domingo, 2 de setembro de 2012

A SÍNDROME DA GRANDEZA

E para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. 2Coríntios 12:7.
Nós somos uma casta dominada pela grandeza. Desde que o pecado tomou conta de nossa espécie que o vírus da altivez assumiu o centro de nossa história. Todos nós fomos invadidos por um sentimento de importância que requer cuidados especiais e exige um tratamento personalizado. Eu estou sempre reivindicando atenção particular que expresse minha estima diante dos outros e que corresponda aos valores da minha personalidade repleta de direitos. Não gosto de permanecer no ostracismo nem fico satisfeito com a indiferença. Lembro-me, certa vez, quando estava buscando mais do poder espiritual, que fui estar com uma pessoa que se declarava portadora de dons especiais. Eu me encontrava muito ansioso e queria saber qual era a minha participação no reino de Deus. Em razão da aflição fiquei muito excitado quando soube que teria uma grande obra para realizar. A palavra grande me tornou muito eufórico e fiquei empolado pela idéia de grandeza que passou a me motivar daí em diante. Durante algum tempo fui despertado por este sentimento de elevação até que a revelação da pessoa de Jesus com a bacia na mão, acocorado aos pés dos seus discípulos começou a exercer influencia na minha maneira de ver a grandeza. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns
dos outros. João 13:14.

Alguém me disse algum tempo depois que grande, para Deus, não é aquele que tem um grande número de servos, mas aquele que serve a um grande número de pessoas, sem qualquer sentimento de importância ou necessidade de reconhecimento. Não há no homem um espírito que mais se contraponha ao Espírito de Deus do que o espírito de grandeza. Jesus afirmou aos seus discípulos: Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Mateus 20:26-28.

O apóstolo Paulo diz que foi arrebatado até o terceiro céu e ouviu coisas inefáveis que o tornaram uma pessoa singular. Ele ficou marcado por uma experiência única de intimidade espiritual jamais contada pelos outros mortais. Esta visita especial de Paulo ao céu o constituía num privilegiado terráqueo, que esteve mais próximo do trono de Deus, e que por isso mesmo, o distinguia de qualquer outro habitante do planeta azul. Ninguém pode ficar tão alto assim, sem correr o risco de se tornar uma pessoa presunçosa.

Mas foi exatamente nesta atmosfera de nobreza que lhe é introduzido um espinho na carne, emissário de Satanás, a fim de humilhá-lo. Quem será que mandou este espinho, Deus ou Satanás? Sabemos que o espeto era de Satanás, mas quem era o mandante? Quem estava por trás deste sentimento de quebrantamento? Quem será este que está promovendo a humildade de Paulo em meio aos seus sentimentos de grandeza?

Não é próprio do Diabo o patrocínio da humildade, nem investe nessa matéria. Desde que Lúcifer despencou da posição de querubim da guarda, que ele vem tentando galgar o trono de Deus, agenciando também todos aqueles que queiram ostentar o espírito de altivez. A obra prima do demo é escalar o trono e levar-nos a ter um conceito elevado de nós mesmos. Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. Isaías 14:13-15.

Tanto Satanás como os homens no pecado estão invadidos pelos desejos de importância e a necessidade de se envolverem com as empreitadas grandiosas. A síndrome da grandeza é uma epidemia generalizada fomentada no inferno que contagia todos os membros da raça humana e incendeia os corações, como a maior evidência de inferioridade. Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor Deus: Visto que se eleva o teu coração, e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no coração dos mares; e não passas de homem e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus. Ezequiel 28:2. Só os nanicos emocionais querem ser grandes.

No topo da pirâmide está um sentimento de glorificação que aspira ao posto elevado de Deus. Nem Satã e os seus demônios nem Adão e sua prole querem ficar por baixo. Não é próprio do capeta assentar-se no capacho ao rés do chão, tampouco o homem no pecado quer ficar nesse lugar, pois o desejo principal de ambos é abancarem-se no trono de Deus como se fossem Deus. Mesmo o sentimento da vida espiritual mais elevada está sujeito ao perigo da peculiaridade personalista que admite um tratamento privilegiado. Todos nós sofremos com a tendência de originalidade pessoal e gostamos de parecer exclusivos em nosso estilo de devoção, que exige sempre uma atenção especial por parte dos que nos devem alguma consideração.

A singularidade da experiência do apóstolo Paulo o colocava numa posição especial que reivindicava desvelo e admiração da platéia, onde ficou vulnerável a cair na armadilha mais tinhosa do inferno: a necessidade de distinção. Ser admirado pelos outros pode levar a estratégias extremamente perigosas no comércio das relações. O sentimento de admiração nos eleva e abre a porta para as negociações ardilosas no mercado das afeições. Admiração de uma pessoa pode ser o regra-três humano da adoração a Deus, e, em busca da simpatia dos outros, podemos vender a alma por um preço muito vil. Paulo encontrava-se ameaçado com o desejo de exaltação e precisava de um espinho na carne, a fim de mantê-lo num lugar de humildade. Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte. 1Pedro 5:6.

Ser aceito e ser admirado são assuntos muito sérios para aqueles que sofrem de uma distorção aguda em sua imagem. Paulo era um personagem de pequena estatura que sentia necessidade de umas pernas de pau para ver a realidade de cima, e que ficou motivado com a experiência inusitada do terceiro céu. Ele viu naquele patamar um nível de respeito que o colocava num pedestal mais elevado, e foi invadido por um sentimento de glorificação tão insinuante ao coração humano quanto perversivo. Por isso ele precisava de um prego no sapato esvaziando a bola cheia do seu coração alpinista. Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado. Lucas 14:11.

Alguém disse que Deus mede os homens pelas pequenas dimensões da humildade, e não pela grandeza de suas conquistas ou pela expressão de suas capacidades. No reino de Deus se avalia o volume de uma personalidade pelo menor calibre de grandeza que ele exibe ou pela maior expressão de glória que tributa ao Senhor. Quanto mais humilde for uma pessoa, menos se envolverá consigo mesma e mais adoração prestará ao Senhor de toda a glória. O moto de João Batista era bem claro: Convém que ele cresça e que eu diminua. João 3:30. Não convém que eu me rebaixe para que ele cresça, mas quando ele é exaltado, eu naturalmente fico no meu lugar singelo de submissão.

No reino de Deus não há lugar para a altivez dos homens nem para fama de obras grandiosas. Todos os que se envolvem com a idéia de grandeza acabam submersos nos tentáculos asfixiantes de uma glória que se arrasta pela boca dos tolos. Nem um homem nesse mundo em que Deus viveu humildemente como homem, deve ambicionar a grandeza sublime de viver como Deus. Alguém já disse que não há limite para o bem que uma pessoa pode fazer, se ela não se importar com quem recebe os louvores. Sê exaltado, ó Deus, acima dos céus; e em toda a terra esplenda a tua glória. Salmo 57:5.

Paulo precisava de um espinho na sua carne para conservá-lo esperto em relação aos artifícios da arrogância. Não existe santidade genuína sem humildade verdadeira. A falsa humildade é uma mentira deslavada que nunca pode ser aceita pelo Deus da verdade, por isso, todos nós carecemos de algum estrepe para nos manter conscientes do grande perigo de querer ser grande. A humildade é o ornamento dos santos de Deus que se torna uma deformação nos pecadores arrogantes. Da mesma forma que o orgulho é a base do pecado, a humildade tem que ser o fundamento da vida cristã legítima. Mas, lembre-se o que afirmou Andrew Murray: Humildade é aquela virtude que, quando você percebe que a tem, já a perdeu. Toda glória seja dada ao Senhor Jesus Cristo. Amém.
 
Solo Deo Glória.

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