E do modo por que Moisés levantou a serpente no
deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que
nele crê tenha a vida eterna. João 3:14-15.
Asclépio, deus grego da medicina, também chamado
pelos romanos de Esculápio, tinha a serpente como um dos seus atributos. Aquele
que curava trazia à lembrança aquela que matava. A vida e a morte caminham
juntas. Esta figura mitológica aponta para uma época em que a morte veio reinar
no seio da humanidade. Ela fala de perto da entrada do pecado no coração da raça
humana. No Jardim do Éden vemos claramente a cena em que a serpente assume o
papel virulento para intoxicar o ser humano com o gérmen do pecado e da morte. A
partir deste momento a humanidade ficou encerrada no pecado e prisioneira da
morte. A medicina tenta minimizar os efeitos do veneno da serpente, e deste
modo, adiar um pouco mais a sombra pavorosa da morte sobre o enfermo. Mas é só
uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde a morte finca suas presas
invisíveis na pobre vítima que tomba fria sob o seu domínio. Somos uma geração
regida pelos efeitos invencíveis da morte. Do ponto de vista dos homens, a morte
tornou-se um inimigo inexpugnável. Como dizia Thomas Adams, a morte
exclui a diferença entre o rei e o mendigo e derruba tanto o cavaleiro quanto o
peão. Com freqüência a morte se encontra tão próxima da juventude como da
velhice. E ela sempre nos surpreende com suas armadilhas, levando quem menos
esperávamos.
A morte elabora a estatística mais precisa de toda
história. De cada um que nasce, todos morrem. E se alguém foi gerado, é
mais fácil morrer do que nascer. A morte fez do mundo um grande hospital em que
cada pessoa é apenas um paciente desenganado. O veneno da serpente corre ferino
e mortal em nossas entranhas. O pecado e a morte imperam em cada célula de nosso
organismo. O pecado é a força da morte e a morte da força. Nascemos
contaminados por este vírus maligno e vivemos num planeta marcado pelos poderes
subjetivos do pecado e pelos efeitos objetivos da morte.
Morte significa separação. A serpente cuspideira
lançou a peçonha da independência de Deus em sua proposta de autonomia. A nossa
espécie ficou separada de Deus pelo pecado e se torna separada dos outros
viventes pela morte física. Estávamos todos sentenciados a um desterro eterno se
Deus não interviesse de modo radical. A primeira mensagem do Evangelho foi
proclamada pelo próprio Deus à serpente. Porei inimizade entre ti e a
mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e
tu lhe ferirás o calcanhar. Gênesis 3:15. A mulher
se deixou levar pela lábia da serpente, mas o homem foi o agente volitivo do
pecado. Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em
transgressão. 1Timóteo 2:14. Isto significa que a
desobediência de Adão foi uma questão resolvida. Ele decidiu violar o mandamento
de Deus deliberadamente. Não há evidência de sedução ou trapaça. Adão é o agente
e cabeça do pecado na raça humana e a Bíblia é clara: Portanto, assim como
por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a
morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Romanos
5:12. O tronco ficou corrompido pelo pecado
inoculado pela serpente e a prole de Adão tornou-se raça de víbora. A serpente
gerou uma raça perversa, contaminada pelo pecado e demarcada pela morte.
Nascemos neste mundo como filhos do pecado, descendência da serpente e,
conseqüentemente, há uma inimizade natural com o descendente da mulher. Segundo
a Bíblia, há apenas um descendente da mulher. Vindo, porém, a plenitude do
tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei. Gálatas
4:4. Jesus não é o cruzamento de espermatozóide
adâmico com óvulo feminino. Ele é fruto do esperma divino com o óvulo da mulher.
Mas Ele é 100% homem e 100% Deus. Ele veio ao mundo com as duas naturezas numa
só pessoa, a fim de esmagar a cabeça da serpente e regenerar o ser humano, para
torná-lo membro da sua igreja, a noiva do Cordeiro. Os membros da igreja,
regenerados pelo Senhor Jesus Cristo, são a geração eleita.
Jesus estava enfatizando a necessidade do novo
nascimento, quando Nicodemos o interpelou: Como pode suceder
isto? Foi neste contexto que Ele ressaltou o
episódio marcante no deserto, quando Moisés levantou uma serpente de bronze na
ponta de uma haste. Durante o percurso pelo ermo, o povo se queixava do
cardápio, reclamando do gourmet celestial e considerando a receita divina como
pão vil. Eles estavam abusados da mesma gororoba e maldiziam da cozinha de Deus.
Foi aí que apareceram algumas serpentes abrasadoras causando morte em alguns
peregrinos. O povo então clama pela misericórdia de Deus e se reconhece culpado
daquela confusão. Moisés, orientado por Deus, apresenta o antiofídico da fé. Uma
serpente de bronze, pendurada no ponto mais alto, deveria ser contemplada por
todo aquele que fosse picado pelas serpentes do deserto. Estamos diante de algo não muito lógico. Mas, nem sempre Deus é muito
lógico. Pelo menos no que diz respeito à nossa lógica. Confia no Senhor de
todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento. Provérbios
3:5. Não havia qualquer efeito químico neste
remédio. O veneno inoculado não tinha um antídoto correspondente circulando na
corrente sangüínea. A fórmula da farmácia celestial era apenas um olhar.
Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém
mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava. Números
21:9. Era estranha a terapia, mas não havia outra
alternativa. Deus jamais permite uma segunda opção para o projeto da fé. A cura
estava definida no ato da contemplação. Elisabeth Elliot disse com muito
acerto: Você nunca entenderá por que Deus faz o que faz;
basta crer nele, e isso é tudo o que é necessário. Aprendamos a confiar nele
como Ele é. Quando Deus diz alguma coisa, Ele se obriga a cumprir o que diz,
a menos que esteja disposto a perder o seu caráter. Mas Ele nunca pode negar-se
a si mesmo.
A Palavra de Deus é sempre confiável. Por isso
Jesus é enfático na sua mensagem: Assim como Moisés levantou... Assim
importa que o Filho do homem seja levantado. Moisés
ergueu uma serpente de bronze. Era uma semelhança da verdadeira serpente do
deserto. Todo aquele que fosse picado poderia olhar para aquela serpente de
bronze e ficaria curado. Só os picados pelas víboras poderiam ser curados,
quando olhassem. O olhar dos sadios não tinha qualquer efeito. A cura é somente
para os enfermos, assim como a graça é a resposta plena de Deus para aqueles que
fracassaram em suas desgraças. O veneno das serpentes era neutralizado com o
olhar. Se alguém, com dúvida, recusasse olhar para a serpente de bronze,
fatalmente morreria.
Agora Jesus remove o verbo olhar e substitui pelo verbo crer. No tempo de Moisés eles deveriam olhar para a serpente pendurada. Hoje, nós deveremos crer no que a Bíblia diz sobre Jesus Cristo crucificado. Jesus foi levantado na cruz, mas Ele não era pecador. Ele nos substituiu naquela cruz. Ele tomou o nosso lugar como o Filho do homem. Jesus como homem foi para a cruz em nosso lugar. A sua natureza humana ocupa a nossa posição naquela cruz. Há um homem sem pecado pregado na nossa cruz. Nós somos a raça de víbora. Somente nós pecadores deveríamos morrer. Mas Ele assume a nossa causa e morre em nosso benefício. Entretanto, a cruz tem um outro enfoque. O Filho de Deus nos incluiu na sua morte. Jesus morreu em nosso favor, mas o Cristo nos incluiu juntamente com Ele e nos fez morrer na mesma morte. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com Ele viveremos. Romanos 6:8. A nossa morte compartilhada é juntamente com Cristo. A Bíblia não confunde as coisas. Há duas naturezas em uma só pessoa realizando uma obra completa em nosso socorro. Jesus nos substitui na cruz, mas Cristo nos inclui na crucificação. Eu estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. Gálatas 2:19b e 20a. Isto não é rachar cabelo, é constatar o que a Palavra revela. A dor física Jesus padeceu por mim, mas naquela morte, Cristo me fez morrer. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 2Coríntios 5:14. A cruz de Jesus Cristo tem dois focos bem marcantes: a substituição realizada pelo Filho do homem e a inclusão executada pelo Filho de Deus. O mistério das duas naturezas numa só pessoa, Jesus Cristo, tinha como finalidade reconciliar o homem com Deus mediante sua morte na cruz. Este foi o golpe fatal sobre a cabeça da serpente. A mesma fé que curava os israelitas no deserto olhando para a serpente de bronze, salva os pecadores que crêem no sacrifício consumado de Jesus Cristo na cruz. O que receio, e quero evitar, é que assim como a serpente enganou Eva com astúcia, a mente de vocês seja corrompida e se desvie da sua sincera e pura devoção a Cristo. 2 Coríntios 11:3 (NVI). Não há convicção e firmeza fora da revelação da Palavra. Confie na verdade da Palavra de Deus, mesmo quando as peças parecem que não se encaixam. Não podemos unir-nos a Cristo porque o sentimos, mas porque Deus o disse, e precisamos crer em sua Palavra, mesmo quando não a entendemos. R. M. M’Cheyne.
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 15 de julho de 2012
A CRUZ E A SERPENTE
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