O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros,
assim como eu vos amei...Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.
João 15:12 e 17.
Após a queda, estamos continuamente expostos e suscetíveis aos
valores e regras ditados pelo mundo em que vivemos que é movido pela aparência.
Somos valorizados, avaliados e identificados pelo que fazemos, e também pelo que
temos, pelas roupas que vestimos, pelo carro que dirigimos, (que muitas vezes
ainda não é nosso) pela casa onde moramos, pelo nosso sobrenome, a cor da nossa
pele, etc.
Essa forte influência do mundo pode levar-nos a transportar
valores seculares para dentro da Igreja. Muitas vezes identificamos a nós mesmos
como cristãos e aos outros como "outros". Somos fortemente tentados a
individualizar as pessoas e separá-los em grupos. Ex. Pessoas que "não fazem
certas coisas" ou como pessoas que "fazem certas coisas." Eu não fumo, não bebo,
etc.... Como se os únicos pecados fossem esses, ou, como se esses fossem os mais
"graves". Eu leio a Bíblia, vou ao culto, entrego o dízimo... Como se somente
isso bastasse para se delinear a identidade do cristão, ou, como se essas
práticas fossem as "mais importantes" no Reino de Deus.
Somos levados a crer que somos o que fazemos ou o que temos.
Por que é assim?
Antes de responder à pergunta, podemos afirmar que nem sempre
isso ocorreu, no princípio, o projeto de Deus era perfeito e toda criação tinha
um propósito bem definido. Senão vejamos: "O valor intrínseco do ser
humano. O ser humano é distinto do restante da criação. O Conselho Divino
e Triúno determinou que o ser humano deveria ter a imagem e a semelhança de
Deus. O homem é um ser espiritual, que não é apenas corpo, mas também alma e
espírito. Ele é um ser moral, cuja inteligência, percepção e autodeterminação
excedem em muito os de qualquer outro ser terreno."
Especificamente em relação ao homem, desde o início, a vontade
do Senhor Deus era para que o homem tivesse as mesmas características da
Trindade, semelhantes em corpo, alma e espírito.
"Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança...Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o
criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos,
multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar,
sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra."
Gn.1:26.a,27,28.
Aprendemos nas Escrituras, que não aparecemos ao acaso e sem
propósito. Fomos criados à imagem do Criador para que agíssemos segundo a
identidade daquele que nos criou à sua semelhança, à sua aparência e, com o
propósito de sujeitar a terra, ou seja, governar o restante da criação. Não o de
sermos governados por ela.
Não podemos esquecer que o homem = raça humana faz parte da
criação, e quando constatamos que o principal governo do coração do homem é o
próprio homem, concluímos que estamos vivendo totalmente fora dos propósitos de
Deus.
Não estamos falando de governo como estado de direito, de
organização institucional válida, legítima e necessária para a vida em
sociedade, mas estamos falando de viver a vida em função das aparências,
considerando que: o que o "outro" pensa a nosso respeito é mais importante do
que o que o propósito de Deus para nossa vida. Não podemos olvidar que o homem
vê somente as aparências, mas somente Deus vê o coração. É mais ou menos assim:
Eu faço o que não me agrada, para ganhar um dinheiro que não preciso, para
comprar coisas que não quero, para mostrar para quem não gosto.
"O domínio delegado ao ser humano.
Ao criar o ser
humano, o Soberano do universo elege delegar ao ser humano o domínio sobre a
terra (v.28). O poder e a autoridade do ser humano para o exercício deste
governo têm a sua origem no desejo de Deus de fazer o ser humano à sua própria
imagem e semelhança. A habilidade do ser humano para manter o seu papel como
governador da terra repousará na sua obediência continua ao governo de Deus como
o rei de tudo. O seu poder para reinar apenas na vida irá até onde vai a sua
fidelidade em obedecer à lei de Deus"
Não temos duas vidas: uma para ser vivida no mundo e outra para
ser vivida no espírito. "Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra
e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente."
Gn.2:7. Um monte de pó da terra não é nada senão um "monte", mas, a partir
do momento da aproximação do Criador, que "lhe soprou nas narinas o fôlego de
vida", há uma transformação radical: no pó foi imputada a vida vinda de Deus e o
homem passou a ser "alma vivente". O que antes era nada, sem vida e sem alma,
passou a ser o homem, com alma e vida.
A intenção inicial de Deus era criar um ser semelhante a Ele
para se relacionar e expressar Seu amor. Infelizmente a queda destruiu e
contaminou toda a criação de forma grotesca! Colocado fora da presença de Deus,
o homem, distante e separado pelo pecado, começou a procurar a sua identidade em
outro homem e não em seu Criador.
A boa notícia é que Ele enviou o Seu filho para que pudéssemos
olhar e nos espelhar Nele! Quando o evangelho entra na vida de uma pessoa a
Palavra diz que somos iluminados. "Ele nos libertou do império das trevas e
nos transportou para o reino do filho do seu amor, no qual temos a redenção, a
remissão dos pecados. Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a
criação. Cl 1:13-15. Deus esta nos dizendo : Olha vou tirar você de onde não
há nada para ver e trazer você para a luz, que é o meu Filho e mostrar a você
por meio Dele quem Eu Sou! Caminhem na vida olhando para Ele, como nos aconselha
Paulo. "Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa
faço: esquecendo das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante
de mim estão, prossigo para o alvo, para o premio da soberana vocação de Deus em
Cristo Jesus. Todos, pois, que somos perfeitos, tenhamos este sentimento; e, se,
porventura, pensais doutro modo, também isto Deus vos esclarecerá. Todavia,
andemos de acordo com o que já alcançamos. "Fp 3:13-16
A sua identidade e a da sua família será construída em Cristo
se andarmos em comunhão com Ele. Jesus nos diz em Jo 15:5 "Eu sou a videira,
vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque
sem mim nada podeis fazer." Não precisaremos nos preocupar com o que estamos
fazendo mas somente em permanecer em Cristo.
Criar uma identidade familiar cristã exige de nós uma escolha.
Escolher amar a Deus acima de todas as coisas, interesses e pessoas! Parece
óbvio para os cristãos confessar este amor, mas na vida diária fica claro que
seus valores e interesses estão voltados para os interesses terrenos e não os
celestiais. Ouvem a Palavra, mas não as põem em pratica como diz em Ezequiel
33-30-32. "Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do teu povo falam de ti
junto aos muros e nas portas das casas; fala um com o outro, cada um a seu
irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual é a palavra que procede do Senhor.
Eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se assentam diante de ti como meu
povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois, com a boca,
professam muito amor, mas o coração só ambiciona lucro. Eis que tu és para eles
como quem canta canções de amor, que tem voz suave e tange bem; porque ouvem as
tuas palavras, mas nãos as põem por obra."
Deus separou um povo para lhes ensinar e para que este povo
refletisse o caráter Dele sendo um testemunho aos outros povos. "Eis que vos
tenho ensinado estatutos e juízos, como me mandou o Senhor, meu Deus, para que
assim façais no meio da terra que passais a possuir. Guardai-os, pois, e
cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os
olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este
grande povo é gente sábia e inteligente." Dt 4: 5 e 6
O que nos identificará como filhos de Deus, no céu, é o sangue
Cristo, e o que nos identificará na terra é o amor. "Nisto conhecerão todos
que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros." Jo 13:35
Nos Salmos 78: 3 e 4 diz: "O que ouvimos e aprendemos, o que
nos contaram nossos pais, não o encobriremos a seus filhos; contaremos à
vindoura geração os louvores do Senhor, e o seu poder, e as maravilhas que
fez." A família que tem formado sua identidade em Cristo fala das coisas
celestiais, almeja conhecer os interesses do Pai celestial.
A partir da vida de Cristo em nós, sabemos que há primeiramente
a mudança de paternidade, e, começamos a agir em obediência à vontade de nosso
Pai celestial. Não querendo fazer-nos ser aceitos pelas nossas aparências
ditadas pelo mundo, que é o reino de satanás, mas, como já fomos aceitos em
Cristo Jesus, queremos ser aceitos e conhecidos pelo desejo em fazer a vontade
de Deus. E a vontade de Deus, dita pelo Filho é: "O meu mandamento é este:
que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei...Isto vos mando: que vos
ameis uns aos outros." João 15:12 e 17.
Meus amados! Se nos amarmos uns aos outros, a começar pela
nossa casa, estaremos vivendo como verdadeiros cristãos, e colhendo os frutos
desse relacionamento. Se alguém perguntar: Qual é a identidade sua e de sua
família? A resposta não deverá ser o padrão do mundo. O nome pomposo, o endereço
valorizado, a profissão respeitada, a posição na sociedade, mas, UM AMADO DE
DEUS, REMIDO PELO SANGUE DO CORDEIRO. Aleleuia! Amém.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
QUAL É A IDENTIDADE DE SUA FAMÍLIA?
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
A GRAÇA QUE NOS FAZ TRABALHAR E O TRABALHAR DA GRAÇA EM NÓS
“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para
comigo não foi em vão; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu,
mas a graça de Deus comigo”. 1 Coríntios 15:10.
Os dias passam, os tempos mudam, e o que podemos perceber
quando dedicamos um pouco mais de nossa atenção à palavra de Deus, é o fato de
que, após cerca de 4000 anos de historia, tendo como base a saída do povo hebreu
do Egito, a maneira como o usurpador do trono do mundo age em relação àqueles a
quem Deus quer libertar, permanece a mesma.
Se olharmos para o texto do Êxodo capítulo 5 onde esta passagem
bíblica é relatada, descobriremos que diante da Palavra de Deus trazida por
Moisés a faraó - palavra esta que consistia de uma ordenança para que faraó
promulgasse a libertação do povo hebreu do domínio egípcio - poderemos perceber
que a resposta de faraó é sintomática. Para entendermos melhor o que estamos
querendo dizer, precisamos fazer algumas associações. No contexto bíblico, o
Egito representa o sistema escravizador do mundo. Faraó, por sua vez, tipifica
Satanás, aquele que exerce sua tirania sobre o mundo, escravizando as pessoas. E
Moisés é um tipo de Cristo, o Libertador.
Quando Moisés fala as palavras de Deus a faraó: "Depois,
foram Moisés e Arão e disseram a Faraó: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel:
Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto." Êxodo 5:1,
surge então, a resposta do que falamos no parágrafo anterior, como sendo um
sintoma daquilo que se repete ao longo da história. Faraó responde o seguinte:
"Agrave- se o serviço sobre esses homens, para que nele se apliquem e não
deem ouvidos a palavras mentirosas." Êxodo 5:9.
Não sei se você que me lê, consegue perceber o que estou
querendo dizer. Hoje em dia a situação não mudou. Quando analisamos os alicerces
que sustentam o mundo (Egito), e a maneira que o inimigo de nossas almas
(satanás), continua agindo, ainda hoje, para impedir que a palavra de libertação
e de alegria trazida pelo nosso libertador (Cristo), da parte de Deus, nos
alcance, vemos que o seu modo de agir continua o mesmo:"...Agrave- se o
serviço sobre esses homens...".
Sabemos que o arsenal do inimigo da vida é variado, não
queremos ser ingênuos e suscitar a ideia de que seja o único. Contudo, não
podemos negar que uma de suas armas mais eficientes, continua sendo o ativismo e
a sobrecarga de trabalho. Vivemos num mundo agitado, competitivo, inóspito,
violento e exaustivo. As pessoas, devido às suas intensas atividades
profissionais ou não, vivem cansadas, estressadas e nervosas. A palavra de Deus
já havia nos advertido sobre isto. "Sabe, porém, isto: nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis". 2 Timóteo 3:1.
A primeira questão sobre a qual queremos refletir neste texto é
o fato de que a escravidão no mundo é a sua atmosfera. Faz parte de sua
constituição, está na forma do mundo ser mundo. Por esta razão, o trabalho é
sempre um valor no mundo, para que os escravos se sintam valorizados, ainda que
em meio aos grilhões. Quando entendemos isto, começa a fazer sentido a fala do
povo liberto a caminho da terra prometida, exaltando a terra da escravidão e
suas benesses em detrimento da liberdade, da promessa divina e do sustento dado
por Deus. “Falou o povo contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes
subir do Egito para morrermos no deserto? pois não há pão e não há água; e a
nossa alma tem fastio deste miserável pão”. Números 21:5.
Podemos admitir que as pessoas que vivem no mundo estão
sujeitas às regras do jogo, e por isso conseguem encontrar sentido lógico para o
mundo tal como ele é. Porem, quando somos libertos, transportados do império das
trevas para o Reino de Cristo, nossa maneira de ver todas as coisas e
valorizá-las, deve também sofrer transformações condizentes com a mudança de
reino. O que não é cabível é quando os filhos de Deus vivem no reino de seu Pai
como se vivessem no Egito, como escravos.
Mas, como pode ser isto? Isto só é possível à medida que nos
deixamos envolver pela rapidez, pelo barulho e a forma de ser do mundo, e
começamos a ter prejuízo no que diz respeito à comunhão com a palavra de Deus.
Quando isto acontece, passamos a viver pela lógica e sabedoria humanas, e não
pela fé no que Deus diz em sua palavra. “Respondeu Jesus: Não provém o vosso
erro de não saberdes as Escrituras, nem o poder de Deus”? Marcos 12:24.
O que podemos constatar, e isto dentro das Igrejas; são pessoas
sofrendo, ou que sofrerão a médio e longo prazo, por não dar ouvidos à palavra
de Deus. Vemos muitas pessoas vivendo no ambiente das igrejas, contudo, não
vivendo na dimensão do Reino de Deus. Por esta razão, continuam norteando suas
vidas com valores até bons do ponto de vista moral, mas ainda assim, valores
mundanos, que no fundo servem para exaltar o homem que faz do seu braço a sua
força, enquanto a palavra de Deus diz: “É inútil que madrugueis, que tarde
repouseis, que comais o pão de dores: aos seus amados ele o dá enquanto
dormem”. Salmos 127:2.
Mas, alguns logo poderão dizer: “Mas nós vivemos no mundo!”
Sim, é verdade que vivemos na ambiência do mundo. Mas, se somos filhos de Deus,
isto significa que não pertencemos ao mundo. Além do mais, precisamos entender
que viver na dimensão do reino de Deus, não está ligado a geografias ou a
mudanças externas e geográficas, como Jesus nos ensinou. “Dei-lhes a tua
palavra, mas o mundo os odeia, porque eles não são do mundo, como também eu não
sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas sim que os livres do mal”.
João 17:14-15.
Viver na dimensão do reino de Deus, antes, está relacionado a
uma mudança de coração, pela instrumentalidade da cruz, onde Deus arranca o
coração de pedra e coloca no lugar um coração de carne. Onde a única explicação
possível, não explica nada para os que não nasceram de novo e, portanto, não
podem ver o Reino de Deus. É uma explicação do tipo: “Eu era cego e agora vejo”.
“Dar-lhes-ei um só coração, e porei dentro deles um novo espírito; tirarei da
sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne”: Ezequiel
11:19.
Viver no reino de Deus significa ser livre do mal, para que uma
mentalidade má, que desconfia do caráter de Deus possa ser renovada por Sua
palavra. “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus”. Romanos 12:2. E Assim, possamos entender que, mesmo
vivendo no mundo, somos chamados a manifestar o sabor do Reino, não da pimenta,
mas do sal, que produz sede por Deus, para brilharmos como luzeiros no mundo.
Luz esta que, ao mesmo tempo em que expõe a maldade do mundo, também é um
testemunho da graça, da misericórdia e do amor de Deus, manifestado em Cristo
crucificado.
Antes que alguém pense que a intenção deste texto é fazer uma
apologia à preguiça, gostaria de contrariá-los, e desde já anunciar que o
objetivo é justamente o oposto. A intenção aqui é na verdade enfatizarmos a
importância do trabalho no projeto de Deus, e a disposição do filho de Deus em
se envolver com o trabalho de Deus e com aquilo que o Pai está fazendo, como bem
disse Jesus: "Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho
também". João 5:17.
Porém, o que vemos muitas vezes são pessoas fazendo do trabalho
um meio de se achegar a Deus. Só que neste caso, deus é Mamon, que exige
sacrifício e fidelidade. Sacrificamos nossa saúde, nossa família, nossos
relacionamentos, os irmãos, nossa comunhão com Deus, nosso serviço no corpo,
nosso humor. Tudo isto sem atentarmos para a armadilha em que estamos nos
metendo. O trabalho quando feito em Deus é uma dádiva, e a palavra de Deus nos
ensina que se alguém quer ficar sem trabalhar, que lhe seja suprimido toda a sua
alimentação. “Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: se
alguém não quiser trabalhar, também não coma”. 2 Tessalonicenses 3:10.
A questão aqui, não é trabalhar ou não trabalhar. A questão
aqui é de confiança e de glória. Até que ponto a minha confiança está no meu
trabalho, e até que ponto minha confiança está em Deus? É saber se meu trabalho
é motivado por minha glória pessoal ou é motivado pela glória de Deus, como
vocação de Deus em minha vida. São estas as questões que gostaríamos de
refletir, além de propor uma mudança de mentalidade em relação ao trabalho,
concedendo ao trabalho status de dádiva, e não de sustento, base,
alicerce ou fundamento.
A questão aqui é se trabalhamos com a alma descansada, até
porque Jesus não prometeu descanso para o corpo, e sim para a alma “Venham a
mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.
Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de
coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas”. Mateus 11:28-29;
sem, contudo, negligenciarmos o fato de que o corpo também precisa de descanso,
razão pela qual Deus estipula um dia de descanso para o homem.
Por esta razão, iniciamos nosso texto com as palavras de Paulo:
“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi em
vão; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a Graça de
Deus comigo”. 1 Coríntios 15:10. Que percepção fantástica do trabalho, que
encontra na graça o contentamento de ser quem é, ficando livre assim da tentação
de querer ser alguém por meio daquilo que faz.
Que maravilhosa visão do Reino, que enxerga na Graça, que já
fez tudo e nos deu tudo em Cristo, a Graça encarnada, a grande motivação para
fazer o que Deus quer que façamos. Não invalidando a Graça e nem a distorcendo
como desculpa para a preguiça, antes, vendo na Graça a grande motivação para o
trabalho, e não somente a motivação, mas também como a realizadora do
trabalho.
Que possamos viver a cada dia, mesmo em um mundo agitado,
descansados em nosso Pai, fazendo parte do que Ele está fazendo, servindo os
irmãos com alegria e contentamento, como quem serve o próprio Deus, sabendo
sempre que: “Ele fortalece ao cansado e dá grande vigor ao que está sem
forças. Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem;
mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam bem alto como
águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam”. Isaías
40:29-31. Louvado seja o Pai pelo privilégio de trabalharmos, enquanto
descansamos Nele.
Soli Deo Glória.
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
QUIETUDE
Quietude
Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa; dele vem a
minha salvação.Salmo 62:1.
O homem moderno, muito mais do que em outras épocas, não é dono
de sua própria vida. Vive correndo contra o relógio e arrastado pela avalanche
do con- sumismo compulsivo. Os marketeiros sabem muito bem usar o arsenal
tecnológico de comunicação disponibilizado pela ciência, para tentar preencher o
nosso vazio existencial com coisas.
Além disso, esses sedutores brinquedinhos tecnológicos permitem
que estejamos “conectados”, ou seja, desfrutando de uma falsa sensação de “estar
juntos” em silêncio. É uma espécie de presença à distância, minimizando a
solidão coletiva e a nossa barulheira interior. Chamam isso de Rede Social, à
qual você pode pertencer enquanto lhe for conveniente, porquanto, para desfazer
o vínculo basta apenas um Clic.
Mas, a nossa relação com Deus se dá numa dimensão muito mais
significativa. O propósito de Deus em nos criar foi para que pudéssemos ter
Comunhão Pessoal com Ele. Acontece que, logo após a nossa queda, nos tornamos
inadequados para este propósito. Porém, a presença de Jesus neste mundo tem o
propósito de nos fazer adequados, isto é, andar com Deus, na quietude do coração
porque: nada neste mundo pode satisfazer o coração do homem a não ser Deus.
Portanto, precisamos buscar diligentemente a quietude se
quisermos ter uma vida significativa enquanto peregrinos aqui na terra. Sêneca,
velho filósofo e dramaturgo, há muitos séculos dizia que, quando saía com os
intelectuais ou se fazia acompanhar dos dramaturgos, voltava para casa exausto e
terrivelmente rouco.
Às vezes temos a mesma experiência quando estamos com as
pessoas; falamos... falamos... e falamos, somos compulsivos no falar. Qual o
remédio contra a tagarelice? Com certeza precisamos do toque da graça de Deus.
Bonhoeffer escreve: “O silêncio real, a quietude real e segurar de fato a língua
são coisas que surgem apenas como conseqüência sóbria da quietude
espiritual.”
Relata-se que Domingo de Guzmán visitou Francisco de Assis e
que, no transcorrer do encontro, nenhum dos dois falou uma palavra sequer.
Somente depois de aprender a ficar verdadeiramente quietos é que seremos capazes
de falar ao mundo.
Catherine de Haeck Doherty escreve: “Tudo em mim está
silencioso ... estou imersa no silêncio de Deus.” É na quietude que
experimentamos o “silêncio de Deus”, e no silêncio de Deus ouviremos a Sua voz.
Quietude em que, o espírito está pronto para ouvir Deus e estabelecer comunhão
com Ele.
Se quisermos ter uma vida significativa nos relacionamentos
precisamos da quietude do “quarto”: Tu, porém, quando orares, entra no
teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai,
que vê em secreto, te recompensará. Mateus 6:6.
É muito importante que tenhamos a consciência da presença do
Pai - que Ele nos vê e nos ouve. E que, quando abrirmos a porta e “sairmos” do
“quarto”, na alegria daquela presença - alegria esta que ninguém pode tirá-la -
outros possam ser contagiados por essa alegria: Tenho-vos dito isto, para que
o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo. João 15:11.
É na quietude e no silêncio do coração que os significados
ocultos das Escrituras se revelarão. É na quietude do coração que aprendemos a
ouvir Deus, e a Sua fala é sempre nos convidando para descansar: Vinde a mim,
todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mateus
11:28.
Aquietar e permanecer em silêncio diante de Deus é ter a
capacidade de “ver” e ouvir. Há,sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, por
esta razão, precisamos nos aquietar em Sua presença para discernirmos de onde
vem aquela voz.
Mas, você pode se perguntar: por que necessito tanto ouvir
Deus? A resposta pode ser simplória, mas a necessidade de se ouvir Deus, é
porque precisamos conhecê-Lo como um filho que precisa conhecer seu pai. Esse
conhecimento só acontece por meio de um relacionamento no qual um fala e o outro
escuta. Para ouvir é necessário estar calado, quieto, em silêncio.
Muitas são as razões porque não gostamos da quietude ou do
silêncio. Uma delas é que o silêncio nos faz sentir desamparados e podemos até
mesmo pensar que é perda de tempo. Outra razão é que, quando falamos, nos
sentimos no controle da situação. Porque, se ficarmos em silêncio, quem assumirá
o controle? Muitas vezes usamos a nossa fala como meio de manipulação. Ao
contrário daquele que se mantém em silêncio, o falador sugere que está
confiante.
O silêncio pode ser sinônimo do que João da Cruz chamou de
“noite escura da alma”. Segundo ele, a noite escura tem como propósito nos levar
às delícias de amor com o Amado. Ele chama isso de graça, e acrescenta: “Oh
noite que me guiaste, oh! Noite mais amável que a alvorada; oh! Noite que
juntaste Amado com amada, Amada já no Amado transformada!”
Aqui vemos a nossa união com Deus em Cristo. Deus nos atraiu
para Si e quer nos conduzir para a “sala do banquete”. Fomos unidos em Cristo e
levados para a Sua intimidade: Leva-me tu, correremos após ti. O rei me
introduziu nas suas recâmaras. Em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu
amor nos lembraremos, mais do que do vinho; os retos te amam. Cantares
1:4
O que vem após a experiência de morte? Vem o convite. O Senhor
Jesus como Rei nos convida para a Sua intimidade - “O rei me introduziu nas suas
recâmaras”. É aqui que em silêncio desfrutaremos de Sua presença. É neste lugar
que em silêncio contemplaremos o Rei da glória.
Estamos falando daquilo que Tomás Kempis chama de uma “amizade
familiar com Jesus”. Nosso amigo que é visto pelos olhos da fé. O Amigo de fato
de nossas almas. Que privilégio sermos chamados Seus amigos! Já vos não
chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos
chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.
João 15:15
A amizade com Deus é a amizade de um filho com o pai. Assim
como um filho passa a ter diariamente um relacionamento mais íntimo com o pai,
podemos estreitar nosso amor por Deus, ampliando Seus interesses, tendo Seus
pensamentos e compartilhando de Suas iniciativas. Uma grande amizade requer
crescimento, amigos devem andar juntos.
Tenho-vos chamado amigos. Quão profundamente essas
palavras expõem o segredo da vida de Cristo na terra, e de Sua vida, agora, em
nós. Estar a sós com Ele é uma das maiores bênçãos da vida, pois Ele vive em nós
pelo Espírito Santo e nos revela e partilha conosco o significado da Palavra
“sozinho com Ele”.
Sozinho com Ele na quietude, ouvindo a Sua voz. Que maravilhoso
e inacreditável privilégio poder ouvir a Sua voz, e também nos expor por
completo a Ele! Ouço a voz do meu Amado; ei-lo galgando os montes, pulando
sobre os outeiros. Cantares 2:8. Voz que vem acompanhada de boas novas.
Temos a maior das bem-aventuranças quando na quietude ouvimos a
voz de Deus. Não somente uma voz, mas uma voz reveladora. É a voz da
“ressurreição” quando tudo era “morte”. É a voz do “não temas” quando não havia
nenhuma saída, quando tudo era pavor, dizendo: “nunca te deixarei e nunca te
desampararei”.
Na psicanálise foi Freud quem revelou o imenso poder do
silêncio. Há um momento em que a pessoa sente o terrível peso do silencio.
Anseia que o médico lhe diga alguma coisa. Para Paul Tournier ( 1898-1986),
médico e conselheiro cristão, questionado sobre como ajudar a outros em suas
dificuldades, ele disse:“Não tenho condições de saber qual a vontade de Deus
para outra pessoa. Mesmo na psicanálise, os médicos preferem que seus pacientes
façam suas descobertas. Se ele começa a dar sugestões, quase sempre os pacientes
acabam errando o caminho.”
Escreve Thomas à Kempis, “A pessoa que deseja viver uma vida
significativa precisa deixar a “multidão” e passar mais tempo com Jesus. Porque
em tempo de quietude tiramos o “mundo” dos ombros e suspendemos a necessidade de
dominar e controlar todos e tudo.” Alguém disse para Richard Foster, com grande
alivio: “De agora em diante, demito-me de ser o executivo do universo.”
Quando lemos os Evangelhos, com freqüência vemos Jesus se
retirando da multidão para um lugar ermo para ficar a sós com Seu Pai. E,
despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a
tarde, lá estava Ele, só. Mateus 14:23. Antes mesmo de escolher os 12
discípulos, o nosso Senhor orou: Naqueles dias retirou-se para o monte a fim
de orar, e passou a noite orando a Deus. Lucas 6:12.
Estar a sós com Deus na quietude do coração não é uma opção, é
uma necessidade do cristão. Se tivermos a consciência de que nada podemos e que,
em nós, não há força, descobriremos que o caminho da quietude é o lugar mais
adequado.
Certa vez o irmão Lawrence foi interrogado por um dos homens
que fazia parte de sua comunidade, sobre seus métodos para chegar à intimidade
com Deus. Ele respondeu: “Desde a minha chegada ao mosteiro considerei Deus como
o objetivo de todos os meus pensamentos e desejos... Procurei sempre ter uma
consciência da presença de Deus... (...)... Quando começava meu trabalho, sempre
dizia a Deus, com a confiança de um filho: “Oh, meu Deus, desde que está comigo
e que devo agora, em obediência a Tua palavra, dedicar a Ti o que estou
fazendo... (...)... Peço-Te que me concedas a graça para continuar em Tua
presença. Para isso, faze-me próspero por meio de Tua assistência.”
Estar a sós com Jesus é também desejar ser parecido com Ele.
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de Seu Filho Jesus Cristo
nosso Senhor. I Coríntios 1:9.
Ser chamado para andar com Jesus não é um privilégio de alguns,
esse chamado é para todos os filhos de Deus. O homem foi criado simplesmente
para viver para Deus e, nessa caminhada, permitir que Cristo seja revelado em
todo o seu viver.
Deus Pai anela comunicar ao homem a grandeza do Seu amor,
comunicar-lhe Sua bondade e Sua graça. Não podemos pensar na salvação como um
escape do inferno e nem tão pouco pela beleza do céu. Precisamos da revelação da
parte de Deus de que, o nosso chamado vai além de nos livrar do inferno e nos
levar para o céu. O supremo chamado de Deus é para que o conheçamos na revelação
de Seu Filho.
O projeto de Deus em nós restaurar ao estado que nos
encontrávamos é para andarmos com Ele. Que Deus pela Sua infinita graça nos
cative para isto. Amém.
Soli Deo Glória.
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domingo, 6 de janeiro de 2013
O QUE DEUS É E O QUE NÓS SOMOS
No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor
assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o
templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria
o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os
outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está
cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a
casa se encheu de fumaça. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou
homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus
olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Então, um dos serafins voou para mim,
trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa
tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniqüidade
foi tirada, e perdoado, o teu pecado. Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que
dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me
a mim. Isaías 6:1-8.
A salvação do homem envolve três aspectos. O
primeiro é a revelação do que Deus é: santo,
santo, santo. O segundo aspecto é revelado no que nós
somos: impuros. E o terceiro é o que Deus fez
por nós: purificou. A realidade do que nós somos é
satisfeita pela realidade do que Deus é. A crise do profeta
começou por uma perda externa, a morte do rei Uzias, desencadeando uma crise interna: ai de mim. Isto trouxe à sua consciência o seu estado pecaminoso, porque sou
homem de lábios impuros. A provisão de Deus é
perfeita, a tua iniqüidade é perdoada. O homem
é levado ao fim de si mesmo, para que Deus inicie seu trabalho. Depois
disto, ouvi a voz do Senhor. Logo que o homem chega
ao conhecimento do seu verdadeiro estado, não pode encontrar descanso fora de
Deus. É impossível alguém ser salvo sem a revelação dada por Deus, por meio da
sua Palavra, do seu estado de miserabilidade. Irei e
voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha
face; estando eles angustiados, cedo me buscarão, dizendo: Vinde, e tornemos
para o Senhor, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará.
Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos
diante dele. Oséias 5:15 e 6:1-2. E neste ponto,
estamos muito distante de Deus, queremos enfiar os princípios maravilhosos da
Palavra de Deus "goela abaixo" nas pessoas, forçando-as a cumpri-los, para que
tenham uma vida santa. Como resultado, ‘domesticamos’ víboras. Como foi dito
pelo nosso Senhor Jesus Cristo: Serpentes, raça de
víboras! Como escapareis da condenação do inferno? Mateus
23:33. Ou, no mínimo, fazemos proselitismo, que é a
transferência da pessoa de uma igreja para outra, sem uma experiência de novo
nascimento. Ai de vós, escribas e fariseus,
hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez
feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós! Mateus
23:15.
O apóstolo Paulo fala de sua angústia ao tentar
ajustar os princípios da Palavra de Deus à sua vida. O legalismo põe o homem,
com o fardo dos seus pecados, a serviço de Deus, guardando a lei; por isso, a
alma é mantida em constante tortura, e longe de encontrar o descanso de Deus.
Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o
que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a
lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita
em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum,
pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem
que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não
quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao
querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Romanos 7:15–21.
O que constitui a legalidade é o ato da velha
natureza tomar os preceitos de Deus e procurar praticá-los. O legalista ensina
que devemos renunciar ao mundo a fim de ganharmos o céu. A grande verdade é
esta: o velho homem não tem prazer pelo céu. Alguém disse: Se fosse possível ao homem natural encontrar-se no céu, sentir-se-ia
miserável.
A revelação do que
somos é satisfeita pela revelação do que Deus é. Desventurado homem que
sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso
Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de
Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado. Romanos 7:24-25.
Sua linguagem é a de um homem ofegante e
desesperado, não cogita sobre quem o livrará, como se alimentasse alguma dúvida,
mas a resposta é triunfante, graças a Deus. A libertação do homem repousa na
graça de Deus e na convicção de que o sacrifício do nosso Senhor Jesus Cristo
basta, e que nada neste mundo pode abalar este fato. Cristo, na cruz, mostra o
fim de tudo que é humano. Na ressurreição, nos conduz para além desse fim e
constitui a base eterna na qual a glória de Deus e a bênção do homem repousam
para sempre. No momento em que o olhar da fé repousa num Cristo ressuscitado, há
uma resposta triunfal a todas as interrogações quanto ao pecado, o juízo, a
morte e a ressurreição. Aquele que enfrentou tudo isto está vivo de entre os
mortos, e tomou o seu lugar nos céus, à destra da Majestade. Ele, que é o
resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas
pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados,
assentou-se à direita da Majestade, nas alturas. Hebreus 1:3.
Jesus fala de dois
homens, um fariseu e o outro publicano; o fariseu procurou ser justificado pelos
seus próprios méritos. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo,
desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens,
roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas
vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Lucas
18:11-12. O fariseu permanecia em pé sozinho, porque
não era o tipo de homem de se misturar com a multidão. Sua oração mostra que se
apoiava em sua moralidade para ser aceito por Deus, por isso, ignorou a justiça
divina e tentou estabelecer a sua própria justiça, louvando a si mesmo. A sua
religião foi a causa da sua própria ruína. Não somos tão diferentes, todos nós
tentamos ser aceitos por Deus, confiando nos nossos próprios valores. O que era
um publicano? Um judeu renegado, que trabalhava como cobrador de impostos
romanos; envergonhava-se de levantar a sua face a Deus, tinha um sentimento de
profunda contrição.O publicano nada tinha para oferecer a não ser seu pecado.
O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem
ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício
a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não
aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será
exaltado. Lucas 18: 13-14. E os resultados foram
diferentes. Disse Jesus: Este desceu justificado para
a sua casa, e não aquele. Os dois homens desceram
para casa com um tipo diferente de justificação. O fariseu retornou envolto nas
mesmas vestes da auto-justificação. Ao justificar-se, ele não foi aceito, nem
aprovado. O publicano, por sua vez, voltou para casa divinamente justificado,
portanto, voltou para casa com alegria.
Deus, em Cristo, desceu ao grau mais baixo da condição humana, para que, inclinando-se, pudesse elevar o homem ao grau mais elevado, para a intimidade com o próprio Deus. Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. Oséias 11:4. O pecado foi julgado e os nossos pecados foram tirados. Foram completamente apagados pelo precioso sangue de Cristo. Crer nisto é entrar no perfeito descanso da alma. D. M. Lloyd-Jones disse: O cúmulo do pecado é a pessoa não sentir necessidade da graça de Deus. Não existe pecado maior do que esse. Infinitamente pior do que cometer algum pecado da carne é você achar que é independente de Deus, ou achar que Cristo jamais precisou morrer na cruz do Calvário. Não há maior pecado do que esse. A auto-suficiência final, a auto-satisfação, é o pecado dos pecados: é o cúmulo do pecado, porque é pecado espiritual. Deus nos deu tudo que podia nos dar. Deu-nos a sua própria porção. Chamou-nos para sentarmos consigo à mesa, em sua companhia. Comamos e alegremo-nos. Com uma consciência pura e sem nenhum sentimento de culpa. Que mais poderia o amor de Deus fazer por nós? E, para quem fez tudo isto? Para aqueles que estavam mortos em delitos e pecados. Para os estranhos, inimigos rebeldes, culpados. Para aqueles que estavam longe dele, sem esperança e sem Deus no mundo. Para aqueles que não mereciam nada mais que as chamas do inferno. Não podemos fazer nada mais do que expressar a nossa gratidão a Deus por tudo o que fez por nós. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo. Efésios 1:3. Amém.
Soli Deo Glória.
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sábado, 5 de janeiro de 2013
O PODER FASCINANTE DO PODER
Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido?
E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido? 1 Coríntios 4:7. |
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O ser humano encontra-se contaminado pelo vírus da grandeza.
Ninguém está imune a esse agente contagioso e são poucos aqueles que conseguem
soro satisfatório para neutralizar seus efeitos letais. A necessidade de
prestígio tem financiado as táticas ardilosas de distinção para levar muita
gente encurtada ao auge da fama. Ninguém gosta do ostracismo nem do lugar comum.
A burguesia é vulgar demais para o estilo elevado da alta nobreza. Todos nós
sofremos com os micróbios invisíveis deste macro dimensionamento, pois há uma
tendência inata na raça humana pelo pódio. O pecado da espécie adâmica é
assinalado por um desejo teomaníaco de consideração. No fundo do desempenho
reside uma vontade de ser reconhecido. Mesmo a atuação mais ingênua corre o
risco da arrogância. A humildade pode ser uma máscara para ocultar os
sentimentos disfarçados da importância humana. Todos os dias eu enfrento algum
anseio de elevação ou alguma carência de reconhecimento. O pecado me deixou
obcecado pelo quesito da estima. Esse é um dos quocientes que mede o meu valor
perante a opinião pública. Todos nós somos pessoas carentes, por isso, os
elogios se prestam para negociar com a nossa estima no mercado da apreciação.
Quando alguém fala bem de mim, percebo que estou em perigo. Sou muito vulnerável
a esse jogo do poder que me faz reconhecido diante da platéia. A minha
valorização no conceito dos outros é uma tática que me mantém escravo de um bom
julgamento.
O apóstolo Paulo indaga: Pois quem é que te faz
sobressair? Se você e eu somos pessoas únicas, essa singularidade é uma
dádiva de Deus. Todos nós somos o resultado da seleção divina, e ninguém
consegue ir além do que lhe foi concedido. Veja como João Batista vê esse ponto.
Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe
for dada. João 3:27.
Ora, se alguém consegue se destacar nas atividades do Reino de
Deus, deve esse realce à graça. Tudo o que somos como filhos de Deus é
conseqüência direta dessa graça imerecida. A pergunta do apóstolo é: o que
você tem que não tenha ganhado? E o Rei Davi responde: Riquezas e
glória vêm de ti, tu dominas sobre tudo, na tua mão há força e poder; contigo
está o engrandecer e a tudo dar força. 1 Crônicas 29:12.
Deus é a causa primária de todas as coisas, mas Ele não é a
origem do pecado. A vontade é um atributo natural do ser humano, entretanto o
desejo de ser como Deus é uma aberração desse atributo. Deus fez Adão e Eva como
seres humanos à sua semelhança, sendo assim, não havia probabilidade do gênero
humano ser Deus. Esse desejo de ser como Deus é a fonte da rebeldia pecaminosa.
A contaminação do pecado desandou com a raça adâmica. Somos uma espécie rebelada
e viciada pelo poder. O deslumbramento por grandeza, distinção e poder é uma
cachaça na existência de cada componente da humanidade. Observe o exemplo do rei
de Tiro: Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o SENHOR
Deus: Visto que se eleva o teu coração, e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de
Deus me assento no coração dos mares, e não passas de homem e não és Deus, ainda
que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus. Ezequiel
28:2.
Você logo rebarba: isto é exceção. Não, isto é a regra. O ser
humano é um caçador permanente de poder. Sempre que alguém tiver a chance de
governar, vai usar da posse para se projetar. Mesmo um síndico de barracos sofre
com a pressão do poder. Nós não gostamos da invisibilidade. Ser uma pessoa
insignificante é complicado para a valorização da personagem. Viver no camarote
escondido da platéia é algo muito difícil para quem busca os aplausos. Todos nós
gostamos dos holofotes e ninguém vive sem algum espectador. Ser um Zé ninguém,
um zero à esquerda ou uma sombra no escuro é qualquer coisa insuportável para
uma espécie interesseira. Nós gostamos de nos exibir. A religião é um terreno
fértil para essa casta que gosta de ostentar suas qualidades. O fariseu,
posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou
porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem
ainda como este publicano; Lucas 18:11.
Aqui está outra prova desta atitude enfatuada de
excepcionalidade. Não é coisa natural o afastamento voluntário do palco. Temos
muita necessidade de nos apresentar no show da vida e é extremamente
complexo tolerar a discrição. Viver no anonimato é uma arte que só as pessoas
que trazem os estigmas da cruz poderão suportar. Nesse mundo das apreciações é
assaz importante você se sentir importante quando alguém se importa com a sua
importância. Mas aí se encontra o perigo. Herodes foi alvejado quando o
povo clamava: É voz de um deus, e não de homem! Atos 12:22.
Naquele instante os bichos tomaram conta da sua carcaça. Um
homem mortal que tenta se passar por Deus não tem alternativa, senão se tornar
gororoba de gusano. O pecado incha o ego a tal ponto que não há estrutura capaz
de conter uma soberba como essa. O egoísmo é a obesidade dos desejos
presunçosos. O problema é que o poder egoísta, muitas vezes, vem disfarçado de
simplicidade. A grande ameaça do poder não é sua badalação, mas a sua sutileza.
Por trás de muitos gestos aparentemente inocentes reside uma grande necessidade
de vanglória. É aqui que nós precisamos investigar com mais cuidado esse
assunto. Paulo indaga: E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o
não tiveras recebido?
Qual é a finalidade dos relatórios que damos aos outros?
Informar as atividades que foram realizadas seria muito bom se a exposição
ficasse apenas nesse terreno dos dados. A dificuldade aparece quando vemos a
imagem do realizador sendo glorificada junto com as suas realizações. Agora é
que o enigma precisa ser esclarecido. Por que eu estou trazendo esta notificação
a público? Qual é a verdadeira razão do meu relato?
Muita coisa que nós realizamos na igreja tem como fim a nossa
promoção pessoal. Jesus chamou a atenção para as ofertas que eram dadas com o
propósito do reconhecimento do ofertante. Quando, pois, deres esmola, não
toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas
ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já
receberam a recompensa. Mateus 6:2.
Como é forte a nossa carência de aceitação perante os outros.
Luci Shaw diz que o problema do eu insaciável, a terrível e corrosiva
necessidade de aparecer, de ser conhecida e reconhecida como detentora de dons
naturais exclusivos, tem-me afligido durante quase toda a vida adulta. A
questão não é exclusivamente dela, é minha também. Como eu gosto de ser
benquisto perante os meus espectadores. O poder de uma boa imagem é alguma coisa
muito astuta. Todos nós como cristãos devemos demonstrar o bom conceito da fé,
mas isso não significa que somos figurantes num papel que requer aclamação. Em
última análise a imagem que estamos refletindo é a influência da pessoa de
Cristo. Jesus nunca aceitou ser um sensacionalista nem fez qualquer coisa com o
objetivo de ser famoso. Quando realizava um sinal maravilhoso, normalmente,
pedia às pessoas beneficiadas que não divulgassem o acontecimento. Por exemplo,
na cura de um leproso; Ordenou-lhe Jesus que a ninguém o dissesse, mas
vai, disse, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o sacrifício
que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo. Lucas 5:14.
Jesus trabalhava em silêncio sem qualquer propaganda. Ele não procurava
promover-se por meio de seu ministério, mas cuidava das pessoas com o fim de
torná-las inteiras, sendo tudo feito para a glória do Pai. Henri Nouwen
disse: uma das maiores ironias da história da cristandade é que os
líderes sempre cederam à tentação do poder – poder político, poder militar,
poder econômico ou moral e poder espiritual –, embora continuassem a falar no
nome de Jesus. A obsessão pelo poder na liderança cristã é uma afronta ao
estilo de servo, encarnado por Jesus. Pois o próprio Filho do Homem não
veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.
Marcos 10:45.
Além das sutilezas do poder das realizações e da imagem ainda
temos o lance do poder espiritual. É muito comum a fé ser usada como um
instrumento de dominação. O moderno empowerment da fé, isto é, a
atribuição de poder inerente à fé é um dos grandes contratempos da saúde
emocional da igreja contemporânea. A fé na fé é um deslocamento perigoso que se
tem dado à questão do poder. Sabemos biblicamente que o poder é um atributo de
Deus. Não há poder na fé, assim como não há poder na lâmpada. A energia está no
gerador e a lâmpada revela o poder do motor. O poder espiritual é a ponte de
relacionamento com Deus, onde a fé é conectada à fonte. Muitas vezes nós
queremos mostrar que somos pessoas de grande fé para recebermos o reconhecimento
dos nossos observadores. Com certeza é uma precipitação contarmos os feitos de
Deus realizados através de nossa instrumentalidade, uma vez que as pessoas têm a
tendência de pagar o cachê àqueles que são visíveis. É preciso muita cautela na
divulgação dos sinais da fé, pois podemos embolsar a glória que pertence a Deus.
Ainda no terreno do poder espiritual podemos ganhar pontos pessoais quando
tentamos exibir a humildade como predicado particular. Mas nada é mais falso do
que uma humildade alardeada. Aquele que pretende demonstrar a sua humildade
acaba contaminando-a com a sua própria vaidade. A humildade é aquela qualidade
que você a perde quando percebe que a tem. Toda exteriorização de humildade se
constitui numa falência dessa virtude. A humildade está relacionada com a
dependência do homem para com Deus, por isso só Deus sabe quem é realmente
submisso a ele e dependente dele. Muitos gostam de demonstrar algo que eles
acham que é humildade, a fim de angariar créditos para sua pessoa.
Mas a cruz é o único meio capaz de despejar a intenção de
poder. Eugene Peterson faz uma paráfrase do esvaziamento de Cristo, com
as palavras de Paulo: Façam-me o favor! Concordem entre si, amem-se
mutuamente, sejam amigos sinceros. Não forcem a passagem para ficar na frente.
Não agradem com palavras para ficar por cima. Fiquem de lado para deixar que os
outros passem. Não tenham obsessão de levar vantagem. Esqueçam a si mesmos e
pensem em si da mesma forma que fez Jesus Cristo. Ele ocupava uma posição igual
à de Deus, mas não se tinha em alta conta a ponto de agarrar-se a isso de
qualquer maneira. De modo algum. Quando a hora chegou, ele despojou-se dos
privilégios divinos e assumiu a condição de escravo, tornando-se humano. O
poder é uma coisa fascinante para o ser humano, e nós queremos comprovar o nosso
poder a qualquer custo. Luci Shaw foi ainda mais clara quando afirmou:
podemos falar interminavelmente sobre o poder para o bem em oposição ao poder
para o mal. Mas há muito tempo já se sabe que, seja qual for a motivação, o
poder pessoal pode corromper, e a luta pelo poder em si mesmo quase sempre cria
conflitos que provocam a destruição ou aniquilação de outrem.
Para terminar, vejamos as palavras do salmista em sua
profundidade. Uma vez falou Deus, duas vezes ouvi isto: Que o poder
pertence a Deus, Salmos 62:11. Deus falou apenas uma vez, mas ele ouviu
duas. Precisamos ouvir muito bem. O poder pertence tão-somente a Deus. Alguém
já disse que deve ser todo-poderoso o poder cuja força suficiente é a
fraqueza. É assim que podemos sintetizar Paulo: quando eu sou realmente
fraco então poderei ser totalmente forte, porque dependerei apenas do poder
absoluto de Deus,
Pr. Barbosa Neto.
Soli Deo Glória.
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O FILHO NADA PODE FAZER DE SI MESMO
O Filho Nada Pode Fazer de si mesmo
Jesus tomou a palavra e disse-lhes: Em verdade, em verdade
vos digo: o Filho de si mesmo não pode fazer coisa alguma; ele só faz o que vê
fazer o Pai; e tudo o que o Pai faz, o faz também semelhantemente o Filho.
João 5:19.
Que frase estranha essa! Não foi Cristo quem disse certa vez:
Eu e o Pai somos um? "Eu e o Pai temos a mesma identidade". Mas aqui Ele
afirma algo estranho: o Filho nada pode fazer de si mesmo. Como? Ele não
é igual ao Pai? Como não pode fazer nada de si mesmo? O que significa essa
impotência? O que isso quer dizer? Há algum enigma nas entrelinhas? Vamos
ver.
Cristo é o Messias, o Filho do Pai, a segunda pessoa da
Trindade, embora, Ele tenha se encarnado no Jesus histórico, o carpinteiro de
Nazaré. Cristo Jesus é a versão de Deus encadernada numa pele humana. Cristo é
totalmente Deus e Jesus é homem por inteiro.
Mas, para Jesus viver como um ser humano, de verdade, Cristo
teve que se esvaziar de Sua absoluteidade Divina, sem, contudo, perder a
essência da Divindade. Ele não deixou de ser 100% Deus, todavia não se
manifestava 100% em Sua plenitude Divina.
As Suas duas naturezas: Divina e humana, permaneciam juntas,
unidas numa mesma pessoa, porém Jesus viveu aqui na terra como um ser humano,
100% homem. Jesus foi, de fato, um homem que viveu inteiramente pela fé em Deus
Pai.
Apesar da Sua natureza Divina residir intimamente com a humana,
Jesus de Nazaré jamais dependeu de Sua Divindade pessoal para realizar o seu
ministério terreno. Foi Ele mesmo quem assegurou isso:Em verdade, em verdade
vos digo que o Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir
fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz.
João 5:19.
Parece bem clara essa afirmação. As realizações de Jesus no
mundo da matéria eram cópias do que Ele via Deus Pai realizar no plano
espiritual. Jesus não foi um sujeito solitário e independente que montou um
projeto por conta própria. Ele viveu o tempo todo, aqui, por meio de uma visão
do invisível, que a Escritura denomina de fé.
Durante o seu ministério neste mundo, Jesus dependeu totalmente
da suficiência do Seu Pai. Tudo o que Ele realizou aqui na terra, antes da cruz,
foi tão somente vendo, pela fé, o que o Seu Pai fazia. Ele realizava, na terra,
pela fé, o que via o Seu Pai realizar, no céu.
É por essa razão que a Escritura diz, a seu respeito: Jesus, e
não o Cristo, é o Autor e, ao mesmo tempo, o Consumador da fé. Ou seja, a fé
deve ser vista como a visão de alguém que está na terceira dimensão, vendo algo
invisível em outra dimensão além desta, de modo claro; e, neste caso, Jesus foi
Alguém que a experimentou em sua plena realidade.
Por outro lado, a mesma Escritura também diz que: eu estou
crucificado com Cristo, e não com o Jesus histórico, apesar de ter sido o
homem Jesus, o galileu, aquele que foi crucificado. Por que estas divisões? Por
que tantas minúcias? Parece que nós queremos rachar cabelo? Não. É importante
entender a ação das duas naturezas, uma vez que há pontos salientes na redenção
que precisam ser bem definidos pelos dois lados.
Só o Deus-homem poderia salvar a humanidade de sua teomania,
isto é, do seu desejo arrogante de ser como Deus. Era preciso que Deus se
tornasse homem, a fim de libertar o ser humano de sua mania de autonomia,
autoritarismo, autocontrole e uma gama incontável de outros "autos" que nos
autorizam a promover a autossuficiência.
Jesus, por exemplo, foi 100% homem dependente do Pai. Ele viveu
aqui totalmente pela fé. Mas houve um dia em que a sua vontade humana foi
rendida por inteiro ao Pai, no Getsêmani, para que o plano da redenção,
projetado antes da criação, se cumprisse nEle.
Essa foi uma crise crucial de sua existência, quando suou
sangue até que se entregou por completo e voluntariamente à vontade do Pai,
tornando-se, daí para frente, identificado, em sua natureza Divina com a
plenitude do Pai, para a realização da obra redentora, pois, não podemos
esquecer, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo.
Quando a Escritura diz que Deus estava em Cristo, não
temos opção em pensar de outra maneira, senão que a Trindade estava reunida
nEle. Com esta frase, Paulo não está de modo algum afirmando o óbvio: Cristo é
Deus; mas, que Deus estava em Cristo.
Na cruz do Calvário, nós não vemos apenas Jesus, o ser humano,
sendo crucificado para aplacar a indignação de um Deus irado que exige justiça a
todo custo. Nós vemos, sim, a própria Divindade sendo crucificada por amor. A
Divindade é coletiva e relacional e a sua essência é o amor apaixonado, que se
manifesta na redenção do indigno pecador.
Não há dúvida que o sacrifício de Cristo Jesus engloba muito
mais pessoas do que os nossos olhos carnais costumam enxergar. No Tribunal da
redenção se reuniu, de modo efetivo, tanto a Trindade Divina, como a humanidade
encarnada em Cristo Jesus.
Vemos no sacrifício do Gólgota uma obra coletiva,
compartilhada, mas inseparável. Há ainda movimentos atraentes. Uma hora vemos o
Filho de Deus dizer: Pai, perdoa-lhes, porque eles não sabem o que fazem.
É um pedido do Filho ao Pai que está na cena. Outra hora vemos o Filho do Homem
bradar: Deus meu, Deus meu, porque me virastes as costas? Aqui é uma
humanidade separada pelo pecado, clamando a misericórdia.
Assim, os diálogos da cruz continuam alternando-se. Num
momento, Cristo responde ao ladrão penitente: hoje estarás comigo no paraíso.
Num outro instante, Jesus, humanamente, clama na sua agonia de secura:
tenho sede. Deus não tem sede!
Precisamos aprender a discernir os sotaques e os timbres das
vozes. Há diferenças nas duas naturezas e o conteúdo de cada sentença expressa,
ora, a Divindade falando, ora, a humanidade de Cristo Jesus se manifestando no
drama da redenção.
As interlocuções cruciais continuam. Cristo agora tem uma
palavra de amor para formatar o modelo da nova humanidade que está sendo
projetada sob os efeitos da obra na cruz. Mãe, aí está o teu filho. Filho,
olha aí a tua mãe. Ficava claro que, de agora em diante, na casa de Abba os
vínculos que unem as pessoas, não são mais os laços sanguíneos de parentesco. O
amor da Trindade é a única norma relacional da família de Deus.
Deus e o Homem sem pecado, numa mesma pessoa, continuam
realizando uma obra sem defeitos na cruz. No final desse drama cósmico da
redenção, ouvimos ainda os dois sotaques no ar. Cristo, o Filho de Deus, vira-se
para o Pai e diz: está consumado. E, o Pai que estava nEle satisfeito com
a obra suficiente de Seu Filho, "sorri em seu ser". Então, Jesus, o homem, na
estaca, como o precursor de uma nova família, clama, pela primeira vez: Pai!
E acrescenta: nas tuas mãos entrego o meu espírito! E tendo dito isso,
expirou. Chegamos aqui ao fim da obra do Filho que foi compartilhada com os
outros membros da Trindade em benefício do universo em colapso.
Todos os milagres de Jesus foram realizados pela fé na
onipotência do Pai. Mas, na cruz, as duas naturezas se fundem num processo
dinâmico, embora não se confundam em seus papeis muito específicos e detalhados
para redimir do cativeiro a raça caída.
Jesus, o Filho do Homem, o homem sem pecado, derramou o seu
sangue puro para propiciação dos pecados dos pecadores impuros, enquanto,
Cristo, o Filho de Deus, assumiu em sua justiça imaculada a crucificação do
velho Adão, para, deste modo, sermos feitos filhos do Pai, através da vida
ressurreta de Jesus Cristo.
Repetindo para ficar bem firme: o sangue do Filho do Homem, que
viveu na terra pela fé e sem qualquer pecado, é o preço para a expiação dos
pecados daqueles que, pela fé no Senhor Jesus, creram nEle, com a fé do próprio
Jesus, dada por Ele.
Por outro lado, o Filho de Deus, Cristo, o Messias, crucificou
a nossa natureza herdada de Adão, na cruz com Ele, e assim, pela graça, nos
regenerou como filhos de Deus, filhos legítimos, mediante a Sua vida ressurreta
que vive em nós.
Quando eu olho para a cruz histórica, eu vejo o homem Jesus ali
crucificado. Quando, pelo Espírito Santo, eu contemplo aquela obra através da
fé, isto é, a fé que vem por meio de Jesus, eu mesmo me vejo ali crucificado com
Cristo. Esse é o grande milagre da revelação, que me faz ver, pela fé na
Palavra, a minha morte para o pecado, com Cristo.
Como Jesus nada podia fazer de si mesmo, senão o que via o Pai
fazer, nós, também, nada podemos crer por nós mesmo. Não podemos crer que já
fomos crucificados com Cristo, a não ser pela fé do próprio Jesus, que nos é
dada pela graça de Cristo.
A Escritura nos informa que a vida cristã se resume nestas três
preposições: dEle, por Ele e para Ele. Tudo começa com a proclamação da
Palavra de Cristo que nos vivifica. Nós estamos mortos em nossos
delitos e pecados e Ele nos deu vida juntamente com Cristo. Isto vem dEle. É
o próprio Cristo que nos dá vida. E com a Sua vida vem a Sua fé gerando em nós
confiança e o arrependimento patrocinados por Sua bondade.
Como o Filho nada podia fazer de si mesmo, nós, também, nada
podemos fazer por nós mesmos. É necessário que nos sentemos à mesa do banquete e
desfrutemos de sua graça. Pois somos salvos somente pela graça, através da
fé, e esta fé não vem de nós mesmos, é uma dádiva Divina por meio de Jesus; não
vem atravessadamente pelas nossas próprias obras, para que nós não nos
vangloriemos. Efésios 2:8-9. (PA).
Cristo Jesus deixou bem esclarecido este ponto, ao dizer:
sem a minha pessoa vocês não podem fazer coisa alguma. João 15:5.
Não podem ser vivificados, crer ou arrepender-se. Não podem fazer nada de
cunho espiritual. O homem natural encontra-se espiritualmente morto, portanto
incapaz de ter ou fazer qualquer movimento espiritual.
Cristo Jesus, e somente Ele, é a causa de toda a nossa
salvação. Jesus Cristo, e tão somente Ele, é o processo evolutivo de toda a
nossa santificação, bem como, só Ele é o auge ou o clímax de tudo quando está
relacionado à nossa glorificação. Glória, pois, ao Cordeiro que foi morto, mas
vive para sempre. Aleluia. Amém.
Soli Deo Glória.
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terça-feira, 1 de janeiro de 2013
ANTES DE TUDO...
Salvador Jesus Cristo. A ele seja
dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade. Amém. 2 Pedro 3.18
É impressionante a diversidade das
descrições a respeito da pessoa de Jesus. Elas, em sua grande maioria, não tem
nada a ver com o Jesus da Bíblia. Os que falam Dele tem mania de domesticá-lo.
Escolhem uma característica que mais se adapta à sua religião, plataforma
política ou estilo de vida, e assim tentam nos convencer de que Ele "é um dos
seus". Um exemplo atual e marcante é do presidente da Venezuela, Hugo Chaves, o
qual exibiu em passeata pelas ruas do país, cartazes de Jesus com a seguinte
frase: "O primeiro Revolucionário". Assim fazem os malucos, os socialistas, os
anarquistas, os "crentes" fundamentalistas, liberais, reacionários,
revolucionários. Mas todos, a partir apenas do conhecimento histórico,
apresentam um Jesus incompleto, distorcido e piegas.
T. A Sparks diz que em relação a
Jesus existem três tipos de conhecimento: o histórico, o teológico e o
espiritual . O grande perigo e erro, é tentar conhecer Jesus Cristo apenas como
homem, como dizem, os teólogos o "Jesus de Nazaré." Muitos se debruçam em
desvendar os mistérios de Jesus Cristo através da pesquisa histórica e
acadêmica, o que encontram é apenas o Jesus histórico. Porém a via que permite
conhecer a beleza do resplendor de Jesus Cristo inicia-se em Deus. "Ninguém
conhece plenamente o Filho senão o Pai". Mateus 11.27. Este conhecimento se
realiza pelo caminho da revelação, onde o Espírito de Deus age para nos levar a
uma percepção direta da pessoa de Jesus.
Jesus é o único completo. Completo
em sua humanidade e completo em sua divindade. Como registrou o apóstolo Paulo,
"pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade"
Colossenses 2.9. Ele é atemporal. Não é apenas o menino que nasceu
O perigo de depositarmos a nossa fé
em Jesus que não corresponda o Cristo das Escrituras, não é coisa nova. O
apóstolo Pedro já advertia a Igreja para tomar cuidado com ensinamentos que eram
apenas caricaturas de Jesus. Foi por esta razão que o apóstolo Pedro ao concluir
o que chamamos de segunda carta de Pedro, o faz com as seguintes palavras:
"Antes de tudo, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo." 2 Pedro 3.18. Diante dos perigos de enveredar por algum novo
ensinamento, "antes" de mais nada, preste a atenção em duas coisas. Primeiro
avance somente se estiver pisando no caminho da graça. Segundo, o foco do nosso
conhecimento deve ser o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Pedro sabia do que
estava falando, ele mesmo escreve: "Porque não vos demos a conhecer o poder e
a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fabulas engenhosamente
levantadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade." 2
Pedro 1.16.
Porém quando vemos nos Evangelhos a
história de Pedro desde o seu chamado, percebemos que o seu aprendizado em
crescer na graça e no conhecimento de Jesus não foi algo
tão tranqüilo e isento de crises. Mesmo tendo oportunidade de conhecer o Jesus
encarnado pessoalmente, descobriu que este tipo de conhecimento era insuficiente
e ineficaz. Ele aprendeu por experiência a diferença de conhecer Jesus segundo a
carne e conhecer Jesus segundo o Espírito. Descobriu que conhecer Jesus implica
em transformação, ou seja, conhecer a si próprio à luz do conhecimento divino.
Encontramos um Pedro passando por um
processo de quebrantamento contínuo, onde conforme avançava com Jesus ficava
evidente as intenções não transformadas de seu coração. O mesmo ocorre com todos
os que já tiveram uma experiência de salvação com o Senhor Jesus e iniciaram a
caminhada na estrada da santificação. Estes descobrem que seguir o Senhor Jesus
não é algo teórico, mas sim uma experiência pessoal, envolvente e
transformadora. Conforme avançam no terreno da graça, ganham uma auto-percepção
mais acurada das intenções e pensamentos ocultos de seu íntimo. Pois na verdade
a luz que irradia de Jesus expõe toda a pecaminosidade, religiosidade e
egocentrismo de cada um de seus discípulos. Crescer na graça e manter
relacionamento permanente com o Senhor Jesus significa transformação continua,
marcada primeiramente por abalos sísmicos, desmoronando valores, conceitos e
paradigmas tão incrustados no nosso eu. Esta foi a realidade na caminhada do
apóstolo Pedro com o Senhor Jesus.
Em Cesaréia de Filipos, Jesus fez um
teste com os discípulos para ver se eles haviam entendido o tipo de Messias que
ele era. Isso aconteceu cerca de seis meses antes de sua crucificação e
ressurreição. Ele perguntou: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?"
Mateus 16.13. Eles deram várias respostas. O povo atribuiu ao Senhor a
identidade de profeta. É verdade que o compararam aos profetas mais contundentes
que Israel já conheceu: Elias, Jeremias e João Batista. Mas apenas um profeta. A
partir deste julgamento equivocado as pessoas mantinham um relacionamento
equivocado com Jesus.
Então ele lhes perguntou
diretamente: "Mas vós, quem dizeis que eu sou ?" Foi Pedro, num de seus
repentes, quem deu, em síntese, a resposta correta: "Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo". Mateus 16:16. " O Cristo" se refere Àquele a respeito
de quem Deus profetizou no Antigo Testamento por meio dos profetas. Àquele que
viria para realizar a vontade de Deus. O ungido de Deus. "O Filho do Deus
vivo", refere-se a segunda pessoa da Trindade, fala de sua Pessoa de Deus. O
Deus vivo, estava agindo na história, através de Cristo com a missão de cumprir
o Seu propósito eterno.
Jesus disse a Pedro:
"Bem-aventurado é você, Simão, filho de Jonas! Pois isto não lhe foi revelado
por carne nem sangue, mas por meu Pai que está nos céus". Mateus 16.16. Mas
Pedro foi uma pessoa inusitada. ao mesmo tempo que recebe uma revelação
majestosa do Pai, é usado por satanás para impedir que Cristo fosse para a cruz.
Em outro momento Pedro nega covardemente o Cristo por três vezes. Aquele líder
forte e impetuoso passará por um tratamento antes de reconhecer com o coração,
Jesus como o Cristo. Nós somos como Pedro, confessamos com a boca, mas o nosso
coração está distante do Senhor.
A partir da revelação de Deus para
Pedro, o Senhor Jesus começou a mostrar que deveria ir a Jerusalém e provar a
cruz. Foi quando Simão Pedro imediatamente fala sem pensar: "Não, Senhor.
Deve haver outro caminho. O Senhor não precisa ser tão tolo. O Senhor pode obter
a coroa e o trono sem a cruz. Seja bondoso para Consigo mesmo." Mateus
16.21 Pedro revelou ser uma pessoa de mentalidade própria, independente do
Senhor. O homem natural nunca está disposto a tomar a cruz. "Para trás de
mim, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de
Deus, e sim, nas dos homens." Mateus 16.23 Quando não cogitamos das coisas
de Deus, e sim, nas dos homens, tornamo-nos como Satanás, uma pedra de tropeço
para o Senhor no seu Caminho de cumprir o propósito de Deus. Portanto, a palavra
do Senhor Jesus foi: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome
a sua cruz e siga-me" Mateus 16.24. Negar a si mesmo é abrir mão da vida de
alma, da vida natural.
Parece que somos como Pedro queremos
um Cristo sem cruz. Mas, se quisermos conhecer Jesus Cristo é preciso olhar a
partir da perspectiva da cruz. A missão do Cristo somente podia se concretizar
por meio de sua crucificação, ressurreição, ascensão e segunda vinda. O Cristo
crucificado é a única garantia de salvação dos pecadores. Para os crentes a cruz
tem dois momentos. O primeiro onde fomos crucificados juntamente com Cristo. No
momento que Cristo foi suspenso entre os céus e a terra, o lugar de demônios,
ele nos incluiu para participarmos de sua morte. O segundo momento, carregamos a
cruz para poder segui-lo. Carregar a cruz é permanecer sob o efeito aniquilador
da morte de Cristo, para dar fim ao nosso ego, à nossa vida natural e ao nosso
velho homem. Assim fazendo, negamos a nós mesmos para seguir o Senhor.
Poucos dias depois, Pedro recebe
outra confirmação divina da identidade de Jesus e do seu compromisso com a cruz:
"Este é o meu Filho amado em quem me agrado. Ouçam a ele!" Mateus 17.5.
Novamente Pedro fala demais, propõe construir tendas no monte da transfiguração.
Ele queria perpetuar a experiência espiritual que estava vivenciando. Era um
caso de auto-satisfação. Mas, Pedro, precisava ainda aprender a falar menos e a
ouvir mais, principalmente a Jesus.
O conhecimento de Pedro sobre Jesus
entrou em colapso depois que o Senhor anunciou que ele iria nega-lo três vezes.
Pedro, não admitiu e insistiu com Jesus: "Ainda que me seja necessário morrer
contigo, de modo nenhum te negarei." Mateus 26.33-35. Quais palavras
prevaleceram, a de Pedro ou a de Jesus? Brennan
Manning, escreveu:"O Apóstolo Pedro construira todo o seu relacionamento com
Cristo no pressuposto de que era capaz de agir da forma adequada. É por isso que
foi tão difícil para ele encarar a sua negação ao Senhor. A sua força, a sua
lealdade e a sua fidelidade eram bens fornecidos por ele ao discipulado. A
falácia na mente de Pedro era a seguinte: ele cria que o seu relacionamento
dependia da sua consistência em produzir as qualidades pelas quais ele achava
que havia conquistado a aprovação do Senhor." A revelação de Jesus
como o Cristo estava fazendo efeitos. O orgulho e jactância de Pedro caíram tão
drasticamente que ele chegou ao fim de si mesmo.
Mentalidade própria, deleite
próprio, decisões próprias e justiça própria. Estas são algumas das
características auto-centrada que Pedro exibiu diante do Senhor. Porém, o Senhor
não deixou passar nenhuma delas, de expor o "eu" que havia no seu discípulo. E
após cada ponto ser exposto, era corrigido pelo Senhor. Os incidentes na vida de
Simão Pedro,revelam a condição interior dos discípulos de Cristo Muitos de nós enfrentamos o mesmo problema. "Projetamos
no Senhor o nosso padrão mensurado de aceitação. Toda a nossa compreensão Dele
está baseada num toma-lá-dá-cá de amor permutado. Ele nos amará se formos bons,
éticos e diligentes. Mas nós trocamos as perspectivas: tentamos viver de
modo a que Ele nos ame em vez de viver porque ele nos
amou"
Quando Deus faz o processo de
desmantelamento, então corremos para Cristo. Um relacionamento pessoal e
permanente com o Deus vivo que afeta todas as dimensões da vida humana. É um
conhecimento libertador, que nos solta das amarras da tradição e religião. Nos
dá consciência dos mecanismos que usamos para manter a nossa incredulidade e
aparentar piedade para os outros. Jesus foi lapidando a pedra Pedro e
esculpindo-a em Sua própria imagem. É isto que ele deseja fazer conosco. Jesus
permite situações em nossa caminhada onde percebemos a nossa necessidade Dele
mesmo. É a necessidade que nos faz se voltar para Cristo. As nossas fraquezas
manifestas servem de espelho para enxergar que em nossa carne não há nada de
bom, e que carecemos urgentemente de Cristo em nosso
viver.
A vida de Cristo no nosso tem o
poder de demolir e transformar em pó os pensamentos, sentimentos e vontades que
tiveram origem na carne e não no Espírito de Deus. Esvaziados de nós mesmos, dos
sentimentos de retidão, da justiça própria e das realizações apreciáveis, sem
nada para nos recomendar a não ser a nossa profunda necessidade. Como dizia
Santo Agostinho: "Veres a ti mesmo como pecador, é o começo da salvação". Então
a graça é atraída para aquela necessidade, a fim de atende-lá, tal como a água é
atraída para as profundezas, enchendo-as.
Conhecer o Senhor Jesus Cristo não é
meramente chegar a um conhecimento teórico dele. É um relacionamento objetivo e
experimental que começa em nosso intimo, mas se manifesta às pessoas que estão
ao nosso redor. Este tipo de conhecimento afasta toda a prepotência, orgulho,
arrogância e julgamento e nos faz identificar com os mais miseráveis dos
pecadores. Venho a ele tão somente por causa dos seus méritos e nada mais, e
nisto reside a força do nosso testemunho ao mundo. Por esta razão, antes de tudo
continuemos crescendo na graça e no conhecimento de Jesus Cristo. A ele seja
dada toda glória hoje e sempre. Amém.
Soli Deo Glória.
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