Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No
mundo, passais por tribulações; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. João
16:33.
Jesus falou de um tempo de tribulações, onde os seus discípulos
seriam expulsos das sinagogas, levados aos tribunais e perseguidos, através de
várias formas atrozes.
Ele afirmou que estas tribulações advinham do fato de seus
discípulos não fazerem parte do sistema que governa este mundo, ou não serem do
mundo. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia,
não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos
odeia. João 15:19.
A igreja é a seleção dos indigentes. Jesus escolheu os piores
do mundo para receberem de graça, a sua graça, a fim de tomarem parte de um novo
fato espiritual. Esta coletividade é a tribo dos eleitos pela graça, que vive só
por meio da graça. Seu estilo de vida fere a pose mundana do merecimento, que
acaba perseguindo os aceitos incondicionais.
O mundo é a expressão do mérito pessoal. Caim matou Abel só por
causa dos merecimentos que lhe eram próprios. Ele não poderia aceitar que o seu
irmão pudesse ter sido aceito pela graça, enquanto ele fosse rejeitado pelos
seus méritos. A graça ofende ao mérito em sua essência. Como pode o indigno ser
benquisto e o digno ser malvisto?
A questão está na origem do desempenho. A graça se baseia nos
feitos de Deus, enquanto os méritos, nos feitos humanos. E os feitos exigem
glória. O mundo existe por causa do mérito incrustado nos valores humanos. A
igreja subsiste por causa da opulência dos favores divinos. Assim, o que tem
valor não tolera viver de favor. De quem é a glória?
O mérito não suporta a premiação de quem tem demérito.
Favorecer o indigno é uma das maiores ofensas para o valoroso. Nada pode ser
mais ultrajante no mundo, do que a aprovação do vil. Como a graça aceita o
pecador desprezível pelo favor de Cristo, quem tem valor, não pode apoiar tal
aceitação, e, deste modo, deflagra-se a aversão.
A igreja é uma reunião da triagem dos rebotalhos ou escorias do
mundo. Paulo sabia desta eleição destoante, quando disse que Deus escolheu as
pessoas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para
reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de
Deus. 1 Coríntios 1:28-29. Não há coisa alguma que se compare a este método
de seleção, no mundo da meritocracia.
Talvez, algo parecido aconteça somente no voto de repúdio numa
democracia inculta, quando os incivilizados e revoltados, irritados com os
aproveitadores do poder, acabam elegendo os piores candidatos a parlamentar,
como um grito para lamentar.
Fora disto, só o evangelho é capaz de aceitar os piores
pecadores. Contudo, há uma diferença marcante entre os dois, uma vez que, na
democracia estupidificada, os palhaços são eleitos pelos rebeldes ignorantes,
como a tiririca do seu jardim, enquanto no evangelho, estes indignos são aceitos
pela misericórdia em Cristo, como filhos de Deus.
As seleções no mundo dos esportes, por exemplo, não praticam
este critério de aceitação dos piores ao escalar o seu time. Os bons empresários
também não concordam com este tipo de triagem na formação da sua equipe de
trabalho.
O governo do mérito não admite os mendigos assentados em
tronos. Por esta razão disparatada é que surge a revolta da benemerência contra
os deploráveis. Esse acossamento é uma demanda da visão vesga do ego, que
confunde o donatário com o donativo.
Quem almeja ser o dono da coisa não lida muito bem com a ideia
de viver de donativos. Como posso ser o donatário do mundo, vivendo às expeças
das petições? A prece é degradante para quem se apressa a viver como deus neste
mundo. É melhor rebelar-se.
O mundo é sempre o que persegue. A igreja é, continuamente, a
perseguida. Mas o mundo pode estar dentro da igreja, quando esta estiver
perseguindo o indigente. Se houver ódio e perseguição na via de um peregrino,
aqui na terra, nunca será por parte da igreja de Cristo. Trata-se, com certeza,
do mundo infiltrado na igreja.
A igreja sendo perseguida é normal. Uma igreja perseguidora é,
de fato, anormal, pois se trata de uma corporação mundana. Aquele que persegue
aos outros não pode ser um discípulo de Cristo. Lembrai-vos da palavra que eu
vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim,
também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão
a vossa. João 15:20.
Jesus nunca perseguiu a ninguém, mas foi sempre perseguido
pelos melhores exemplares deste mundo. Porém, o mundo que o perseguia
encontrava-se muito bem camuflado no seio da religião do seu povo. Não era a
turma política de Roma, mas a politiqueira de Jerusalém quem promovia a sua
perseguição.
A tribo atribulada não está sendo apenas atacada diante das
tribunas e dos tribunais externos, mas, e principalmente, pela tripulação
interna, entre os falsos irmãos ocupando a liderança, sob o manto insuspeito da
vida espiritual.
A infiltração disfarçada do joio no meio do trigal é uma das
táticas mais astutas do adversário. Aqui reside um dos mais terríveis ardis de
demolição da paz eclesiástica.
Os inimigos de Cristo foram primeiramente violentos. Eles
perseguiam a igreja de forma cruel, sem dó nem piedade. Mas o tiro saiu pela
culatra. “Cada gota de sangue era um grão que brotava e se espalhava”. Enquanto
um cristão era torturado e morto, dez passavam a existir em seu lugar. A morte
de um, era o surgimento de um punhado a mais.
O método foi ineficiente. Então passaram à oposição ideológica.
Também não deu certo. Os argumentos racionalistas não puderam sufocar o estilo
de vida. A realidade cristã não é apenas doutrinária, mas, acima de tudo, uma
experiência de vida com Cristo.
Se nem a perseguição bárbara, nem a oposição das ideias puderam
arrefecer o desenvolvimento do cristianismo, então as suas hostes precisaram dar
à luz uma estratégia mais brilhante, para poder conter o avanço da fé cristã. E,
foi assim, que promoveram a infiltração dos falsos cristãos, para confundir a
realidade espiritual da igreja.
Se a perseguição intensa e a oposição ideológica não foram
eficientes o bastante, com certeza, a subversão tem se mostrado um método
competente para anular o crescimento da igreja, tanto em sua qualidade moral
como espiritual. O falsificado vem corrompendo com sutileza lenta e quase
invisível a fé autêntica.
No tempo do apóstolo Paulo já havia uma semente desta espécie
no seio da igreja. Ele traz à baila a sua cara artificial e resiste com firmeza
aqueles que ele denomina de falsos irmãos que se entremeteram com o fim de
espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir-nos à
escravidão; aos quais nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade
do evangelho permanecesse entre vós. Gálatas 2:4-5.
Por causa deste joio fingindo-se de trigo, muita dor é
alastrada nas entranhas da igreja de Cristo, causando desconfiança e
animosidade, sem uma razão plausível. Confio de vós, no Senhor, que não
alimentareis nenhum outro sentimento; mas aquele que vos perturba, seja ele quem
for, sofrerá a condenação. Gálatas 5:10.
O apóstolo demonstra que há um juízo divino passando por cima
da cabeça daqueles que perturbam a unidade do Espírito, no vínculo da paz, entre
os irmãos.
Os judaizantes são análogos aos cristãos, embora esta parecença
fique apenas nas aparências externas. A conduta se assemelha, mas a motivação é
bem diferente. O cristão é movido à graça, enquanto o judaizante ao mérito. Aqui
jaz uma distinção opositora.
Há uma pendenga antiga entre Ismael e Isaque. Entre o filho da
carne e o descendente da Promessa. Entre a potência humana e a fraqueza pessoal.
Ou ainda, entre o legalista e o que vive pela graça. Mas esta guerra nunca é ao
contrário, além do que, essa briga unilateral sempre se atualiza. Como,
porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o
Espírito, assim também agora. Gálatas 4:29.
A tribo da graça, sucessivamente, é atribulada pela turma das
láureas. Aqueles que gostam de exibir as condecorações acabam descendo as
pauladas naqueles que, sem méritos, são aceitos, incondicionalmente, como filhos
de Abba. Assim, “feridas e contusões são as únicas medalhas que os santos
carregam no corpo, por causa da sua fé no Cordeiro”.
A tribo da tribulação é atribulada por depender da graça plena,
mas ela nunca será uma causa de atribulação na experiência de outros. O filho de
Abba é atribulado no mundo, sem, contudo ser o motivo de atribular,
voluntariamente, os outros seres humanos.
Nossa cartilha magna reza: Em tudo somos atribulados, porém
não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não
desamparados; abatidos, porém não destruídos; levando sempre no corpo o morrer
de Jesus, para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo. 2 Coríntios
4:8-10.
Ser um perseguido, mas, jamais um perseguidor, é a marca de um
legítimo cristão. Viver atribulado, mas, nunca atribulando os adversários, é o
que nos torna mais semelhantes ao Senhor Jesus Cristo. Por isso, como o
apóstolo, um membro honorário desta tribo, nós podemos aprender a fazer festa no
desgosto. Mui grande é a minha franqueza para convosco, e muito me glorio por
vossa causa; sinto-me grandemente confortado e transbordante de júbilo em toda a
nossa tribulação. 2 Coríntios 7:4.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 15 de dezembro de 2012
NA TRIBO DA TRIBULAÇÃO
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