“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e
todas estas coisas vos serão acrescentadas.” Mateus 6:33.
Olhando para o período da história de Israel descrito em 1
Samuel capitulo 8, constatamos que Deus havia escolhido juízes para governar o
Seu povo. Ele o fez para manifestar, por intermédio destes homens, a Sua vontade
e juízo. Contudo, ao observar os povos à sua volta e, aproveitando-se da
oportunidade dada pelos filhos de Samuel, que não andaram no caminho de seu pai,
Israel ambicionou outra forma de governo - a monarquia - pois desejavam serem
governados por um rei, como era o costume dos povos vizinhos.
Diante de tal solicitação, Samuel sentiu-se desconfortável,
pois até então, assim se fazia ao povo de Israel, ao qual ele havia sido
levantado por Deus como Seu profeta. Como todo profeta de verdade, foi falar com
Deus sobre o assunto, e então, Deus lhe dá uma resposta. “E disse o SENHOR
a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te rejeitou a
ti, mas a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles.” 1 Samuel
8:7.
Esta resposta comunica muito a respeito de Deus: Seu caráter,
misericórdia e cavalheirismo. Porém, devemos prestar atenção para ver se, de
alguma maneira, não estamos fazendo mau uso da bondade de Deus e, desta forma,
incorrendo no mesmo erro de Israel, figura da igreja de Cristo, que somos
nós.
O problema é que, os pensamentos de Deus não são os nossos
pensamentos, e Sua maneira de agir fere a razão enviesada pelo mundo e pelo
pecado. Podemos perceber
Isto é importante tendo em vista que todas as vezes que buscamos nossa vontade com obstinação, mesmo que Deus tenha nos revelado por Sua palavra que não é o que Ele tem para nós, isto se constitui num atentado à nossa própria vida. Deus é vida e tudo o que Ele faz é no sentido de promovê-la. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundancia”. João 10:10b.
isto com certa facilidade ao observarmos a grande
multidão de pessoas que tentam encontrar a vida abundante, porem pela via
errada.
Tentam encontrá-la na preservação de si, e por isso, vivem
assombrados pela morte e por uma existência que não é vida, mas apenas
existência; enquanto Deus está dizendo: “Qualquer que procurar salvar a
sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salvá-la-á”. Lucas 9:24.
Quem diria que a vida está depois da cruz? Para quem faz sentido morrer, para só
então viver? Quem diria que aqueles que foram unidos com Cristo em Sua morte,
também seriam unidos a Ele em Sua ressurreição?
A resposta de Deus a Samuel também nos mostra que Deus ama a
liberdade, a qual Ele inclui em Sua obra de redimir o homem. “Se, pois, o
filho vos libertar verdadeiramente sereis livre” João 8:36. Como bem
disse Jacques Ellul: “O homem pode ser escravo de tudo, exceto de Deus”.
Deus é aquele que não quer obrigar nenhum daqueles a quem ama, a estarem em Sua
presença, quando os mesmos gostariam de estar em qualquer outro lugar.
Justamente porque os ama é que Ele deu esta resposta a Samuel: “Atende a
voz do povo em tudo quanto te dizem...”
Seguindo a trilha da liberdade, nos deparamos com o fato da
responsabilidade que ela acarreta, e o cuidado que devemos ter com nossas
escolhas, mesmo quando inseridos no corpo de Cristo que é a sua igreja. Alias, é
justamente por este motivo que devemos ter cuidado, pois Deus, numa inversão que
só pode ser compreendida tendo Jesus Cristo crucificado como leito hermenêutico,
poderá nos dizer: “Seja feita a sua vontade.”.
Sabemos que a consciência do Evangelho aponta para o Deus e Pai
de nosso Senhor Jesus Cristo e, em Cristo Jesus, Ele se revelou como lavador de
pé; Como um Deus louco de amor pelo homem, sua criatura, a qual quer fazer filho
e herdeiro por meio de Cristo. E, mesmo à custa da morte de seu filho na Cruz,
não ousou restringir nenhuma árvore do Jardim, antes disse: “De toda
árvore do jardim comerás livremente.” Genesis 2:16b.
Fez assim, por causa do que Ele é; por amor ao seu próprio
nome. Deus é amor e o Seu amor não se dilui, pois é eterno, “em quem não
há variação nem sombra de mudança.” Tiago 1:17b. Deus revela-se na
criação, na história e de maneira plena em Cristo Jesus. Mediante esta revelação
do amor de Deus em Cristo Jesus, damos razão a Ele e, libertos em Cristo,
aceitos e constrangidos por este amor inexplicável, clamamos: Pai, tem
misericórdia de nós e venha sobre nós o Teu reino!
Voltando ao contexto de 1 Samuel, podemos perceber o fato de
que Deus pede para o profeta explicar os desdobramentos e as consequência
daquela escolha. Porém, o povo se mantém obstinado em sua ideia. Podemos
observar que essa obstinação continua presente entre nós. “Toda escritura
é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para educação na justiça”. 2 Timóteo 3:16. Esta mesma Palavra, muitas
vezes nos é pregada pelos profetas de Deus em nossos dias. Porém, alguns
permanecem obstinados em suas convicções de morte. Sim, porque, o fato que está
implícito na decisão de Israel é que, quando rejeitamos a Palavra de Deus, é ao
próprio Deus que rejeitamos. E, quando rejeitamos a Deus que é a vida, por
consequência, abraçamos a morte.
Quando Deus fala em Sua Palavra precisamos ter no coração, como
revelação dada pelo Espirito, que Ele sabe os planos que tem acerca de nós,
“planos de bem e não de mal.”. O grande problema para nós é que, quase
sempre esses planos, não contemplam a lógica, a sabedoria, os modismos e o
pensamento vigente do mundo.
Mas, ainda que todos à sua volta lhe causem inveja por suas
conquistas, seus feitos e jeito de ser - como foi o caso dos vizinhos de Israel;
ainda que o que Deus lhe diga pareça sem sentido e ultrapassado tal como,
“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.” Mateus 5:4,
Ele continuará tendo razão. Ele sempre tem razão; Ele nos ama, e Suas
palavras são espírito e vida.
A nossa rejeição à vontade de Deus, muitas vezes fica oculta na
nuvem da plausibilidade humana. É bom, humanamente falando? É agradável? É
moral? É maioral? Tem sabedoria? Estas qualidades me despertam interesse? São
estes os questionamentos que usamos para avaliação. Não que queiramos rejeitar
Deus ou insinuar que Ele é desonesto e mentiroso. Porém, é exatamente o que
estamos fazendo – ainda que dissimuladamente - quando rejeitamos a Sua
Palavra.
Se quisermos rejeitar o Reino de Deus sobre nossas vidas, mesmo
como regenerados, da mesma maneira como aquele filho mais moço, descrito em
Lucas capitulo 15, rejeitou o governo de seu Pai e se lançou obstinado em sua
vontade, acabando por fim na indignidade, invejando os porcos - ainda que nunca
tenha deixado de ser filho amado do seu Pai, lembremo-nos do seu destino. Não
podemos esquecer o fato de que ao cair em si, buscando abrigo na casa de seu
Pai, encontrou um Pai extravagante em amor, que o aceitou e o recebeu com muita
música, gente, comida, bebida e festa. E com qualquer um não será diferente.
Ou ainda, se agirmos como Israel, rejeitando o reinado de Deus,
podemos - assim como Israel - continuar sendo povo de Deus para sempre, posto
que, “ os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis.” Romanos
11:29. Isto será perfeitamente possível, porém, levemos em conta o alto
custo pago por Israel: perda da liberdade, a escravidão de seus filhos e filhas,
além do fato de seus bens não mais serem de proveito próprio, como foi escrito:
“Ele tomará vossos filhos...” “Tomará vossas filhas...” Tomará vossas
lavouras, vinhas, olivais, sementeiras, servos, servas e juventude...” “Dizimará
o vosso rebanho e vós lhe sereis por servos.” 1 Samuel 8:10-17.
Isto é um retrato do que vemos hoje em dia. Vemos pessoas
rejeitando o Reino de Deus e Sua palavra que diz: “Não andeis ansiosos por
coisa alguma.” Filipenses 4:6. Vivendo obstinadas em suas vontades,
invejando pessoas que se submeteram a reis tiranos, como o dinheiro, glória
humana e sucesso. Vivendo sem alegria verdadeira e sem paz, mesmo que dentro dos
palácios.
Vemos atualmente, pessoas sacrificando os relacionamentos de
amor com seus filhos, e ainda lhes ensinando a se submeterem como escravos aos
tiranos que dominam a terra. Pessoas que, mesmo possuindo muitas coisas, são
escravas, ou mesmo as que não possuem nada, são consumidas pela inveja ou pela
tristeza do fracasso de não terem conseguido. Pessoas que não conseguem se
alegrar com o fato que Deus as ama, e que em Cristo foram feitos filhos e
herdeiros, e isto dentro das igrejas.
Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores”.
Quando aceitamos qualquer outro governo sobre nossas vidas estamos rejeitando o
governo de Deus sobre nós. Não é uma atitude sem importância, mas é algo que irá
impactar profundamente a nossa existência e a vida das pessoas que estão à nossa
volta. Nossos cônjuges, nossos filhos, nossa família e amigos, serão diretamente
impactados por esta atitude, pois o reino de Deus que lhes seria manifesto
através de nós, lhes será restringido.
Mas o que diz Deus? “Por isso vos digo: Não andeis
cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de
beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais
do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Observai as aves do céu:
não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as alimenta.
Porventura não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós por ansioso que
esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?” Mateus 6: 25-27. “ Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que
comeremos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas
estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai,
pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos
serão acrescentadas.” Mateus 6:31-33.
Soli Deo Glória.
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