quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O HOMEM CUJOS OLHOS FORAM ABERTOS

Então, chamaram, pela segunda vez, o homem que fora cego e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. Ele retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo. João 9:24-25.
Quando olhamos a situação do mundo, ficamos profundamente impactados e oprimidos com a prevalecente doença da cegueira espiritual. Não estaríamos muito errados se disséssemos que a maior parte dos problemas das pessoas tem sua origem na cegueira espiritual.
Por outro lado, há uma cegueira religiosa tão perigosa quanto à cegueira do mundo. Tomemos por base a vida de Saulo de Tarso. Não há dúvidas quanto à sua cegueira. Seu zelo por sua religião histórica era um zelo cego.
O que aconteceu com Saulo de Tarso? Ele viu Jesus de Nazaré, e isto foi o suficiente para lançá-lo por terra. Para tirá-lo do judaísmo foi necessário um poder fora da terra, visto que, ninguém tem verdadeira visão espiritual por natureza.
Na verdade, todos nós nascemos espiritualmente cegos. Não há em nós uma só fagulha de vida espiritual. Para vermos precisamos de algo que vem do “céu” como uma ação direta de Deus; Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?
Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer. Os seus companheiros de viagem pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo, contudo, ninguém. Então, se levantou Saulo da terra e, abrindo os olhos, nada podia ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco. Atos 9:3-8.
Quando os olhos espirituais de Saulo de Tarso foram abertos seus olhos naturais foram cegados para a sua religião. A utilização dos olhos naturais para conhecer Deus, pode ser apenas uma indicação de quão cegos somos. De modo que a visão espiritual é sempre um “milagre” do céu - uma luz do céu. Isso significa que aquele que vê espiritualmente, tem um milagre como fundamento da sua vida. Toda a nossa vida espiritual brota de um milagre: é o milagre de receber a visão nos olhos que nunca viram.
O que é o inicio da vida cristã? É um ver. Foi esta a comissão que o Apóstolo Paulo recebeu logo após a sua conversão: Mas levanta-te e firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim. Atos 26:16-18.
A vida cristã deve ser um movimento progressivo, numa linha em direção a um fim. A linha e o fim é Cristo. Podemos dizer que a nossa salvação foi uma questão de nos ver como pecadores ou, que é ver Cristo morrendo por nós e nós Nele.
A carta de Paulo aos Gálatas pode ser assim resumida: o cristão não é alguém que faz isso aquilo, ou que deixa da fazer isso e aquilo, por ser proibido. O cristão não é governado pelas coisas exteriores de um modo de vida, uma ordem ou sistema de regras.
O cristão é aquele que recebeu no seu íntimo a Pessoa de Cristo: Ele está incluído nesta revelação: Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue. Gálatas 1:15-16. Esta é apenas outra forma de dizer: “Ele abriu meus olhos para que eu veja”.
Acontece que, o cristianismo se tornou, amplamente, apenas uma tradição. A Verdade foi dividida em “verdades” inscritas em um “livro dourado de doutrina evangélica”. Estas doutrinas estabelecem os limites do cristianismo e são apresentadas de muitas formas. Elas são servidas convenientemente acompanhadas com piadas e ilustrações interessantes e atrativas, cuja “originalidade” e “singularidade” são previamente estudadas.
Têm alguma chance de serem entendidas por causa das roupagens com que são vestidas, dependendo também da habilidade e da personalidade do pregador ou mestre. As pessoas dizem: “Gosto do seu estilo, da sua maneira ou do modo de dizer as coisas”.
Todavia, quando o falatório é despido das piadas, histórias e ilustrações, e da performance teatral do pregador ou mestre; quando todos esses “farrapos” são removidos do discurso, perguntamos: Onde está a verdade? Onde está Cristo?
Lamentavelmente, esta é a grande verdade em nossos dias. Num sentido, podemos afirmar que nunca houve um tempo como o atual, tão carente de pessoas que possam dizer: era cego e agora vejo.
Essa é a necessidade em nossos dias. A esperança se prende nisto: que pessoas sejam levantadas neste mundo; neste mundo negro de confusão, caos, tragédia e contradição que possam dizer: “Eu vi”.
O que precisamos não é de uma suposta nova visão ou uma nova verdade. Não são novas verdades e tampouco a mudança da verdade. Precisamos daqueles que apresentam a Verdade como homens que “viram”.
Não somente homens que estudaram ou que leram, mas homens que viram. Como aquele que encontramos em João 9, em sua manifestação de assombro: “Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo”.
Esta é a necessidade de nossos dias, homens que viram. Porém, o homem cujos olhos foram abertos, vai enfrentar o inferno. Este homem do nosso texto teve que encarar seus pais que temeram ficar do lado do filho, por conta do sistema religioso que se levantou com muita fúria.
“Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo”. Tal experiência produz um impacto profundo que nos governará por toda a vida. Se um homem realmente vê, nele existe vida e elevação. Se, em nossa pregação estivermos oferecendo algo de segunda mão, ainda que estudado e pesquisado, mas sem “luz”, não produzirá vida em outros.
Não precisamos de uma nova revelação. Tudo já nos foi revelado em Cristo. Desde o início da nossa experiência até a consumação, a vida espiritual deve caminhar dentro deste segredo: Eu vi!
A nossa caminhada cristã começou ali e deve seguir até a consumação final, de forma que você e eu sejamos mantidos nesta atmosfera de “assombro”. O fator assombro repetido muitas vezes, tornando cada nova ocasião como se fosse algo que nunca tivéssemos visto. O fator de assombro é: eu vi!
Pense um pouco! Pense em você nascendo cego e vivendo até a maturidade sem ter visto nada, e de repente, seus olhos são abertos para ver tudo e todos. O sentimento de assombro estaria ali. O mundo seria um mundo maravilhoso.
Podemos imaginar o sentimento daquele homem que outrora era cego e que agora podia contemplar a luz do dia. Ele dizia constantemente: “É maravilhoso ver todas as coisas! “De fato tudo é muito lindo”!”.
O que é produzido pela revelação do Espírito Santo é sempre um impacto espiritual no coração; É um sentimento marcante, constante e crescente - um Novo mundo, um Novo universo. Esta é a maior necessidade de nosso tempo: Eu era cego, e agora vejo!
É uma necessidade crescente porque a vida que recebemos está em movimento. Isto está evidenciado na oração do Apóstolo Paulo pelos crentes da cidade de Éfeso: Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança nos santos. Efésios 1:15-18.
Por que ele deseja que os crentes de Éfeso tenham o espírito de sabedoria e de revelação? O fato importante é que aquilo que ouvimos pode ser facilmente esquecido, mas aquilo que vemos não é esquecido facilmente.
É fácil esquecer doutrinas, porém é difícil esquecer aquilo que se vê. Portanto, a questão colocada aqui na oração é olhos iluminados. Isto é Visão, ou seja, quando vemos que somos libertados de nós mesmos e do nosso estreito horizonte.
Quando nascemos de novo, ganhamos em nosso interior a vida de Cristo. E quando oramos pedindo espírito de sabedoria e de revelação, isto significa que queremos que Deus amplie nossa visão para conhecê-Lo, na revelação de Cristo.
A grandeza da Pessoa de Cristo está além de nossa compreensão. Por isso, precisamos de espírito de sabedoria e revelação a fim de que O conheçamos mais e mais, e nos tornemos parecidos com Ele.
Precisamos saber que no momento do novo nascimento abriu-se a porta para a Vida eterna, e que temos um longo caminho a percorrer. E, nesta caminhada, o Espírito Santo, pela operação da Cruz, escreverá a biografia de Cristo em nossas vidas.
No vaso de barro está o tesouro, e a preciosidade desse tesouro está muito além da nossa compreensão. Nós necessitamos que o Senhor abra os nossos olhos para ver quão precioso esse tesouro é.
Por um lado, vemos esse vaso de barro – a casa terrestre do nosso tabernáculo que está prestes a se desfazer. Por outro, vemos a sobre-excelente grandeza do poder do Senhor para conosco.
A regeneração pode ocorrer num pequeno espaço de tempo. Entretanto, o propósito de Deus em nos fazer semelhantes ao seu Filho é um processo. Portanto, a chave hoje é ver.
Não é pelo fato de pedirmos a Deus para nos dar algo mais. Ele já se deu a nós. O que Ele poderia nos dar Ele já nos deu e já está em nós. O que precisamos pedir a Deus é que nos dê o espírito da sabedoria e de revelação para que possamos ver.
A Graça que lançou o fundamento trará a pedra de arremate, com aclamações de “Graça, graça!” - a Graça de Deus abrindo nossos olhos para vermos mais e mais. Que possamos dizer: Eu era cego, agora vejo! Amém.
 
Soli Deo Glória.

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