Fala a toda a congregação dos filhos de Israel
e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o
Senhor, vosso Deus, sou santo. Levítico 19:2.
O Deus da Bíblia é santo de fato e o povo do Deus da Bíblia
deve ser santo por graça. Só Deus é essencialmente santo, e só ele pode conceder
gratuitamente santidade ao seu povo. O Deus santo não amplia sua convivência com
um povo contaminado pela corrupção pessoal, nem se envolve com a falsificação
coletiva das outras nações. "Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou
santo e separei-vos dos povos, para serdes meus". Levítico 20:26.
O coração do ser humano é corrupto em face da natureza do
pecado. Ora, se a parte está depravada, o todo se encontra corrompido. Se o
coração do gênero é perverso, as relações da sociedade estão contaminadas. Os
membros infectados adoecem o conjunto, e esta coligação de pervertidos reforça a
corrupção dos componentes. Aqui há uma retro alimentação.
Entretanto, as Escrituras mostram que sem santidade ninguém
poderá ver a Deus. Ainda que a santidade não seja um atributo da humanidade e
que nenhum ser humano seja santo em si mesmo, ainda assim ela é requerida para o
relacionamento com Deus. Isto implica no fato de que precisa haver uma ação
sobrenatural que origine uma santidade imputada.
A santidade significa: exclusividade divina. O povo santo é uma
aldeia que pertence somente a Deus. Esse é o primeiro significado de santidade.
Um povo de propriedade exclusiva de Deus. Essa privacidade é fundamental para a
comunhão interpessoal com o Deus santo. O Senhor escolheu o seu povo dentre
outros povos para que fosse santo. Mas não o elegeu porque fosse melhor ou
maior. A seleção foi baseada apenas no amor de Deus, sem levar em conta qualquer
qualidade ou mérito do povo. "Não vos teve o Senhor afeição, nem vos
escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor
de todos os povos,
mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a
vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da
servidão, do poder de Faraó, rei do Egito". Deuteronômio 7:7-8.
A santidade sugere singularidade. "Ouve,
Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor". Deuteronômio 6:4. Deus é único e o seu povo é particular. Javé optou por
uma nação baseado apenas em seu amor. Isto quer dizer que não há atributos que
determinem o seu amor. Toda expressão afetiva que se fundamenta em predicados
não pode expressar o amor divino.
A preferência de Deus é motivada unicamente pelo
seu amor incondicional, pois amor divino condicional é uma incoerência do seu
caráter. Deus é sempre amor e nos elege para sermos seus filhos por causa do seu
amor eterno em Cristo. Arthur W. Pink disse com muita propriedade: "O grande
erro que muitos do povo de Deus cometem é esperar descobrir em si mesmos aquilo
que só pode ser encontrado em Cristo". A santidade do povo
de Deus é uma conseqüência da escolha divina estribada em Cristo, mediante a
imputação do seu caráter. Nesse ponto nós encontramos a santidade objetiva que
depende totalmente da suficiência de Cristo. Buscar santidade em nós mesmos,
fora de Cristo, é a manifestação mais evidente de insanidade pessoal.
O povo de Deus é santo porque Cristo é a sua santificação.
"Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de
Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". 1 Coríntios 1:30. Nós temos na pessoa de Cristo um pacote de medidas que
nos garante uma salvação perfeita, completa e eterna. Viver pela graça é viver
somente pelos merecimentos do Senhor Jesus Cristo. Tanto a aceitação como a
posição dependem da união com Cristo.
Cristo é a nossa santidade. O escritor aos Hebreus
no capítulo 10 verso 10 nos diz que: "Nessa vontade é que temos sido
santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por
todas". Aqui vemos claramente a nossa santificação
objetiva pela obra de Cristo. É uma santidade totalizada e permanente. Assim,
neste aspecto da santificação, você, que confia tão-somente em Cristo para a sua
salvação, já é santo. Tentar encontrar santidade em nós
mesmos pode nos levar ao farisaísmo legalista ou à alucinação. Se quisermos ser
santos, precisamos olhar para fora de nós mesmos e firmemente para Cristo. Só
nele poderemos localizar a verdadeira santidade que nos santifica de verdade.
"Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele". Efésios 1:4.
Cristo é a nossa justiça e a nossa aceitação. Ele é o
Advogado da nossa causa e o Juiz que nos julga. Ele é o santo que nos justifica
e a santidade que nos aperfeiçoa. Somos irrepreensíveis diante dele, porque ele
mesmo é objetivamente a nossa santificação. Do ponto de vista legal ninguém
poderá ser mais santo do que já o é em Cristo. "Agora, porém, vos
reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos
perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis". Colossenses 1:22. Mas há também uma santificação
subjetiva promovida pelo Espírito Santo que é progressiva em nossa experiência.
A santidade que temos em Cristo é fora de nós e em união com Cristo, mas a
santidade do Espírito e dentro de nós é crescente. Ambas vêm a nós pela graça,
por causa dos merecimentos de Cristo. Mas uma é plena e concluída, enquanto a
outra é de fato evolutiva. A santificação do Espírito é ampliada a cada dia, por
meio da graça.
Só aquele que é santo pode crescer em santidade.
"Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo
imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a
santificar-se". Apocalipse 22:11. A natureza sempre
evolui em seu cerne. Aqui temos a santificação daquele que é santo. Não há
crescimento em santidade no ímpio, nem progresso do santo em impiedade. Todos
evolucionam naquilo que são em essência.
A santidade de Cristo em nosso favor se torna uma
matriz de santificação operada pelo Espírito Santo de modo progressivo. Aquele
que é santo objetivamente em Cristo, por meio da graça administrada pelo
Espírito, acende em santidade, subjetivamente, até a estatura da varonilidade de
Cristo. Quem é santo se santifica ainda mais através da graça de Deus. E assim,
quanto maior for a consciência da santidade, maior será o crescimento na
santificação.
É bem verdade que o aumento em santidade acena
sempre para uma maior consciência da nossa natureza pecadora. A história da
igreja comprova que aqueles que têm subido o monte mais alto da santificação,
acabam concluindo que são realmente os piores pecadores. Parece que a verdade é:
quanto mais santo, mais certeza de sua pecaminosidade. Mesmo
assim, a vida cristã é a manifestação evolutiva da santidade de Deus. Se o
produto do pecador é o pecado, o fruto do santo é a santificação em santidade
com sanidade. Não se trata de uma obsessão legalista, mas de uma evolução
saudável da vida de Cristo capacitando-nos a obedecer com alegria tudo o que diz
respeito à vontade do Pai para as nossas vidas. Entretanto, a santificação não
indica que o cristão é um ser extraordinário, mas que Cristo é tudo nele.
Pink dizia que "na pessoa de Cristo, Deus atinge uma
santidade que suporta o mais profundo escrutínio, sim, que alegra e satisfaz o
seu coração, e o que quer que Cristo seja diante de Deus, ele o é para o seu
povo", só que isso precisa evolucionar em nossa compreensão e experiência
através da operação graciosa do Espírito Santo em nós. Por isso, a santificação
não é nada mais ou nada menos do que o desenvolvimento da vida de Cristo em
nosso interior.
A santidade progressiva se alimenta do pão nosso
de cada dia na pessoa de Cristo. Comer diariamente este maná atualizado é
crescer em santificação saudável. Participar da mesa da graça não é uma questão
de empenho, mas de prazer, uma vez que a santidade compulsória é um tenebroso
sanatório. Sem alegria não pode existir vida cristã autêntica. "Cantem de
contentamento e se alegrem os que têm prazer na minha santidade; e contem
sempre: Glorificado seja o Senhor, que se compraz na felicidade do seu servo"!
Salmo 35:27. (Paráfrase).
Sem alegria a santidade é um peso insuportável. O
progresso da vida espiritual caminha sempre movido a regozijo como agente de
festa. Tenho observado que, de um modo geral, a santificação no muque tem cheiro
de axila, paladar azedo como limão, ar de desgosto e uma pose deprimida.
Contudo, a santificação pela graça é uma vivência de celebração permanente,
enquanto a santidade sem júbilo é como um velório na madrugada.
A santificação significa que Deus é mais
glorificado em mim quando eu sou mais satisfeito nele. Quanto mais eu me alegro
no Senhor, mais eu cresço em santidade. Como disse John Piper, "a glória do pão
consiste em que ele satisfaz. A glória da água viva está no fato de que ela
sacia a sede". Ora, se Cristo é a satisfação da minha fome espiritual e a
abastança da minha sede de significado, logo ele é a razão da minha evolução em
santidade.
"Não existe santidade sem luta", mesmo assim, essa
peleja não está destituída de prazer. Se retirarmos o deleite da experiência de
santificação, ela não passa de uma conduta rígida e atormentadora. A santidade
com saúde é uma realidade espiritual com satisfação. Santo a fórceps é aborto
moral e desgosto permanente. A alegria é fundamental no processo da
santificação.
Para concluir quero apenas confirmar: a santidade
não é uma via para chegarmos a Cristo, mas Cristo é o caminho para a santidade.
"Sede santos, porque eu sou santo". 1 Pedro
1:16. Contudo, é bom lembrar que isto não é um imperativo crucial, ainda que
seja uma ordem, sua motivação é o gozo de uma vida livre e bem-aventurada.
"Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de
alegria, na tua destra delícias perpetuamente". Salmo 16:11.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 24 de março de 2013
SANTIDADE COM SANIDADE
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