Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de Jesus
Cristo, nosso Senhor. 1Coríntios 1:9
Muitas pessoas confundem a fé cristã com um sistema
hierárquico, onde as normas e o comando exercem o controle na convivência. Para
um grande grupo, as conexões humanas não passam de encontros governados pelas
regras que estabelecem espaços
e castas. Neste caso, a igreja se assemelha a um exército com os seus postos e as ligações pessoais não vão além de continências subservientes.
Sabemos que toda estrutura social precisa de uma certa
organização e ninguém pode viver coletivamente sem algumas cláusulas básicas
para a boa coexistência. Não pode haver intimidade sadia sem um respeito
correspondente, nem o trato social dispensa os princípios da consideração e
competência. Todo organismo gregário necessita de ordem e todas as relações
exigem um mínimo de etiqueta para se interagir. Toda família carece de um
crédito no seu esqueleto de sustentação e sem uma armação estrutural as relações
se tornam confusas e as pessoas doentes. Grande parte da epidemia
emocionalite que se abate no mundo moderno se deve ao estilo gelatinoso
ou coloidal que deforma a consistência da vida familiar. Sem uma carcaça de
princípios e de autoridade, o suporte e a conservação de qualquer grupo social
está determinado ao fracasso.
Entretanto, não podemos confundir princípios normativos ou
códigos de posturas com regulamentos imperiosos que destituem a camaradagem dos
relacionamentos. O projeto de Deus visa nos envolver numa relação de comunhão
com o seu Filho. Apesar de Jesus Cristo ser o Senhor, sua proposta é de nos
tornar amigos íntimos. Ele desceu do seu trono de glória e de sua posição
exaltada para nos alcançar em nossa situação arrogante do pecado, a fim de nos
converter em amigos de Deus, gerenciados por uma comunhão pessoal.
Ninguém pode ser constituído amigo por decreto. A amizade é
fruto de um relacionamento volitivo e prazeroso. Abraão foi cognominado amigo de
Deus. Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado por justiça; e:
foi chamado amigo de Deus. Tiago 2:23. Esta amizade não surgiu de uma
lei, mas de uma convivência. Abraão foi chamado por Deus para um companheirismo
afetuoso, para ser pai de uma grande família e manter uma comunhão estreita com
o Pai das misericórdias e o Deus de toda graça. Ele não foi intimado
judicialmente nem obrigado por um edito real. Não existe amizade por pressão. A
vocação divina pressupõe uma decisão pessoal: Eu sou o Deus Todo-Poderoso:
anda na minha presença, e sê perfeito. Gênesis 17:1b.
Aprecio muito uma paráfrase deste texto: Eu sou o Deus que
satisfaz completamente todas as coisas, por isso, anda na minha companhia e eu
farei você uma pessoa perfeitamente adequada. A vida espiritual autêntica é
uma questão de relacionamento com Deus e não de mero cumprimento de deveres. Não
fomos chamados para ser executivos de tarefas religiosas ou meros legalistas
praticantes de regulamentos. A vocação celestial sempre manifesta uma atitude
livre de correspondência, com um caráter de relacionamento amistoso. Contudo, é
bom salientar que esta amizade não elimina a responsabilidade moral do
cumprimento da lei, pois os verdadeiros amigos são sempre aqueles que
amorosamente se correspondem no estilo básico de aceitação.
A Bíblia mostra que o homem natural é inimigo de Deus e que
seus interesses pessoais são contrários aos planos de Deus. Mas a Bíblia também
mostra que o Deus da graça amou o homem incondicionalmente e enviou Jesus Cristo
para nos reconciliar com ele. Porque, se nós, quando inimigos fomos
reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já
reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Romanos 5:10.
Jesus veio a este mundo com o propósito definido de tratar do
problema essencial da nossa inimizade com Deus, e a cruz foi o tribunal que
cuidou deste processo, fazendo-nos morrer juntamente com Cristo e deste modo
desfazer a inimizade. O Espírito Santo graciosamente nos convence desta rebeldia
inata levando-nos ao arrependimento, a fim de permitir uma atitude voluntária de
nossa parte, recebendo os efeitos eternos da justiça de Cristo. Uma vez
desmanchado o antagonismo pela obra de Cristo na cruz, somos feitos filhos de
Deus através da vida ressurreta de Cristo.
O Deus de toda graça providenciou todos os meios necessários
para acabar com a hostilidade da raça humana, por meio de Jesus Cristo, e
mediante o convencimento do Espírito Santo ele nos agracia com a atitude livre
de arrependimento e fé, para recebermos a amizade como expressão viva de sua
soberana graça. Deus em Cristo nos chama a uma comunhão pessoal com ele, para
desenvolver um relacionamento de intimidade. Nós não nos tornamos amigos de Deus
cumprindo regras. O evangelho da graça nos revela que Jesus Cristo cumpriu toda
a lei, e deste modo nos reconciliou com Deus, convidando-nos para uma vida de
comunhão.
A vida cristã legítima se baseia num convívio doméstico entre
dois amigos. A graça torna o salvo um membro da família de Deus e um íntimo do
Salvador. A amizade será sempre um relacionamento livre e agradável, e mesmo
quando nós fracassamos, sua afeição por nós não se altera. A grande mensagem do
evangelho nos mostra que não é a nossa fidelidade que torna esta amizade
deliciosa e permanente, mas é a fidelidade de Deus que nos atrai para o centro
do seu amor incondicional.
Deus nos amou irrestritamente e de modo absoluto, e nos tornou
seus filhos para vivermos num relacionamento completamente acessível. No reino
de Deus não há lugar para coação nem a nossa amizade com ele pode ser imposta. O
Senhor nos conquistou livremente pela sua graça para termos a liberdade de viver
livremente. Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei,
pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão. Gálatas
5:1. Não há liberdade cristã forçada nem regulamento que seja capaz de
promover amizade autêntica. Se fomos livres pela graça, precisamos conviver em
liberdade de amor. A lei da liberdade é a lei do amor. O amor não pratica
o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor. Romanos
13:10.
A vida cristã é um relacionamento de profunda liberdade nos
limites do amor. A amizade do cristão é fruto do amor incondicional de Deus e da
alegria prazerosa em obedecer a vontade de Deus determinada pela lei da
liberdade e pelos ditames do amor. Como ensinava Sto. Agostinho: Ama e faze o
que queres. Não há outro postulado nem outro mandamento capaz de tornar a
vida mais significativa. Deus nos chamou para andarmos na liberdade do amor e
assim provocarmos relacionamentos que evidenciem a natureza da sua graça
inconquistável.
Mas, como fica a conduta? Muitos que são treinados pelo condicionamento dos preceitos ficam aturdidos com a vida da comunhão sem uma constituição determinando o comportamento. Por isso, há muita liderança encabrestando as pessoas com usos e costumes, com regras e regulamentos, tentando com isto controlar o procedimento externo, sem levar em conta as intenções do coração. Preferimos focalizar a comunhão com o Senhor como a única maneira viável de cuidar tanto da organização da vitrine, como da ordem no depósito. Ninguém se torna amigo de Deus cumprindo regulamento, mas porque se torna amigo de Deus num relacionamento de liberdade e amor, acaba também cumprindo as regras graciosamente, com alegria de uma amizade eterna.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 23 de março de 2013
REGULAMENTO OU RELACIONAMENTO?
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