Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo
Jesus, pois ele sendo Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes,
a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até a morte, e morte de cruz. Filipenses 2:5-9.
O ano velho acabou, um novo ano começou. As pessoas tentam
renovar suas esperanças. Buscam uma motivação para viver mais um ano que: desta
vez será maravilhoso! Ou seja, tudo o que não foi possível concretizar no ano
que passou desta vez será concretizado - o regime em busca do peso ideal, que
não conseguimos fazer durante o ano todo, desta vez será realizado.
Seguindo a mesma lógica, o parar de fumar, o amor, ser um
melhor pai, um melhor filho, uma melhor esposa, dedicar mais tempo à família,
cuidar mais da saúde, enfim, todos os ideais projetados por nós mesmos ou
motivados por pressões externas; que se alimentam da culpa e também produzem
culpa, “serão atingidos”.
Culpa esta, que brota como uma pequenina nascente de água,
oculta na mata densa do auto-engano, que depois se transforma em águas
caudalosas e de gosto amargo, que acaba por afogar as pessoas, enquanto se
debatem desesperadas na tentativa de ser o que de fato não são.
Que magia é esta que envolve este último dia do ano, capaz de
iludir os incautos sobre uma possível transformação do mundo em segundos, como
num conto de fadas, pelo simples fato do relógio ter ultrapassado aquele tempo
considerado insatisfatório? Ainda sobre isto, é interessante ver como este mesmo
ano novo, com muita rapidez se transforma de algo aguardado e festejado, para
algo que precisa ser deixado para trás.
Isto é um fato que podemos constatar com facilidade, pois o
mesmo ano velho que ansiamos esquecer, já foi um dia, talvez apenas por um dia,
o ano mais festejado de nossas vidas. Certo amigo costuma dizer o seguinte:
“quando o ser humano não dá crédito a Deus, costuma acreditar em cada bobagem”.
Percebemos na experiência vivenciada por nós, ou testemunhada por nós todos os
anos, que esta prática se transforma em um ciclo vicioso, que às vezes, pode
durar uma vida inteira.
A vida passa sem que nada mude. Tudo segue como antes e muitos
não manifestam o mínimo de lucidez para perceber que entra ano e sai ano, e
ainda que o mundo a nossa volta passe por significativas transformações, no
nosso interior nada mudou. Em nosso íntimo permanece o mesmo sentimento – aquela
sede insaciável, aquela repetida e insistente procura por algo realmente
inaugural e bom. A impressão que se tem é que, tudo está velho de novo e precisa
ser mudado. Por que?
A resposta a esta pergunta não está longe de nós, pelo
contrário, está dentro de nós. Olhamos para o mundo à nossa volta e sabemos o
quanto ele está diferente do que era há dois séculos. Quanta tecnologia, quanto
desenvolvimento, quanto conhecimento, quanta produtividade, quanta riqueza! Só
uma coisa não muda: a maldade e o descontentamento do coração humano. O ser
humano, em sua essência, permanece igual. Pode, acaso, o etíope mudar a sua
pele ou o leopardo a suas manchas? Tão pouco podereis fazer o bem, acostumados
que estais a fazer o mal. Jeremias 13:23.
Como é difícil para o ser humano entorpecido de si mesmo,
entender que não são as coisas, o mundo e a economia que precisam de mudança,
até porque, tudo isto está sempre passando por transformações. Somos nós que
precisamos ser mudados, e somos nós, em primeiro lugar, que não admitimos a
necessidade desta mudança. É aquela insistência de sempre achar que o problema
está fora de mim, e jamais admitir que o problema sou eu. Todo caminho do
homem é reto aos seus olhos, mas o SENHOR sonda os corações. Provérbios
21:2.
Ratificando esta ideia, podemos atentar para as avaliações que
comumente são feitas nos finais de ano. Gostamos de fazer o balanço do ano para
verificar se aquele ano foi bom. Com grande frequência nos frustramos, e isto se
dá por dois motivos. Em primeiro lugar, pelo buraco negro que se tornou a alma
humana sem Deus, insaciável e faminta, ainda que sorva o mundo a sua volta.
Ele fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio
pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que
Deus fez. Eclesiastes 3:11.
A segunda razão se dá pelo simples fato de sermos humanos -
finitos e imperfeitos. Algo que eu posso até admitir como senso comum, mas não
como uma verdade existencial. Ainda que esta verdade se apresente como um fato
irrefutável, tendo em vista, a sujeição humana à morte.
Porém, esta verdade é rejeitada veementemente, tendo como base
nossas ações e nosso modo de vida, vida esta repleta de arrogância, presunção e
orgulho, como se não fôssemos pó, como se não fôssemos mortais, como se fôssemos
deuses.
Quando o ano foi bom do ponto de vista das externalidades,
podemos até perceber certa euforia passageira, que logo dará lugar ao medo e a
ansiedade, trazidos pelo novo e desconhecido ano, o qual esconde dentro de si a
possibilidade da perda e a incerteza do saber.
Afinal, como poderemos ter a certeza de que conseguiremos
manter o mesmo desempenho que obtivemos no ano que passou? Logo percebemos que
sobra pouco espaço para o descanso e a alegria verdadeira. Então, o cansaço e a
angústia se manifestam, juntamente com a ressaca do dia seguinte.
Do outro lado do rio, quando o ano não foi muito bom,
contemplando a mesma perspectiva das externalidades, nos frustramos. E é
interessante saber e ressaltar aqui, que só se frustra, aquele que cria alguma
expectativa. Isto se dá porque não aceitamos ser o que de fato somos: fracos,
finitos e carentes. E não aceitamos porque o sistema do mundo que criamos, é um
sistema antiCristo, anticruz e antigraça, administrado pelo inimigo de nossas
almas. Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo está sob o poder do
Maligno. 1 João 5:19.
Então morremos nos debatendo na tentativa de ser e de convencer
a todos de que somos o que de fato não somos, mendigando aceitação, atemorizados
pela rejeição de um mundo que, como sistema, é uma farsa, e isto como expressão
da essência daquele que o administra, ... pois é mentiroso e pai da
mentira. João 8:44.
Tudo isto é reflexo do Éden. O veneno que entrou em nós,
inoculado pelas palavras da serpente, “...Como Deus sereis”, que em suma, nada
mais é do que uma incitação à incredulidade e um obstáculo ao descaso na palavra
de Deus; que por sua vez, nos tira o chão onde estava sustentada nossa
existência, provocando uma rachadura existencial e uma crise de identidade, de
querer ser o que não se é. De querer ser Deus sendo homem, abraçando a mentira
como se fosse verdade e querendo ter o controle da vida e das circunstâncias sem
ter competência para isto.
Agora, temos mais um agravante. O coração, depois da rejeição
livre da palavra de Deus, ficou petrificado pelo pecado, e o pecado nos impede
de admitirmos nossa realidade de doentes para que possamos ser sarados, de
injustos para que sejamos justificados, de pecadores para que sejamos
santificados; de sermos apenas homens para que em Cristo, por sua graça,
mediante a fé, Deus possa nos fazer seus filhos.
Que realidade terrível se Deus não fosse amor! Deus não nos
deixou à mercê de nossas escolhas erradas. O soro antiofídico é a palavra de
Deus, o Verbo encarnado, o mistério do amor de Deus pelos homens. Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16.
O texto de Filipenses, base deste estudo, vem nos ensinar que,
ao contrário de nós, aquele que é Deus, quando veio a este mundo, assumiu
plenamente a condição humana. E por esta razão, somente por esta razão, pode
vencer de maneira legítima todos os inimigos de Deus e dos homens.
Não se fez de forte, pois a verdadeira condição humana não lhe
permitia isto. Antes, assumiu plenamente sua fraqueza, na dependência por fé, de
que o Seu Deus e Pai seria a Sua força. E deixou isto claro quando disse:
...o filho nada pode fazer de si mesmo. João 5:19. Em outras palavras,
Jesus se declarou impotente.
Nós fracassamos, justamente por não nutrir o mesmo sentimento
que houve em Cristo. Não queremos assumir a nossa condição de fraqueza humana,
antes o pecado nos faz rejeitá-la. Queremos ser fortes, enquanto a palavra de
Deus nos ensina que é justamente no nosso vazio que Deus pode ser tudo; em nossa
fraqueza Ele pode ser nossa força. Foi o que Paulo aprendeu de Deus. Então me
disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De
boa vontade, pois, mais me gloriarei nas minhas fraquezas, para que sobre mim
repouse o poder de Cristo. 2 Coríntios 12:9.
Precisamos entender o que implica assumir a fé em Jesus Cristo.
Crer em Cristo significa que entendemos que Deus, só pode agir em direção a nós
por sua graça, pois não temos méritos em nós. E, juntamente com isto, abraçamos
a verdade da condição humana de fraqueza e pecado, algo que poderia ser
desesperador, se não fosse a consciência do amor de Deus por nós, demonstrado em
Cristo crucificado.
Além disso, somos aqueles que o mundo – cuja expressão máxima
do seu poder acaba no túmulo - crucificou juntamente com Cristo. Assim sendo,
podemos crer e compreender também que, assim como Jesus em fraqueza foi
ressuscitado pelo Pai, também nós, fracos, fomos ressuscitados juntamente com
Cristo. Pois, se o poder do mundo se expressa pela morte, o poder de Deus é a
vida que vence a morte.
Um poder capaz de ressuscitar qualquer fraco, em sua maior
condição de fraqueza, ou seja, a morte. Isto pelo fato deste fraco, pela graça
de Deus, ter vivido em verdade e, em esperança depositada exclusivamente Naquele
que ressuscita os mortos.
E, com relação a este mundo de mentira, nós estamos mortos para
ele, e é justamente nisto que reside nossa glória e vitória. Mas longe esteja
de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo
está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:14; porém, vivos
para Deus. Feliz eternidade nova, sempre nova, para sempre.
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 2 de setembro de 2012
ANO NOVO, VELHO ERRO, DE NOVO
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