terça-feira, 12 de março de 2013

VENCIDO PARA VENCER

Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza; contudo, vive pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele, para vós outros pelo poder de Deus. 2 Coríntios 13:4.
Deus em carne já serve de encarnação para quem tem uma mente conduzida por arquétipos idealizados. É, no mínimo, bizarro admitir um Deus vestido em pele humana, usando "havaianas", enquanto vai ao mercado, a fim de comprar tomates para o almoço. É ridículo pensar no Todo-Poderoso, no Soberano do Cosmo, indo a pé pelas vias poeirentas da Galiléia, enquanto vende sonhos celestes a mendigos.
Além de ser um absurdo a vinda de Deus ao mundo como homem, foi um aparente fracasso do ponto de vista do sucesso humano. Se o Criador encarnado na criatura já era uma loucura total para uma mente presunçosa, que pretende explicar o inexplicável com a sua razão limitada, ainda mais, quando esse Deus é pobretão e fracote, a ponto de ser vencido e morto numa cruz. Isto é, no mínimo, inadmissível.
Nosso modelo racional não consegue aceitar a fraqueza como um sinônimo de vitória. É muito complicado, para a mente esnobe, pensar no Senhor do Universo de cócoras lavando os pés sujos de uma turma de miseráveis. Eu mesmo fico cismado com a postura rebaixada de Deus. Sinto-me incomodado com esse seu gesto vulgar.
Deus que é Deus não pode, por hipótese alguma, se desfigurar com esse jeito de indigente. Não. Ele não pode ser um escravo de terceira categoria. Humilhação é coisa de gente desqualificada, assim pensavam os nobres filósofos da velha Grécia.
Húmus é barro. O humano é o barro que ficou de pé. Mas humilde é o humano cheio de vento que se reconhece húmus, isto é, se vê apenas como barro sujo. Só, que essa visão é uma barra pesada para aquele que tem aspirações ao Trono de Deus. É impossível ao arrogante admitir a sua natureza de barraco. Devo confessar que sofro com a minha origem do pó e me ponho sempre reivindicando um pódio.
Foi nesse contexto de cristas altas que Cristo se esvaziou até ao pó. Que coisa louca é ver Deus em carne e osso, propondo salvar uma turminha topetuda como eu e, talvez, você, numa carcaça de argila. Mas é para essa gentalha com passaporte diplomático e empinada no palco, que vemos Deus topando tudo, esvaziando-se ao patamar do lodo, a fim de nos alcançar nesse barreiro adâmico de lama fétida.
O apóstolo Paulo, o fariseu reduzido à poeira, pergunta a respeito de algo que ainda me incomoda muito. Veja só o seu questionamento ao tratar da ascensão do Verbo encarnado, depois de sua obra na cruz: Ora, que quer dizer subiu, senão que também havia descido até às regiões inferiores da terra? Efésios 4:9.
O que significa essa descida até ao barreiro, até às regiões mais baixas da terra? Por que é preciso, primeiro, descer ao fundo do poço, para depois subir aos píncaros da glória? Parece que é um princípio bíblico. Lembra-se de José no Egito? Antes de ser o 2º, no Império, ele teve que fazer um estágio no porão da cadeia.
Eu também não gosto dessa ideia de ser capacho. Não aprecio ficar como o último da fila. O que eu gosto mesmo é da minha elevação. Detesto ser esquecido, viver no ermo, no anonimato. Não faz parte dos meus projetos descer ao fundo da cisterna para ter que cavoucar lama. Eu mesmo sou fissurado por palco, plataforma, palanque, ainda quando finjo que não tenho interesse nenhum pela primazia.
É aqui que a encarnação de Deus me pega em cheio. Ele desceu primeiro porque as minhas pretensões em subir acima de tudo e de todos, e, muitas vezes, às escondidas, no escurinho, fora dos olhares atentos das platéias, são sutis. Foi aí que Ele se humilhou para poder encontrar-se comigo nas minhas ambições alucinadas por grandeza. Deus em Cristo tinha que se tornar barro, para, deste modo barrento, desmanchar a paranóia humana de querer ser como Deus.
Como O vejo na questão da minha experiência? A crucificação de Cristo Jesus, em fraqueza, tinha como objetivo principal a minha conquista pessoal em estado de altivez. Era a conquista de um soberbo, às vezes disfarçado de coitadinho.
Esta foi a tática mais adequada, guardada em sete chaves, para que o Criador encontrasse a criatura em sua ambição altiva e, assim, esvaziá-la. A cruz tem como um dos principais objetivos a morte do velho homem e suas tendências de exaltação pessoal. Por isso, eu preciso ainda, diariamente, levar o morrer de Cristo Jesus, para que a vida ressuscitada de Jesus Cristo se manifeste em meu modo de viver.
Que coisa estranha! O esvaziamento divino produz, nos bastidores do poder, a morte do meu velho Adão. Cristo foi vencido, a fim de me vencer. Ele morreu para me levar a morrer juntamente com Ele; desceu às regiões inferiores, a fim de elevar-me ao apogeu das regiões celestiais, assentando-me na condição de aceito com Ele.
Foi uma estratégia bem bolada e mantida em sigilo perene deste a eternidade passada. Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos. Romanos 16:25.
De que se tratava esse mistério guardado em segredo desde as eras que não se contam? Em primeiro plano, tratava-se da derrota luciferiana, em que o querubim da guarda, aspirante ao trono da Glória seria vencido. Em segundo, tratava-se ainda da remoção presunçosa do Adão coletivo que vive no velho homem. Isto só foi possível através da nossa co-crucificação com Cristo e do implante da vida humilde de Cristo em nosso novo coração, pela fé, doada por Jesus.
Cristo Jesus foi crucificado em fraqueza. Era uma cena patética. O Deus Todo Poderoso, o Criador do universo, agora se apresentava como um sujeito fraco, pobre e inexpressivo; um reles mortal, totalmente fracassado, morrendo escandalosamente como um réu pecador. Há um mistério aparentemente inexplicável nas entrelinhas.
Parece que o apóstolo Paulo entendeu esta estratégia divina muito bem, ao dizer: o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória. Colossenses 1:26-27.
Era um projeto atemporal, oculto das eras, mas designado para os escolhidos do Pai, em Seu kairós, isto é, num tempo determinado. Foi destinado aos separados antes da fundação do mundo e dados de presente ao Filho, ou sejam, os Seus santos que foram eleitos em Cristo, para serem conformes à imagem do Seu Filho.
A aparente derrota de Cristo é, na verdade, uma vitória avassaladora. A Sua fraqueza revela um poder extraordinário sobre o domínio do pecado. Se for verdade que o salário do pecado é a morte, então, a morte foi vencida quando matou Cristo Jesus na cruz, uma vez que, a Sua ressurreição jogou uma pá de cal nesse império.
O apóstolo Paulo pergunta e responde ao mesmo tempo: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo. 1 Coríntios 15:55-57.
John Owen, no século XVII, sugere com o título de seu livro, "a morte da morte na morte de Cristo", que o contratempo da cruz foi, na realidade, um triunfo fora de série e estrondoso. A debilidade divina era, antes de tudo, uma tática poderosa de dominação mantida com discrição, em silêncio, desde a eternidade passada.
Cristo, o Criador, se torna em semelhança de uma criatura fraca, para vencer, na fraqueza da carne, o pecado daqueles que têm se arvorado a serem como Deus. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Romanos 8:3-4.
O Criador do universo vence a rebelião da criatura no mesmo nível da criatura. Ele não vence Lúcifer, o pecador, o mundo, a carne e a morte como o Criador, mas como uma criatura; como um ser humano. Deus se fez homem em fraqueza para vencer o poder da arrogância do pecado, que pretende nos tornar como Deus.
Essa é a lei do Evangelho: o vencido é o vencedor. O morto é quem ressuscita. O fraco é o forte. O humilde é aquele que será exaltado. Tudo isto e muito mais, só será possível por meio de Cristo Jesus. Toda a história do cristão, do princípio ao fim, é uma questão de identificação de Cristo com a humanidade e da inclusão dos eleitos em Cristo, explicadas com as preposições: dEle, por Ele e para Ele.
Portanto, podemos concluir que: a aparente derrota de Cristo Jesus na cruz, foi, na verdade, um triunfo absoluto e total contra o pecado. Do mesmo modo, a nossa fraqueza atual revela a oportunidade de dependermos da onipotência Divina.
Deste modo, o apóstolo Paulo resume a vitória do vencido com estas palavras: Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. 2 Coríntios 12:10. Aleluia. Amém.
P.S. Deus em fraqueza é inconcebível, em poder, inexplicável. Parece que Brennan Manning tem toda razão ao dizer: “João, o discípulo a quem Jesus amava, termina sua primeira carta com a seguinte expressão: 'Filhinhos, guardem-se dos ídolos'. Em outras palavras, fiquem longe de qualquer deus que vocês consigam compreender. O amor do Abba não pode ser compreendido. Vou repetir. O amor do Abba não pode ser compreendido.” Ainda bem.
 
Soli Deo Glória.

Um comentário:

  1. eu sempre questionava o meu deus ,dizendo deus se vc e o dono do poder .entao tira o poder do diabo.e tbm nao aceitava muito bem ,porque deus se humilhou tanto se ele é o todo poderoso.aguora eu entendo.

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