Amados, não se surpreendam com o fogo que surge entre vocês
para os provar, como se algo estranho lhes estivesse acontecendo. 1Pedro 4:12
NVI.
A vida cristã não é um convescote, isto é, um piquenique em
final de semana. Não se trata de uma colônia de férias, nem de uma viagem de
turismo. Apesar da paz interior imensurável, fruto da justificação pela graça, a
fé cristã aponta para uma jornada em meio a uma grande turbulência externa. Há
tribulação e provas em todas as estradas.
A vocação de Cristo nos convoca para uma vivência de
contradições. Temos paz, sim, mas vivemos em guerra, o tempo todo. Somos amados
pelo nosso Pai, embora os inimigos de Cristo não nos deixem sossegar com o seu
ódio velado ou em chamas.
Nem um cristão autêntico encontra-se isento das labaredas da
perseguição. Aliás, uma das evidências da legitimidade da fé cristã é a
fogueira, ora com brasas ardentes, ora inflamada pelo fogaréu desvairado das
vaidades. E, nesse caso, o calor das emoções vaidosas é mais cruel do que a
quentura do fogo, além do que, dura muito mais tempo e faz as suas vítimas
padecerem lentamente chamuscadas pelo "pavio curto".
A temporada das fogueiras abrasadoras na história da igreja foi
uma época truculenta em que os filhos de Deus foram incinerados enquanto
alumiavam como lamparinas nos pátios de execução. Foram incendiados como tochas
vivas manifestando a luz radiante que habitava em seus corações inflamados de
amor. Ainda hoje, em alguns lugares deste mundo tenebroso, temos cenas
horrorosas como estas do inferno de Dante.
Sei que esta tortura é atroz. Contudo, há no meio da
congregação do povo de Deus, uma turma desapiedada que costuma atear o fogo das
paixões para azucrinar as entranhas da vida comunitária. Foi neste sentido que
Pedro se referiu ao fogacho.
Mas esse braseiro tem uma finalidade muito especial: provar.
Para uma pessoa ser aprovada na fé é preciso ser provada pelo fogo. A própria
Palavra de Deus foi também purificada pelo fogo. As palavras do SENHOR são
palavras puras, prata refinada em cadinho de barro, depurada sete vezes. Salmos
12:6.
A fé é um dom gracioso desta Palavra purificada pelo fogo.
Quando recebemos, pela graça, a Palavra de Deus, a fé vem junto. O Verbo que se
encarnou, acaba encarnando, através dos ouvidos que O ouvem, a vida que nasceu
da tumba. E, consequentemente, a fé surge como expressão real, mas subjetiva,
dessa obra plena do Deus-homem. Ela é uma evidência implícita da vida de Cristo
em nosso novo ser.
Ninguém nasce nesse mundo portando fé no seu currículo. A fé é
uma dádiva divina, nunca, jamais um atributo natural do velho Adão. Todavia, ela
precisa ser testada, uma vez recebida, para que possamos saber se, de fato, essa
é a fidis Dei ou é a feérica abusiva produzida pela fidúcia de um
fedelho arrogante qualquer que se propõe a ser fecundo neste assunto da
invisibilidade fenomenológica.
Isto quer dizer que o terreno da fé sai dos limites
tridimensionais do campo material e vai para o nível do invisível. A fé é uma
visão que nunca pode ser vista pelo cego que anda na escuridão da meia noite
contemplando a aurora que ainda não surgiu.
Segundo as Escrituras, podemos defini-la assim: Ora, a fé é
a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.
Hebreus 11:1. Ela é uma esperança, logo, é imperceptível do ponto de vista
sensório, pois esperança constatada não pode ser esperada. É uma visão cega ou
uma certeza invisível. Contudo, precisa ser provada e o fogo ardente é um
laboratório de comprovação.
A confiança requer testes de autenticidade. A pessoa dizer que
crê em Cristo é uma declaração muito importante, todavia, deve ser confirmada.
Nem todo aquele que diz ser Cristo o seu Salvador é, de fato, verdadeiro crente.
Se não passar primeiro pelo controle de qualidade, fica difícil afirmar que se
trata de um filho de Abba.
O escritor de Provérbios faz uma analogia muito interessante:
O crisol prova a prata, e o forno, o ouro; mas aos corações prova o SENHOR.
Provérbios 17:3. Será que isso aqui tem alguma relação com o fogo que surge
no meio de nós para nos provar?
A têmpera do caráter cristão é forjada nas altas temperaturas.
As fogueiras das aflições são atiçadas pelo Acrisolador Divino a fim de promover
a purificação de suas joias eternas. Quando estamos sendo depurados e reagimos
com gemidos e lamúrias é prova incontestável de que ainda não passamos no teste
de qualidade.
Para nos aprovar em sua comunhão permanente, o Pai providencia
os meios necessários para que os acendedores de lareira aqueçam o ambiente ao
máximo com as chamas ardentes das aflições, até que nós possamos confiar somente
nEle como a última razão do nosso conforto e descanso espiritual.
O culto dos aprovados começa na fornalha super aquecida. Os
três amigos de Daniel passaram no vestibular da adoração em meio as labaredas à
sétima potência. Foi neste ambiente hostil que eles se perceberam confiantes
nAquele que sempre saneia o nosso coração cheio de direitos e repleto de
exigências pessoais.
Creio que o fogo da provação tem como objetivo a nossa
confiança na suficiência de Cristo. Não é o sofrimento em si que entra em jogo.
Todo teste espiritual tem em vista o quanto nós confiamos nAquele que não é
visto na arena. A questão que está aqui sendo avaliada é o poder da
autoconfiança ou a confiança no Poder do alto.
Confiar em Deus quando tudo está correndo às mil maravilhas
parece fácil, mas confiar quando só temos fumaça no pedaço fica muito difícil. É
complicado crer em Deus quando estamos fazendo rescaldo no meio do borralho e
sujos de carvão. A teologia da prosperidade, por exemplo, tira o valor da
providência Divina do centro da fornalha. Que revelação extraordinária da
presença de Deus tiveram os amigos de Daniel!
Estar alegre no palácio real participando no banquete do rei
parece muito natural. É fácil soltar foguetes quando o nosso time se torna o
campeão da liga. A coisa engrossa quando temos que fazer festa no barraco em
chamas e celebrar a derrota com bom ânimo e bem humorados. Agora entramos num
espaço sobrenatural.
O velho Adão nunca compartilha desta identidade dos filhos da
madrugada. Só a turma da ressurreição pode demonstrar este novo estilo de vida:
alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que
também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com uma alegria ainda
maior. 1 Pedro 4:13.
Confiar que Deus está cuidando de nós, somente quando tudo vai
dando certo, é uma total alucinação de nossa personalidade ególatra. É teomania
vazando pelos nossos poros. Por isso, o fogo deve ser ateado para nos provar em
nossas entranhas, e, deste modo, nos testar, para ver se somos realmente
legítimos ou falsos.
A nossa falência total nos habilita à dependência absoluta de
Deus. No reino da graça é a fraqueza que nos põe no pódio. Quando eu sou
totalmente impotente é que sou todo poderoso, pois, neste caso, posso depender
da Onipotência Divina. Quando chegamos ao fim de nós mesmos, das nossas
possibilidades, chegamos ao vale mais profundo de nossa condição humana, onde,
também, podemos ser preenchidos com a plenitude da suficiência de Cristo como o
nosso tudo.
A cruz tem como uma de suas tarefas nos levar ao fim de nós
mesmos, nos conduzindo ao quebrantamento; enquanto o fogo que surge em nosso
meio visa provar a nossa confissão de fé com a obra da cruz. Quando confessamos
a nossa crucificação com Cristo e Ele como a nossa vida, então o fogo aparece
escaldante para apurar a prata. A confissão exige comprovação e as torturas
autenticam a experiência da fé.
O apóstolo vai um pouco mais longe, quando diz: Se vocês são
insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da
glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês. 1 Pedro 4:14.
O índice da felicidade cristã é identificado pelo bom humor dos
atribulados. Os cânticos na prisão e os aleluias no tronco evidenciam o nível de
libertação que os eleitos pela graça têm alcançado. Felizes são os que dançam na
pista atapetada por brasas vivas e celebram à Trindade em tempos de
holocausto.
Aqui está uma palavra confirmada pelo fogo. A vida no altar é
uma biografia marcada por sacrifícios de louvor. Deus só aceita esses
sacrifícios quando tudo estiver tostado. O holocausto aponta sempre para a
vítima toda carbonizada. O fogo no altar consome a carne e a gordura, enquanto o
suave cheiro sobe como aroma agradável diante do Senhor. Que as palavras da
minha boca e a meditação do meu coração sejam agradáveis a ti, Senhor, minha
Rocha e meu Resgatador! Salmos 19:14.
Para aqueles que foram resgatados pelo Cordeiro de Deus e
retornaram da rebelião cósmica, não há opção: ou eles cantam no coral dos
redimidos ou dançam na companhia de ballet dos restaurados. Assim, eles
cantam e encantam com a postura de alforriados, pois sabem: mesmo que a
tristeza possa persistir durante a noite, pela manhã renasce exultante a
alegria. Salmo 30:5b. (PA).
Os filhos da ressurreição, chamuscados pelo fogo, exalam um
perfume agradável no seu discurso sem vitimismo, nem acusações. Eles falam as
palavras de esperança ungidas com o orvalho da madrugada, gerando vida e alento
nos que as ouvem. Nunca vi uma pessoa provada pelo fogo que fosse incendiária.
Quem sofre por causa do evangelho nunca se apresenta como um causador de
sofrimento alheio.
Todos os provados e aprovados pelo fogo são bombeiros graciosos
em potencial a serviço do Cordeiro, em benefício dos afligidos pelas chamas. Se
você estiver sendo carbonizado é porque será usado como instrumento da graça em
favor dos atormentados deste mundo de tantos incêndios.
Glória ao Pai pelo tratamento do fogo purificador. Quando somos
acrisolados é porque estamos sendo preparados para um uso sagrado de maior
intimidade com Aquele que se revela como o fogo consumidor. Por isso,
recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus
de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo
consumidor. Hebreus 12:28-29.
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 2 de setembro de 2012
PROVADOS PELO FOGO
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