domingo, 2 de setembro de 2012

A SÍNDROME DA GRANDEZA

E para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. 2Coríntios 12:7.
Nós somos uma casta dominada pela grandeza. Desde que o pecado tomou conta de nossa espécie que o vírus da altivez assumiu o centro de nossa história. Todos nós fomos invadidos por um sentimento de importância que requer cuidados especiais e exige um tratamento personalizado. Eu estou sempre reivindicando atenção particular que expresse minha estima diante dos outros e que corresponda aos valores da minha personalidade repleta de direitos. Não gosto de permanecer no ostracismo nem fico satisfeito com a indiferença. Lembro-me, certa vez, quando estava buscando mais do poder espiritual, que fui estar com uma pessoa que se declarava portadora de dons especiais. Eu me encontrava muito ansioso e queria saber qual era a minha participação no reino de Deus. Em razão da aflição fiquei muito excitado quando soube que teria uma grande obra para realizar. A palavra grande me tornou muito eufórico e fiquei empolado pela idéia de grandeza que passou a me motivar daí em diante. Durante algum tempo fui despertado por este sentimento de elevação até que a revelação da pessoa de Jesus com a bacia na mão, acocorado aos pés dos seus discípulos começou a exercer influencia na minha maneira de ver a grandeza. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns
dos outros. João 13:14.

Alguém me disse algum tempo depois que grande, para Deus, não é aquele que tem um grande número de servos, mas aquele que serve a um grande número de pessoas, sem qualquer sentimento de importância ou necessidade de reconhecimento. Não há no homem um espírito que mais se contraponha ao Espírito de Deus do que o espírito de grandeza. Jesus afirmou aos seus discípulos: Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Mateus 20:26-28.

O apóstolo Paulo diz que foi arrebatado até o terceiro céu e ouviu coisas inefáveis que o tornaram uma pessoa singular. Ele ficou marcado por uma experiência única de intimidade espiritual jamais contada pelos outros mortais. Esta visita especial de Paulo ao céu o constituía num privilegiado terráqueo, que esteve mais próximo do trono de Deus, e que por isso mesmo, o distinguia de qualquer outro habitante do planeta azul. Ninguém pode ficar tão alto assim, sem correr o risco de se tornar uma pessoa presunçosa.

Mas foi exatamente nesta atmosfera de nobreza que lhe é introduzido um espinho na carne, emissário de Satanás, a fim de humilhá-lo. Quem será que mandou este espinho, Deus ou Satanás? Sabemos que o espeto era de Satanás, mas quem era o mandante? Quem estava por trás deste sentimento de quebrantamento? Quem será este que está promovendo a humildade de Paulo em meio aos seus sentimentos de grandeza?

Não é próprio do Diabo o patrocínio da humildade, nem investe nessa matéria. Desde que Lúcifer despencou da posição de querubim da guarda, que ele vem tentando galgar o trono de Deus, agenciando também todos aqueles que queiram ostentar o espírito de altivez. A obra prima do demo é escalar o trono e levar-nos a ter um conceito elevado de nós mesmos. Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. Isaías 14:13-15.

Tanto Satanás como os homens no pecado estão invadidos pelos desejos de importância e a necessidade de se envolverem com as empreitadas grandiosas. A síndrome da grandeza é uma epidemia generalizada fomentada no inferno que contagia todos os membros da raça humana e incendeia os corações, como a maior evidência de inferioridade. Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor Deus: Visto que se eleva o teu coração, e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no coração dos mares; e não passas de homem e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus. Ezequiel 28:2. Só os nanicos emocionais querem ser grandes.

No topo da pirâmide está um sentimento de glorificação que aspira ao posto elevado de Deus. Nem Satã e os seus demônios nem Adão e sua prole querem ficar por baixo. Não é próprio do capeta assentar-se no capacho ao rés do chão, tampouco o homem no pecado quer ficar nesse lugar, pois o desejo principal de ambos é abancarem-se no trono de Deus como se fossem Deus. Mesmo o sentimento da vida espiritual mais elevada está sujeito ao perigo da peculiaridade personalista que admite um tratamento privilegiado. Todos nós sofremos com a tendência de originalidade pessoal e gostamos de parecer exclusivos em nosso estilo de devoção, que exige sempre uma atenção especial por parte dos que nos devem alguma consideração.

A singularidade da experiência do apóstolo Paulo o colocava numa posição especial que reivindicava desvelo e admiração da platéia, onde ficou vulnerável a cair na armadilha mais tinhosa do inferno: a necessidade de distinção. Ser admirado pelos outros pode levar a estratégias extremamente perigosas no comércio das relações. O sentimento de admiração nos eleva e abre a porta para as negociações ardilosas no mercado das afeições. Admiração de uma pessoa pode ser o regra-três humano da adoração a Deus, e, em busca da simpatia dos outros, podemos vender a alma por um preço muito vil. Paulo encontrava-se ameaçado com o desejo de exaltação e precisava de um espinho na carne, a fim de mantê-lo num lugar de humildade. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte. 1Pedro 5:6.

Ser aceito e ser admirado são assuntos muito sérios para aqueles que sofrem de uma distorção aguda em sua imagem. Paulo era um personagem de pequena estatura que sentia necessidade de umas pernas de pau para ver a realidade de cima, e que ficou motivado com a experiência inusitada do terceiro céu. Ele viu naquele patamar um nível de respeito que o colocava num pedestal mais elevado, e foi invadido por um sentimento de glorificação tão insinuante ao coração humano quanto perversivo. Por isso ele precisava de um prego no sapato esvaziando a bola cheia do seu coração alpinista. Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado. Lucas 14:11.

Alguém disse que Deus mede os homens pelas pequenas dimensões da humildade, e não pela grandeza de suas conquistas ou pela expressão de suas capacidades. No reino de Deus se avalia o volume de uma personalidade pelo menor calibre de grandeza que ele exibe ou pela maior expressão de glória que tributa ao Senhor. Quanto mais humilde for uma pessoa, menos se envolverá consigo mesma e mais adoração prestará ao Senhor de toda a glória. O moto de João Batista era bem claro: Convém que ele cresça e que eu diminua. João 3:30. Não convém que eu me rebaixe para que ele cresça, mas quando ele é exaltado, eu naturalmente fico no meu lugar singelo de submissão.

No reino de Deus não há lugar para a altivez dos homens nem para fama de obras grandiosas. Todos os que se envolvem com a idéia de grandeza acabam submersos nos tentáculos asfixiantes de uma glória que se arrasta pela boca dos tolos. Nem um homem nesse mundo em que Deus viveu humildemente como homem, deve ambicionar a grandeza sublime de viver como Deus. Alguém já disse que não há limite para o bem que uma pessoa pode fazer, se ela não se importar com quem recebe os louvores. Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória. Salmo 57:5.

Paulo precisava de um espinho na sua carne para conservá-lo esperto em relação aos artifícios da arrogância. Não existe santidade genuína sem humildade verdadeira. A falsa humildade é uma mentira deslavada que nunca pode ser aceita pelo Deus da verdade, por isso, todos nós carecemos de algum estrepe para nos manter conscientes do grande perigo de querer ser grande. A humildade é o ornamento dos santos de Deus que se torna uma deformação nos pecadores arrogantes. Da mesma forma que o orgulho é a base do pecado, a humildade tem que ser o fundamento da vida cristã legítima. Mas, lembre-se o que afirmou Andrew Murray: Humildade é aquela virtude que, quando você percebe que a tem, já a perdeu. Toda glória seja dada ao Senhor Jesus Cristo. Amém.
 
Solo Deo Glória.

GLÓRIA NAS ALTURAS E PAZ NA TERRA

Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. Lucas 2:14.
O Natal não foi em dezembro, com toda certeza. Isto é uma armação da religião babilônica na tentativa de acomodar a sua idolatria socialista e mística, do solstício invernal, no hemisfério norte, com o nascimento do Sol da justiça, profetizado por Malaquias.
Desde a primeira comemoração do Natal, por volta dos anos 325 a 340, até agora, muita coisa estranha foi introduzida na celebração desta festa. Árvores, luzes, guirlandas, ceias com várias iguarias, presentes e até o abestalhado papai Noel. Esta figurinha sem qualquer sentido na história do cristianismo foi implantada através das tradições pagãs.
Outros acham que “o personagem foi inspirado em São Nicolau Taumaturgo, arcebispo de Mira, na Turquia, no século IV. Nicolau costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse em dificuldades financeiras. Colocava o saco com moedas de ouro a ser ofertado na chaminé das casas. Ele foi, posteriormente, declarado “santo” depois que muitos milagres lhe foram atribuídos”. Estes são os arranjos do velho clero esclerosante.
Sua transformação em símbolo natalino aconteceu na Alemanha no século XVI e daí, a tradição correu o mundo inteiro. Antes ele se vestia com uma roupa sóbria de cor escura, própria do inverno, mas no final do século XIX, deram-lhe um trajo vermelho, idêntica às bandeiras, escudos e símbolos da facção iluminista do humanismo falsário.
Papai Noel e a Coca-Cola se colam com a mesma cor rubra. O velhinho vestido com o tom escarlate de Edom e a bebida encarnada acabam se encarnando no merchandising do consumismo que abusa das vítimas no comércio cruel. Você vale pelo que tem.
Este Natal, que se comemora por aí, é tão falso quanto uma nota de três reais. Mas houve um dia em que o Cristo se encarnou no Jesus histórico e, nasceu neste mundo de ilusões e mentiras, a fim de salvar as pessoas de serem enganadas consigo mesmas.
No meio desta farsa há um nascimento de verdade. Natal é a historia de Deus encolhido no homem histórico, revelando a grandeza de um amor incondicional.
O nascimento do Messias visava duas coisas muito importantes. Primeiramente, dar glória a Deus nas alturas e, depois, gerar paz na terra entre os homens a quem ele quer bem, ou ama furiosamente. Sem a glória nas alturas, não haverá paz aqui em baixo.
Por causa do pecado, a raça adâmica foi deposta da comunhão gloriosa de Deus. Sendo destituída desta glória tornou-se uma espécie drogada por sua própria glória pessoal. Somos uma casta viciada em autoglorificação e dominada por altares, palcos e pináculos. Os caçadores dos píncaros da glória vivem inebriados com a honra ao mérito ou a exaltação própria. Quase ninguém suporta o ostracismo.
A vinda de Deus ao mundo, em carne, tinha como um dos objetivos principais destronar da pompa aquele que vier a crer na pessoa e obra de Cristo crucificado, fazendo-o apear da sua própria arrogância pessoal de querer ser Deus e, substituindo a glória do ser humano na terra, pela glória de Deus nas maiores alturas.
O inchaço do pecado nos tonou membros honorários de uma plêiade de “estrelas cadentes” que aspiram ao auge da entronização, como se fossem Constelações permanentes e absolutas no zênite do aglomerado das Plêiades nos céus.
A humanidade caída vive se exibindo como se fosse uma estrela que tivesse luz própria. Não obstante, nós somos como meros meteoritos incandescidos pelo atrito durante o percurso de sua queda, supondo que a luz que emana em nossa trajetória seja a fulgurância estável de um brilho próprio e eterno.
Somos uma laia em rebeldia contra Deus, destituída da Sua glória, embora promovendo sempre a nossa glória pessoal a qualquer custo. O pecado nos fez aspirantes ao pódio da glória humana. Porque todos pecaram e carecem da glória de Deus, Romanos 3:23, assim, logo que todos foram demitidos da glória de Deus, todos passaram a buscar a sua própria glorificação na terra, como um troféu de honra particular.
O pecado, desde a sua origem no Éden, tem sido a plataforma da glorificação do gênero humano e a incredulidade pessoal é quem a financia. Nossa história é uma narrativa de feitos notáveis e descrença em Deus. Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e, contudo, não procurais a glória que vem do Deus único? João 5:44.
Somos incrédulos em relação a Deus, porque somos caçadores de nossa própria glória. A fama pessoal nos impede de viver pela fé somente. Enquanto buscamos a nossa glorificação pessoal, a terra se envolve em competições e conflitos egoístas.
A glória individual granjeada pelos outros é obstáculo sério para o nosso usufruto da glória de Deus. Aquele que se torna entorpecido pelo reconhecimento da platéia, não consegue se contentar com a aceitação incondicional, mas discreta de Abba.
O anonimato é insuportável para os exibidos que exigem a visibilidade pública. É horroroso, para o aspirante ao trono da glória humana, conviver com a obscuridade. E, de um modo geral, queremos ser vistos e precisamos nos tornar distintos dos demais.
A nossa glorificação na terra é um impedimento rigoroso de nos comprometer com a glória de Deus, por isso mesmo, Jesus veio com a missão de nos desconstruir de nossa mania de exaltação própria. A glorificação pessoal é um empecilho à paz na terra. As guerras são expressões do ego altivo em busca da consagração dos seus interesses.
Para que haja paz entre os homens é preciso que Deus seja glorificado, acima de tudo e de todos. Só poderemos dar glória a Deus de fato, quando formos demolidos de nosso delírio de príncipes e princesas. A cachaça pela notoriedade e pelos os olhares alheios nos torna bêbados de nós mesmos e arredios à glória de Deus.
Muitas autoridades e religiosos importantes, no tempo de Jesus, creram nele, mas não o confessaram publicamente, porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus. João 12:43. É impossível dar glória ao Deus Altíssimo, quando a nossa febre por glorificação pessoal estiver nos queimando nas maiores alturas.
É preciso ficar bem claro: para que possamos dar glória a Deus nas alturas, com liberdade e contentamento, é imperioso que sejamos abatidos, pela obra de Cristo crucificado, da nossa necessidade de autoglorificação, bem como da nossa dependência da glorificação alheia. Sem esta demolição, não existirá o verdadeiro louvor no altar.
Jesus foi taxativo em relação à anuência da glória humana. Aquele que estiver manobrado por esta ambição, estará desapegado do amor a Deus. Eu não aceito glória que vem dos homens; sei, entretanto, que não tendes em vós o amor de Deus. João 5:41-42.
O culto real é um efeito da destituição do ego pela obra da cruz. Só haverá glória a Deus nas alturas, em minha experiência de adoração, quando houver a morte do meu eu com Cristo, como realidade espiritual de fé, revelada pelo Espírito Santo, através da Palavra de Deus. O velho homem, descendente de Adão, não adora a Deus, antes cultua a si mesmo como um super-homem, semideus ou, até pensando ser ele, o próprio Deus.
A cruz do Cristo encarnado nos demove da caça à glória pessoal. Desprovidos da ambição pela glória humana, podemos gozar de paz na terra. Sem o desejo da glorificação do sujeito, ninguém mais fica sujeito ao jogo que desencadeia a luta pelo poder.
A paz na terra é o resultado da justificação do pecador que ambicionava sua glória. Somente a morte na cruz com Cristo poderá justificar o réu do pecado. Uma vez destruída a fonte da glorificação própria, fica o espaço livre para a entronização de Cristo no coração do filho de Abba, capaz de amar o inimigo, desfazendo a inimizade.
Não havendo competição ou interesses egoístas em jogo, não haverá mais guerra entre os concorrentes, uma vez que os aguerridos por sua glória pessoal já foram desarraigados desta ambição. Sem a seiva do pecado de autoglorificação, não há mais combate. “A paz nunca pode ser obtida sem a erradicação do pecado”, sussurra Francis Hall.
A paz é a satisfação de Abba refletida na alma dos seus filhos regenerados mediante a obra consumada pelo seu Filho unigênito, Jesus Cristo, lá na cruz do Calvário.
Deus só será glorificado nas alturas, pelos filhos dele aqui na terra, quando houver uma substituição da vida do ego pela vida de Cristo. Agora, já não sou eu quem vive, mas é Cristo vive em mim, logo, a paz reina entre os homens, a quem ele quer bem.
A competição é fruto do ciúme, da inveja, da necessidade de ser visto como o melhor ou o maior e todos os interesses mesquinhos do ego. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Romanos 6:8-9. Nem a morte, nem o pecado, nem o ego podem nos dominar em Cristo.
O verdadeiro Natal aponta para a glória de Deus nas alturas e a paz na terra, entre os homens amados com o seu amor furioso. Para que Deus seja glorificado, nós precisamos morrer para a presunção de ter glória pessoal e vivermos apenas investindo na glória de Deus, aqui na terra. Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. 1 Coríntios 10:31.
A questão vital é: para quem vai a glória? Todas as disputas e desavenças, no ringue da humanidade, são resultantes das reivindicações dos direitos e das glórias requeridas. Se toda a glória diz respeito apenas ao Senhor, então não teremos qualquer problema com as discordâncias de pensamentos. Desde que a glória pertença tão-somente à Trindade Santa, não me importo para quem vai o crédito. Bem-aventurado seja neste Natal!
 
Solo Deo Glória.

ANO NOVO, VELHO ERRO, DE NOVO

Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, pois ele sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Filipenses 2:5-9.
O ano velho acabou, um novo ano começou. As pessoas tentam renovar suas esperanças. Buscam uma motivação para viver mais um ano que: desta vez será maravilhoso! Ou seja, tudo o que não foi possível concretizar no ano que passou desta vez será concretizado - o regime em busca do peso ideal, que não conseguimos fazer durante o ano todo, desta vez será realizado.
Seguindo a mesma lógica, o parar de fumar, o amor, ser um melhor pai, um melhor filho, uma melhor esposa, dedicar mais tempo à família, cuidar mais da saúde, enfim, todos os ideais projetados por nós mesmos ou motivados por pressões externas; que se alimentam da culpa e também produzem culpa, “serão atingidos”.
Culpa esta, que brota como uma pequenina nascente de água, oculta na mata densa do auto-engano, que depois se transforma em águas caudalosas e de gosto amargo, que acaba por afogar as pessoas, enquanto se debatem desesperadas na tentativa de ser o que de fato não são.
Que magia é esta que envolve este último dia do ano, capaz de iludir os incautos sobre uma possível transformação do mundo em segundos, como num conto de fadas, pelo simples fato do relógio ter ultrapassado aquele tempo considerado insatisfatório? Ainda sobre isto, é interessante ver como este mesmo ano novo, com muita rapidez se transforma de algo aguardado e festejado, para algo que precisa ser deixado para trás.
Isto é um fato que podemos constatar com facilidade, pois o mesmo ano velho que ansiamos esquecer, já foi um dia, talvez apenas por um dia, o ano mais festejado de nossas vidas. Certo amigo costuma dizer o seguinte: “quando o ser humano não dá crédito a Deus, costuma acreditar em cada bobagem”. Percebemos na experiência vivenciada por nós, ou testemunhada por nós todos os anos, que esta prática se transforma em um ciclo vicioso, que às vezes, pode durar uma vida inteira.
A vida passa sem que nada mude. Tudo segue como antes e muitos não manifestam o mínimo de lucidez para perceber que entra ano e sai ano, e ainda que o mundo a nossa volta passe por significativas transformações, no nosso interior nada mudou. Em nosso íntimo permanece o mesmo sentimento – aquela sede insaciável, aquela repetida e insistente procura por algo realmente inaugural e bom. A impressão que se tem é que, tudo está velho de novo e precisa ser mudado. Por que?
A resposta a esta pergunta não está longe de nós, pelo contrário, está dentro de nós. Olhamos para o mundo à nossa volta e sabemos o quanto ele está diferente do que era há dois séculos. Quanta tecnologia, quanto desenvolvimento, quanto conhecimento, quanta produtividade, quanta riqueza! Só uma coisa não muda: a maldade e o descontentamento do coração humano. O ser humano, em sua essência, permanece igual. Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo a suas manchas? Tão pouco podereis fazer o bem, acostumados que estais a fazer o mal. Jeremias 13:23.
Como é difícil para o ser humano entorpecido de si mesmo, entender que não são as coisas, o mundo e a economia que precisam de mudança, até porque, tudo isto está sempre passando por transformações. Somos nós que precisamos ser mudados, e somos nós, em primeiro lugar, que não admitimos a necessidade desta mudança. É aquela insistência de sempre achar que o problema está fora de mim, e jamais admitir que o problema sou eu. Todo caminho do homem é reto aos seus olhos, mas o SENHOR sonda os corações. Provérbios 21:2.
Ratificando esta ideia, podemos atentar para as avaliações que comumente são feitas nos finais de ano. Gostamos de fazer o balanço do ano para verificar se aquele ano foi bom. Com grande frequência nos frustramos, e isto se dá por dois motivos. Em primeiro lugar, pelo buraco negro que se tornou a alma humana sem Deus, insaciável e faminta, ainda que sorva o mundo a sua volta. Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez. Eclesiastes 3:11.
A segunda razão se dá pelo simples fato de sermos humanos - finitos e imperfeitos. Algo que eu posso até admitir como senso comum, mas não como uma verdade existencial. Ainda que esta verdade se apresente como um fato irrefutável, tendo em vista, a sujeição humana à morte.
Porém, esta verdade é rejeitada veementemente, tendo como base nossas ações e nosso modo de vida, vida esta repleta de arrogância, presunção e orgulho, como se não fôssemos pó, como se não fôssemos mortais, como se fôssemos deuses.
Quando o ano foi bom do ponto de vista das externalidades, podemos até perceber certa euforia passageira, que logo dará lugar ao medo e a ansiedade, trazidos pelo novo e desconhecido ano, o qual esconde dentro de si a possibilidade da perda e a incerteza do saber.
Afinal, como poderemos ter a certeza de que conseguiremos manter o mesmo desempenho que obtivemos no ano que passou? Logo percebemos que sobra pouco espaço para o descanso e a alegria verdadeira. Então, o cansaço e a angústia se manifestam, juntamente com a ressaca do dia seguinte.
Do outro lado do rio, quando o ano não foi muito bom, contemplando a mesma perspectiva das externalidades, nos frustramos. E é interessante saber e ressaltar aqui, que só se frustra, aquele que cria alguma expectativa. Isto se dá porque não aceitamos ser o que de fato somos: fracos, finitos e carentes. E não aceitamos porque o sistema do mundo que criamos, é um sistema antiCristo, anticruz e antigraça, administrado pelo inimigo de nossas almas. Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno. 1 João 5:19.
Então morremos nos debatendo na tentativa de ser e de convencer a todos de que somos o que de fato não somos, mendigando aceitação, atemorizados pela rejeição de um mundo que, como sistema, é uma farsa, e isto como expressão da essência daquele que o administra, ... pois é mentiroso e pai da mentira. João 8:44.
Tudo isto é reflexo do Éden. O veneno que entrou em nós, inoculado pelas palavras da serpente, “...Como Deus sereis”, que em suma, nada mais é do que uma incitação à incredulidade e um obstáculo ao descaso na palavra de Deus; que por sua vez, nos tira o chão onde estava sustentada nossa existência, provocando uma rachadura existencial e uma crise de identidade, de querer ser o que não se é. De querer ser Deus sendo homem, abraçando a mentira como se fosse verdade e querendo ter o controle da vida e das circunstâncias sem ter competência para isto.
Agora, temos mais um agravante. O coração, depois da rejeição livre da palavra de Deus, ficou petrificado pelo pecado, e o pecado nos impede de admitirmos nossa realidade de doentes para que possamos ser sarados, de injustos para que sejamos justificados, de pecadores para que sejamos santificados; de sermos apenas homens para que em Cristo, por sua graça, mediante a fé, Deus possa nos fazer seus filhos.
Que realidade terrível se Deus não fosse amor! Deus não nos deixou à mercê de nossas escolhas erradas. O soro antiofídico é a palavra de Deus, o Verbo encarnado, o mistério do amor de Deus pelos homens. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16.
O texto de Filipenses, base deste estudo, vem nos ensinar que, ao contrário de nós, aquele que é Deus, quando veio a este mundo, assumiu plenamente a condição humana. E por esta razão, somente por esta razão, pode vencer de maneira legítima todos os inimigos de Deus e dos homens.
Não se fez de forte, pois a verdadeira condição humana não lhe permitia isto. Antes, assumiu plenamente sua fraqueza, na dependência por fé, de que o Seu Deus e Pai seria a Sua força. E deixou isto claro quando disse: ...o filho nada pode fazer de si mesmo. João 5:19. Em outras palavras, Jesus se declarou impotente.
Nós fracassamos, justamente por não nutrir o mesmo sentimento que houve em Cristo. Não queremos assumir a nossa condição de fraqueza humana, antes o pecado nos faz rejeitá-la. Queremos ser fortes, enquanto a palavra de Deus nos ensina que é justamente no nosso vazio que Deus pode ser tudo; em nossa fraqueza Ele pode ser nossa força. Foi o que Paulo aprendeu de Deus. Então me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas minhas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 2 Coríntios 12:9.
Precisamos entender o que implica assumir a fé em Jesus Cristo. Crer em Cristo significa que entendemos que Deus, só pode agir em direção a nós por sua graça, pois não temos méritos em nós. E, juntamente com isto, abraçamos a verdade da condição humana de fraqueza e pecado, algo que poderia ser desesperador, se não fosse a consciência do amor de Deus por nós, demonstrado em Cristo crucificado.
Além disso, somos aqueles que o mundo – cuja expressão máxima do seu poder acaba no túmulo - crucificou juntamente com Cristo. Assim sendo, podemos crer e compreender também que, assim como Jesus em fraqueza foi ressuscitado pelo Pai, também nós, fracos, fomos ressuscitados juntamente com Cristo. Pois, se o poder do mundo se expressa pela morte, o poder de Deus é a vida que vence a morte.
Um poder capaz de ressuscitar qualquer fraco, em sua maior condição de fraqueza, ou seja, a morte. Isto pelo fato deste fraco, pela graça de Deus, ter vivido em verdade e, em esperança depositada exclusivamente Naquele que ressuscita os mortos.
E, com relação a este mundo de mentira, nós estamos mortos para ele, e é justamente nisto que reside nossa glória e vitória. Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:14; porém, vivos para Deus. Feliz eternidade nova, sempre nova, para sempre.
 
Solo Deo Glória.

PROVADOS PELO FOGO

Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. 1Pedro 4:12 NVI.
A vida cristã não é um convescote, isto é, um piquenique em final de semana. Não se trata de uma colônia de férias, nem de uma viagem de turismo. Apesar da paz interior imensurável, fruto da justificação pela graça, a fé cristã aponta para uma jornada em meio a uma grande turbulência externa. Há tribulação e provas em todas as estradas.
A vocação de Cristo nos convoca para uma vivência de contradições. Temos paz, sim, mas vivemos em guerra, o tempo todo. Somos amados pelo nosso Pai, embora os inimigos de Cristo não nos deixem sossegar com o seu ódio velado ou em chamas.
Nem um cristão autêntico encontra-se isento das labaredas da perseguição. Aliás, uma das evidências da legitimidade da fé cristã é a fogueira, ora com brasas ardentes, ora inflamada pelo fogaréu desvairado das vaidades. E, nesse caso, o calor das emoções vaidosas é mais cruel do que a quentura do fogo, além do que, dura muito mais tempo e faz as suas vítimas padecerem lentamente chamuscadas pelo "pavio curto".
A temporada das fogueiras abrasadoras na história da igreja foi uma época truculenta em que os filhos de Deus foram incinerados enquanto alumiavam como lamparinas nos pátios de execução. Foram incendiados como tochas vivas manifestando a luz radiante que habitava em seus corações inflamados de amor. Ainda hoje, em alguns lugares deste mundo tenebroso, temos cenas horrorosas como estas do inferno de Dante.
Sei que esta tortura é atroz. Contudo, há no meio da congregação do povo de Deus, uma turma desapiedada que costuma atear o fogo das paixões para azucrinar as entranhas da vida comunitária. Foi neste sentido que Pedro se referiu ao fogacho.
Mas esse braseiro tem uma finalidade muito especial: provar. Para uma pessoa ser aprovada na fé é preciso ser provada pelo fogo. A própria Palavra de Deus foi também purificada pelo fogo. As palavras do SENHOR são palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes. Salmos 12:6.
A fé é um dom gracioso desta Palavra purificada pelo fogo. Quando recebemos, pela graça, a Palavra de Deus, a fé vem junto. O Verbo que se encarnou, acaba encarnando, através dos ouvidos que O ouvem, a vida que nasceu da tumba. E, consequentemente, a fé surge como expressão real, mas subjetiva, dessa obra plena do Deus-homem. Ela é uma evidência implícita da vida de Cristo em nosso novo ser.
Ninguém nasce nesse mundo portando fé no seu currículo. A fé é uma dádiva divina, nunca, jamais um atributo natural do velho Adão. Todavia, ela precisa ser testada, uma vez recebida, para que possamos saber se, de fato, essa é a fidis Dei ou é a feérica abusiva produzida pela fidúcia de um fedelho arrogante qualquer que se propõe a ser fecundo neste assunto da invisibilidade fenomenológica.
Isto quer dizer que o terreno da fé sai dos limites tridimensionais do campo material e vai para o nível do invisível. A fé é uma visão que nunca pode ser vista pelo cego que anda na escuridão da meia noite contemplando a aurora que ainda não surgiu.
Segundo as Escrituras, podemos defini-la assim: Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. Hebreus 11:1. Ela é uma esperança, logo, é imperceptível do ponto de vista sensório, pois esperança constatada não pode ser esperada. É uma visão cega ou uma certeza invisível. Contudo, precisa ser provada e o fogo ardente é um laboratório de comprovação.
A confiança requer testes de autenticidade. A pessoa dizer que crê em Cristo é uma declaração muito importante, todavia, deve ser confirmada. Nem todo aquele que diz ser Cristo o seu Salvador é, de fato, verdadeiro crente. Se não passar primeiro pelo controle de qualidade, fica difícil afirmar que se trata de um filho de Abba.
O escritor de Provérbios faz uma analogia muito interessante: O crisol prova a prata, e o forno, o ouro; mas aos corações prova o SENHOR. Provérbios 17:3. Será que isso aqui tem alguma relação com o fogo que surge no meio de nós para nos provar?
A têmpera do caráter cristão é forjada nas altas temperaturas. As fogueiras das aflições são atiçadas pelo Acrisolador Divino a fim de promover a purificação de suas joias eternas. Quando estamos sendo depurados e reagimos com gemidos e lamúrias é prova incontestável de que ainda não passamos no teste de qualidade.
Para nos aprovar em sua comunhão permanente, o Pai providencia os meios necessários para que os acendedores de lareira aqueçam o ambiente ao máximo com as chamas ardentes das aflições, até que nós possamos confiar somente nEle como a última razão do nosso conforto e descanso espiritual.
O culto dos aprovados começa na fornalha super aquecida. Os três amigos de Daniel passaram no vestibular da adoração em meio as labaredas à sétima potência. Foi neste ambiente hostil que eles se perceberam confiantes nAquele que sempre saneia o nosso coração cheio de direitos e repleto de exigências pessoais.
Creio que o fogo da provação tem como objetivo a nossa confiança na suficiência de Cristo. Não é o sofrimento em si que entra em jogo. Todo teste espiritual tem em vista o quanto nós confiamos nAquele que não é visto na arena. A questão que está aqui sendo avaliada é o poder da autoconfiança ou a confiança no Poder do alto.
Confiar em Deus quando tudo está correndo às mil maravilhas parece fácil, mas confiar quando só temos fumaça no pedaço fica muito difícil. É complicado crer em Deus quando estamos fazendo rescaldo no meio do borralho e sujos de carvão. A teologia da prosperidade, por exemplo, tira o valor da providência Divina do centro da fornalha. Que revelação extraordinária da presença de Deus tiveram os amigos de Daniel!
Estar alegre no palácio real participando no banquete do rei parece muito natural. É fácil soltar foguetes quando o nosso time se torna o campeão da liga. A coisa engrossa quando temos que fazer festa no barraco em chamas e celebrar a derrota com bom ânimo e bem humorados. Agora entramos num espaço sobrenatural.
O velho Adão nunca compartilha desta identidade dos filhos da madrugada. Só a turma da ressurreição pode demonstrar este novo estilo de vida: alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com uma alegria ainda maior. 1 Pedro 4:13.
Confiar que Deus está cuidando de nós, somente quando tudo vai dando certo, é uma total alucinação de nossa personalidade ególatra. É teomania vazando pelos nossos poros. Por isso, o fogo deve ser ateado para nos provar em nossas entranhas, e, deste modo, nos testar, para ver se somos realmente legítimos ou falsos.
A nossa falência total nos habilita à dependência absoluta de Deus. No reino da graça é a fraqueza que nos põe no pódio. Quando eu sou totalmente impotente é que sou todo poderoso, pois, neste caso, posso depender da Onipotência Divina. Quando chegamos ao fim de nós mesmos, das nossas possibilidades, chegamos ao vale mais profundo de nossa condição humana, onde, também, podemos ser preenchidos com a plenitude da suficiência de Cristo como o nosso tudo.
A cruz tem como uma de suas tarefas nos levar ao fim de nós mesmos, nos conduzindo ao quebrantamento; enquanto o fogo que surge em nosso meio visa provar a nossa confissão de fé com a obra da cruz. Quando confessamos a nossa crucificação com Cristo e Ele como a nossa vida, então o fogo aparece escaldante para apurar a prata. A confissão exige comprovação e as torturas autenticam a experiência da fé.
O apóstolo vai um pouco mais longe, quando diz: Se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. 1 Pedro 4:14.
O índice da felicidade cristã é identificado pelo bom humor dos atribulados. Os cânticos na prisão e os aleluias no tronco evidenciam o nível de libertação que os eleitos pela graça têm alcançado. Felizes são os que dançam na pista atapetada por brasas vivas e celebram à Trindade em tempos de holocausto.
Aqui está uma palavra confirmada pelo fogo. A vida no altar é uma biografia marcada por sacrifícios de louvor. Deus só aceita esses sacrifícios quando tudo estiver tostado. O holocausto aponta sempre para a vítima toda carbonizada. O fogo no altar consome a carne e a gordura, enquanto o suave cheiro sobe como aroma agradável diante do Senhor. Que as palavras da minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha Rocha e meu Resgatador! Salmos 19:14.
Para aqueles que foram resgatados pelo Cordeiro de Deus e retornaram da rebelião cósmica, não há opção: ou eles cantam no coral dos redimidos ou dançam na companhia de ballet dos restaurados. Assim, eles cantam e encantam com a postura de alforriados, pois sabem: mesmo que a tristeza possa persistir durante a noite, pela manhã renasce exultante a alegria. Salmo 30:5b. (PA).
Os filhos da ressurreição, chamuscados pelo fogo, exalam um perfume agradável no seu discurso sem vitimismo, nem acusações. Eles falam as palavras de esperança ungidas com o orvalho da madrugada, gerando vida e alento nos que as ouvem. Nunca vi uma pessoa provada pelo fogo que fosse incendiária. Quem sofre por causa do evangelho nunca se apresenta como um causador de sofrimento alheio.
Todos os provados e aprovados pelo fogo são bombeiros graciosos em potencial a serviço do Cordeiro, em benefício dos afligidos pelas chamas. Se você estiver sendo carbonizado é porque será usado como instrumento da graça em favor dos atormentados deste mundo de tantos incêndios.
Glória ao Pai pelo tratamento do fogo purificador. Quando somos acrisolados é porque estamos sendo preparados para um uso sagrado de maior intimidade com Aquele que se revela como o fogo consumidor. Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor. Hebreus 12:28-29.
 
Solo Deo Glória.

sábado, 25 de agosto de 2012

DO CÁRCERE PARA A LIBERDADE EM CRISTO

Tira a minha alma do cárcere, para que eu dê graças ao teu nome. Salmos 142:7
Sabemos, pela palavra de Deus, que a humanidade está sequestrada no cárcere do pecado. Ele aprisiona com os mais terríveis grilhões, causando dano e sequelas horríveis. Não sabemos por quanto tempo Adão e Eva usufruíram da liberdade na presença de Deus no jardim do Éden, livres do pecado. Contudo podemos ver o estrago e a consequência que a desobediência trouxe à raça humana. Todo aquele que vive no pecado, sem o novo nascimento, está recolhido e trancado na penitenciária mais obscura e fétida do seu egocentrismo, promovendo doenças das mais variadas contra si e contra os outros. Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa sã, sendo feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo. Isaías 1:6.
Um dos livros que aparece no topo dos mais lidos em 2011 no Brasil relata a história de uma menina de apenas oito anos de idade que foi sequestrada, no caminho da escola, por um engenheiro de telecomunicação. Isto aconteceu no ano de 1998, em Viena, Áustria e ela ficou encarcerada 3096 dias e relata que foi submetida a todo tipo de abuso físico e psicológico. Lamenta que nesses oito anos e meio no cativeiro, não pôde comemorar os aniversários com os parentes e amigos, os encontros de família, e tanta coisa boa que a liberdade traz. Também enfrentou dor, medo, fome, solidão e maus tratos. Felizmente, num descuido do sequestrador, ela pôde fugir e buscar ajuda. E agora se recupera dos seus traumas.
Esta humanidade, marcada pela rebelião, se deixou ser sequestrada pelo diabo, virou as costas ao Deus Todo Poderoso. É uma grande reprodutora de escravizadores e escravizados nos mais diversos segmentos: político, social, religioso, material, espiritual. Vive numa insatisfação, e, em consequência uma satisfação exacerbada dos desejos, na busca de significado, que só podemos encontrar em Cristo, em Deus. Porque dois males cometeram o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas rotas, que não retém as águas. Acaso, é Israel escravo ou servo nascido em casa? Por que, pois, veio a ser presa? Jeremias 2:13-14.
A história do Êxodo que aconteceu 1400 anos a. C. relata a exposição de fatos do povo hebreu que viveu no Egito durante 430 anos, sendo que, a maior parte do tempo, em regime de escravidão. Quando contemplamos os filhos de Israel no meio dos fornos de tijolos no Egito, temos perante nós uma figura exata da condição de todo filho de Adão na sua escravidão espiritual.
A crueldade do pecado esmaga, sob o jugo mortífero, a raça humana na sua escravidão. Sabe, porém, isto: nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. 2 Timóteo 3:1-5.
Onde estavam os recursos para pagar o seu resgate? Ou onde estava a força para quebrar as cadeias? Por si só, estavam impossibilitados, como disse o profeta Isaías (42:22), assim como todos nós em nossa própria suficiência. Somente o Deus criador é capaz de resgatar os encarcerados de todos os tempos, nele estava a salvação do povo de Israel oprimido e arruinado. Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos. Atos 4:12.Só em Jesus Cristo os encarcerados como nós podem ser libertos daquele que os domina com um poder despótico, tirano. O pecado encarcera e oprime. Jesus veio trazer liberdade aos cativos.
O Deus trino, que é livre em si mesmo, manifesta-se em nosso meio, deixando-se aprisionar em uma cruz, para tirar a nossa natureza de escravos. No domingo da liberdade, da ressurreição, quebra as correntes e as algemas. Temos que aprender e crer para proteger nossa emoção, caso contrário podemos ser escravos vivendo em uma sociedade livre. Quem é controlado pelo ciúme, inveja, raiva, medo e ansiedade, vive num cárcere emocional, numa masmorra psíquica, e é refém dos seus traumas e conflitos.
É bem verdade que a história de vida de cada um acaba provocando as ações e reações do dia-a-dia. O novo nascimento, a vida de Cristo em nós, é o caminho da liberdade e para a liberdade. O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade aos algemados. Isaías 61:1.
A história de Soon Ok Lee, contada no livro “Os olhos dos animais sem cauda”, aconteceu na Coréia do Norte no ano 1986. Essa história provocou horror e revolta por tanta agressividade e tortura exercida por soldados comunistas. Soon era supervisora do centro de distribuição de materiais e foi intimada a sair e apresentar-se ao seu superior, mas foi jogada para dentro de um carro e levada à estação de trem. Ela não retornou para sua família naquela noite, foi levada à prisão, onde suportou seis anos de tratamento desumano. O seu crime foi recusar-se a satisfazer a ganância de um oficial do governo comunista.
Encontramos nas Escrituras sagradas José, penúltimo filho de Jacó e Raquel (Gênesis 30:22-24). Ele tinha revelações em sonhos sobre acontecimentos futuros e destacava-se entre os seus irmãos e, por isso, era perseguido e invejado por eles. Conspiraram para matá-lo, mas pela interferência de Ruben, o primogênito de Jacó, o fato não se concretizou, mas acabaram por vendê-lo como escravo aos mercadores midianitas, e esses o venderam no Egito a Potifar, capitão comandante da guarda do palácio real.
Potifar entregou nas mãos de José tudo o que ele possuía, e o Senhor o abençoava. Ele era formoso de parecer e de vista, atraindo os desejos da mulher de seu senhor, que queria deitar-se com ele. Porém José recusou, porque era temente a Deus. Em outra tentativa, a mulher novamente o segurou, e, vendo ela que José deixara as vestes em suas mãos ao tentar fugir, acusou-o de tentar seduzi-la.
Ouvindo Potifar as palavras de sua mulher, encerrou José no cárcere, onde permaneceu por dois anos. Os escravos da inveja, da mentira, da compulsividade sexual, levaram-no como prisioneiro, mas, na prisão construída por homens, ele ganhou sabedoria do Alto e, na dependência de Deus, libertou da fome os seus irmãos, familiares e algozes. José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus galhos se estendem sobre o muro. Os flecheiros lhe dão amargura, atiram contra ele e o aborrecem. O seu arco, porem, permanece firme, e os seus braços são feitos ativos pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo Pastor e pela Pedra de Israel. Gênesis 49:22-24.
Lamentavelmente muitos de nós temos cedido diante das tentações, nas mais diversas áreas, resultando em estragos irreparáveis. O pecado nos mina trazendo rachaduras em nossa estrutura. É bem verdade que na área sexual o dano provocado é um dos maiores, porque é contra o próprio corpo, assim como diz a palavra de Deus. Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? 1 Coríntios 6:18-19.
A lição que podemos tirar da vida de José diante das situações que ele enfrentou com os seus irmãos, e da proposta recebida da mulher de Potifar, é que o plano divino é mais alto no verdadeiro sentido da vida. Podemos também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hebreus 12:1-2.
Não foi tão simples assim. Contudo a sua fonte fez toda diferença, conforme o texto acima. Ele tinha consciência do manancial eterno do Deus Todo Poderoso que cura, supre e liberta, e por isso não quis as cisternas rotas. José é um ramo frutífero junto à fonte. Ele não quis ficar encarcerado na mágoa do passado e não usou seu posto para se vingar. A vida em Deus nos liberta da escravidão, para aquilo que de fato vale a pena ser vivido.
Todos nós já sofremos algum tipo de violência ou abuso, injustiças e até mesmo agressões, e também já fomos instrumentos de dor e sofrimento semelhantes na vida de alguém. Agora, em nossa inclusão na morte e ressurreição em Cristo tudo se fez novo, e por isso podemos experimentar graciosamente a libertação do nosso cárcere, porque esta é a proposta do verdadeiro Evangelho da graça de Deus.
Somos tentados diariamente e, por isso, ao crermos, pela graça de Deus, na pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo, não há mais possibilidade para continuarmos encarcerados nos laços malditos do pecado. Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação imaculado diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém! Judas 1:24-25.Também temos algo precioso na Palavra de Deus que é libertador. Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que possais suportar. 1 Coríntios 10:13.
Na nossa morte em Cristo perdemos, por graça, toda herança maldita de encarcerados e encarceradores, e na nossa ressurreição em Cristo ganhamos também, por graça, um novo viver, em plena liberdade, e pregamos a liberdade, que é a vida nova de Cristo em nós. Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm? Insensato! O que semeias não nasce se primeiro não morrer. Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida. Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição. 1 Coríntios 15:35-36; Romanos 6:4-5.
Será que precisamos continuar vivendo como de fato estamos? Por mais que possamos estar marcados por algum tipo de prisão, ou tenhamos fracassado em alguma área, o Deus da graça está com as suas mãos libertadoras estendidas para nós. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna ... Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Hebreus 4:16; 1 João 1:9.
Somente pela atuação do Espírito Santo em nós é que somos convencidos do pecado, da justiça e do juízo. É na regeneração que ganhamos a vida do Espírito e, assim, somos incluídos na esfera da liberdade interior, para desfrutarmos da presença do Pai, porque só na presença dele há o verdadeiro caminho da vida. Tu me farás ver os caminhos da vida: na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente. Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz. Salmos 16:11; 36:9.
A lei do Espírito da vida é a força maior e única na ação contra a escravidão espiritual. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Abba, Pai. Romanos 8:2;15.O profeta Isaías tinha razão quando expressou que não há ninguém terreno capaz de libertar os encarcerados pelo pecado. O apóstolo Paulo fez uma colocação parecida, contudo encontrou a resposta, a mais importante da sua vida. Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Romanos 7:24-25; Gálatas 5:1.
 
Solo Deo Glória.

A FÉ SEM OBRAS É MORTA

Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão.” Gálatas 2:19-21.
A confissão que o Apóstolo Paulo faz nos versículos 19 e 20 do capítulo 2 de sua Carta escrita aos Gálatas é importantíssima para o nosso entendimento em relação à vida regenerada e à sedimentação de nossa experiência de fé. Porém, o verso 21, com o qual não temos tanta intimidade, não é menos importante para o “conhecimento da verdade” e entendimento quanto ao viver pela justiça de Cristo, que se opera por meio da graça. Pois, se assim não fosse, a justiça seria aplicada mediante a lei, e a verdade, é que teria Cristo morrido em vão.
A convicção de pecado é o primeiro passo para uma nova experiência de vida. Entre os salvos, é uma nova visão da Cruz e da redenção consumada em Cristo Jesus. A vida que vivo agora na carne tem um olhar duplo, para o pecado do qual fui resgatado e para a obra de Cristo na cruz que me libertou dele. Por isso Paulo nos recomenda: “Levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também sua vida se manifeste em nosso corpo.” 2 Coríntios 4:10
O arrependimento, o quebrantamento, a confissão e a restituição ou restauração, são os passos seguintes que compõem uma vida de plenitude na presença do Pai. Chamamos de vida plena, o ato da salvação e o processo da santificação ou vida em santidade.
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” João 14:6; 8:32 e 36.
Dia desses, estava eu me deleitando na leitura do estudo intitulado “O Evangelho para os evangélicos” escrito pelo irmão Claudio Morandi, pastor da nossa Congregação de São José do Rio Preto, que, com muita propriedade e com certeza sob a unção do Espírito Santo de Deus, redigiu o seguinte texto:
“A verdadeira graça procede de Jesus, por isso não se precisa afirmar a graça ao lado de Cristo, pois sem Cristo não há graça. E graça é favor imerecido, ou seja, “é Deus dando e fazendo tudo a quem nada merece.” É o 'cordeiro que foi imolado desde a fundação do mundo', que é o precipitador e mantenedor de toda graça. É por isto que não podemos falar Cristo e a graça, porque sem Cristo não há graça. Também não podemos dizer só Cristo mais a fé, porque sem Cristo não há fé. Não podemos dizer só Cristo mais as Escrituras, porque as Escrituras concorrendo com Jesus esquizofreniza a mente, por isso o que nós precisamos é só de Jesus. As Escrituras Sagradas serão realmente entendidas verdadeiramente quando lidas a partir do Verbo Encarnado.”
E é nesse sentido, meus irmãos, que hoje queremos traçar um paralelo de nossas vidas encarnadas com a vida de Cristo e as Escrituras Sagradas.
Muitas vezes somos tentados pela nossa própria soberba espiritual de acharmos que a plenitude da salvação e da santidade está em sermos exímios ouvintes da Palavra; conhecedores das Escrituras; assíduos leitores da Bíblia; e ferrenhos militantes de todas as atividades da igreja.
Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.” Tiago 1:22-25.
Outros vêm as Escrituras como poesia, de forma romântica, mas não as tomam de forma racional e pratica em suas vidas. “Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do teu povo falam de ti junto aos muros e nas portas das casas; fala um com o outro, cada um a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual é a palavra que procede do SENHOR. Eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois, com a boca, professam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro. Eis que tu és para eles como quem canta canções de amor, que tem voz suave e tange bem; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra. Ezequiel 33:30-32. O conhecimento de algo pode não se transformar em ação. Em Colossenses 3:15(NVI) diz: “Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos.” Quando não agimos segundo a paz de Deus em nosso coração, algo está errado. Muitas vezes não fazemos o que devíamos e ficamos nos justificando procurando apaziguar a nossa consciência.
Meus irmãos, permitamos que o Espírito Santo venha trazer compreensão do texto aos nossos corações, a fim de que não tenhamos um entendimento equivocado a respeito da manifestação da vida de Cristo através de nossos atos. Quando o texto fala em “ouvir” e “praticar”, é preciso entender que não temos nenhuma condição de colocar em prática os propósitos de Deus em nossas vidas, somente pelo ouvir, ler e falar, sem que a ação da lei perfeita ou da lei da liberdade, o Evangelho da Salvação venham poderosamente operar uma obra de morte e ressurreição EM CRISTO, em nós.
Como vimos, a graça está em Cristo, a justiça está em Cristo, a fé está em Cristo e a revelação das Escrituras aponta para a pessoa de Cristo. Não há graça sem Cristo, não há justiça sem Cristo, não há fé sem Cristo, não há salvação fora da pessoa de Cristo e não há sentido nas Escrituras sem a exaltação de Cristo Jesus Nosso Senhor.
Porém, em Cristo tudo foi consumado. “Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida.” Apocalipse 21:6.
Em Gálatas, Paulo afirma que não anula a graça de Deus e que a justiça de Deus não procede de lei, mas da graça. Em 1 Coríntios 15:10, com a mesma coerência, própria do Espírito, ele diz: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo.”
Diferentemente do que muitos salvos possam entender o trabalho pode não ser sinônimo de religião ou de humanismo. O que faz a diferença é a motivação que resulta no trabalho ou a fonte geradora do esforço. Mas não se iludam o amor derramado por Deus em nossos corações nos impele em direção ao nosso próximo, às suas necessidades, às suas dores, às suas alegrias, simplesmente porque Aquele que mora em nós veios para servir! “Quando o homem caiu e escolheu fazer de si mesmo - em vez de Deus - o centro da sua vida, o resultado não só foi o homem perder a comunhão com Deus, mas também com o seu semelhante” (Roy Hession). Precisamos permanecer em Cristo para que Ele mesmo nos dirija em nosso caminho de serviço.
A Bíblia nos garante que a salvação veio a nós por meio e por graça do Senhor Jesus (Atos 15:11). Logo, nenhum trabalho e nenhum esforço gerado por mérito do homem foi necessário ou fez qualquer diferença em relação à salvação, mas a graça do Senhor Jesus.
Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.” Tito 2:11-14.
Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” Efésios 2:8-10.
Nenhum poder, nenhum mérito, nenhum trabalho, nenhuma contribuição, tivemos, temos ou teremos que possam influenciar ou ter influenciado na obra salvadora que Cristo Jesus já consumou na Cruz em nosso favor. Foi somente a graça de Deus que se manifestou salvadora a todos os homens, sem que nenhum deles merecesse ou tivesse feito algo para merecer, mas, foi por pura misericórdia. “Não há nada que você possa fazer para Deus te amar mais; e não há nada que você possa fazer para Deus te amar menos". Philip Yancey - Livro Maravilhosa Graça).
Dito isso, voltamos então ao nosso tema que é: O que ocorre entre o ouvir e o praticar?
Está escrito que o Espírito Santo de Deus veio para nos convencer do pecado, da justiça e do juízo. Pois bem, uma vez que ouvimos a voz do Espírito, somos convencidos da presença do pecado em nós, e daí não temos alternativas para a salvação, senão receber a justificação consumada pelo sangue de Jesus que foi derramado na Cruz em nosso favor – o preço foi pago. A alegre experiência do poder do sangue de Jesus nos limpa completamente do pecado e restaura e cura tudo que o pecado arruinou e nos fez perder.
A justiça de Deus opera mediante a Sua graça.
A autoridade espiritual é baseada num paradoxo. Jesus disse: “Quem quiser ser o primeiro entre vós, será o último e servo de todos.” Mateus 20:27. Ele mesmo deu uma demonstração prática deste princípio quando lavou os pés dos discípulos. A fonte dessa autoridade não é o orgulho, nem a força, e nem a autoconfiança, mas a humildade. O paradoxo é um rei que lava os pés de seus súditos! Aquele que quiser exercer autoridade espiritual deve ser o servo de todos ... e estar disposto a morrer em favor daqueles por quem é responsável! “Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Mateus 20:28.
A fé não é uma fortaleza onde nos refugiamos para ficar acima dos conflitos e tribulações da vida. É antes uma arma com o qual enfrentamos todas as batalhas e embates que se nos apresentam. Sofremos golpes e derrotas; ficamos como que presos no solo das incertezas e dúvidas; mas permanecemos na luta. E vencemos porque ousamos exercitar nossa fé. A fé não nos coloca numa posição privilegiada em que podemos dispensar a experiência e de onde contemplamos a realidade de Deus, numa espécie de esplendor à parte. Ao contrário, a fé deve poder ser aplicada na cozinha, no escritório, nas quadras de jogos etc. Não nos retira do dia a dia, mas traz Deus para eles.” Larry Christenson.
Não sejamos ouvintes negligentes, mas pelo poder de Cristo que nos tirou das trevas e nos transportou para o Seu Reino de luz, e transformou o velho em novo, sejamos operosos praticantes. Não mais eu, mas Cristo em mim. Amém.
 
Solo Deo Glória.

domingo, 19 de agosto de 2012

PASTOREADOS POR DEUS, PASTOREANDO CRIANÇAS

E traziam-lhe crianças para que lhes tocasse, mas os discípulos repreendiam aos que lhas traziam. Marcos 10:13
Esta temática sobre as crianças é assunto de gente adulta. Não seria apenas um tema relacionado ao Ministério Pastoral para a Infância? Não! É assunto da Igreja de Cristo agraciada pela presença das crianças! A expressão “pastoreados” pode ser escolhida todas as vezes que pensarmos, como Corpo de Cristo, nos pronomes eu e nós. Ambos, o eu e o nós, precisam ser pastoreados. O termo “pastoreando” é cabível quando se pensa nos pronomes eles ou elas ao se referir às pessoas para as quais nossos ministérios estão voltados.
O que significa sermos pastoreados por Deus? Significa a experiência de vivermos a suficiência da vida de Deus em nós! Em sentido bíblico, sermos pastoreados é também sermos saciados pela pessoa do Pai! É viver sob o cuidado amoroso de nosso Pai Celestial. É quando chegamos ao fundo do poço da insuficiência humana e somos invadidos pela suficiência do amor e o cuidado pastoral Divino!
Adonai é meu pastor; não preciso de nada Salmo 23:1 (Bíblia Judaica Completa). Nada poderá ser falado sobre o assunto do ministério pastoral para a infância se não houver desfrute e compreensão da verdadeira dimensão do cuidado amoroso do Pai sobre as vidas consideradas adultas. Somente as pessoas tocadas por Deus podem tocar nas crianças. Portanto, precisamos ser cuidados, pastoralmente (tocados) por Yahweh antes de ministrarmos às crianças.
Por que e para quê precisamos ser pastoreados por Deus? Porque Seu amor invencível quer nos possuir! Sim, apascentarei minhas ovelhas; eu as levarei ao descanso, diz Adonai Elohim… Levantarei um pastor que esteja a cargo delas, e ele as alimentará – meu servo Davi. Ele as apascentará e será o pastor delas. Eu, Adonai, serei o Deus delas; e meu servo Davi, será príncipe entre elas. Eu, Adonai, falei. Ezequiel 34:15,23,24 (BJC). Somos ovelhas do pasto Divino e totalmente carentes do Seu cuidado pastoral. Pela necessidade que temos dos cuidados pastorais de Deus, precisamos compreender que uma visão bíblica do ministério pastoral com crianças começa pelo pastoreio exercido por Deus sobre as nossas vidas.
Sermos pastoreados pelo nosso Sumo Pastor só ocorre em nossa desistência, desconstrução e dependência Dele. É na desistência de nossas possibilidades que O Pai inicia a Sua boa obra em nós. Nossa possibilidade diante da obra do Pai em Cristo só se dá na desistência de nossas capacidades próprias. Nosso Pai só constrói e re-constrói a vida de alguém com recursos próprios.
A nossa desconstrução é a faxina terapêutica e santificadora de Deus, nos fazendo ser parecidos com o Seu Filho. É quando a Vida que vivemos sob as limitações físicas desta carne humana não depende mais de nós mesmos e está fora de nosso controle pessoal.
E, a dependência do Pai só é possível de ser experimentada quando O Seu Espírito nos faz descansar no fato de que não nos pertencemos mais! Isto significa vivermos na dimensão do “plêroma” Divino, isto é, na dimensão da plenitude de Deus em Cristo e pela ação do Espírito.
Será que nós, pais, pastores, professores de crianças ou membros desta igreja, estamos experimentando e desfrutando da pastoralidade Divina sobre as nossas vidas? Não precisamos estar diretamente ligados ao ministério pastoral com crianças para que sejamos incomodados e desafiados a ter um relacionamento sob os cuidados pastorais do nosso Pai Celestial!
Os discípulos de Jesus ainda não haviam entendido a proposta do Seu Mestre. Ele queria tocar nas pessoas e exemplificou este fato através da preciosa lição contida na narrativa do evangelho de Marcos. Naquele contexto específico o Seu toque redentor e curador estavam voltados às crianças excluídas da sociedade e religiosidade vigentes.
Será que nós já assimilamos esta proposta de Jesus em relação às crianças de nosso convívio familiar, eclesiástico ou social? Esta pergunta não precisa de mais uma resposta verbal e teologicamente correta. Antes, carecemos de uma ação avivadora do Espírito em nossas vidas e ministérios!
As crianças estão presentes em nosso meio desde o início da igreja cristã. Mesmo que não tenhamos um chamado específico voltado aos pequeninos, temos um compromisso de intercessão ao Pai pelas nossas crianças e pela continuidade histórica da Igreja de Cristo através do evangelho de Deus pregado e ensinado às mesmas.
A outra parte do nosso estudo nasce da seguinte pergunta: o que significa pastorear crianças? Pastorear crianças significa “tocá-las” com o toque de Jesus! É transmitir às crianças o olhar pastoral de Jesus.
De modo geral, o ministério com crianças é assunto de todas as pessoas pertencentes a todas as comunidades cristãs e em todas as épocas. Não é somente uma temática para pais, tutores e professores de crianças. É um tópico fundamental a toda igreja de Cristo. Porém, de maneira específica, todos os pais e responsáveis por crianças são chamados por Deus e possuem um ministério pastoral voltado às crianças que estão sob seus cuidados.
Esta pastoralidade não é uma função legitimada e desempenhada somente no âmbito eclesiástico formal. É coisa do dia-a-dia de uma família alcançada pela obra de Cristo. É função de pessoas pastoreadas pelo Pastor Divino, que exercem seus ministérios com suas crianças em seus lares e não somente as entregam rotineiramente, nos domingos, aos cuidados bíblicos e pastorais dos professores das classes de berçário, maternal, primários e juniores.
E quanto ao nosso departamento infantil, seria apenas um local que as comunidades cristãs possuem para a acomodação de gente miúda ou um ambiente ministerial de pregação (evangelização) e ensino (discipulado) da Palavra do Deus que converte e transforma gente pequena na imagem do Seu Filho amado? Precisamos dizer às crianças que estar nas reuniões da igreja não é a mesma coisa que serem salvas em Cristo.
Qual é a maior necessidade de uma criança? A sua regeneração em Cristo! Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe Salmo 51:5. Em sentido bíblico, reconhecer o “potencial” de nossos filhos e filhas é reconhecer, antes de qualquer outra coisa, a sua capacidade para pecar contra o seu Criador. Toda criança já nasce com uma natureza que gera todas as outras formas de rebeldia características da infância.
O assunto mais importante para ser ministrado a uma criança é sobre a necessidade vital que elas têm de reconhecer a sua degeneração humana e da sua possibilidade de regeneração somente por e em Cristo! Toda criança precisa saber que a sua vida só terá sentido através da inserção da Vida de Cristo nelas! Não pregar este fato às nossas crianças é enganá-las de maneira fatal e negar-lhes o “toque redentor e curador de Jesus”.
Um grave erro que cometemos como pais e pastores das crianças que O Senhor nos confiou temporariamente é o de tentarmos educá-las por meio de nossas concepções próprias ou das influências acolhidas ao longo de uma trajetória de dores. Se não formos pastoreados pelo Pastor Amado, de maneira redentora e curadora, não temos a mínima condição de transmitir às crianças absolutamente nada da vida deste Pastor.
Um detalhe importante a ser observado da narrativa de Jesus em seu ministério voltado às crianças está no fato das crianças não terem participação efetiva ou adequação a nenhum sistema religioso. Apesar das crianças nascerem em pecado e expressarem a sua natureza pecaminosa no decorrer de sua infância, são desprovidas de apego aos sistemas religiosos construídos por nós adultos.
Portanto, podemos constatar que Jesus usou este desprendimento de valores religiosos observado nas crianças como parâmetro para ensinar que o despojamento pessoal delas validava o ingresso e a aceitação em Seu Reino. As crianças não possuem defesas para O Seu Criador. Por isso manifestam menos barreiras humanas em relação à obra de Cristo!
Existe um paradigma melhor do que uma criança para falarmos de despojamento e dependência do Pai? A criança é desprovida de predicados religiosos e morais que a qualificariam como cidadã do Reino de Deus. É por isso que são aceitas pelo Pai! O Mestre nos ensina aquilo que também ensinou aos seus discípulos!
Jesus proferiu este precioso ensinamento de que é a falta do mérito que conduz ao Seu Reino! Isto é para que sempre saibamos que é justamente em nossa total fragilidade, como aquela manifestada pelas crianças trazidas a Jesus, que podemos ser aceitos e agradar ao Pai Celestial.
Que possamos ser incomodados e impactados por este ensino bíblico de que o evangelho da graça de Deus em Cristo é transmitido às nossas crianças pelo toque de Jesus atingindo primeiramente as nossas vidas enquanto adultos! Fora desta realidade em Cristo, não temos nada a ensinar às nossas crianças a não ser a perpetuação do nosso fracasso humano, através de sistemas religiosos ou uma moralidade admirável que não as transforma em filhos e filhas do seu Criador.
Marcos 10:13-16 nos ensina que há uma diferença essencial e crucial entre o toque humano (moral e religioso) e o toque Divino (libertador e pastoral) ministrado sobre a vida das crianças!
Que sejamos primeiramente tocados (pastoreados) pelo Senhor para que possamos tocar (pastorear) as crianças que Ele trouxer para cuidarmos!

Solo Deo Glória.