Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei,
pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Gálatas
5:1
Quando o homem é verdadeiramente livre? Esta é, sem dúvida
alguma, uma das perguntas mais difíceis de se responder. Nem temos esta
pretensão, mas buscar, ao menos, um norte para o que seja liberdade. Talvez
alguém diga que o homem é livre quando pode fazer sua própria escolha. Porém,
Champlin alerta dizendo: “se as pessoas forem treinadas, educadas ou mesmo
forçadas a aceitarem um determinado conceito de liberdade, talvez se contentem
relativamente bem diante da servidão, em vez de quererem ser verdadeiramente
livres”.
O apóstolo Paulo, no final do capítulo 1 da Epístola aos
Romanos, descreve o homem natural, o homem sem Deus, o homem que diz a si mesmo:
“não preciso de Deus”; ou, “não existe Deus”. A característica principal deste
homem natural é sua autonomia e sua eterna busca por um conhecimento que
preencha o vazio de sua alma, entendendo que ser livre é possuir sabedoria para
decidir o próprio destino.
A questão é que este homem natural não consegue livrar-se de
suas misérias e mazelas, apesar de todo o seu conhecimento, vivendo aprisionado
por um cativeiro invisível. Paulo diz o seguinte, a respeito deste homem: E,
por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma
disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, cheios de
toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio,
contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, caluniadores, aborrecidos de
Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos
pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. Romanos
1:28-31.
Paulo também fala de um outro homem. Este outro homem, lendo a
passagem anterior, talvez diga: “eu não sou como este homem aí, descrito por
Paulo”; ou, “sou evangélico e fui batizado”; ou, “frequento a igreja
semanalmente”; ou, “conheço bem a doutrina correta”; ou, “eu estou na graça, mas
você está na lei”. A principal característica deste homem é exatamente sua
necessidade de mostrar aos outros sua espiritualidade, bem como, uma preocupação
excessiva com a vida e a conduta alheias, não para ajudar, mas para julgar. No
capítulo 2 de Romanos, Paulo fala deste homem que conhece as Escrituras e faz
questão de zelar pela sua aparente moralidade e fidelidade a Deus.
A dificuldade enfrentada por este outro homem, identificado por
Paulo como o judeu, é que sua visão está completamente obscurecida por um
entendimento distorcido das Escrituras. Ele entende que uma aparente obediência
e um comportamento externo moralista o faz aceitável diante de Deus e dos
homens. Este homem, o judeu, também vive aprisionado por um outro tipo de
cativeiro: a hipocrisia. Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e
repousas na lei, e te glorias em Deus; que conheces a sua vontade e aprovas as
coisas excelentes, sendo instruído na lei; que estás persuadido de que és guia
dos cegos, luz dos que se encontram em trevas, instrutor de ignorantes, mestre
de crianças, tendo na lei a forma da sabedoria e da verdade; tu, pois, que
ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve
furtar, furtas? Dizes que não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os
ídolos e lhes roubas os templos? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela
transgressão da lei? Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre
os gentios por vossa causa. Romanos 2:17-24.
No capítulo 3 do livro de Gênesis, lemos a descrição da queda
do homem e suas consequências. O pecado original foi uma quebra de confiança em
Deus, por parte do homem, uma verdadeira declaração de autonomia. Paulo, em
Romanos 5:12, diz: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porque todos pecaram. Isto significa que a queda do primeiro homem, Adão,
tornou a raça humana cativa do pecado e da morte. Portanto, não há como se falar
em liberdade, sem se falar do pecado e sua consequência.
O grande adversário da verdadeira liberdade é exatamente o
pecado e a escravidão que traz consigo. Esta escravidão pode estar camuflada
tanto por um entendimento equivocado de que podemos viver sem Deus, de que somos
autossuficientes e independentes, quanto pelo também entendimento equivocado de
que somos bons cristãos aprovados por Deus em razão do que fazemos e, também, do
que não fazemos, e por nosso conhecimento bíblico e doutrinário.
Não é fácil identificar o cativeiro em que vivemos,
simplesmente porque o pecado cega nosso entendimento. Além disso, o pior dos
cativeiros é o espiritual. Ora, o homem natural não aceita as coisas do
Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente. 1 Coríntios 2:14.
A mensagem central do Evangelho trata justamente desta
libertação, tanto para judeus, quanto para não judeus; ou seja, tanto para
religiosos, quanto para descrentes. Uma liberdade não política, mas espiritual
de consequências eternas. Como isto é possível? Somente pela soberana graça de
Deus, por intermédio de seu Filho. A liberdade proporcionada por Cristo é a
única liberdade verdadeira. Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente
sereis livres. João 8:36.
Os ensinamentos de Jesus e o seu modelo de vida são
importantes. Contudo, não são estas coisas que libertam o homem. É o conjunto de
sua obra redentora: obediência, morte, sepultamento e ressurreição. ...
sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo
do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem
morreu está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que
também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre
os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Romanos
6:6-9.
Uma pessoa é verdadeiramente livre quando o pecado não tem mais
domínio sobre ela, e quando a palavra de Cristo domina seu coração e sua vida.
Portanto, uma pessoa é livre não porque pode fazer o que quiser, mas porque pode
não fazer aquilo que ela não quer.
Redenção significa libertação efetuada pelo pagamento de um
resgate. A redenção que há na obra realizada por Jesus Cristo na cruz do
Calvário nos livrou: a)- da ira de Deus: Logo, muito mais agora, sendo
justificados pelo seu sangue seremos por ele salvos da ira. Romanos 5:9; b)-
da maldição da lei: Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que
for pendurado em madeiro). Gálatas 3:13; c)- do domínio do pecado: Porque
o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da
graça. Romanos 6:14; e, d)- da morte eterna: e manifestada, agora, pelo
aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte,
como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho. 2 Timóteo
1:10.
O apóstolo Paulo, após ter sido encontrado por Jesus no caminho
de Damasco, foi liberto da cegueira espiritual em que vivia. Saulo,
respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao
sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que,
caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse
presos para Jerusalém. Atos 9:1-2. É bastante comum agirmos como Saulo,
antes de ser convertido para Paulo. Isto acontece porque confundimos a confiança
que devemos depositar exclusivamente na pessoa de Jesus Cristo e sua obra
redentora, com a confiança em padrões morais e comportamentais. Deixamos de
olhar para Cristo e focamos a vida alheia. Ficamos cegos, mais preocupados com
as questões de conduta ética, do que com nosso relacionamento pessoal com Deus.
A questão fundamental é que Deus nunca esteve preocupado com a nossa moralidade
como base de nossa salvação. Até porque Ele nunca teve qualquer expectativa em
relação à nossa capacidade moral. Imediatamente, lhe caíram dos olhos como
que umas escamas, e tornou a ver. A seguir, levantou-se e foi batizado. Atos
9:18. O resultado do encontro de Jesus com Paulo foi a visão física recobrada e
a visão espiritual curada. Saulo era um cego espiritual de nascença.
Paulo também foi liberto do seu orgulho e da sua presunção:
Bem que eu poderia confiar também na minha carne. Se qualquer outro pensa que
pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de
Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu, quanto
ao zelo, perseguidor da igreja; quanto à justiça que há na lei,
irrepreensível. Filipenses 3:4-6. Uma das dificuldades dos judeus era
exatamente o orgulho. Para eles, a nacionalidade, os ritos cerimoniais e a
instrução na lei eram motivos suficientes para se julgarem superiores a qualquer
outro povo. E Saulo não só agia desta maneira, como vangloriava-se do seu
status. Assim, também, muitas pessoas, hoje em dia, orgulham-se por
pertencerem a uma determinada igreja, a um grupo especial ou a uma casta;
orgulham-se por terem recebido o batismo nas águas ou, mesmo, do Espírito Santo;
orgulham-se por serem conhecedores da melhor doutrina, por serem instruídos
pelos melhores mestres, ou por perseguirem falsos profetas. Mas Paulo esclarece
o que, de fato, acontece com o nosso orgulho e a nossa presunção quando somos
justificados em Cristo. Onde, pois, a jactância? Foi de todo excluída. Por
que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé. Romanos 3:27.
Um dos atributos de Deus é sua onipotência. Deus é Deus e
poderia nos fazer obedecê-lo de qualquer jeito. Porém, Ele nos dá liberdade para
aprendermos a confiar nEle, por amor e não por medo. Se nós não tivéssemos
opção, não poderíamos escolher. E sem escolha não há liberdade.
Somente quem é filho goza de plena liberdade. A liberdade dada
por Cristo é a única liberdade verdadeira, pois ela resulta de nossa nova
filiação. De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também
herdeiro por Deus. Gálatas 4:7. Porque não recebestes o espírito de
escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de
adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. Romanos 8:15.
A liberdade que Deus nos concede está baseada no seu amor
incondicional por nós. Se Ele não nos amasse, jamais enviaria seu Filho para
morrer por nós e, também, jamais nos atrairia em sua morte. Amor que aprisiona
não é amor verdadeiro, mas apenas um sentimento egoísta de quem busca a
satisfação do próprio interesse. O verdadeiro amor é libertador e não pede nada
em troca. Deus nos ama desta maneira. Você já experimentou este amor que
liberta?
Solo Deo Glória.
|
O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 22 de julho de 2012
LIBERTOS DE TODA CONDENAÇÃO
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário