quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A GRAÇA QUE NOS FAZ TRABALHAR E O TRABALHAR DA GRAÇA EM NÓS


 

Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi em vão; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo”. 1 Coríntios 15:10.

Os dias passam, os tempos mudam, e o que podemos perceber quando dedicamos um pouco mais de nossa atenção à palavra de Deus, é o fato de que, após cerca de 4000 anos de historia, tendo como base a saída do povo hebreu do Egito, a maneira como o usurpador do trono do mundo age em relação àqueles a quem Deus quer libertar, permanece a mesma.

Se olharmos para o texto do Êxodo capítulo 5 onde esta passagem bíblica é relatada, descobriremos que diante da Palavra de Deus trazida por Moisés a faraó - palavra esta que consistia de uma ordenança para que faraó promulgasse a libertação do povo hebreu do domínio egípcio - poderemos perceber que a resposta de faraó é sintomática. Para entendermos melhor o que estamos querendo dizer, precisamos fazer algumas associações. No contexto bíblico, o Egito representa o sistema escravizador do mundo. Faraó, por sua vez, tipifica Satanás, aquele que exerce sua tirania sobre o mundo, escravizando as pessoas. E Moisés é um tipo de Cristo, o Libertador.

Quando Moisés fala as palavras de Deus a faraó: "Depois, foram Moisés e Arão e disseram a Faraó: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto." Êxodo 5:1, surge então, a resposta do que falamos no parágrafo anterior, como sendo um sintoma daquilo que se repete ao longo da história. Faraó responde o seguinte: "Agrave- se o serviço sobre esses homens, para que nele se apliquem e não deem ouvidos a palavras mentirosas." Êxodo 5:9.

Não sei se você que me lê, consegue perceber o que estou querendo dizer. Hoje em dia a situação não mudou. Quando analisamos os alicerces que sustentam o mundo (Egito), e a maneira que o inimigo de nossas almas (satanás), continua agindo, ainda hoje, para impedir que a palavra de libertação e de alegria trazida pelo nosso libertador (Cristo), da parte de Deus, nos alcance, vemos que o seu modo de agir continua o mesmo:"...Agrave- se o serviço sobre esses homens...".

Sabemos que o arsenal do inimigo da vida é variado, não queremos ser ingênuos e suscitar a ideia de que seja o único. Contudo, não podemos negar que uma de suas armas mais eficientes, continua sendo o ativismo e a sobrecarga de trabalho. Vivemos num mundo agitado, competitivo, inóspito, violento e exaustivo. As pessoas, devido às suas intensas atividades profissionais ou não, vivem cansadas, estressadas e nervosas. A palavra de Deus já havia nos advertido sobre isto. "Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis". 2 Timóteo 3:1.

A primeira questão sobre a qual queremos refletir neste texto é o fato de que a escravidão no mundo é a sua atmosfera. Faz parte de sua constituição, está na forma do mundo ser mundo. Por esta razão, o trabalho é sempre um valor no mundo, para que os escravos se sintam valorizados, ainda que em meio aos grilhões. Quando entendemos isto, começa a fazer sentido a fala do povo liberto a caminho da terra prometida, exaltando a terra da escravidão e suas benesses em detrimento da liberdade, da promessa divina e do sustento dado por Deus. “Falou o povo contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes subir do Egito para morrermos no deserto? pois não há pão e não há água; e a nossa alma tem fastio deste miserável pão”. Números 21:5.

Podemos admitir que as pessoas que vivem no mundo estão sujeitas às regras do jogo, e por isso conseguem encontrar sentido lógico para o mundo tal como ele é. Porem, quando somos libertos, transportados do império das trevas para o Reino de Cristo, nossa maneira de ver todas as coisas e valorizá-las, deve também sofrer transformações condizentes com a mudança de reino. O que não é cabível é quando os filhos de Deus vivem no reino de seu Pai como se vivessem no Egito, como escravos.

Mas, como pode ser isto? Isto só é possível à medida que nos deixamos envolver pela rapidez, pelo barulho e a forma de ser do mundo, e começamos a ter prejuízo no que diz respeito à comunhão com a palavra de Deus. Quando isto acontece, passamos a viver pela lógica e sabedoria humanas, e não pela fé no que Deus diz em sua palavra. “Respondeu Jesus: Não provém o vosso erro de não saberdes as Escrituras, nem o poder de Deus”? Marcos 12:24.

O que podemos constatar, e isto dentro das Igrejas; são pessoas sofrendo, ou que sofrerão a médio e longo prazo, por não dar ouvidos à palavra de Deus. Vemos muitas pessoas vivendo no ambiente das igrejas, contudo, não vivendo na dimensão do Reino de Deus. Por esta razão, continuam norteando suas vidas com valores até bons do ponto de vista moral, mas ainda assim, valores mundanos, que no fundo servem para exaltar o homem que faz do seu braço a sua força, enquanto a palavra de Deus diz: “É inútil que madrugueis, que tarde repouseis, que comais o pão de dores: aos seus amados ele o dá enquanto dormem”. Salmos 127:2.

Mas, alguns logo poderão dizer: “Mas nós vivemos no mundo!” Sim, é verdade que vivemos na ambiência do mundo. Mas, se somos filhos de Deus, isto significa que não pertencemos ao mundo. Além do mais, precisamos entender que viver na dimensão do reino de Deus, não está ligado a geografias ou a mudanças externas e geográficas, como Jesus nos ensinou. “Dei-lhes a tua palavra, mas o mundo os odeia, porque eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas sim que os livres do mal”. João 17:14-15.

Viver na dimensão do reino de Deus, antes, está relacionado a uma mudança de coração, pela instrumentalidade da cruz, onde Deus arranca o coração de pedra e coloca no lugar um coração de carne. Onde a única explicação possível, não explica nada para os que não nasceram de novo e, portanto, não podem ver o Reino de Deus. É uma explicação do tipo: “Eu era cego e agora vejo”. “Dar-lhes-ei um só coração, e porei dentro deles um novo espírito; tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne”: Ezequiel 11:19.

Viver no reino de Deus significa ser livre do mal, para que uma mentalidade má, que desconfia do caráter de Deus possa ser renovada por Sua palavra. “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Romanos 12:2. E Assim, possamos entender que, mesmo vivendo no mundo, somos chamados a manifestar o sabor do Reino, não da pimenta, mas do sal, que produz sede por Deus, para brilharmos como luzeiros no mundo. Luz esta que, ao mesmo tempo em que expõe a maldade do mundo, também é um testemunho da graça, da misericórdia e do amor de Deus, manifestado em Cristo crucificado.

Antes que alguém pense que a intenção deste texto é fazer uma apologia à preguiça, gostaria de contrariá-los, e desde já anunciar que o objetivo é justamente o oposto. A intenção aqui é na verdade enfatizarmos a importância do trabalho no projeto de Deus, e a disposição do filho de Deus em se envolver com o trabalho de Deus e com aquilo que o Pai está fazendo, como bem disse Jesus: "Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também". João 5:17.

Porém, o que vemos muitas vezes são pessoas fazendo do trabalho um meio de se achegar a Deus. Só que neste caso, deus é Mamon, que exige sacrifício e fidelidade. Sacrificamos nossa saúde, nossa família, nossos relacionamentos, os irmãos, nossa comunhão com Deus, nosso serviço no corpo, nosso humor. Tudo isto sem atentarmos para a armadilha em que estamos nos metendo. O trabalho quando feito em Deus é uma dádiva, e a palavra de Deus nos ensina que se alguém quer ficar sem trabalhar, que lhe seja suprimido toda a sua alimentação. “Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: se alguém não quiser trabalhar, também não coma”. 2 Tessalonicenses 3:10.

A questão aqui, não é trabalhar ou não trabalhar. A questão aqui é de confiança e de glória. Até que ponto a minha confiança está no meu trabalho, e até que ponto minha confiança está em Deus? É saber se meu trabalho é motivado por minha glória pessoal ou é motivado pela glória de Deus, como vocação de Deus em minha vida. São estas as questões que gostaríamos de refletir, além de propor uma mudança de mentalidade em relação ao trabalho, concedendo ao trabalho status de dádiva, e não de sustento, base, alicerce ou fundamento.

A questão aqui é se trabalhamos com a alma descansada, até porque Jesus não prometeu descanso para o corpo, e sim para a alma “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas”. Mateus 11:28-29; sem, contudo, negligenciarmos o fato de que o corpo também precisa de descanso, razão pela qual Deus estipula um dia de descanso para o homem.

Por esta razão, iniciamos nosso texto com as palavras de Paulo: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi em vão; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a Graça de Deus comigo”. 1 Coríntios 15:10. Que percepção fantástica do trabalho, que encontra na graça o contentamento de ser quem é, ficando livre assim da tentação de querer ser alguém por meio daquilo que faz.

Que maravilhosa visão do Reino, que enxerga na Graça, que já fez tudo e nos deu tudo em Cristo, a Graça encarnada, a grande motivação para fazer o que Deus quer que façamos. Não invalidando a Graça e nem a distorcendo como desculpa para a preguiça, antes, vendo na Graça a grande motivação para o trabalho, e não somente a motivação, mas também como a realizadora do trabalho.

Que possamos viver a cada dia, mesmo em um mundo agitado, descansados em nosso Pai, fazendo parte do que Ele está fazendo, servindo os irmãos com alegria e contentamento, como quem serve o próprio Deus, sabendo sempre que: “Ele fortalece ao cansado e dá grande vigor ao que está sem forças. Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem; mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam bem alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam”. Isaías 40:29-31. Louvado seja o Pai pelo privilégio de trabalharmos, enquanto descansamos Nele.
 
Soli Deo Glória.

Nenhum comentário:

Postar um comentário