Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza; contudo, vive
pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele,
para vós outros pelo poder de Deus. 2 Coríntios 13:4.
Deus em carne já serve de encarnação para quem tem uma
mente conduzida por arquétipos idealizados. É, no mínimo, bizarro admitir um
Deus vestido em pele humana, usando "havaianas", enquanto vai ao mercado, a fim
de comprar tomates para o almoço. É ridículo pensar no Todo-Poderoso, no
Soberano do Cosmo, indo a pé pelas vias poeirentas da Galiléia, enquanto
vende sonhos celestes a mendigos.
Além de ser um absurdo a vinda de Deus ao mundo como homem, foi
um aparente fracasso do ponto de vista do sucesso humano. Se o Criador encarnado
na criatura já era uma loucura total para uma mente presunçosa, que pretende
explicar o inexplicável com a sua razão limitada, ainda mais, quando esse Deus é
pobretão e fracote, a ponto de ser vencido e morto numa cruz. Isto é, no mínimo,
inadmissível.
Nosso modelo racional não consegue aceitar a fraqueza como um
sinônimo de vitória. É muito complicado, para a mente esnobe, pensar no Senhor
do Universo de cócoras lavando os pés sujos de uma turma de miseráveis. Eu mesmo
fico cismado com a postura rebaixada de Deus. Sinto-me incomodado com esse seu
gesto vulgar.
Deus que é Deus não pode, por hipótese alguma, se desfigurar
com esse jeito de indigente. Não. Ele não pode ser um escravo de terceira
categoria. Humilhação é coisa de gente desqualificada, assim pensavam os nobres
filósofos da velha Grécia.
Húmus é barro. O humano é o barro que ficou de pé. Mas humilde
é o humano cheio de vento que se reconhece húmus, isto é, se vê apenas como
barro sujo. Só, que essa visão é uma barra pesada para aquele que tem aspirações
ao Trono de Deus. É impossível ao arrogante admitir a sua natureza de barraco.
Devo confessar que sofro com a minha origem do pó e me ponho sempre
reivindicando um pódio.
Foi nesse contexto de cristas altas que Cristo se esvaziou até
ao pó. Que coisa louca é ver Deus em carne e osso, propondo salvar uma turminha
topetuda como eu e, talvez, você, numa carcaça de argila. Mas é para essa
gentalha com passaporte diplomático e empinada no palco, que vemos Deus topando
tudo, esvaziando-se ao patamar do lodo, a fim de nos alcançar nesse barreiro
adâmico de lama fétida.
O apóstolo Paulo, o fariseu reduzido à poeira, pergunta a
respeito de algo que ainda me incomoda muito. Veja só o seu questionamento ao
tratar da ascensão do Verbo encarnado, depois de sua obra na cruz: Ora, que
quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da
terra? Efésios 4:9.
O que significa essa descida até ao barreiro, até às regiões
mais baixas da terra? Por que é preciso, primeiro, descer ao fundo do poço, para
depois subir aos píncaros da glória? Parece que é um princípio bíblico.
Lembra-se de José no Egito? Antes de ser o 2º, no Império, ele teve que fazer um
estágio no porão da cadeia.
Eu também não gosto dessa ideia de ser capacho. Não aprecio
ficar como o último da fila. O que eu gosto mesmo é da minha elevação. Detesto
ser esquecido, viver no ermo, no anonimato. Não faz parte dos meus projetos
descer ao fundo da cisterna para ter que cavoucar lama. Eu mesmo sou fissurado
por palco, plataforma, palanque, ainda quando finjo que não tenho interesse
nenhum pela primazia.
É aqui que a encarnação de Deus me pega em cheio. Ele desceu
primeiro porque as minhas pretensões em subir acima de tudo e de todos, e,
muitas vezes, às escondidas, no escurinho, fora dos olhares atentos das
platéias, são sutis. Foi aí que Ele se humilhou para poder encontrar-se comigo
nas minhas ambições alucinadas por grandeza. Deus em Cristo tinha que se tornar
barro, para, deste modo barrento, desmanchar a paranóia humana de querer ser
como Deus.
Como O vejo na questão da minha experiência? A crucificação de
Cristo Jesus, em fraqueza, tinha como objetivo principal a minha conquista
pessoal em estado de altivez. Era a conquista de um soberbo, às vezes disfarçado
de coitadinho.
Esta foi a tática mais adequada, guardada em sete chaves, para
que o Criador encontrasse a criatura em sua ambição altiva e, assim, esvaziá-la.
A cruz tem como um dos principais objetivos a morte do velho homem e suas
tendências de exaltação pessoal. Por isso, eu preciso ainda, diariamente, levar
o morrer de Cristo Jesus, para que a vida ressuscitada de Jesus Cristo se
manifeste em meu modo de viver.
Que coisa estranha! O esvaziamento divino produz, nos
bastidores do poder, a morte do meu velho Adão. Cristo foi vencido, a fim de me
vencer. Ele morreu para me levar a morrer juntamente com Ele; desceu às regiões
inferiores, a fim de elevar-me ao apogeu das regiões celestiais, assentando-me
na condição de aceito com Ele.
Foi uma estratégia bem bolada e mantida em sigilo perene deste
a eternidade passada. Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o
meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério
guardado em silêncio nos tempos eternos. Romanos 16:25.
De que se tratava esse mistério guardado em segredo desde as
eras que não se contam? Em primeiro plano, tratava-se da derrota luciferiana, em
que o querubim da guarda, aspirante ao trono da Glória seria vencido. Em
segundo, tratava-se ainda da remoção presunçosa do Adão coletivo que vive no
velho homem. Isto só foi possível através da nossa co-crucificação com Cristo e
do implante da vida humilde de Cristo em nosso novo coração, pela fé, doada por
Jesus.
Cristo Jesus foi crucificado em fraqueza. Era uma cena
patética. O Deus Todo Poderoso, o Criador do universo, agora se apresentava como
um sujeito fraco, pobre e inexpressivo; um reles mortal, totalmente fracassado,
morrendo escandalosamente como um réu pecador. Há um mistério aparentemente
inexplicável nas entrelinhas.
Parece que o apóstolo Paulo entendeu esta estratégia divina
muito bem, ao dizer: o mistério que estivera oculto dos séculos e das
gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar
a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto
é, Cristo em vós, a esperança da glória. Colossenses 1:26-27.
Era um projeto atemporal, oculto das eras, mas designado para
os escolhidos do Pai, em Seu kairós, isto é, num tempo determinado. Foi
destinado aos separados antes da fundação do mundo e dados de presente ao Filho,
ou sejam, os Seus santos que foram eleitos em Cristo, para serem conformes à
imagem do Seu Filho.
A aparente derrota de Cristo é, na verdade, uma vitória
avassaladora. A Sua fraqueza revela um poder extraordinário sobre o domínio do
pecado. Se for verdade que o salário do pecado é a morte, então, a morte foi
vencida quando matou Cristo Jesus na cruz, uma vez que, a Sua ressurreição jogou
uma pá de cal nesse império.
O apóstolo Paulo pergunta e responde ao mesmo tempo: Onde
está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da
morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a
vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. 1 Coríntios
15:55-57.
John Owen, no século XVII, sugere com o título de seu livro, "a
morte da morte na morte de Cristo", que o contratempo da cruz foi, na realidade,
um triunfo fora de série e estrondoso. A debilidade divina era, antes de tudo,
uma tática poderosa de dominação mantida com discrição, em silêncio, desde a
eternidade passada.
Cristo, o Criador, se torna em semelhança de uma criatura
fraca, para vencer, na fraqueza da carne, o pecado daqueles que têm se arvorado
a serem como Deus. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava
enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de
carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne,
o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos
segundo a carne, mas segundo o Espírito. Romanos 8:3-4.
O Criador do universo vence a rebelião da criatura no mesmo
nível da criatura. Ele não vence Lúcifer, o pecador, o mundo, a carne e a morte
como o Criador, mas como uma criatura; como um ser humano. Deus se fez homem em
fraqueza para vencer o poder da arrogância do pecado, que pretende nos tornar
como Deus.
Essa é a lei do Evangelho: o vencido é o vencedor. O morto é
quem ressuscita. O fraco é o forte. O humilde é aquele que será exaltado. Tudo
isto e muito mais, só será possível por meio de Cristo Jesus. Toda a história do
cristão, do princípio ao fim, é uma questão de identificação de Cristo com a
humanidade e da inclusão dos eleitos em Cristo, explicadas com as preposições:
dEle, por Ele e para Ele.
Portanto, podemos concluir que: a aparente derrota de Cristo
Jesus na cruz, foi, na verdade, um triunfo absoluto e total contra o pecado. Do
mesmo modo, a nossa fraqueza atual revela a oportunidade de dependermos da
onipotência Divina.
Deste modo, o apóstolo Paulo resume a vitória do vencido com
estas palavras: Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque,
quando sou fraco, então, é que sou forte. 2 Coríntios 12:10. Aleluia.
Amém.
P.S. Deus em fraqueza é inconcebível, em poder, inexplicável.
Parece que Brennan Manning tem toda razão ao dizer: “João, o discípulo a quem
Jesus amava, termina sua primeira carta com a seguinte expressão: 'Filhinhos,
guardem-se dos ídolos'. Em outras palavras, fiquem longe de qualquer deus que
vocês consigam compreender. O amor do Abba não pode ser compreendido. Vou
repetir. O amor do Abba não pode ser compreendido.” Ainda bem.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
terça-feira, 12 de março de 2013
VENCIDO PARA VENCER
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eu sempre questionava o meu deus ,dizendo deus se vc e o dono do poder .entao tira o poder do diabo.e tbm nao aceitava muito bem ,porque deus se humilhou tanto se ele é o todo poderoso.aguora eu entendo.
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