela que é uma escrava do não fazer, somente poderá não fazer. Neste caso, tanto a escravatura da ação, como da abstenção são opressivas.
O ébrio é o escravo do álcool e o abstêmio é o escravo da ausência da bebida alcoólica. Em termos práticos, na vida comunitária, o abstêmio leva vantagem, mas em termos morais e espirituais, ele pode se tornar um arrogante legalista, dando de dedo nos outros que são dependentes alcoólicos. A conveniência de fazer ou não fazer alguma coisa deve me deixar conveniente para não impor o meu modelo de vida aos outros que são diferentes de mim.
Uma pessoa liberta tem uma conduta libertadora. Conviver com os legítimos cristãos é conviver com pessoas destituídas de camisa de força, pois a lei do Evangelho é a lei da liberdade em que os filhos de Aba vivem para si mesmos, na dependência da lei do amor. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar. Tiago 1:25.
Quem é liberto não se preocupa em aprisionar ninguém. Todo sistema de segurança má-xima pressupõe ausência de liberdade. Tentar controlar os irmãos e tentar julgar a aparência das pessoas é, no mínimo, ignorar a jurisdição do verdadeiro Juiz, desconhecendo o código que pode disciplinar a conduta dos autênticos filhos de Deus. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade. Tiago 2:12.
Não estou propondo anarquia generalizada, por meio do anominianismo, isto é, a ausência de lei. Na vida cristã a presença e a vigência da lei é o amor. A lei da liberdade é governada pela essência do amor de Deus chovido em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. En-tão, o ponto fica assim: se amo – não mato. Tudo se resume neste principio universal. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. Romanos 13:10.
Veja isto como a verdade cabal. Somente as pessoas livres podem amar com a liberdade do amor liberto. A fé cristã não encabresta as ovelhas do rebanho. Todas elas precisam ser livres para obedecer com a liberdade da obediência fundamentada no amor ao Pai. Qualquer obediência exi-gida não passa de abuso moral pela conexão de um braço-de-ferro. O amor nunca decreta uma conduta esperada, nem demanda por seus afetos ofertados. Ele não paga o que recebe e não cobra o que dá.
A liberdade não é o direito de fazer o que se quer, mas, sim, o privilegio de se fazer o que o amor motiva através da sua essência. Agostinho foi milimétrico nesta afirmação: "ama e faze o que quiseres". Quem ama cumpre a lei de Deus, pois o amor é o código que orienta a alma liberta dos filhos de Aba, no modo de viver a legalidade do amor, a cada dia. "Seja o que for o amor, ele não é passivo, nem destrutivo". No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber. O saber ensoberbece, mas o amor edifica. 1 Coríntios 8:1.
Cristo nos libertou da escravidão do pecado, para que, nós, livremente, fôssemos escravos da liberdade, pelo amor à liberdade dos outros que vivem na escravidão do pecado. Quem é livre em Cristo prega a libertação que conduz à liberdade por meio do Evangelho de Cristo. O rebanho do Senhor não foi arrebanhado pela coação, nem é mantido por um servilismo estupidificado.
Na igreja de Cristo Jesus não há rebanhos aprisionados pelas cercas dos regulamentos ou encabrestados pelas rédeas do dever, do interesse ou do medo. Somos uma grei liberta pela graça a serviço da liberdade do amor sem fronteira, pois, como dizia John Knox, "maior que os exércitos é a bondade; mais forte do que as espadas é a liberdade". Liberdade sim, nunca liberalismo ou libertinagem. Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Gálatas 5:13. Amém.

Solo Deo Glória.

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