domingo, 5 de agosto de 2012

A PRIORIDADE DO REINO


Eu vos dei autoridade para pisardes sobre serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; nada vos causará dano algum. Contudo, alegrai-vos não porque os espíritos se submetem a vós, mas porque vosso nome está escrito nos céus. Lucas 10:19-20.
Na cultura pós-moderna está cada vez mais difícil diferenciar valores eternos daqueles que são secundários e circunstanciais. Está havendo, mais do que em qualquer outra época, uma subversão das prioridades. Ao relativizar o Absoluto e absolutizar o relativo, a desordem reina em todas as dimensões da vida, quer seja espiritual, emocional ou física. Por esta razão distinguir o que é prioridade na vida é fundamental. Porém não basta ter a lista correta de prioridades descritas no papel ou na cabeça, elas precisam ser vivenciadas.
Essa inversão na ordem de prioridades também tem avassalado a vida espiritual de muitos crentes. É impressionante como pessoas dos círculos evangélicos têm se ocupado dos aspectos periféricos da vida cristã e deixado de lado o que é essencial e eterno. A neurose do fazer e a busca desenfreada por experiências são dois fenômenos que tem eclipsado a graça de Deus e a pessoa de Jesus Cristo para muitos crentes.
Não são poucas as pessoas que confundem ser cristão com estar engajado em alguma atividade religiosa. Crêem que é possível agradar a Deus e a si mesmos por meio do desempenho. Como disse Caio Fabio, Dar fruto, para um evangélico, em geral, é participar das atividades da igreja, evangelizar e ganhar pessoas para a fé da igreja—e isto só se contabiliza como "ganho" quando a pessoa se integra na igreja—, ser ativo em departamentos da igreja, ser notado na igreja como alguém com quem se conta; e, também, ser capaz de gostar de tudo o que a igreja ensina, e um monte de outras coisas, todas relacionadas à igreja... Se não se diz a eles para "fazerem" alguma coisa, dá-lhes a sensação de não estarem dando "fruto"... - "Servir à Deus" é a palavra de ordem deste tipo de crente.
Por outro lado, tem o grupo que vive à procura de experiências. Vivem ansiosos pela próxima injeção de entusiasmo espiritual. Como diagnosticou Roy Ression: Isto produz uma situação triste – crentes famintos e insatisfeitos a buscar a este ou aquele pregador, na esperança de que seja portador do "segredo" ou, dirigindo-se a esta ou aquela reunião, no desejo de experimentar novas fórmulas para obter a benção, buscando experiências novas, e caindo ou no orgulho ou no desespero, dependendo de sentir que receberam ou não a bênção. Isto ainda deixa o crente centralizado em seu "Eu", ocupado consigo mesmo e suas experiências, e pode leva-lo- a muita angústia mental, através da confusão entre muitos ensinamentos e ênfases na santificação e doutrina congêneres. Esta turma ainda não descobriu se de fato busca a santificação ou a satisfação.
Assim, vemos em muitas igrejas, cristãos vivendo uma neurose coletiva, distorcendo a realidade ao firmar a sua fé na areia movediça do serviço cristão e da emoção. Isto tem acontecido porque o evangelho não tem sido posto em primeiro lugar. O grande erro das igrejas contemporâneas tem sido: substituir a visão da Pessoa e da obra de Cristo por algo de menor importância. Normalmente, é o aspecto subjetivo que tem ocupado o lugar dos atos objetivos e históricos de Cristo. O que acontece "em nós" está mais enfatizado do que o que aconteceu "em favor de nós". O pessoal em primazia do histórico. Esta é a razão de tanta ênfase no serviço cristão, experiências e questões humanas. Quando se perde Cristo de vista, não resta outra coisa a não ser a miserável realidade humana.
No Evangelho de Lucas, capítulo 10 vemos o Senhor Jesus ensinando e corrigindo este tipo de erro. Ao instruir os 70 discípulos sobre a tarefa que lhes era designada, Jesus estabeleceu os princípios de missão para todos nós. Ensinou que a glória e alegria no Reino de Deus reside somente em Deus e na sua graça. O texto de Lucas diz: Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir. Lucas 10:1 Jesus chamou setenta dos seus discípulos, deu as instruções de como deveriam fazer a missão entre os judeus. Estavam indo como ovelhas para o meio de lobos, e deveriam portar a seguinte mensagem: A vós outros está próximo o reino de Deus. Lucas 10:9. Avisou que deveriam esperar a rejeição. Mas mostrou também a identificação divina com os discípulos: Quem vos der ouvidos ouve-me a mim, e quem vos rejeitar a mim me rejeita; que, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou." Lucas 10:19.
A missão dos Setenta foi altamente importante para o desenvolvimento dos planos de Deus. Os discípulos deviam atentar para aquilo que é espiritual e eterno, ou seja, discernir os desígnios eternos de Deus. Um novo momento estava sendo inaugurado na história da Salvação. O Reino de Deus estava representado na pessoa do Rei. Em meio à rejeição por parte de Israel e do mundo, um povo celestial estava despontando, a Igreja. A autoridade delegada ao discípulos evidenciou que a derrota final de Satanás estava bem próxima. Os discípulos deviam perceber que faziam parte de uma realidade maior, na qual há louvor apenas para a graça de Deus.
Então, regressaram os setenta, possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome! Lucas 9:17. Os setenta vieram repletos de alegria. Estavam contentes com o êxito na obra do Senhor. Então, Jesus descreve a dimensão da autoridade que lhes fora delegada. Mas adverte: Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus. Os discípulos não deviam se gloriar do seu desempenho ou labor na Seara. Normalmente o exercício de poder sobrenatural impressiona os homens. Expulsar demônios ou resistir aos ataques do inimigo chamam nossa atenção. Contudo a maior glória de um discípulo de Jesus Cristo é a de receber a graça de Deus, ao invés de contabilizar o êxito de seu serviço cristão. Assim não há o perigo da glória de Deus ser usurpada.
Como Fred Craddock lembrou em seu comentário sobre Lucas, "Nossa alegria maior deve ser, não que tenhamos certos dons ou habilidades, mas, que Deus nos recebeu e nos aceitou que nossos nomes estão arrolados nos céus." Esta alegria é maior porque é a manifestação do amor de Deus por meio de Jesus. E esta alegria durará pela eternidade. Mas, o que significa ter o nome escrito nos céus ?
Nos Salmos 84:11 o salmista diz: O Senhor dará graça e glória. Ter o nome escrito nos céus significa receber da plenitude da graça de Deus e receber as riquezas de sua glória. Jesus ensinou-nos que: Dar é melhor do que receber. Atos 20:35. DAR é principio que move o coração de Deus, ou seja: Graça. Foi do agrado do Pai compartilhar o Seu Reino com a raça humana. Logo após aquelas palavras diz a passagem bíblica: Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor dos céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste ao pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Lucas 10:21. Aqui podemos ver a alegria de Jesus, e também da Trindade. Alegria compartilhada com os pequeninos deste mundo, gente necessitada, gente humilde. Gente pronta para receber aquilo que vem do céu.
Nós cristãos temos de estar continuamente lembrando da posição elevada e da valiosa herança que temos em Cristo. Nesses versículos estão resumidos alguns dos inestimáveis tesouros que Cristo conquistou para nós. Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e as incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados, e a Jesus, o Mediador da nova aliança, a ao sangue da aspersão que fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel. Hebreus 12:22-24. Essa é nossa verdadeira identidade.
A nossa verdadeira identidade não se dá por termos o nosso nome escrito em qualquer lugar importante neste mundo, mas sim por estarmos entre aqueles que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro. Apocalipse 21:27. Isso quer dizer, agora somos Dele. Fomos comprados e justificados pelo seu sangue. Fomos libertos do poder do pecado mediante a união com ele em sua morte e ressurreição. Fomos incorporados ao povo celestial, que é a Igreja. Fomos feitos filhos de Deus e testemunhas de Cristo. Recebemos um novo coração. Recebemos o Espírito Santo em nossas vidas. Recebemos autoridade contra os poderes das trevas e recebemos uma herança incorruptível, incontaminável e imarcescível guardada no céus. 1ª Pedro 1:4.
O texto de Lucas 10:20b assegura-nos que o vosso nome está arrolado nos céus. Isso deve ser motivo da maior alegria – não o domínio sobre outros, o poder espiritual ou o que realizamos! Batizados em Cristo, integrados à Igreja , temos o nosso nome arrolado nos céus. Regozijar na Graça, nos eternos desígnios de Deus que nos tem concedido um lugar e um nome nos céus. "Emanuel" é o nome deste plano eterno. Deus conosco na pobreza e na humilhação, Deus conosco na provação e na tristeza. Deus conosco no sofrimento e na morte. Deus na ressurreição e ascensão aos céus. Ou seja, Deus conosco na terra e céus. Nisto reside a alegria do cristão.
Infelizmente, a graça tem sido tirado da "programação" de muitas igrejas, e junto com ela a alegria da salvação. Em seu lugar fica o consolo proveniente de um ativismo religioso, experiências catárticas e uma busca de satisfação confundida com santificação. Apenas "chupetas" para nenês chorões. Mas, servir ao eu em um sistema religioso é apenas um prazer circunstancial, que mais cedo ou mais tarde fará com que a personalidade humana questione: "A comunhão é muito boa, participar das atividades é legal, mas o que estou fazendo aqui ?". Isto foi o que ouvi poucos dias atrás de um jovem bastante ativo em sua igreja local. Com certeza, Deus tem mais, muito mais. Tu me farás conhecer a vereda da vida; em tua presença há plenitude de alegria, em tua destra, há delicias eternamente. Salmos 16:11. Revelação do Caminho da Vida, comunhão com o Deus Vivo e satisfação em Cristo garantida por toda eternidade, você ainda quer mais?
A felicidade do Reino é diferente porque o Deus de Jesus é diferente dos critérios terrenos e mundanos. Alegria baseada na fé, e não na instabilidade das circunstancias do tempo e do lugar, comprometida com a realidade espiritual e não temporal. Fomos destinados a participar da alegria de Jesus. Alegria que fez suportar a cruz até as ultimas conseqüências. Em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hebreus 12:2 Alegria que custou a tristeza do Salvador e do Deus Pai. No Getsemani, Jesus disse: A minha alma está profundamente triste até a morte. Mateus 26:38. Alegria de ver todos os povos redimidos através de sua obra. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si. Isaías 53:11. Jesus é nossa fonte de Alegria, pois é a nossa segurança de salvação e dos desígnios de Deus em relação a nós.
A cura para as nossas neuroses e prioridades avessas está em tomar posse pela fé de tudo que Jesus conquistou por nós na cruz. Assim nosso espírito, alma e corpo podem ser equilibrados e alinhados dentro de uma agenda de prioridades em que o próprio Deus controla de acordo com Seus propósitos eternos. Segundo Calvino só há uma receita para uma espiritualidade saudável : "uma firme e certeira persuasão da benevolência de Deus em relação a nós". Isto significa que podemos usufruir da alegria nas suas três dimensões: passada, presente e futura.
O que Cristo fez por nós, o que Ele é para nós, e o nosso Futuro glorioso com Ele. Isto quer dizer também que estamos a caminho para o céu, como afirma o apóstolo Paulo a nossa pátria está nos céus. Mas enquanto estamos na terra, devemos compartilhar com todos que desconhecem Jesus Cristo e o Evangelho da Graça. Aqueles que tem esta convicção podem se alegrar em saber que o melhor ainda está por vir. Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe. Apocalipse 2.17. O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Apocalipse. 3.5

Solo Deo Glória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário