domingo, 30 de dezembro de 2012

A MINHA HORA...

Sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos. Atos 2:23.


Encontramos, no Evangelho de João, sete expressões sobre a solene "hora" do nosso Senhor Jesus Cristo. A primeira expressão encontra-se em João 2:4: Mas Jesus lhe disse: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Este primeiro milagre realizado por Jesus, da transformação da água em vinho, mostra de forma figurada o fim do sistema judaico, "não tem mais vinho". E, ao mesmo tempo, revela o anseio de Maria em querer apresentar Jesus publicamente. Alguns estudiosos vêem em Maria um tipo da nação de Israel. E o que está na mente dos israelitas? A chegada do Messias para estabelecer o seu reinado. Este era o desejo de Maria e da nação de Israel: aclamá-Lo como o rei dos judeus.
Este anseio, na verdade, revela que eles queriam o Cristo sem cruz. Semelhantemente, no monte da transfiguração, Pedro desejou a comunhão sem a cruz: Então, disse Pedro a Jesus: Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas; uma será tua, outra para Moisés, outra para Elias. Mateus 17:4. Este é o nosso grande problema, queremos Cristo sem cruz. Queremos um cristianismo que soma e não que subtrai. Perder a vida (natural) é a exigência divina. É perdendo que se ganha, portanto, não existe glória sem cruz, e cruz, sem sofrimento. E quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim. Mateus 10:38.

A segunda expressão está em João 7:30: Então, procuravam prendê-lo; mas ninguém lhe pôs a mão, porque ainda não era chegada a sua hora. Nós encontramos aqui um impressionante exemplo da restringente mão de Deus sobre seus inimigos. O propósito deles era prender o Senhor Jesus. Eles procuravam pegá-Lo, estavam desejosos por sangue e estavam determinados a matá-Lo. Contudo, eles estavam impedidos de realizar tal desejo. Como isto evidencia a invencibilidade do eterno decreto de Deus! Deus havia decretado que o Salvador deveria ser traído por um amigo familiar, e vendido por 30 moedas de prata. Como então, era possível para aqueles homens apanhá-Lo?
Este verso mostra uma verdade a qual deve ser de grande conforto para o povo de Deus. Quão abençoado então, saber que todas as coisas estão debaixo do imediato controle de Deus! Nenhum fio de cabelo de nossa cabeça pode ser tocado sem a permissão de Deus. Todo o ódio dos homens e as hostes malignas não poderiam apressar a morte de Cristo até a hora pré-determinada por Deus. O inimigo pode lutar contra nós e, por permissão divina, tocar o nosso corpo, mas, encurtar a nossa vida, ele não pode. Uma terrível epidemia de morte pode visitar o nosso vizinho, mas não pode nos tocar sem a permissão de Deus. Alguém disse que nós não somos governados pelo calendário, e sim pelo propósito de Deus. O nosso Senhor tomou a cruz de forma voluntária. Ele foi para a cruz não por ser incapaz de escapar dela, mas para cumprir os desígnios de Deus. Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos. Gálatas 4:4-5.

A terceira expressão aparece em João 8:20: Proferiu ele estas palavras no lugar do gazofilácio, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque não era ainda chegada a sua hora. Aqui encontramos outra tentativa para prender o Senhor. Eles estavam furiosos não pelo que Ele fazia, mas pelo que Ele dizia de Si, "Eu sou a luz do mundo". A idéia de Deus-homem entre os homens atormentava e confundia os judeus. Na visão do judaísmo, admitir que Deus se fez carne é uma grande blasfêmia. A revelação de Deus que se fez homem não cabe na mente de nenhum homem, mas, para aqueles a quem Deus se revela, é um milagre. A quarta expressão encontra-se em João 12:23: Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. Agora, pela primeira vez, o Senhor revelou que sua hora havia chegado. Em Cana, Ele disse que aquela ainda não era sua hora Mas, aqui, Ele anunciou que sua hora havia chegado, a hora quando Ele, como Filho do homem, deveria ser glorificado. Entretanto, qual é o significado Dele ser glorificado? Estas palavras foram dirigidas no momento em que o nosso Senhor foi procurado pelos gregos. Por isso, em vista desta conexão, o significado está no fato que a salvação se estenderia a todos os povos. O Senhor seria glorificado por todas as nações.
O Senhor anunciou que a hora era perfeita, madura para a benção de todas as famílias da terra através da semente da mulher. Externamente, todos estavam prontos para a Sua glória terrena, inclusive os gregos que procuravam o homem perfeito. As multidões O haviam proclamado Rei; os romanos, silentes, não ofereciam oposição. Mas o Salvador sabia que, antes de ser coroado, Ele deveria primeiro executar a obra de Deus. Ninguém poderia estar com Ele em glória exceto por Sua morte. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. João 12:24. Para seus seguidores, a cruz era o mais profundo lugar de humilhação, mas o Salvador a considerou como sua glorificação.

A quinta expressão está em João 12:27: Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. Este foi o início das dores do Salvador antes que a nova criação fosse estabelecida. Ele foi tomado por um profundo horror da hora que viria. Isto era o prelúdio do Getsêmani. Isto nos revela algo do Seu sofrimento íntimo. Sua angústia era extrema: horror, aflição, tristeza, seu coração estava sofrendo tortura. O que ocasionou tudo isto? O insulto e o sofrimento que Ele estava para receber das mãos dos homens? Não. Sua angústia tem um só motivo: "Ele foi feito maldição por nós". Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro). Gálatas 3:13-14.
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O que devo eu dizer?" Ele não pergunta: O que devo escolher? Não era indecisão no propósito, não era indecisão da vontade. Ele se sujeitou, sem hesitação, à vontade do Pai, dizendo: "Foi precisamente por esta causa que eu vim para esta hora". Três vezes, Deus Pai falou audivelmente para o Filho durante a Sua jornada aqui na terra: a primeira foi, no início, no batismo das águas no Jordão quando Cristo desceu simbolicamente para o lugar da morte; a segunda vez, no Monte da transfiguração, quando Elias e Moisés falavam de Sua morte; a terceira e última vez, no final, quando da véspera de Sua morte. Então, veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei. João 12:28.
A sexta expressão aparece em João 16:32: Eis que vem a hora e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo. O nosso Senhor fala da pesada hora que está se aproximando. Isto foi dito para os discípulos para prepará-los e destruir a presente auto-confiança deles. Note a abertura: "Eis" ou "veja" "preste atenção". Eles ficariam dispersos, sem Pastor. Todo homem possui o seu próprio refúgio ou esconderijo. Cada um deles tem a sua própria segurança. Quando a tempestade estourasse, todos se refugiariam em suas casas, mas Cristo ficaria só. Por quê? Porque somente Ele estava qualificado para realizar a redenção do homem. "Contudo, não estou só". Quão gracioso é o Senhor ao dirigir estas palavras para os discípulos! A expressão também os prepara para que, quando a "hora" chegar, saibam que não estão sós. Isto nos prepara para o verso seguinte: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. João 12:33. Ninguém está imune das aflições deste mundo, mas confiantes na vitória que nos foi dada em Cristo.
A sétima e última expressão em João 17:1 nos revela que tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti. Nenhum homem, até então, tinha colocado as mãos sobre o Salvador, porque sua hora não havia chegado. Este é o momento em que todas as profecias se cumprem, o momento em que o sol se recusa a brilhar, momento de trevas. Este é o instante em que o pecado da humanidade foi derramado sobre Jesus. Este é o momento em que também o Senhor derrama a Sua alma no coração de Seu Pai, para benção daqueles que Lhe pertencem. A cruz O venceu, e Nele nós somos vencidos! Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. João 19:30.
O Senhor, cujos olhares de amor tinham sido até então dirigidos para os Seus discípulos sobre a terra, eleva, agora, os olhos ao Céu, dirigindo-Se a Seu Pai. Era chegada a hora de glorificar o Filho, para que, na glória, o Filho glorificasse o Pai. A Sua obra e a Sua Pessoa davam-Lhe esse direito: "Pai glorifica a teu Filho", o Filho glorificado com o Pai em Cima, no céu! O Filho glorificou perfeitamente o Pai aqui na terra. Nada tinha faltado àquilo que manifestava o Pai, fosse qual fosse a dificuldade a vencer no cumprimento dessa missão. Ele manifestou o nome do Pai àqueles que o Pai lhe tinha dado do mundo. Pertenciam ao Pai, e o Pai tinha-os dado a Jesus. Sua hora não poderia ter chegado, como dito por Jesus, no início, "minha hora não é chegada", mas, agora, no final, Ele diz: é chegada a minha hora. Entre este dois períodos de tempo, nenhuma força, por mais poderosa que fosse, poderia mudar aquilo que já estava pré-determinado por Deus. A cruz era uma realidade espiritual antes do mundo ser mundo, e ninguém poderia interferir até que se cumprisse o propósito eterno de Deus. Desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra. Efésios 1:10.
 
Soli Deo Glória.

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