“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para
comigo não foi em vão; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu,
mas a graça de Deus comigo”. 1 Coríntios 15:10.
Os dias passam, os tempos mudam, e o que podemos perceber
quando dedicamos um pouco mais de nossa atenção à palavra de Deus, é o fato de
que, após cerca de 4000 anos de historia, tendo como base a saída do povo hebreu
do Egito, a maneira como o usurpador do trono do mundo age em relação àqueles a
quem Deus quer libertar, permanece a mesma.
Se olharmos para o texto do Êxodo capítulo 5 onde esta passagem
bíblica é relatada, descobriremos que diante da Palavra de Deus trazida por
Moisés a faraó - palavra esta que consistia de uma ordenança para que faraó
promulgasse a libertação do povo hebreu do domínio egípcio - poderemos perceber
que a resposta de faraó é sintomática. Para entendermos melhor o que estamos
querendo dizer, precisamos fazer algumas associações. No contexto bíblico, o
Egito representa o sistema escravizador do mundo. Faraó, por sua vez, tipifica
Satanás, aquele que exerce sua tirania sobre o mundo, escravizando as pessoas. E
Moisés é um tipo de Cristo, o Libertador.
Quando Moisés fala as palavras de Deus a faraó: "Depois,
foram Moisés e Arão e disseram a Faraó: Assim diz o SENHOR, Deus de Israel:
Deixa ir o meu povo, para que me celebre uma festa no deserto." Êxodo 5:1,
surge então, a resposta do que falamos no parágrafo anterior, como sendo um
sintoma daquilo que se repete ao longo da história. Faraó responde o seguinte:
"Agrave- se o serviço sobre esses homens, para que nele se apliquem e não
deem ouvidos a palavras mentirosas." Êxodo 5:9.
Não sei se você que me lê, consegue perceber o que estou
querendo dizer. Hoje em dia a situação não mudou. Quando analisamos os alicerces
que sustentam o mundo (Egito), e a maneira que o inimigo de nossas almas
(satanás), continua agindo, ainda hoje, para impedir que a palavra de libertação
e de alegria trazida pelo nosso libertador (Cristo), da parte de Deus, nos
alcance, vemos que o seu modo de agir continua o mesmo:"...Agrave- se o
serviço sobre esses homens...".
Sabemos que o arsenal do inimigo da vida é variado, não
queremos ser ingênuos e suscitar a ideia de que seja o único. Contudo, não
podemos negar que uma de suas armas mais eficientes, continua sendo o ativismo e
a sobrecarga de trabalho. Vivemos num mundo agitado, competitivo, inóspito,
violento e exaustivo. As pessoas, devido às suas intensas atividades
profissionais ou não, vivem cansadas, estressadas e nervosas. A palavra de Deus
já havia nos advertido sobre isto. "Sabe, porém, isto: nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis". 2 Timóteo 3:1.
A primeira questão sobre a qual queremos refletir neste texto é
o fato de que a escravidão no mundo é a sua atmosfera. Faz parte de sua
constituição, está na forma do mundo ser mundo. Por esta razão, o trabalho é
sempre um valor no mundo, para que os escravos se sintam valorizados, ainda que
em meio aos grilhões. Quando entendemos isto, começa a fazer sentido a fala do
povo liberto a caminho da terra prometida, exaltando a terra da escravidão e
suas benesses em detrimento da liberdade, da promessa divina e do sustento dado
por Deus. “Falou o povo contra Deus e contra Moisés: Por que nos fizestes
subir do Egito para morrermos no deserto? pois não há pão e não há água; e a
nossa alma tem fastio deste miserável pão”. Números 21:5.
Podemos admitir que as pessoas que vivem no mundo estão
sujeitas às regras do jogo, e por isso conseguem encontrar sentido lógico para o
mundo tal como ele é. Porem, quando somos libertos, transportados do império das
trevas para o Reino de Cristo, nossa maneira de ver todas as coisas e
valorizá-las, deve também sofrer transformações condizentes com a mudança de
reino. O que não é cabível é quando os filhos de Deus vivem no reino de seu Pai
como se vivessem no Egito, como escravos.
Mas, como pode ser isto? Isto só é possível à medida que nos
deixamos envolver pela rapidez, pelo barulho e a forma de ser do mundo, e
começamos a ter prejuízo no que diz respeito à comunhão com a palavra de Deus.
Quando isto acontece, passamos a viver pela lógica e sabedoria humanas, e não
pela fé no que Deus diz em sua palavra. “Respondeu Jesus: Não provém o vosso
erro de não saberdes as Escrituras, nem o poder de Deus”? Marcos 12:24.
O que podemos constatar, e isto dentro das Igrejas; são pessoas
sofrendo, ou que sofrerão a médio e longo prazo, por não dar ouvidos à palavra
de Deus. Vemos muitas pessoas vivendo no ambiente das igrejas, contudo, não
vivendo na dimensão do Reino de Deus. Por esta razão, continuam norteando suas
vidas com valores até bons do ponto de vista moral, mas ainda assim, valores
mundanos, que no fundo servem para exaltar o homem que faz do seu braço a sua
força, enquanto a palavra de Deus diz: “É inútil que madrugueis, que tarde
repouseis, que comais o pão de dores: aos seus amados ele o dá enquanto
dormem”. Salmos 127:2.
Mas, alguns logo poderão dizer: “Mas nós vivemos no mundo!”
Sim, é verdade que vivemos na ambiência do mundo. Mas, se somos filhos de Deus,
isto significa que não pertencemos ao mundo. Além do mais, precisamos entender
que viver na dimensão do reino de Deus, não está ligado a geografias ou a
mudanças externas e geográficas, como Jesus nos ensinou. “Dei-lhes a tua
palavra, mas o mundo os odeia, porque eles não são do mundo, como também eu não
sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas sim que os livres do mal”.
João 17:14-15.
Viver na dimensão do reino de Deus, antes, está relacionado a
uma mudança de coração, pela instrumentalidade da cruz, onde Deus arranca o
coração de pedra e coloca no lugar um coração de carne. Onde a única explicação
possível, não explica nada para os que não nasceram de novo e, portanto, não
podem ver o Reino de Deus. É uma explicação do tipo: “Eu era cego e agora vejo”.
“Dar-lhes-ei um só coração, e porei dentro deles um novo espírito; tirarei da
sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne”: Ezequiel
11:19.
Viver no reino de Deus significa ser livre do mal, para que uma
mentalidade má, que desconfia do caráter de Deus possa ser renovada por Sua
palavra. “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus”. Romanos 12:2. E Assim, possamos entender que, mesmo
vivendo no mundo, somos chamados a manifestar o sabor do Reino, não da pimenta,
mas do sal, que produz sede por Deus, para brilharmos como luzeiros no mundo.
Luz esta que, ao mesmo tempo em que expõe a maldade do mundo, também é um
testemunho da graça, da misericórdia e do amor de Deus, manifestado em Cristo
crucificado.
Antes que alguém pense que a intenção deste texto é fazer uma
apologia à preguiça, gostaria de contrariá-los, e desde já anunciar que o
objetivo é justamente o oposto. A intenção aqui é na verdade enfatizarmos a
importância do trabalho no projeto de Deus, e a disposição do filho de Deus em
se envolver com o trabalho de Deus e com aquilo que o Pai está fazendo, como bem
disse Jesus: "Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho
também". João 5:17.
Porém, o que vemos muitas vezes são pessoas fazendo do trabalho
um meio de se achegar a Deus. Só que neste caso, deus é Mamon, que exige
sacrifício e fidelidade. Sacrificamos nossa saúde, nossa família, nossos
relacionamentos, os irmãos, nossa comunhão com Deus, nosso serviço no corpo,
nosso humor. Tudo isto sem atentarmos para a armadilha em que estamos nos
metendo. O trabalho quando feito em Deus é uma dádiva, e a palavra de Deus nos
ensina que se alguém quer ficar sem trabalhar, que lhe seja suprimido toda a sua
alimentação. “Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: se
alguém não quiser trabalhar, também não coma”. 2 Tessalonicenses 3:10.
A questão aqui, não é trabalhar ou não trabalhar. A questão
aqui é de confiança e de glória. Até que ponto a minha confiança está no meu
trabalho, e até que ponto minha confiança está em Deus? É saber se meu trabalho
é motivado por minha glória pessoal ou é motivado pela glória de Deus, como
vocação de Deus em minha vida. São estas as questões que gostaríamos de
refletir, além de propor uma mudança de mentalidade em relação ao trabalho,
concedendo ao trabalho status de dádiva, e não de sustento, base,
alicerce ou fundamento.
A questão aqui é se trabalhamos com a alma descansada, até
porque Jesus não prometeu descanso para o corpo, e sim para a alma “Venham a
mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso.
Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de
coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas”. Mateus 11:28-29;
sem, contudo, negligenciarmos o fato de que o corpo também precisa de descanso,
razão pela qual Deus estipula um dia de descanso para o homem.
Por esta razão, iniciamos nosso texto com as palavras de Paulo:
“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi em
vão; antes, trabalhei mais do que todos eles; contudo, não eu, mas a Graça de
Deus comigo”. 1 Coríntios 15:10. Que percepção fantástica do trabalho, que
encontra na graça o contentamento de ser quem é, ficando livre assim da tentação
de querer ser alguém por meio daquilo que faz.
Que maravilhosa visão do Reino, que enxerga na Graça, que já
fez tudo e nos deu tudo em Cristo, a Graça encarnada, a grande motivação para
fazer o que Deus quer que façamos. Não invalidando a Graça e nem a distorcendo
como desculpa para a preguiça, antes, vendo na Graça a grande motivação para o
trabalho, e não somente a motivação, mas também como a realizadora do
trabalho.
Que possamos viver a cada dia, mesmo em um mundo agitado,
descansados em nosso Pai, fazendo parte do que Ele está fazendo, servindo os
irmãos com alegria e contentamento, como quem serve o próprio Deus, sabendo
sempre que: “Ele fortalece ao cansado e dá grande vigor ao que está sem
forças. Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem;
mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam bem alto como
águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam”. Isaías
40:29-31. Louvado seja o Pai pelo privilégio de trabalharmos, enquanto
descansamos Nele.
Soli Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
A GRAÇA QUE NOS FAZ TRABALHAR E O TRABALHAR DA GRAÇA EM NÓS
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