sábado, 8 de setembro de 2012

ABORRECENDO A PRÓPRIA VIDA

Se alguém vier a mim e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Lucas 14:26.
A condição estabelecida pelo nosso Senhor para ser Seu discípulo, não é só aborrecer, pai, mãe, mulher, filhos, irmãos e irmãs, mas a própria vida. Aborrecer, expressa vigorosamente o contraste e a separação que deve haver entre, os afetos naturais do discípulo e a sua devoção total ao Senhor. E, a palavra “vida” aqui, é a palavra grega psique, que pode ser traduzida por alma.
Mas, o que está errado com a vida da alma?Que relação há entre a alma e a vida da alma? Por que precisamos aborrecer a própria vida? Deus formou o corpo do homem do pó da terra e soprou-lhe nas narinas o fôlego de vida. A palavra vida, no hebraico, está no plural; literalmente poderíamos traduzir por fôlego de vidas.Assim sendo, o homem foi formado decorpo, alma e espírito.
O sopro de Deus formou no homem o órgão espiritual, projetado para ser preenchido por Deus, isto porque, é pelo espírito que o homem experimenta, de fato, a presença de Deus e, pelo qual pode ter comunhão com Ele e adorá-Lo.
O corpo do homem foi projetado para interagir com o mundo material. O homem tem cinco sentidos, sem os quais não é possível sentir, presenciar, e também apreciar as coisas deste mundo.
Quando o espírito e o corpo se fundiram, surgiu a alma vivente. Uma alma viva foi formada. Portanto, o homem é uma unidade tripartite, possuindo um corpo para interagir com o meio e um espírito para se interagir com Deus.
E, o que podemos dizer da alma? A almacorresponde à consciência de si mesmo. E, por meio dela, o homem experimenta as emoções e também o capacita a exercer a sua própria vontade.
Pelo fato de existir um mundo espiritual, o homem tem um espírito; pelo fato de existir o mundo da alma, o homem tem a sede da personalidade plantada nela. Porque há um mundo material, o homem tem um corpo. É por esta razão que o homem é constituído de três partes: O mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. 1 Tessalonicenses 5:23.
Contudo, logo após a queda, o homem perdeu a capacidade de se comunicar com Deus. O espírito que lhe fora dado para interagir com Deus, literalmente morreu. A partir daí, o homem passou a viver “almaticamente”, isto é, com uma alma muito grande, predominante.
De fato o que aconteceu na queda do homem, no jardim do Éden, foi uma substituição de posição. A vida da alma deveria ser regida pela vida do espírito. Entretanto, pelo fato do espírito estar “morto,” a vida do espírito foi substituída pela vida autossuficiente e egocêntrica da alma. E, assim, o problema do homem passou a ser a vida do eu que está dentro de sua alma. Eis a razão porque o Senhor Jesus disse: Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á. Mateus 10:39.
Na verdade, não há nada de errado na existência da alma, pois, foi o próprio Deus quem a criou. O problema é a “vida” pecaminosa que está alojada dentro dela, implantada logo após a queda. É essa vidaque o homem precisa perder.
Se alguém ama a sua vida neste mundo, perdê-la-á, porque esta “vida” não está em harmonia com Deus e nem pode estar. O homem “natural” não tem prazer nas coisas de Deus. Porém, se alguém, pela graça de Deus, perder a “vida” por causa de Cristo, passará para uma posição nova e eterna.
É necessário aborrecer a própria vida para andar com Deus, isto é, perdê-la. Portanto, levar a cruz e seguir a Cristo é o único meio do homem se tornar Seu discípulo.
Cristo veio a este mundo para salvar o homem “natural” – essencialmente mau, perdido e sem esperança. Este homem “natural,” no qual “não habita bem nenhum,” por estar morto em seus delitos e pecados, necessita de redenção. Para salvá-lo, Cristo veio em graça, porque não há no homem força ou capacidade para deixar de ser o que é. Em conseqüência disto, o homem depende inteiramente da graça que vem de Deus.
A alma deveria ser governada pela vida do espírito. Entretanto, pela queda, a vida do espírito foi substituída pela vida egocêntrica da alma. Na cruz, o processo se dá de forma inversa.
Na cruz a velha vida, ou a vida autossuficiente, é destruída e substituída pela vida de Cristo. Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para Deus. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. Gálatas 2:19-20.
Com base neste texto podemos definir um cristão como aquele que foi substituído. Não mais a vida egocêntrica, mas Cristo. A velha vida foi substituída pela vida de Cristo. Agora, Cristo é a nossa vida.
Cristo é a Pessoa que alimenta a nossa alma. Este é o fato que sempre deve estar perante o nosso espírito. Vivemos pela fé no Filho de Deus que nos amou e Se deu por nos. A fé individual nos liga a Cristo. Ele é precioso em nossa vida pessoal por ser, agora, a razão da fé íntima da nossa alma.
A partir deste momento, a alma se ocupa com o comando da vida de Cristo e, se deleita no descanso. Porque não é a alma que deve viver a vida de Cristo, mas Cristo se manifestando no viver da alma. Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis; porque eu vivo, vós também vivereis. João 14:19.
A Sua presença em Espírito na vida dos Seus é tão real quanto a Sua presença em carne aqui na terra, vós me vereis. E, isso significa conhecê-Lo com os olhos do coração. E, além do mais, esta visão espiritual de Cristo que o coração tem, pela presença do Espírito Santo, liga-se à vida do próprio Senhor.
Porque eu vivo, vós também vivereis, diz o Senhor. Nós vemos a Jesus em espírito, porque temos a vida espiritual. E esta vida está Nele, e Ele é esta vida, porque “esta vida está no Filho”. Ela é tão segura como a duração da vida do próprio Senhor Jesus.
A nova vida é, em cada ato, a manifestação Dele próprio, porque Ele é a nossa vida: Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória. Colossenses 3:3-4.
Esta é a preciosa e consoladora verdade a respeito do cristão. Pelo fato de Cristo ter morrido e ressuscitado por ele, e ele morrido e ressuscitado com Cristo, o cristão recebeu a vida de Cristo, por isso, tudo que Cristo fez por ele, lhe pertence.
Assim, o cristão está morto, porque Cristo morreu por ele. O cristão vive, porque Cristo vive nele, e a vida que está nele é Cristo. Esta vida de Cristo, a força da tentação, a culpa, os ataques do inimigo e o pecado, não podem destruí-la.
Numa palavra, a vida em Cristo é a grande verdade que define o cristão. O Cristão é aquele que está em Cristo. A única garantia que temos da vida eterna é esta: estou em Cristo! Lamentavelmente, sabemos que há muita gente dentro das igrejas, porém fora de Cristo.
Perder a própria vida significa morrer. Morrer significa que tudo o que se ligava à velha vida teve o seu fim naquela cruz. A condenação, o medo e a impotência são vistos pela ótica da suficiência do nosso Senhor Jesus Cristo, quando a vida que está em nós é a vida de Cristo.
Além do mais, esta vida está escondida com Cristo, em Deus, isto é, guardada, selada e nada neste mundo ou no porvir pode tocar ou manchar esta vida, porque é a vida de Cristo.
Aqueles que foram salvos se tornaram vasos de Sua manifestação. Quando Cristo que é a nossa vida, se manifestar, então... Vasos que estão sendo trabalhados para refletirem a imagem de Cristo. Vasos dos quais a vida de Cristo exala, segundo o poder da presença do Espírito Santo. Portanto, a verdadeira vida cristã não é senão a manifestação da vida de Cristo implantada no crente pela operação do Espírito Santo.
É de fundamental importância para aqueles que nasceram de novo, experimentar o significado da expressão: “Cristo vive em mim”. Qual é o peso desta expressão? Significa simplesmente que daqui em diante eu não preciso tentar viver a vida cristã, confio inteiramente que Cristo é suficiente para viver em mim.
Como creio e confio que Cristo vive em mim, não mais farei qualquer movimento. Portanto, devemos aprender a viver diante de Deus – a não fazermos qualquer movimento por nós mesmos, mas apenas nos movermos em Sua direção. Na verdade, não devemos nem tentar, simplesmente ficarmos quietos.
Agir por conta própria é maior tentação que podemos sofrer. A vida vitoriosa não é senão essa: Não precisar viver. Não precisamos nos esgotar por causa do viver, precisamos apenas desistir e descansar.
Que a nossa oração seja esta: Senhor, em todas as circunstâncias, tome a iniciativa. Tu és o meu Senhor, então faça a Tua vontade!Amém!
 
Solo Deo Glória.

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