A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que,
se alguém não nascer do alto, não pode ver o reino de Deus. João 3:3.
Na Bíblia, o nascer de novo, em muitas de suas versões,
significa de fato, o nascer do alto. A palavra grega anothen traduzida
por: de novo, na verdade deve ser vertida por: "do alto" ou "de cima", uma vez
que, este novo nascimento, se refere a uma geração de cima, do alto, do céu,
isto é: de Deus.
Neste mundo terreno, segundo Jesus, há dois tipos de
nascimento. Um é da carne e o outro do espírito. Os dois, entretanto, são
miraculosos. O nascimento da carne é aquele que nos faz membros da raça humana.
É um nascimento terreno, que tem as características cá de baixo, pois vem
chamuscado pela morte. O do espírito, por outro lado, é um novo nascimento, e
vem do alto, promovido pelo próprio Deus.
O nascimento da carne é um milagre físico que nós já nos
acostumamos com ele. Todos nós achamos que isso é algo normal. Na verdade é um
fato bem natural, contudo, continua sendo um grande mistério da vida, quando se
percebe o óvulo que foi fecundado por um espermatozóide se tornando num feto que
cresce, nasce e aparece como uma pessoa ou uma alma vivente em
desenvolvimento.
Por mais natural que seja a geração de um ser humano, vejo
sempre algo sobrenatural na vida, na organização biológica, na emocionalidade e
na inteligência deste sujeito. Para mim, a geração de um bebê, ainda que seja
alguma coisa comum, na verdade, é uma realidade descomunal. É misteriosa e
miraculosa.
O milagre da vida carnal, contudo, vem sempre governado por um
eu egoísta, possessivo, dominador, caótico, contaminado pela rebelião do pecado
e da morte. Já nascemos rebelados, revoltados e revolucionários, fazendo parte
de uma raça dura, incrédula e mentirosa, que tem como sentença uma guilhotina
invisível apontada para o pescoço e a lápide oculta pendurada no peito.
A vida no perímetro da carne, ainda que seja muito boa, para
muitos, é, na realidade, finita e uma grande incógnita. Afinal, o que viemos
fazer aqui nesta terra? Além do que, o prazo de validade é curto demais e o
futuro é nebuloso ao extremo. Qual o significado de nossa existência neste
planeta? O que nos espera depois da morte? Como será nossa identidade além da
sepultura? Será que a vida acaba na tumba, ou haverá outra vida depois da
morte?
Este efetivo humano é passageiro e estas perguntas angustiantes
que nos asfixiam, têm sido responsáveis pela elaboração de filosofias exóticas e
religiões exibidas em busca de uma alternativa para esse aparente beco sem
saída.
A morte deixa a gente refém da dúvida e com uma pergunta depois
de sua visita. O que existe no avesso desta vida? Por mais lúcidos que possamos
ser, o fato é que, não há muita luz no final do túnel. A "existência" pós morte
é um enigma.
Quem esteve do outro lado desta vida terrena e depois voltou
para nos dar as suas impressões sobre o mundo pós morte? Há muitas especulações
neste terreno, mas tudo indica que, só Jesus Cristo pode garantir algo
significativo para aquietar a nossa alma inquiridora, pois apenas ele saiu desse
poço com um corpo físico.
Por falar em inquérito, que tal indagar sobre o nascimento do
alto? O que de fato quer dizer novo nascimento? Por que Jesus insistiu com o
religioso VIP, que ele precisava nascer do alto? Este assunto tem alguma
importância para nós, mortais?
Parece que a insistência de Jesus sobre o tema é essencial para
a vida com significado aqui e agora, bem como, inevitável para o porvir. Ele nos
assegura que há dois nascimentos e que precisamos de ambos. Jesus foi
categórico: O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é
espírito. João 3:6, e acrescentou que é imperioso nascer de novo ou
nascer do alto .
Todos nós nascemos neste mundo pertencentes à raça de Adão e,
por isso mesmo, membros de uma espécie caída e caiada. Somos reles pecadores e
indignos do reino de Deus, mas fingimos ser fidalgos. Investimos muito na
aparência, porém, "quem vê cara, não vê coração". Precisamos de um diagnóstico
preciso.
A raça de Adão é topetuda por natureza. Há uma crista de
arrogância até mesmo nos atos de humildade. A aparência é tudo na passarela. Por
mais despojado que seja o sujeito da ação, ele sempre requer uma coroa de
visibilidade pública. Ninguém gosta de viver à sombra no ostracismo. O brilho
nos ofusca mesmo em dias nubladas e sob torrenciais tempestades. Somos viciados
em notoriedade.
A estirpe de Adão é gulosa por elogios e vive em busca de
aplausos, afagos e um bom reconhecimento. Mas, é aqui que mora um grande
problema. Quando essa turma é elogiada fica envaidecida e se acha a tal.
Todavia, se não percebe a luz dos holofotes na testa, a "coisa" enfurece,
tornando-se deprimida com a síndrome da "coitadinha". Não há nada mais bizarro
do que o descontentamento adâmico nas entrelinhas. Adão sempre se torna
irritante no pódio e fica irritado no porão.
O orgulho inchará o velho Adão quando for ovacionado e o
deprimirá ao ser criticado. O problema do nascimento da carne é o carnegão da
carnalidade que vai sempre exigir uma boa correspondência às suas expectativas
narcisistas. Por isso, a alternativa do alto tem como objetivo demolir as
prerrogativas da autoestima vaidosa.
O nascimento do alto começa com o esvaziamento de Cristo. Se o
pecado vem promovendo a exaltação do ser humano como se fosse Deus, a salvação
do pecado propõe a vinda de Deus ao mundo como homem. Um Deus absoluto e
infinito contido numa criatura totalmente presa ao pó da terra, é no mínimo um
absurdo.
Mas a encarnação do Verbo Divino não é o fim da picada. O
Criador, na pele da criatura, usando fraldas, com certeza, é uma loucura
colossal para nossa mente finita, porém, um Deus crucificado é uma total
insanidade. Foi neste contexto de doidices que Paulo afirmou: Certamente, a
palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos,
poder de Deus. 1 Coríntios 1:18.
Aqui temos a loucura confrontada com o poder de Deus. De um
lado, a cruz é sandice na mente dos que querem entender a grandeza da graça, e,
do outro lado, ela vem revelar o poder do amor incondicional de Abba aos
indignos pecadores.
Gosto de ler Brennan Manning e me alegro quando leio: "Deus ama
o que não possui amor, o que não ama, o que não é amado. Ele não detecta o que é
agradável, interessante, atraente e responde a isso em Seu favor. Na verdade,
Ele não responde a nada. O Pai de Jesus é uma fonte. Ele age; Ele não reage. Ele
inicia o amor. Ele é amor sem motivo". Logo, esse amor sem causa é a causa do
nascimento do alto.
A cruz onde Cristo foi crucificado é a expressão máxima desse
amor furioso. É amor passional do Pai, sim, ao nos atrair ao seu Filho amado, a
fim de sermos incluídos no Seu sacrifício, e, deste modo, desconstruídos da
arrogância, bem como do aparente "amor bondoso" que se expressa pela tirania da
"troca de favores".
O nascimento do alto tem a ver com a mudança radical de nossa
paternidade, que determina a razão do verdadeiro amor. Esse amor incondicional é
a herança de uma nova filiação gerada no céu pela vida que nasce da morte.
O nascimento da carne nos capacita a amarmos condicionalmente.
O amor terreno é um jogo de interesses, um negócio, ou, como diz Wayne Jacobsen,
uma "troca de favores". Neste caso, nós amamos os que são amáveis. Há sempre um
pré-requisito favorável apoiando uma possível permuta vantajosa no jogo. Se você
estiver adequado às minhas conveniências, então podemos fazer esse negócio
"afetivo".
Contudo, o nascimento do alto nos coloca numa outra família,
onde o amor é de cima e está acima de qualquer favorecimento pessoal. É amor sem
troco, nem "truco". Os filhos de Abba amam somente com o amor do alto
derramado nos seus corações. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de
Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.
Romanos 5:5.
O alto valor do nascimento do alto é o amor incondicional que é
derramado incondicionalmente no coração dos filhos de Deus. Esse amor sem
fronteiras e sem qualquer predicado do sujeito amado, é um milagre de cima e um
mistério encimando tudo o que nos rodeia. Assim, nós saímos da casa do penhor
onde vivíamos devendo favores e entramos na Casa do Amor para usufruir do
banquete da aceitação eterna.
Esta saída do território do medo para vivermos a liberdade, na
liberdade dos filhos de Abba , não tem preço a pagar. O Cordeiro já
liquidou esta fatura e nós fomos convidados a participar desta festa da alforria
como membros da família de cima.
Quando ouvi num DVD um mascate da fé pondo preço no produto
doado pela graça plena e cobrando uma conta liquidada pela misericórdia divina,
fiquei indignado e rebarbei do outro lado da tela: isto é picaretagem da grossa.
Por favor, não fiquem intimidados com esses cobradores legalistas e moralistas
que invadem o campo da liberdade cristã, porque o nosso alvará de soltura não
tem prazo de validade.
Nossa identidade de filhos de Abba foi construída na
certeza de um amor sem limites lá de cima e sem qualquer motivação cá de baixo.
Veja neste amor inalterável o formato de sua certidão de nascimento no cartório
do alto. Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos
chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o
mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo. 1 João 3:1.
Creia que o Pai o (a) ama e que o seu nome na Casa de seu Pai
é: Amado(a). Celebre sua identidade de cima com os companheiros de jornada desse
alto valor do seu nascimento do alto. Viva! Amados de Abba ! Viva! Viva!
Viva!
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sexta-feira, 15 de março de 2013
O ALTO VALOR DO NASCIMENTO DO ALTO
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