domingo, 24 de março de 2013

SANTIDADE COM SANIDADE

Fala a toda a congregação dos filhos de Israel
e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Levítico 19:2.

O Deus da Bíblia é santo de fato e o povo do Deus da Bíblia deve ser santo por graça. Só Deus é essencialmente santo, e só ele pode conceder gratuitamente santidade ao seu povo. O Deus santo não amplia sua convivência com um povo contaminado pela corrupção pessoal, nem se envolve com a falsificação coletiva das outras nações. "Ser-me-eis santos, porque eu, o Senhor, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus". Levítico 20:26.
O coração do ser humano é corrupto em face da natureza do pecado. Ora, se a parte está depravada, o todo se encontra corrompido. Se o coração do gênero é perverso, as relações da sociedade estão contaminadas. Os membros infectados adoecem o conjunto, e esta coligação de pervertidos reforça a corrupção dos componentes. Aqui há uma retro alimentação.
Entretanto, as Escrituras mostram que sem santidade ninguém poderá ver a Deus. Ainda que a santidade não seja um atributo da humanidade e que nenhum ser humano seja santo em si mesmo, ainda assim ela é requerida para o relacionamento com Deus. Isto implica no fato de que precisa haver uma ação sobrenatural que origine uma santidade imputada.
A santidade significa: exclusividade divina. O povo santo é uma aldeia que pertence somente a Deus. Esse é o primeiro significado de santidade. Um povo de propriedade exclusiva de Deus. Essa privacidade é fundamental para a comunhão interpessoal com o Deus santo. O Senhor escolheu o seu povo dentre outros povos para que fosse santo. Mas não o elegeu porque fosse melhor ou maior. A seleção foi baseada apenas no amor de Deus, sem levar em conta qualquer qualidade ou mérito do povo. "Não vos teve o Senhor afeição, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de todos os povos,
mas porque o Senhor vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de Faraó, rei do Egito". Deuteronômio 7:7-8.
A santidade sugere singularidade. "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor". Deuteronômio 6:4. Deus é único e o seu povo é particular. Javé optou por uma nação baseado apenas em seu amor. Isto quer dizer que não há atributos que determinem o seu amor. Toda expressão afetiva que se fundamenta em predicados não pode expressar o amor divino.
A preferência de Deus é motivada unicamente pelo seu amor incondicional, pois amor divino condicional é uma incoerência do seu caráter. Deus é sempre amor e nos elege para sermos seus filhos por causa do seu amor eterno em Cristo. Arthur W. Pink disse com muita propriedade: "O grande erro que muitos do povo de Deus cometem é esperar descobrir em si mesmos aquilo que só pode ser encontrado em Cristo". A santidade do povo de Deus é uma conseqüência da escolha divina estribada em Cristo, mediante a imputação do seu caráter. Nesse ponto nós encontramos a santidade objetiva que depende totalmente da suficiência de Cristo. Buscar santidade em nós mesmos, fora de Cristo, é a manifestação mais evidente de insanidade pessoal. O povo de Deus é santo porque Cristo é a sua santificação. "Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". 1 Coríntios 1:30. Nós temos na pessoa de Cristo um pacote de medidas que nos garante uma salvação perfeita, completa e eterna. Viver pela graça é viver somente pelos merecimentos do Senhor Jesus Cristo. Tanto a aceitação como a posição dependem da união com Cristo.
Cristo é a nossa santidade. O escritor aos Hebreus no capítulo 10 verso 10 nos diz que: "Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas". Aqui vemos claramente a nossa santificação objetiva pela obra de Cristo. É uma santidade totalizada e permanente. Assim, neste aspecto da santificação, você, que confia tão-somente em Cristo para a sua salvação, já é santo. Tentar encontrar santidade em nós mesmos pode nos levar ao farisaísmo legalista ou à alucinação. Se quisermos ser santos, precisamos olhar para fora de nós mesmos e firmemente para Cristo. Só nele poderemos localizar a verdadeira santidade que nos santifica de verdade. "Assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele". Efésios 1:4. Cristo é a nossa justiça e a nossa aceitação. Ele é o Advogado da nossa causa e o Juiz que nos julga. Ele é o santo que nos justifica e a santidade que nos aperfeiçoa. Somos irrepreensíveis diante dele, porque ele mesmo é objetivamente a nossa santificação. Do ponto de vista legal ninguém poderá ser mais santo do que já o é em Cristo. "Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis". Colossenses 1:22. Mas há também uma santificação subjetiva promovida pelo Espírito Santo que é progressiva em nossa experiência. A santidade que temos em Cristo é fora de nós e em união com Cristo, mas a santidade do Espírito e dentro de nós é crescente. Ambas vêm a nós pela graça, por causa dos merecimentos de Cristo. Mas uma é plena e concluída, enquanto a outra é de fato evolutiva. A santificação do Espírito é ampliada a cada dia, por meio da graça.
Só aquele que é santo pode crescer em santidade. "Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se". Apocalipse 22:11. A natureza sempre evolui em seu cerne. Aqui temos a santificação daquele que é santo. Não há crescimento em santidade no ímpio, nem progresso do santo em impiedade. Todos evolucionam naquilo que são em essência.
A santidade de Cristo em nosso favor se torna uma matriz de santificação operada pelo Espírito Santo de modo progressivo. Aquele que é santo objetivamente em Cristo, por meio da graça administrada pelo Espírito, acende em santidade, subjetivamente, até a estatura da varonilidade de Cristo. Quem é santo se santifica ainda mais através da graça de Deus. E assim, quanto maior for a consciência da santidade, maior será o crescimento na santificação.
É bem verdade que o aumento em santidade acena sempre para uma maior consciência da nossa natureza pecadora. A história da igreja comprova que aqueles que têm subido o monte mais alto da santificação, acabam concluindo que são realmente os piores pecadores. Parece que a verdade é: quanto mais santo, mais certeza de sua pecaminosidade. Mesmo assim, a vida cristã é a manifestação evolutiva da santidade de Deus. Se o produto do pecador é o pecado, o fruto do santo é a santificação em santidade com sanidade. Não se trata de uma obsessão legalista, mas de uma evolução saudável da vida de Cristo capacitando-nos a obedecer com alegria tudo o que diz respeito à vontade do Pai para as nossas vidas. Entretanto, a santificação não indica que o cristão é um ser extraordinário, mas que Cristo é tudo nele. Pink dizia que "na pessoa de Cristo, Deus atinge uma santidade que suporta o mais profundo escrutínio, sim, que alegra e satisfaz o seu coração, e o que quer que Cristo seja diante de Deus, ele o é para o seu povo", só que isso precisa evolucionar em nossa compreensão e experiência através da operação graciosa do Espírito Santo em nós. Por isso, a santificação não é nada mais ou nada menos do que o desenvolvimento da vida de Cristo em nosso interior.
A santidade progressiva se alimenta do pão nosso de cada dia na pessoa de Cristo. Comer diariamente este maná atualizado é crescer em santificação saudável. Participar da mesa da graça não é uma questão de empenho, mas de prazer, uma vez que a santidade compulsória é um tenebroso sanatório. Sem alegria não pode existir vida cristã autêntica. "Cantem de contentamento e se alegrem os que têm prazer na minha santidade; e contem sempre: Glorificado seja o Senhor, que se compraz na felicidade do seu servo"! Salmo 35:27. (Paráfrase).
Sem alegria a santidade é um peso insuportável. O progresso da vida espiritual caminha sempre movido a regozijo como agente de festa. Tenho observado que, de um modo geral, a santificação no muque tem cheiro de axila, paladar azedo como limão, ar de desgosto e uma pose deprimida. Contudo, a santificação pela graça é uma vivência de celebração permanente, enquanto a santidade sem júbilo é como um velório na madrugada.
A santificação significa que Deus é mais glorificado em mim quando eu sou mais satisfeito nele. Quanto mais eu me alegro no Senhor, mais eu cresço em santidade. Como disse John Piper, "a glória do pão consiste em que ele satisfaz. A glória da água viva está no fato de que ela sacia a sede". Ora, se Cristo é a satisfação da minha fome espiritual e a abastança da minha sede de significado, logo ele é a razão da minha evolução em santidade.
"Não existe santidade sem luta", mesmo assim, essa peleja não está destituída de prazer. Se retirarmos o deleite da experiência de santificação, ela não passa de uma conduta rígida e atormentadora. A santidade com saúde é uma realidade espiritual com satisfação. Santo a fórceps é aborto moral e desgosto permanente. A alegria é fundamental no processo da santificação.
Para concluir quero apenas confirmar: a santidade não é uma via para chegarmos a Cristo, mas Cristo é o caminho para a santidade. "Sede santos, porque eu sou santo". 1 Pedro 1:16. Contudo, é bom lembrar que isto não é um imperativo crucial, ainda que seja uma ordem, sua motivação é o gozo de uma vida livre e bem-aventurada. "Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra delícias perpetuamente". Salmo 16:11.
 
Soli Deo Glória.

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