Vinde a mim todos os que
estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu
jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis
descanso para as vossas almas. Mateus 11:28-29.
Aqui temos um
imperativo estimulante. É uma convocação indiscutível que ao mesmo tempo se
torna num convite cordial. Jesus ordena aos cansados que venham a ele, contudo o
seu chamamento não é cogente. Ele não está exigindo desempenho forçoso, embora o
apelo nos pareça irrecusável. O Senhor abre a porta aos executivos exaustos e
faculta o ingresso aos oprimidos.
O evangelho é
uma proposta para os esforçados que se encontram agora esgotados. Sabemos que
muita gente, ainda que exaurida, não aceita repouso, pois são orgulhosas demais
para ter uma vida de feriado. A religião não tolera folga, por isso os
israelitas não acolheram o convite de Javé. Porque assim diz o Senhor Deus, o
Santo de Israel: em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na
tranqüilidade e na confiança, a vossa força, mas não o quisestes. Isaias
30:15. Essa turma possante e laboriosa não admite de modo algum entrar em
férias.
Retirar o ser
humano do controle e governo de suas atividades é a tarefa mais difícil que
existe para qualquer outro membro da raça. Aliás, não é difícil, é impossível.
Esta empreitada só poderá ser feita de modo eficaz pelo Deus, Todo-Poderoso, e
será sempre um grande milagre.
O gênero
adâmico vive a ditadura da autonomia e não se conforma quando não tem a
supervisão da situação. Com isto a canseira não fica por conta do trabalho, mas
da falta de comando da conjuntura e da ansiedade pela governabilidade do
processo. No fundo de toda atividade humana existe uma grande tensão em manter o
ritmo dos acontecimentos sob o domínio pessoal.
A Bíblia exibe
uma galeria de chefes de tribos ou caciques de conduta, gente que vive se
remoendo e se intrometendo na vida alheia com o propósito de exercer o controle
sob a situação. Veja por exemplo como Marta ficou estressada porque a sua irmã a
deixou sozinha lidando com as coisas da casa, enquanto usufruía da comunhão com
o Senhor.
A vida de
Marta nos sugere que ela era uma criatura muito prestativa, mas apresentava uma
mentalidade serviçal conduzida pelos resultados, não conseguindo ver a
importância de um convívio amistoso e descontraído com o Senhor. O seu nível de
cobrança repousava em pontos muito elevados e sua atuação requeria uma maior
visibilidade pública.
Talvez, para
ela, o que se devia agendar como mais relevante seria o papel em favor de sua
própria imagem e não o relacionamento íntimo e pessoal com Jesus. Foi neste
contexto complexo de implicância doméstica que respondeu-lhe o Senhor: Marta!
Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é
necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois escolheu a boa parte, e esta não
lhe será tirada. Lucas 10:41-42.
Somos uma
casta encasacada com auto-estima e blindada por uma alta arrogância que nos
impede de investigar a nossa própria realidade, mas mesmo assim, pode-se ver em
cada casa neste planeta algo intrigante e curioso que nos permite perceber a
martirização generalizada, sob os efeitos da exigência que cobra um maior
desempenho para a aprovação.
O sistema
pedagógico deste mundo aprova apenas os melhores que tiveram a mais perfeita
atuação. A busca pela excelência tem um lado positivo válido, todavia passa por
uma auto-estrada com excesso de perigos. Ser sempre mais, maior e melhor é o
sintoma de uma doença extremamente grave e um vício terrível do ego. O egoísta
não suporta perder o domínio dos acontecimentos, mas segundo o irmão Christian
Chen, "no reino de Deus ganhar é perder e perder é ganhar".
O sexto dia da
criação foi um período de grande atividade por parte do Criador, dando origem
aos seres viventes. No final daquele dia Deus fez o homem a sua imagem e
semelhança como o último elemento do seu projeto. Adão não surgiu no meio do
processo criador, mas ao término de tudo. No dia seguinte, o sétimo, Deus
descansou de todo o seu trabalho.
O descanso de
Deus é o primeiro dia da existência de Adão. A humanidade não começou a sua
história antes de tudo estar concluído. O seu início é exatamente no período que
se denomina o repouso do Criador. O dia sabático de Deus é o começo da jornada
do homem na terra, apontando para um fato muito importante: sem descanso ninguém
consegue trabalhar com prazer.
Depois que
surgiu o pecado vemos uma mudança de parâmetro na estimativa do repouso. O
acordo do Sinai mostra que houve uma reviravolta nas condições de ajuizamento do
sábado. No principio o homem via o ócio antes do negócio e as férias vinham na
frente do trabalho. Tudo dependia da obra perfeita e realizada exclusivamente
pela Trindade. Contudo, após a rebelião promovida pela serpente, o descanso do
executivo deriva dos resultados de seu bom desempenho e o lazer é uma recompensa
pelos esforços desprendidos.
O sábado da
lei vem em seguida ao batente na semana transpirada que se expira. Seis dias
se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao
Senhor. Êxodo 31:15a. Agora era preciso atuação para se chegar à trégua. O
descanso é conseqüência do empenho. Não se trata mais de uma mesada antecipada
para um filho amado, mas de um salário posposto para um servo suado que precisa
preencher os requisitos de sua aceitação a contento.
No princípio
Deus fez tudo em seis dias para depois descansar no sétimo. O homem foi criado
no fim do sexto dia e o primeiro lance na sua vida após ter sido criado foi
repousar, não foi trabalhar. Posteriormente à transgressão, o descanso só viria
como uma implicação do trabalho realizado pelo homem. Isto significava um câmbio
na aliança. Antes do pecado o descanso decorria como resultado da obra
totalizada da criação. Depois do pecado o sábado na vida do ser humano é um
produto do seu esforço, pois vem no fim da semana do seu trabalho.
O descanso da
lei é uma proposta inatingível. Por mais que o homem faça as suas tarefas morais
com esmero e se aplique ao máximo em seu desempenho, ele nunca conseguirá
alcançar o padrão exigido pela lei. Assim a humanidade vive cansada e enfastiada
por causa do peso da responsabilidade e das exigências éticas procedentes da
perfeição legal. A lei é santa, espiritual e boa, eu, todavia, sou carnal,
vendido à escravidão do pecado. Romanos 7:14b.
O conflito da
lei do pecado com a lei divina, que é perfeita, gera uma guerra puxada e
cansativa que exaure a alma. O fracasso no descumprimento da lei ou o orgulho na
prática de algum mandamento acabam produzindo um rombo de energia em nosso ser
que, em última análise, vai se refletir num estado de esfalfamento e enfado em
nosso interior.
A ordem
convidativa do Senhor tinha como pano de fundo este estado de sobrecarga. Havia
uma multidão de cansados e oprimidos sem qualquer chance de alívio sob o peso
intolerável do legalismo e Jesus apela para a alternativa do sábado da redenção.
Adão foi criado no sexto dia e Jesus foi crucificado na sexta-feira pascal, a
fim de desconstruir o modelo exigente de contrapartida e estabelecer o novo
padrão de aceitação do pecador pela suficiência da graça incondicional.
O sábado da
redenção fala da obra consumada do justificador e do descanso duradouro que o
devedor experimenta pela liquidação permanente do seu débito. Agora já não há
mais prestações a serem pagas nem o seu nome vai igualmente para algum Serasa ou
Seproc beatificado.
Porém o
descanso da alma tem ainda a ver com a peregrinação. A questão não é apenas
atual, mas processual. A vida de intimidade com o Senhor é um convite ao
descanso na comunhão. Os judeus também tiveram essa oportunidade e não
aceitaram. Assim diz o Senhor: ponde-vos à margem no caminho e vede,
perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis
descanso para as vossas almas; mas eles dizem: não andaremos. Jeremias
6:16.
Cristo não é
apenas o justificador. É também o santificador. A via da santidade é um acesso
de permanência reservada e contínua com o tronco da Videira. O sossego da alma
nas entranhas da árvore da vida gera um estado de bem-aventurança que desemboca
num gozo inalterável. Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja
em vós, e o vosso gozo seja completo. João 15:11. Vida de Cristo com mau
humor e descontentamento é uma aberração.
Ser um ramo
permanente e silencioso na Videira é usufruir as riquezas fertilizadoras e
insondáveis da própria Planta. Uma santidade sem o contentamento que se rende no
descanso da alma não tem qualquer semelhança com a vida em Cristo. Como diz
Osmar Ludovico: "o secreto não é um local, mas um estado de consciência. No
secreto não estamos sozinhos, pois nossa alma encontra o Deus vivo e
verdadeiro".
A quietude da
alma no relacionamento particular com Cristo é a fonte de sua maior atividade
espiritual. Quando a alma se aquieta como uma criança amamentada no colo de sua
mãe, então a vida espiritual mais profunda começa a jorrar através de suas
expressões visíveis. Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não
temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a
minha salvação. Isaías 12:2.
A vida
espiritual autêntica é a vazão da vida de Cristo do nosso espírito para a nossa
alma suscitando descanso e familiaridade como o Senhor e motivando um ambiente
de paz e afeto com os irmãos. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu
interior fluirão rios de água viva. João 7:38. Não existe descanso onde
houver comparação, competição e complicação.
Essa vida de
descanso da alma é a existência permanente da comunhão íntima e silente do ramo
com a fonte eterna da vida que brota da Videira verdadeira. Somente em Deus,
ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha salvação
(esperança). Salmos 62:1 e 5. O sábado da redenção é a entrada e permanência
festiva no repouso do Senhor. Aquele que se satisfaz plenamente em Cristo tem
uma alma bem-aventurada que vive serena e confiadamente no
Senhor.
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 28 de julho de 2012
O DESCANSO PARA ALMA
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