Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo
e este crucificado. 1Coríntios 2:2.
O apóstolo Paulo era um homem de convicções. Ele
demonstrava posição firme e obstinação em suas proposições. Ninguém pode
chamá-lo de volúvel ou maria-vai-com-as-outras. Havia sempre pertinácia e
insistência em seus objetivos. Mas seu convencimento não era fruto de teimosia.
Ele era um homem que baseava sua fé numa sólida experiência. Paulo tinha certeza
de sua crença. Não o vemos dissimulando ou fazendo jogo de cintura. Era um homem
de decisão. Quando afirmava que sua pregação se fundamentava em Cristo
crucificado, estribava-se numa decisão. Avaliando os prós e os contras, ele
chegou a uma conclusão: a mensagem do Evangelho tinha que ser proclamada sobre
os alicerces da cruz. O seu conhecimento era centrado nos efeitos eternos da
cruz. O apóstolo queria conhecer e queria pregar a verdade suficiente da cruz.
O cristianismo é o reflexo pleno da obra de Deus
consumada na cruz. Ninguém pode ser considerado um cristão se não tiver as
marcas da cruz em sua vida. Só os crucificados podem ostentar as cicatrizes da
cruz. Não é possível tornar-se cristão sem os sinais da cruz em sua maneira de
viver. Sem a cruz não há qualquer evidência de vida substituída. A salvação de
Deus não é uma reforma de tapera, mas a demolição completa dos escombros e a
construção de um novo edifício. Deus não faz restauração. A cruz extirpa o
velho. A ressurreição implanta o novo. A cruz veio para crucificar o velho
homem. Sem a morte do velho homem na cruz com Cristo, não há possibilidade da
manifestação do novo homem com a ressurreição do Senhor Jesus Cristo. O apóstolo
sabia que a morte antecede a ressurreição. Não somos salvos pela vida encarnada
de Jesus. Somos salvos pela vida de Cristo ressurreto. Jesus perdeu a sua vida
na cruz. A vida que Ele recebeu do ventre de Maria foi crucificada naquela cruz
do Calvário. A vida que nos salva foi-nos dada pela ressurreição de Cristo
dentre os mortos. É a vida da ressurreição que produz a salvação dos
pecadores.
A obra de Cristo para a salvação dos pecadores tem
dois tempos. A morte na cruz e a ressurreição dentre os mortos. Na morte, Jesus
realizou a justificação plena e universal, a fim de nos reconciliar com Deus. Na
ressurreição, Ele transferiu a vida que verdadeiramente pode salvar a todo
aquele que crê na suficiência do seu sacrifício. Porque, se nós, quando
inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito
mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. Romanos
5:10. Estes dois pontos são fundamentais para a
pregação do Evangelho. Não se pode pregar as boas novas da salvação sem
apresentar claramente os dois lados. Parece que o fato que levou o apóstolo a
tomar uma posição radical de anunciar somente a Jesus Cristo e este crucificado
foi um aparente insucesso que ele teve em Atenas. Quando ele chegou ao berço da
filosofia, foi despertado pelo censo religioso daquele povo e tomou um caminho a
partir do altar ao deus desconhecido para falar de Jesus Cristo. Paulo focalizou
sua pregação na criação do mundo e não na redenção do homem. Sua mensagem foi
muito rica de detalhes, mas pouco específica no que tange à obra do Calvário.
Ele foi metafórico quando abordou o processo da justificação pelo sacrifício de
Cristo. Na verdade, ele omitiu a cruz. Sua ênfase foi a ressurreição. Ele pulou
o primeiro degrau. Mas, não há ressurreição sem morte. A cruz precede o túmulo
vazio. Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã. Salmo
30:5b. A sexta feira sombria antecede a manhã
radiante do domingo. A demolição da velha construção antepõe-se ao levantamento
do novo edifício. Não há como falar de vida nova sem tratar da morte da velha
vida.
Tudo indica que o apóstolo tropeçou na abordagem
do assunto. A supressão da cruz, neste momento, foi essencial para sua decisão
em Corinto. Ele, agora, não quer mais cometer o mesmo equívoco. Sua deliberação
foi, definitivamente, proclamar Cristo crucificado como o tema central de sua
pregação. A cruz não é um pormenor. Ela é o centro da revelação salvadora.
Perder de vista sua singularidade é desvestir o cristianismo de sua unicidade. O
que torna a experiência cristã particularmente distinta é a operação da graça
por meio da cruz. Sendo assim, o apóstolo Paulo privilegia sua pregação com a
notabilidade da cruz. É um grande prejuízo falar de Jesus Cristo sem ressaltar o
valor eterno do seu sacrifício.
Tudo indica que houve uma nova fase na exposição
do Evangelho, com o episódio de Atenas. Paulo não apenas pregava a Cristo, mas
Cristo crucificado. Esta tônica evidencia todo o modelo do Novo Testamento.
Quando examinamos as pregações do livro de Atos, notamos uma estrutura
homilética semelhante. Todos os sermões apresentam uma introdução variada, uma
mensagem comum e uma conclusão também diferente. Cada pregador introduz o seu
assunto com peculiaridade e termina de modo muito original. Mas no que concerne
à mensagem, todos eles são redundantes. O Evangelho consiste em anunciar a morte
e ressurreição de Jesus Cristo, porque a boa notícia é fazer saber que esta
morte e ressurreição estão associadas à nossa experiência. Pregar o Evangelho e
não proclamar a morte e ressurreição de Cristo é desconsiderar o Evangelho.
Segundo o apóstolo Paulo, o Evangelho é a pregação da morte e ressurreição de
Cristo. Irmãos, venho lembrar-vos o Evangelho que vos anunciei, o qual
recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se
retiverdes a Palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão.
Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos
pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro
dia, segundo as Escrituras. 1Coríntios 15:1-4. Aqui
temos a fórmula do Evangelho: M+R=E, ou seja, Evangelho é igual a morte mais
ressurreição. As boas novas da salvação estão contidas na morte e ressurreição
de Cristo. A boa notícia do Evangelho é anunciar aos homens que a morte e
ressurreição de Cristo correspondem à morte do pecador e à ressurreição de um
novo homem, pois somos feitura dele,
criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para
que andássemos nelas. Efésios 2:10.
Muita gente pode pregar a Bíblia, mas não pregar o Evangelho. A ordem de Jesus para os seus discípulos foi centralizada na pregação do Evangelho: Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Marcos 16:15. As Escrituras mostram que o Evangelho se apóia na morte e ressurreição de Cristo. Olvidar a cruz na pregação é deixar de pregar a mensagem básica do Evangelho. Oswald Chambers afirmava: Quando você se achar face a face com uma pessoa com um problema espiritual, lembre-se de Jesus na cruz. Se aquela pessoa puder chegar a Deus de qualquer outro modo, então a cruz de Jesus Cristo é desnecessária. Se você puder ajudar outros com sua compaixão ou compreensão, você é um traidor de Jesus Cristo. A decisão do apóstolo Paulo era incisiva: nada além de Cristo crucificado. Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. 1Coríntios 1:21. Mas que pregação? A do Evangelho que salienta a primazia da cruz. A ausência da cruz reflete a tendência humanista de solucionar a rebeldia do pecado com paliativos. Sem a ênfase radical da cruz, nossa pregação não passa de um acordo diplomático. Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus. 1Coríntios 1:18. Isto não é assunto comercial. O Evangelho não mercadeja com as almas. A salvação não negocia vantagens. A loucura da cruz é decisiva. Só a morte do pecador juntamente com Cristo pode garantir uma libertação verdadeira. Ninguém pode escapar desta sentença inapelável e gozar plena salvação. A mensagem da cruz não é facultativa, por isso, a insistência inflexível: decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. Paulo não era um homem cabeçudo, mas criterioso. Ele sabia que esta era a ênfase da mensagem de Deus. Toda doutrina que não estiver baseada na cruz de Jesus levará o ouvinte para a direção errada. A moralidade pode manter os homens fora dos tribunais, mas só a cruz de Cristo pode afastar totalmente os pecadores da condenação eterna. Sendo assim, pregar a mensagem da cruz é uma decisão muito sábia.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sexta-feira, 8 de março de 2013
A HISTÓRIA DE UMA DECISÃO PELA CRUZ
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