Eu vos dei
autoridade para pisardes sobre serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do
inimigo; nada vos causará dano algum. Contudo, alegrai-vos não porque os
espíritos se submetem a vós, mas porque vosso nome está escrito nos
céus. Lucas 10:19-20.
Na cultura
pós-moderna está cada vez mais difícil diferenciar valores eternos daqueles que
são secundários e circunstanciais. Está havendo, mais do que em qualquer outra
época, uma subversão das prioridades. Ao relativizar o Absoluto e absolutizar o
relativo, a desordem reina em todas as dimensões da vida, quer seja espiritual,
emocional ou física. Por esta razão distinguir o que é prioridade na vida é
fundamental. Porém não basta ter a lista correta de prioridades descritas no
papel ou na cabeça, elas precisam ser vivenciadas.
Essa inversão na
ordem de prioridades também tem avassalado a vida espiritual de muitos crentes.
É impressionante como pessoas dos círculos evangélicos têm se ocupado dos
aspectos periféricos da vida cristã e deixado de lado o que é essencial e
eterno. A neurose do fazer e a busca desenfreada por experiências são dois
fenômenos que tem eclipsado a graça de Deus e a pessoa de Jesus Cristo para
muitos crentes.
Não são poucas as
pessoas que confundem ser cristão com estar engajado em alguma atividade
religiosa. Crêem que é possível agradar a Deus e a si mesmos por meio do
desempenho. Como disse Caio Fabio, Dar fruto, para um evangélico, em geral, é
participar das atividades da igreja, evangelizar e ganhar pessoas para a fé da
igreja—e isto só se contabiliza como "ganho" quando a pessoa se integra na
igreja—, ser ativo em departamentos da igreja, ser notado na igreja como alguém
com quem se conta; e, também, ser capaz de gostar de tudo o que a igreja ensina,
e um monte de outras coisas, todas relacionadas à igreja... Se não se diz a eles
para "fazerem" alguma coisa, dá-lhes a sensação de não estarem dando
"fruto"... - "Servir à Deus" é a palavra de ordem deste tipo de
crente.
Por outro lado, tem o
grupo que vive à procura de experiências. Vivem ansiosos pela próxima injeção de
entusiasmo espiritual. Como diagnosticou Roy Ression: Isto produz uma
situação triste – crentes famintos e insatisfeitos a buscar a este ou aquele
pregador, na esperança de que seja portador do "segredo" ou, dirigindo-se a esta
ou aquela reunião, no desejo de experimentar novas fórmulas para obter a benção,
buscando experiências novas, e caindo ou no orgulho ou no desespero, dependendo
de sentir que receberam ou não a bênção. Isto ainda deixa o crente centralizado
em seu "Eu", ocupado consigo mesmo e suas experiências, e pode leva-lo- a muita
angústia mental, através da confusão entre muitos ensinamentos e ênfases na
santificação e doutrina congêneres. Esta turma ainda não descobriu se de
fato busca a santificação ou a satisfação.
Assim, vemos em
muitas igrejas, cristãos vivendo uma neurose coletiva, distorcendo a realidade
ao firmar a sua fé na areia movediça do serviço cristão e da emoção. Isto tem
acontecido porque o evangelho não tem sido posto em primeiro lugar. O grande
erro das igrejas contemporâneas tem sido: substituir a visão da Pessoa e da obra
de Cristo por algo de menor importância. Normalmente, é o aspecto subjetivo que
tem ocupado o lugar dos atos objetivos e históricos de Cristo. O que acontece
"em nós" está mais enfatizado do que o que aconteceu "em favor de nós". O
pessoal em primazia do histórico. Esta é a razão de tanta ênfase no serviço
cristão, experiências e questões humanas. Quando se perde Cristo de vista, não
resta outra coisa a não ser a miserável realidade humana.
No Evangelho de
Lucas, capítulo 10 vemos o Senhor Jesus ensinando e corrigindo este tipo de
erro. Ao instruir os 70 discípulos sobre a tarefa que lhes era designada, Jesus
estabeleceu os princípios de missão para todos nós. Ensinou que a glória e
alegria no Reino de Deus reside somente em Deus e na sua graça. O texto de Lucas
diz: Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em
dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para
ir. Lucas 10:1 Jesus chamou setenta dos seus discípulos, deu as instruções
de como deveriam fazer a missão entre os judeus. Estavam indo como ovelhas para
o meio de lobos, e deveriam portar a seguinte mensagem: A vós outros está
próximo o reino de Deus. Lucas 10:9. Avisou que deveriam esperar a rejeição.
Mas mostrou também a identificação divina com os discípulos: Quem vos der
ouvidos ouve-me a mim, e quem vos rejeitar a mim me rejeita; que, porém,
me rejeitar rejeita aquele que me enviou." Lucas 10:19.
A missão dos Setenta
foi altamente importante para o desenvolvimento dos planos de Deus. Os
discípulos deviam atentar para aquilo que é espiritual e eterno, ou seja,
discernir os desígnios eternos de Deus. Um novo momento estava sendo inaugurado
na história da Salvação. O Reino de Deus estava representado na pessoa do Rei.
Em meio à rejeição por parte de Israel e do mundo, um povo celestial estava
despontando, a Igreja. A autoridade delegada ao discípulos evidenciou que a
derrota final de Satanás estava bem próxima. Os discípulos deviam perceber que
faziam parte de uma realidade maior, na qual há louvor apenas para a graça de
Deus.
Então, regressaram
os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos
submetem pelo teu nome! Lucas 9:17. Os setenta vieram repletos de alegria.
Estavam contentes com o êxito na obra do Senhor. Então, Jesus descreve a
dimensão da autoridade que lhes fora delegada. Mas adverte: Não obstante,
alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome
está arrolado nos céus. Os discípulos não deviam se gloriar do seu
desempenho ou labor na Seara. Normalmente o exercício de poder sobrenatural
impressiona os homens. Expulsar demônios ou resistir aos ataques do inimigo
chamam nossa atenção. Contudo a maior glória de um discípulo de Jesus Cristo é a
de receber a graça de Deus, ao invés de contabilizar o êxito de seu serviço
cristão. Assim não há o perigo da glória de Deus ser usurpada.
Como Fred
Craddock lembrou em seu comentário sobre Lucas, "Nossa alegria maior deve
ser, não que tenhamos certos dons ou habilidades, mas, que Deus nos recebeu e
nos aceitou que nossos nomes estão arrolados nos céus." Esta alegria é maior
porque é a manifestação do amor de Deus por meio de Jesus. E esta alegria durará
pela eternidade. Mas, o que significa ter o nome escrito nos céus ?
Nos Salmos 84:11 o
salmista diz: O Senhor dará graça e glória. Ter o nome escrito nos céus
significa receber da plenitude da graça de Deus e receber as riquezas de sua
glória. Jesus ensinou-nos que: Dar é melhor do que receber. Atos 20:35.
DAR é principio que move o coração de Deus, ou seja: Graça. Foi do agrado do Pai
compartilhar o Seu Reino com a raça humana. Logo após aquelas palavras diz a
passagem bíblica: Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou:
Graças te dou, ó Pai, Senhor dos céu e da terra, porque ocultaste estas coisas
aos sábios e instruídos e as revelaste ao pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim
foi do teu agrado. Lucas 10:21. Aqui podemos ver a alegria de Jesus, e
também da Trindade. Alegria compartilhada com os pequeninos deste mundo, gente
necessitada, gente humilde. Gente pronta para receber aquilo que vem do
céu.
Nós cristãos temos de
estar continuamente lembrando da posição elevada e da valiosa herança que temos
em Cristo. Nesses versículos estão resumidos alguns dos inestimáveis tesouros
que Cristo conquistou para nós. Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade
do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e as incontáveis hostes de anjos, e à
universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o
Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador
da nova aliança, a ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala
o próprio Abel. Hebreus 12:22-24. Essa é nossa verdadeira identidade.
A nossa verdadeira
identidade não se dá por termos o nosso nome escrito em qualquer lugar
importante neste mundo, mas sim por estarmos entre aqueles que estão
inscritos no livro da vida do Cordeiro. Apocalipse 21:27. Isso quer dizer,
agora somos Dele. Fomos comprados e justificados pelo seu sangue. Fomos libertos
do poder do pecado mediante a união com ele em sua morte e ressurreição. Fomos
incorporados ao povo celestial, que é a Igreja. Fomos feitos filhos de Deus e
testemunhas de Cristo. Recebemos um novo coração. Recebemos o Espírito Santo em
nossas vidas. Recebemos autoridade contra os poderes das trevas e recebemos uma
herança incorruptível, incontaminável e imarcescível guardada no céus. 1ª
Pedro 1:4.
O texto de Lucas
10:20b assegura-nos que o vosso nome está arrolado nos céus. Isso deve
ser motivo da maior alegria – não o domínio sobre outros, o poder espiritual ou
o que realizamos! Batizados em Cristo, integrados à Igreja , temos o nosso nome
arrolado nos céus. Regozijar na Graça, nos eternos desígnios de Deus que nos tem
concedido um lugar e um nome nos céus. "Emanuel" é o nome deste plano eterno.
Deus conosco na pobreza e na humilhação, Deus conosco na provação e na tristeza.
Deus conosco no sofrimento e na morte. Deus na ressurreição e ascensão aos céus.
Ou seja, Deus conosco na terra e céus. Nisto reside a alegria do cristão.
Infelizmente, a graça
tem sido tirado da "programação" de muitas igrejas, e junto com ela a alegria da
salvação. Em seu lugar fica o consolo proveniente de um ativismo religioso,
experiências catárticas e uma busca de satisfação confundida com santificação.
Apenas "chupetas" para nenês chorões. Mas, servir ao eu em um sistema religioso
é apenas um prazer circunstancial, que mais cedo ou mais tarde fará com que a
personalidade humana questione: "A comunhão é muito boa, participar das
atividades é legal, mas o que estou fazendo aqui ?". Isto foi o que ouvi poucos
dias atrás de um jovem bastante ativo em sua igreja local. Com certeza, Deus tem
mais, muito mais. Tu me farás conhecer a vereda da vida; em tua presença há
plenitude de alegria, em tua destra, há delicias eternamente. Salmos 16:11.
Revelação do Caminho da Vida, comunhão com o Deus Vivo e satisfação em Cristo
garantida por toda eternidade, você ainda quer mais?
A felicidade do Reino
é diferente porque o Deus de Jesus é diferente dos critérios terrenos e
mundanos. Alegria baseada na fé, e não na instabilidade das circunstancias do
tempo e do lugar, comprometida com a realidade espiritual e não temporal. Fomos
destinados a participar da alegria de Jesus. Alegria que fez suportar a cruz até
as ultimas conseqüências. Em troca da alegria que lhe estava proposta,
suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do
trono de Deus. Hebreus 12:2 Alegria que custou a tristeza do Salvador e do
Deus Pai. No Getsemani, Jesus disse: A minha alma está profundamente triste
até a morte. Mateus 26:38. Alegria de ver todos os povos redimidos através
de sua obra. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará
satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos,
porque as iniqüidades deles levará sobre si. Isaías 53:11. Jesus é nossa
fonte de Alegria, pois é a nossa segurança de salvação e dos desígnios de Deus
em relação a nós.
A cura para as nossas
neuroses e prioridades avessas está em tomar posse pela fé de tudo que Jesus
conquistou por nós na cruz. Assim nosso espírito, alma e corpo podem ser
equilibrados e alinhados dentro de uma agenda de prioridades em que o próprio
Deus controla de acordo com Seus propósitos eternos. Segundo Calvino só há uma
receita para uma espiritualidade saudável : "uma firme e certeira persuasão
da benevolência de Deus em relação a nós". Isto significa que podemos
usufruir da alegria nas suas três dimensões: passada, presente e
futura.
O que Cristo fez por nós, o que Ele
é para nós, e o nosso Futuro glorioso com Ele. Isto quer dizer também que
estamos a caminho para o céu, como afirma o apóstolo Paulo a nossa pátria
está nos céus. Mas enquanto estamos na terra, devemos compartilhar com todos
que desconhecem Jesus Cristo e o Evangelho da Graça. Aqueles que tem esta
convicção podem se alegrar em saber que o melhor ainda está por vir. Ao
vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca,
e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto
aquele que o recebe. Apocalipse 2.17. O vencedor será assim vestido de
vestiduras brancas, de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo
contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.
Apocalipse. 3.5
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 5 de agosto de 2012
A PRIORIDADE DO REINO
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