domingo, 2 de setembro de 2012

ANO NOVO, VELHO ERRO, DE NOVO

Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, pois ele sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Filipenses 2:5-9.
O ano velho acabou, um novo ano começou. As pessoas tentam renovar suas esperanças. Buscam uma motivação para viver mais um ano que: desta vez será maravilhoso! Ou seja, tudo o que não foi possível concretizar no ano que passou desta vez será concretizado - o regime em busca do peso ideal, que não conseguimos fazer durante o ano todo, desta vez será realizado.
Seguindo a mesma lógica, o parar de fumar, o amor, ser um melhor pai, um melhor filho, uma melhor esposa, dedicar mais tempo à família, cuidar mais da saúde, enfim, todos os ideais projetados por nós mesmos ou motivados por pressões externas; que se alimentam da culpa e também produzem culpa, “serão atingidos”.
Culpa esta, que brota como uma pequenina nascente de água, oculta na mata densa do auto-engano, que depois se transforma em águas caudalosas e de gosto amargo, que acaba por afogar as pessoas, enquanto se debatem desesperadas na tentativa de ser o que de fato não são.
Que magia é esta que envolve este último dia do ano, capaz de iludir os incautos sobre uma possível transformação do mundo em segundos, como num conto de fadas, pelo simples fato do relógio ter ultrapassado aquele tempo considerado insatisfatório? Ainda sobre isto, é interessante ver como este mesmo ano novo, com muita rapidez se transforma de algo aguardado e festejado, para algo que precisa ser deixado para trás.
Isto é um fato que podemos constatar com facilidade, pois o mesmo ano velho que ansiamos esquecer, já foi um dia, talvez apenas por um dia, o ano mais festejado de nossas vidas. Certo amigo costuma dizer o seguinte: “quando o ser humano não dá crédito a Deus, costuma acreditar em cada bobagem”. Percebemos na experiência vivenciada por nós, ou testemunhada por nós todos os anos, que esta prática se transforma em um ciclo vicioso, que às vezes, pode durar uma vida inteira.
A vida passa sem que nada mude. Tudo segue como antes e muitos não manifestam o mínimo de lucidez para perceber que entra ano e sai ano, e ainda que o mundo a nossa volta passe por significativas transformações, no nosso interior nada mudou. Em nosso íntimo permanece o mesmo sentimento – aquela sede insaciável, aquela repetida e insistente procura por algo realmente inaugural e bom. A impressão que se tem é que, tudo está velho de novo e precisa ser mudado. Por que?
A resposta a esta pergunta não está longe de nós, pelo contrário, está dentro de nós. Olhamos para o mundo à nossa volta e sabemos o quanto ele está diferente do que era há dois séculos. Quanta tecnologia, quanto desenvolvimento, quanto conhecimento, quanta produtividade, quanta riqueza! Só uma coisa não muda: a maldade e o descontentamento do coração humano. O ser humano, em sua essência, permanece igual. Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo a suas manchas? Tão pouco podereis fazer o bem, acostumados que estais a fazer o mal. Jeremias 13:23.
Como é difícil para o ser humano entorpecido de si mesmo, entender que não são as coisas, o mundo e a economia que precisam de mudança, até porque, tudo isto está sempre passando por transformações. Somos nós que precisamos ser mudados, e somos nós, em primeiro lugar, que não admitimos a necessidade desta mudança. É aquela insistência de sempre achar que o problema está fora de mim, e jamais admitir que o problema sou eu. Todo caminho do homem é reto aos seus olhos, mas o SENHOR sonda os corações. Provérbios 21:2.
Ratificando esta ideia, podemos atentar para as avaliações que comumente são feitas nos finais de ano. Gostamos de fazer o balanço do ano para verificar se aquele ano foi bom. Com grande frequência nos frustramos, e isto se dá por dois motivos. Em primeiro lugar, pelo buraco negro que se tornou a alma humana sem Deus, insaciável e faminta, ainda que sorva o mundo a sua volta. Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez. Eclesiastes 3:11.
A segunda razão se dá pelo simples fato de sermos humanos - finitos e imperfeitos. Algo que eu posso até admitir como senso comum, mas não como uma verdade existencial. Ainda que esta verdade se apresente como um fato irrefutável, tendo em vista, a sujeição humana à morte.
Porém, esta verdade é rejeitada veementemente, tendo como base nossas ações e nosso modo de vida, vida esta repleta de arrogância, presunção e orgulho, como se não fôssemos pó, como se não fôssemos mortais, como se fôssemos deuses.
Quando o ano foi bom do ponto de vista das externalidades, podemos até perceber certa euforia passageira, que logo dará lugar ao medo e a ansiedade, trazidos pelo novo e desconhecido ano, o qual esconde dentro de si a possibilidade da perda e a incerteza do saber.
Afinal, como poderemos ter a certeza de que conseguiremos manter o mesmo desempenho que obtivemos no ano que passou? Logo percebemos que sobra pouco espaço para o descanso e a alegria verdadeira. Então, o cansaço e a angústia se manifestam, juntamente com a ressaca do dia seguinte.
Do outro lado do rio, quando o ano não foi muito bom, contemplando a mesma perspectiva das externalidades, nos frustramos. E é interessante saber e ressaltar aqui, que só se frustra, aquele que cria alguma expectativa. Isto se dá porque não aceitamos ser o que de fato somos: fracos, finitos e carentes. E não aceitamos porque o sistema do mundo que criamos, é um sistema antiCristo, anticruz e antigraça, administrado pelo inimigo de nossas almas. Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do Maligno. 1 João 5:19.
Então morremos nos debatendo na tentativa de ser e de convencer a todos de que somos o que de fato não somos, mendigando aceitação, atemorizados pela rejeição de um mundo que, como sistema, é uma farsa, e isto como expressão da essência daquele que o administra, ... pois é mentiroso e pai da mentira. João 8:44.
Tudo isto é reflexo do Éden. O veneno que entrou em nós, inoculado pelas palavras da serpente, “...Como Deus sereis”, que em suma, nada mais é do que uma incitação à incredulidade e um obstáculo ao descaso na palavra de Deus; que por sua vez, nos tira o chão onde estava sustentada nossa existência, provocando uma rachadura existencial e uma crise de identidade, de querer ser o que não se é. De querer ser Deus sendo homem, abraçando a mentira como se fosse verdade e querendo ter o controle da vida e das circunstâncias sem ter competência para isto.
Agora, temos mais um agravante. O coração, depois da rejeição livre da palavra de Deus, ficou petrificado pelo pecado, e o pecado nos impede de admitirmos nossa realidade de doentes para que possamos ser sarados, de injustos para que sejamos justificados, de pecadores para que sejamos santificados; de sermos apenas homens para que em Cristo, por sua graça, mediante a fé, Deus possa nos fazer seus filhos.
Que realidade terrível se Deus não fosse amor! Deus não nos deixou à mercê de nossas escolhas erradas. O soro antiofídico é a palavra de Deus, o Verbo encarnado, o mistério do amor de Deus pelos homens. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16.
O texto de Filipenses, base deste estudo, vem nos ensinar que, ao contrário de nós, aquele que é Deus, quando veio a este mundo, assumiu plenamente a condição humana. E por esta razão, somente por esta razão, pode vencer de maneira legítima todos os inimigos de Deus e dos homens.
Não se fez de forte, pois a verdadeira condição humana não lhe permitia isto. Antes, assumiu plenamente sua fraqueza, na dependência por fé, de que o Seu Deus e Pai seria a Sua força. E deixou isto claro quando disse: ...o filho nada pode fazer de si mesmo. João 5:19. Em outras palavras, Jesus se declarou impotente.
Nós fracassamos, justamente por não nutrir o mesmo sentimento que houve em Cristo. Não queremos assumir a nossa condição de fraqueza humana, antes o pecado nos faz rejeitá-la. Queremos ser fortes, enquanto a palavra de Deus nos ensina que é justamente no nosso vazio que Deus pode ser tudo; em nossa fraqueza Ele pode ser nossa força. Foi o que Paulo aprendeu de Deus. Então me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas minhas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 2 Coríntios 12:9.
Precisamos entender o que implica assumir a fé em Jesus Cristo. Crer em Cristo significa que entendemos que Deus, só pode agir em direção a nós por sua graça, pois não temos méritos em nós. E, juntamente com isto, abraçamos a verdade da condição humana de fraqueza e pecado, algo que poderia ser desesperador, se não fosse a consciência do amor de Deus por nós, demonstrado em Cristo crucificado.
Além disso, somos aqueles que o mundo – cuja expressão máxima do seu poder acaba no túmulo - crucificou juntamente com Cristo. Assim sendo, podemos crer e compreender também que, assim como Jesus em fraqueza foi ressuscitado pelo Pai, também nós, fracos, fomos ressuscitados juntamente com Cristo. Pois, se o poder do mundo se expressa pela morte, o poder de Deus é a vida que vence a morte.
Um poder capaz de ressuscitar qualquer fraco, em sua maior condição de fraqueza, ou seja, a morte. Isto pelo fato deste fraco, pela graça de Deus, ter vivido em verdade e, em esperança depositada exclusivamente Naquele que ressuscita os mortos.
E, com relação a este mundo de mentira, nós estamos mortos para ele, e é justamente nisto que reside nossa glória e vitória. Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:14; porém, vivos para Deus. Feliz eternidade nova, sempre nova, para sempre.
 
Solo Deo Glória.

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