Então, chamaram, pela segunda vez, o homem que fora cego e
lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador. Ele
retrucou: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo.
João 9:24-25.
Quando olhamos a situação do mundo, ficamos profundamente
impactados e oprimidos com a prevalecente doença da cegueira espiritual. Não
estaríamos muito errados se disséssemos que a maior parte dos problemas das
pessoas tem sua origem na cegueira espiritual.
Por outro lado, há uma cegueira religiosa tão perigosa quanto à
cegueira do mundo. Tomemos por base a vida de Saulo de Tarso. Não há dúvidas
quanto à sua cegueira. Seu zelo por sua religião histórica era um zelo cego.
O que aconteceu com Saulo de Tarso? Ele viu Jesus de Nazaré, e
isto foi o suficiente para lançá-lo por terra. Para tirá-lo do judaísmo foi
necessário um poder fora da terra, visto que, ninguém tem verdadeira visão
espiritual por natureza.
Na verdade, todos nós nascemos espiritualmente cegos. Não há em
nós uma só fagulha de vida espiritual. Para vermos precisamos de algo que vem do
“céu” como uma ação direta de Deus; Seguindo ele estrada fora, ao
aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e,
caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me
persegues?
Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou
Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o
que te convém fazer. Os seus companheiros de viagem pararam emudecidos, ouvindo
a voz, não vendo, contudo, ninguém. Então, se levantou Saulo da terra e, abrindo
os olhos, nada podia ver. E, guiando-o pela mão, levaram-no para Damasco. Atos
9:3-8.
Quando os olhos espirituais de Saulo de Tarso foram abertos
seus olhos naturais foram cegados para a sua religião. A utilização dos olhos
naturais para conhecer Deus, pode ser apenas uma indicação de quão cegos somos.
De modo que a visão espiritual é sempre um “milagre” do céu - uma luz do céu.
Isso significa que aquele que vê espiritualmente, tem um milagre como
fundamento da sua vida. Toda a nossa vida espiritual brota de um milagre: é o
milagre de receber a visão nos olhos que nunca viram.
O que é o inicio da vida cristã? É um ver. Foi esta a comissão
que o Apóstolo Paulo recebeu logo após a sua conversão: Mas levanta-te e
firma-te sobre teus pés, porque por isto te apareci, para te constituir ministro
e testemunha, tanto das coisas em que me viste como daquelas pelas quais te
aparecerei ainda, livrando-te do povo e dos gentios, para os quais eu te envio,
para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade
de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança
entre os que são santificados pela fé em mim. Atos 26:16-18.
A vida cristã deve ser um movimento progressivo, numa linha em
direção a um fim. A linha e o fim é Cristo. Podemos dizer que a nossa salvação
foi uma questão de nos ver como pecadores ou, que é ver Cristo morrendo por nós
e nós Nele.
A carta de Paulo aos Gálatas pode ser assim resumida: o cristão
não é alguém que faz isso aquilo, ou que deixa da fazer isso e aquilo, por ser
proibido. O cristão não é governado pelas coisas exteriores de um modo de vida,
uma ordem ou sistema de regras.
O cristão é aquele que recebeu no seu íntimo a Pessoa de
Cristo: Ele está incluído nesta revelação: Quando, porém, ao que me
separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho
em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei
carne e sangue. Gálatas 1:15-16. Esta é apenas outra forma de dizer: “Ele
abriu meus olhos para que eu veja”.
Acontece que, o cristianismo se tornou, amplamente, apenas uma
tradição. A Verdade foi dividida em “verdades” inscritas em um “livro dourado de
doutrina evangélica”. Estas doutrinas estabelecem os limites do cristianismo e
são apresentadas de muitas formas. Elas são servidas convenientemente
acompanhadas com piadas e ilustrações interessantes e atrativas, cuja
“originalidade” e “singularidade” são previamente estudadas.
Têm alguma chance de serem entendidas por causa das roupagens
com que são vestidas, dependendo também da habilidade e da personalidade do
pregador ou mestre. As pessoas dizem: “Gosto do seu estilo, da sua maneira ou do
modo de dizer as coisas”.
Todavia, quando o falatório é despido das piadas, histórias e
ilustrações, e da performance teatral do pregador ou mestre; quando todos esses
“farrapos” são removidos do discurso, perguntamos: Onde está a verdade? Onde
está Cristo?
Lamentavelmente, esta é a grande verdade em nossos dias. Num
sentido, podemos afirmar que nunca houve um tempo como o atual, tão carente de
pessoas que possam dizer: era cego e agora vejo.
Essa é a necessidade em nossos dias. A esperança se prende
nisto: que pessoas sejam levantadas neste mundo; neste mundo negro de confusão,
caos, tragédia e contradição que possam dizer: “Eu vi”.
O que precisamos não é de uma suposta nova visão ou uma nova
verdade. Não são novas verdades e tampouco a mudança da verdade. Precisamos
daqueles que apresentam a Verdade como homens que “viram”.
Não somente homens que estudaram ou que leram, mas homens que
viram. Como aquele que encontramos em João 9, em sua manifestação de assombro:
“Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego e agora vejo”.
Esta é a necessidade de nossos dias, homens que viram. Porém, o
homem cujos olhos foram abertos, vai enfrentar o inferno. Este homem do nosso
texto teve que encarar seus pais que temeram ficar do lado do filho, por conta
do sistema religioso que se levantou com muita fúria.
“Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo”. Tal experiência
produz um impacto profundo que nos governará por toda a vida. Se um homem
realmente vê, nele existe vida e elevação. Se, em nossa pregação estivermos
oferecendo algo de segunda mão, ainda que estudado e pesquisado, mas sem “luz”,
não produzirá vida em outros.
Não precisamos de uma nova revelação. Tudo já nos foi revelado
em Cristo. Desde o início da nossa experiência até a consumação, a vida
espiritual deve caminhar dentro deste segredo: Eu vi!
A nossa caminhada cristã começou ali e deve seguir até a
consumação final, de forma que você e eu sejamos mantidos nesta atmosfera de
“assombro”. O fator assombro repetido muitas vezes, tornando cada nova ocasião
como se fosse algo que nunca tivéssemos visto. O fator de assombro é: eu vi!
Pense um pouco! Pense em você nascendo cego e vivendo até a
maturidade sem ter visto nada, e de repente, seus olhos são abertos para ver
tudo e todos. O sentimento de assombro estaria ali. O mundo seria um mundo
maravilhoso.
Podemos imaginar o sentimento daquele homem que outrora era
cego e que agora podia contemplar a luz do dia. Ele dizia constantemente: “É
maravilhoso ver todas as coisas! “De fato tudo é muito lindo”!”.
O que é produzido pela revelação do Espírito Santo é sempre um
impacto espiritual no coração; É um sentimento marcante, constante e crescente -
um Novo mundo, um Novo universo. Esta é a maior necessidade de nosso tempo: Eu
era cego, e agora vejo!
É uma necessidade crescente porque a vida que recebemos está em
movimento. Isto está evidenciado na oração do Apóstolo Paulo pelos crentes da
cidade de Éfeso: Por isso, também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no
Senhor Jesus e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós,
fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no
pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes
qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança
nos santos. Efésios 1:15-18.
Por que ele deseja que os crentes de Éfeso tenham o espírito de
sabedoria e de revelação? O fato importante é que aquilo que ouvimos pode
ser facilmente esquecido, mas aquilo que vemos não é esquecido
facilmente.
É fácil esquecer doutrinas, porém é difícil esquecer aquilo que
se vê. Portanto, a questão colocada aqui na oração é olhos iluminados.
Isto é Visão, ou seja, quando vemos que somos libertados de nós mesmos e do
nosso estreito horizonte.
Quando nascemos de novo, ganhamos em nosso interior a vida de
Cristo. E quando oramos pedindo espírito de sabedoria e de revelação, isto
significa que queremos que Deus amplie nossa visão para conhecê-Lo, na revelação
de Cristo.
A grandeza da Pessoa de Cristo está além de nossa compreensão.
Por isso, precisamos de espírito de sabedoria e revelação a fim de que O
conheçamos mais e mais, e nos tornemos parecidos com Ele.
Precisamos saber que no momento do novo nascimento abriu-se a
porta para a Vida eterna, e que temos um longo caminho a percorrer. E, nesta
caminhada, o Espírito Santo, pela operação da Cruz, escreverá a biografia de
Cristo em nossas vidas.
No vaso de barro está o tesouro, e a preciosidade desse tesouro
está muito além da nossa compreensão. Nós necessitamos que o Senhor abra os
nossos olhos para ver quão precioso esse tesouro é.
Por um lado, vemos esse vaso de barro – a casa terrestre do
nosso tabernáculo que está prestes a se desfazer. Por outro, vemos a
sobre-excelente grandeza do poder do Senhor para conosco.
A regeneração pode ocorrer num pequeno espaço de tempo.
Entretanto, o propósito de Deus em nos fazer semelhantes ao seu Filho é um
processo. Portanto, a chave hoje é ver.
Não é pelo fato de pedirmos a Deus para nos dar algo mais. Ele
já se deu a nós. O que Ele poderia nos dar Ele já nos deu e já está em nós. O
que precisamos pedir a Deus é que nos dê o espírito da sabedoria e de revelação
para que possamos ver.
A Graça que lançou o fundamento trará a pedra de arremate, com
aclamações de “Graça, graça!” - a Graça de Deus abrindo nossos olhos para vermos
mais e mais. Que possamos dizer: Eu era cego, agora vejo! Amém.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quarta-feira, 26 de dezembro de 2012
O HOMEM CUJOS OLHOS FORAM ABERTOS
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