Também disse Deus: Façamos o homem a nossa imagem,
conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobres os peixes do mar, sobre as
aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os
répteis que rastejam pela terra. Gênesis 1:26.
Quando olhamos para este texto, que a meu ver é um dos mais
significativos das Escrituras, podemos nos perguntar: qual a razão desta
singularidade na criação do homem? Deus havia criado muitas coisas, mas a
nenhuma delas decidiu imprimir sua imagem e sua semelhança. Porém, no que se
refere ao homem, encontramos nas Escrituras uma conferência na Trindade para
deliberar sobre tal assunto.
Toda a criação de algum modo aponta para Deus, ou fala de Deus,
como bem ressaltou o Apóstolo Paulo escrevendo aos romanos, Porque os
atributos invisíveis de Deus, assim como seu eterno poder, como também sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas que foram criadas. Romanos 1:20. Contudo,
no que diz respeito ao homem, Deus foi além. E isto ficou registrado nas
Escrituras porquanto, o propósito de Deus para o homem era singular - manifestar
no homem a Sua imagem e caráter.
Deus estava não apenas criando um ser, mas sim, estava
expandindo sua família. Afinal de contas, quem você gostaria que fosse o
portador da tua aparência e caráter? Quem você gostaria que fosse a expressão da
tua vontade, exercendo autoridade sobre tudo o que lhe pertence, senão o teu
próprio filho? Ainda que de maneira intrínseca, a intenção especial de Deus com
relação ao homem é muito clara: fazer dele Seu filho e herdeiro.
Seguindo esta lógica, podemos interpretar as Escrituras, no que
se refere à revelação de Deus quanto ao que está no Seu coração concernente ao
homem, da seguinte forma: O auge da revelação de Deus é que Ele é pai. E o sonho
de Deus é ser Pai do homem. Isto pode soar um tanto antropocêntrico se olharmos
na perspectiva do homem caído, levando-se em conta que este quer ser o centro e
a razão de tudo no universo, como expressão do seu egoísmo, fruto de sua
rebelião contra Deus.
Porém, se olharmos na perspectiva do Deus revelado em Cristo
Jesus como crucificado, o qual, mesmo sendo o centro e a razão de todas as
coisas, tem prazer em servir, abençoar e trazer à existência aquilo que não
existe e se dar desta maneira, veremos que isto é perfeitamente possível. Como
já disse o poeta: “O amor não cabe em si”, e Deus é amor, por isto Ele se
esparrama e se doa.
Depois da queda, o homem ficou deformado por sua tentativa de
viver sem Deus. Ele não crê em Deus, a menos que Deus seja ele ou um ídolo
criado por ele mesmo, e que portanto, carrega a imagem e a semelhança do homem
pós-queda. Como bem ressaltou o poeta Frances Charles Pierre Baudelaire, (1821 –
1867): Se o homem que Deus criou é este que vemos, com toda a sua maldade
e sofrimento, então Deus seria o diabo.
Citamos Baudelaire para enfatizar a queda. De fato, o que o
homem se tornou depois do pecado é contrário à imagem e a semelhança de Deus.
Como vemos descrito no Evangelho de Marcos: Respondeu-lhe Jesus: Por que
me chamas bom? Ninguém é bom se não um, que é Deus. Marcos
10:18. Porém, o que Deus fez em Cristo Jesus na Cruz do Calvário e na
ressurreição, foi destruir na morte de Jesus, esta velha criação, inclusive o
que o homem se tornou, para recriá-la na ressurreição de Cristo, por isto diz:
“E assim, se alguém esta em Cristo, é nova criatura; as coisas velhas já
passaram, eis que tudo se fez novo. 2 Coríntios 5:17.
Deus é Pai, é Filho e é Espírito e, como criou o homem à Sua
imagem e semelhança, deu ao homem o partilhar destas três dimensões. Tudo o que
foi dito até agora tem como objetivo tratar a seguinte questão: Se, Deus quer se
revelar através de mim, como eu tenho revelado Deus aos meus filhos?
É muito importante pensarmos nisto, e ter esta consciência.
Falo a partir do pressuposto de que aquele que me lê neste momento, tenha tido
esta experiência de novo ser, de ver o Reino de Deus, de ser uma nova criatura.
Com isto posto, devemos atentar para o que a Palavra de Deus nos mostra com
relação a esta importante tarefa que Ele nos concede, de sermos cooperadores na
Sua obra, gerando filhos para Ele, revelando-O a estes filhos, como um Pai que
os ama.
Muitos dos filhos jovens entram em conflito no que se refere à
identidade de Deus como Pai de amor, porque tiveram modelos que muitas vezes
representam Deus como um tirano que nos obriga a fazer coisas que não
entendemos, e sem o nosso consentimento; que também nos restringe algumas
possibilidades, sem a linguagem do amor. É o famoso: não porque não, e
pronto!
Como pais, precisamos estar abertos ao tratamento de Deus, e
permitir que Ele nos corrija como filhos, mediante Sua palavra, com o intuito de
sermos bênção nas vidas daqueles que o Senhor nos confiou. É um privilégio que
Deus nos concede para sermos cooperadores no cuidado, na formação e participação
na vida dessas pessoas que Ele, como antes já demonstrou, quer como Seus
filhos.
Pensemos no chamado de Abrão. Ora disse o Senhor a Abrão:
Sai da tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai e vai para uma terra
que te mostrarei; farei de ti pai de uma grande nação, e te abençoarei, e te
engrandecerei o nome. Gênesis 12: 1-2 . Deus tem uma chamado para Abrão.
Durante toda a sua vida ele aprendeu o que era ser filho, mas agora Deus o chama
para ser pai, e a primeira lição que Deus lhe dá está ligada ao fato de deixar a
sua terra, a sua parentela e a casa de seu Pai.
Deus esta dizendo: “rompa com o seu passado, e com tudo aquilo
que lhe dá um falso sentido de segurança. Daqui por diante eu vou lhe ensinar a
ser pai, e para isto, a sua confiança vai ter que estar em mim”. A primeira
lição que devemos aprender é que não dá para ser um continuador de algo que
serviu para um momento e para um contexto, se queremos ser cooperadores de Deus,
em Sua obra de criar filhos para Si. Pois, a única maneira de perpetuarmos
modelos é por meio da tirania, porém, isto não revela Deus como um Pai de
amor.
A segunda lição que podemos identificar na vida de Abrão, está
nos textos de Gênesis 15: 4 e 5, onde Deus lhe promete um filho gerado dele e
uma descendência como as estrelas dos Céus. No capítulo 16 versos de 1 a 4, o
texto relata a esterilidade de Sara e seu conselho para que Abrão possuísse
Hagar sua serva, com o objetivo de ter o herdeiro prometido por Deus. E por fim,
no capítulo 17 entre os versos 15 e 22 e no Capítulo 21, quando Abrão é
confrontado com a promessa de Deus ele, novamente, tem dificuldades em crer,
porém se rende e, a promessa é cumprida com o nascimento de Isaque.
Esta lição diz respeito ao fato de que Deus quando faz uma
promessa ele a cumpre, faz parte do seu caráter, não adianta a gente querem
produzir filhos pra Deus por que isto, só Deus pode fazer por meio de Sua
palavra. Se a gente for tentar ser Deus, o máximo que podemos produzir é filhos
para a escravidão, como Paulo o Apóstolo relata em Gálatas capítulo 4. Além do
que, Deus age quando a gente se rende. Quando a gente reconhece nossa
impotência, Deus está livre para cumprir a Sua palavra.
Depois da primeira e da segunda lição, estamos pronto para a
terceira, e esta é sem dúvida a mais difícil. Este ensinamento está contido no
capítulo 22 de Gênesis, verso 2, quando Deus coloca Abraão à prova dizendo:
Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te a terra de
Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes que eu te mostrarei.
Neste ponto Deus pede a nossa ruptura com o futuro e a nossa entrega
daquilo que não nos pertence.
Com a apresentação deste ponto, podemos destacar dois aspectos.
Em primeiro lugar, a consciência de que o filho não é nosso, o filho é de Deus.
Nossos filhos na verdade, Deus nos confiou para que possamos ser cooperadores em
uma maravilhosa missão: Para que sejam feitos Filhos de Deus. Querer um filho
para si é desconfiar do caráter de Deus como um Pai. É se achar mais apto do que
Deus, além de manifestar um egoísmo, próprio daqueles que querem se perpetuar
para o futuro, usando os filhos para isto.
Como Pais, a melhor lição que podemos deixar para nossos filhos
é o cumprimento de nossa vocação, até onde ela nos permitir. E isto como
expressão de nosso descanso no caráter de Deus. É entender que o passado com
seus erros ou acertos não pode mais determinar a nossas vidas, e que o futuro
está nas mãos Daquele que fez a promessa e é fiel para completá-la. Como pais,
nosso maior desafio é nos render a Deus, para que Ele venha ser em nós o Pai que
nós não podemos ser para os nossos filhos. É Cristo viver em mim de tal modo,
que Deus possa ser revelado como um Pai de amor. Porque quem vê o Filho vê o
Pai. Feliz dias dos pais.
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
domingo, 14 de outubro de 2012
PAI NOSSO QUE ESTÁS NA TERRA
PARA DEUS, SER FELIZ É...
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o
reino dos céus. Mateus 5:3
O conceito de felicidade, segundo os padrões impostos pelo
sistema humano e que governa o modo de vida das pessoas sem Cristo, se resume na
satisfação do próprio ego. O que mais importa às pessoas absorvidas pela
rede da inimizade com Deus e a amizade com o mundo é o quanto elas podem ser
contentadas ou beneficiadas em qualquer situação, e, se for possível, receber os
aplausos de outras pessoas. Mas, o que é felicidade segundo a ótica de Deus?
Do ponto de vista da verdade revelada pelo evangelho, que é a
Pessoa de Cristo, o enfoque muda radicalmente! Para Deus, felizes são aquelas
pessoas que não encontram felicidade em si mesmas, nas coisas que as rodeiam ou
no sistema cultural predominante. Sua felicidade vem diretamente da fonte
celestial e que se encontra somente na Pessoa do Filho Amado enviado pelo Pai!
Como são felizes as pessoas que aprenderam que não são nada e nada possuem sem
que a vida de Cristo seja gerada em seus interiores! Felizes, segundo o ensino
de Cristo, são as pessoas convencidas de sua própria miséria espiritual diante
do Único Senhor e Salvador da vida humana!
O sermão do monte contém a essência dos ensinamentos do reino
celestial revelado por e em Cristo! Apresenta um padrão de vida e
comprometimento com os princípios Divinos que só uma pessoa pertencente ao reino
dos céus pode vivenciar. Este ensino foi dirigido primeiramente aos discípulos,
mas também ouvido e crido por muitas outras pessoas na ocasião em que foi
pregado.
É a vida vivida na base da desistência, da
desconstrução e da dependência que só a graça de Deus em Cristo
pode proporcionar! O ensino que Jesus Cristo proferiu naquela montanha procura
apresentar aos súditos do Seu reino a maneira de viver que agrada ao Seu Pai,
revelada e possibilitada somente pela ação do Seu Espírito! Segundo o critério
de Deus ensinado nas bem-aventuranças, não podemos ser felizes pelas nossas
próprias “pernas espirituais”.
A revelação do reino dos céus deve nortear quaisquer valores ou
práticas cristãs e em quaisquer âmbitos da vida terrena. É o ensino para uma
vida nova e completamente distinta daqueles que não vivem a vida de Cristo.
Nunca por méritos ou esforços pessoais, mas por meio da vida implantada Daquele
que vive em nós logo, não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse
viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a
si mesmo se entregou por mim. Gálatas 2:20. Portanto, as pessoas
bem-aventuradas ou altamente favorecidas pela graça Divina, jamais dependerão de
outra pessoa que não seja a bendita Pessoa do Pai revelado no Filho para serem
felizes!
A ética, isto é, o modo de vida ensinado pelo sermão do monte
não é um credo morto, um sistema religioso estático ou uma doutrina sem sentido,
é antes uma expressão vivencial. Trata-se de um padrão de vida baseado na
perfeição de Cristo, que reflete o caráter do Pai e se manifesta naqueles que
possuem a vida que vem Dele. O próprio Espírito testifica com o nosso
espírito que somos filhos de Deus. Romanos 8:16.
O traço característico da cidadania espiritual do reino dos
céus está presente na ênfase dada à palavra makárioi que pode ser
traduzida por “abençoados, altamente favorecidos ou felicitados” pela ação
graciosa e perdoadora do Pai Celestial em Cristo. Somente a suficiência de
Cristo nos proporciona uma felicidade produzida pela ação do Seu Espírito em
nosso cotidiano, nos fazendo reproduzir o Seu caráter!
Os makárioi são pessoas privilegiadas por
receberem o favor Divino. São pessoas muito ricas por terem recebido o
“tesouro celestial” da graça que há em Cristo para louvor e glória da sua
graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado. Efésios 1:6. De acordo
com esta constatação bíblica, as pessoas felizes são as que possuem uma alegria
gerada no íntimo, vinda do Senhor e que faz com que possam celebrar o triunfo do
Cordeiro em meio às circunstâncias desfavoráveis a si mesmas. Feliz aquele
que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que
nela está escrito, porque o tempo está próximo. Apocalipse 1:3.
Descreve exatamente o “estado ou condição” das pessoas que
experimentam a suficiência da Pessoa e Obra de Deus em Cristo e não se ancoram
nas circunstâncias negativas ou positivas em que se encontram. Nunca será uma
felicidade caracterizada pelos prazeres superficiais e passageiros produzidos
pelo espírito humano ou pela falsa sensação de êxito gerada pelas conquistas
tributadas às nossas capacidades de realização.
O termo “pobres” era conhecido entre os judeus e
descrevia aquelas pessoas humildes, que viviam na inteira dependência de Deus.
Na verdade o termo já era conhecido no Antigo Testamento, referindo-se àquela
gente vitimizada pelas opressões, explorações, sofrimentos, misérias e
humilhações que lhes eram impostas por pessoas ou sistemas.
O conceito bíblico de intimidade com Deus traz em seu bojo a
ideia de um “estado interior de felicidade”, fruto de uma intervenção
específica da graça Divina, nas pessoas que passam por situações de adversidade
extrema. No entanto esta situação só poderia ser experimentada por aqueles que
se viam “totalmente” impotentes e dependentes da ação do Pai Celeste. Somente as
pessoas que realmente chegam ao fim de si mesmas podem experimentar a
riqueza da presença Divina em meio à pobreza do espírito
humano.
Há também outro sentido para os “pobres segundo Deus” que
indica uma ausência de orgulho pessoal ou segurança própria, vista
numa postura de quem assume a sua total carência da vida e da ação de Deus. É a
total dependência humana da misericórdia de Deus, totalmente declarada e
experimentada. O evangelho do reino dos céus começa com a total desistência de
nós mesmos, os pobres de espírito!
O reconhecimento de nossa pobreza e miserabilidade espirituais,
da necessidade de que o perdão do Pai nos seja outorgado e o consequente
arrependimento pela condição depravada e pecaminosa são as “credenciais” para
que desfrutemos da cidadania celestial. A renúncia de nossas próprias
capacidades salvíficas humanizadas e a rejeição de nos submetermos ao “espírito”
que rege o mundo são as condições necessárias de acesso e herança do reino
celestial porque deles é o reino dos céus.
Será que estamos plenamente identificados com a posição
de “pobres segundo Deus” descrita em Mateus 5:3? Temos sido convencidos
pelo Senhor sobre da nossa “pobreza espiritual”? Será que estamos refletindo
esta realidade espiritual em nossos relacionamentos pessoais,
familiares ou ministeriais de maneira intensa e inequívoca?
Embora não seja uma declaração completa e exaustiva de todo o
ensino de Jesus Cristo, o sermão do monte sintetiza a essência do ensino
sobre o Seu reino. Apresenta o padrão ético do reino do Pai, que só pode ser
alcançado por Aquele a quem Ele nos enviou. O ensino de Jesus Cristo apresenta
como deveria ser a maneira de viver de Seus imitadores ou
discípulos.
A ética do reino dos céus presente no ensino do sermão do monte
deve nortear qualquer princípio que leve o nome de cristão e em quaisquer
âmbitos da vida humana. É o ensino para uma vida completa e radicalmente
diferente do espírito que impera neste mundo anticristão, que hoje é chamado
pós-moderno. O conteúdo teológico do sermão do monte é o estabelecimento do
padrão divino do reino celestial, invadindo todas as dimensões da vida e ação
humanas. Éa transformação produzida pela vida Divina claramente vistas no
caráter e na postura das pessoas que pertencem ao Senhor deste reino.
A ética do sermão do monte não é um credo morto, um sistema
religioso estático ou uma doutrina que não produz transformação de vidas.
Trata-se de um padrão de vida que apresenta a suficiência e a perfeição de
Cristo como reflexo do caráter do Seu Pai e visíveis na vida de Seus filhos e
filhas.
Alguém já chamou o sermão da montanha de “carta magna do reino
dos céus” e “código de conduta de seus cidadãos”. Descreve antes o estado
daqueles que são felicitados pelo Pai em seu íntimo e as atitudes
naturais que identificam os justificados por Ele.
Há também outro elemento da primeira bem-aventurança que aponta
para uma completa ausência de orgulho pessoal ou segurança própria, em relação à
dependência de Deus. É a total dependência da misericórdia de Deus, totalmente
declarada e vivida. Nada é mais revolucionário no mundo moral. O evangelho do
reino dos céus começa com o espírito da renúncia gerado por Deus nos corações de
pessoas que se veem pobres e fracassadas diante do Criador e Redentor do
universo.
O reino dos céus pode ser caracterizado como o reinado de
Cristo na vida de cada pessoa que é convertida pela Sua Obra! A ética de Jesus é
a ética deste reino e, a nós, só nos cabe sermos e vivermos pela
manifestação da Sua vida em nós!
Como somos felizes quando reconhecemos a nossa própria
miséria espiritual! A convicção de que nosso Pai é a Pessoa mais rica que existe
e de que somos paupérrimos espirituais tira todo o peso de nossas costas. Muitas
vezes ainda tentamos carregar este peso, mesmo tendo uma vida de intimidade e
relacionamento com Ele. A verdadeira felicidade, segundo o projeto redentor de
Deus, só pode ser alcançada por intermédio da Sua graça manifestada na Pessoa e
Obra de Seu Filho!
Alguém já disse que o discípulo de Cristo é aquele que recebe e
pratica aquilo que é ensinado em Seu evangelho. Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por
meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. João 14:21. O
evangelho de Cristo é sempre um ensino e uma realidade em andamento, dinâmica e
que não pode ser esgotada por mais que se fale sobre o assunto.
A felicidade gerada por Deus é alegria íntima que sobrevive às
situações externas. Expressa uma situação existencial ancorada na ação graciosa
do Pai Celestial. É demonstrada pela ausência de orgulho pessoal e de segurança
ou justiça próprias, caracterizada por uma relação de dependência incondicional
do Pai!
A consciência da insuficiência humana é a primeira atitude que
agrada a Deus! Esta primeira bem-aventurança decreta, logo de início, a total
falência e impossibilidade de sermos felizes pela suficiência humana. Somente
quando reconhecemos a nossa insuficiência, poderemos ser
satisfeitos com a suficiência Divina. Por esta razão, todas as
outras bem-aventuranças são decorrentes desta desconstrução
Celestial!
Solo Deo Glória.
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sexta-feira, 12 de outubro de 2012
PARA UM MUNDO SEM ESPÍRITO, SOMENTE UMA IGREJA ENCARNADA
“Respondeu-lhes Jesus: Destruí este santuário, e em três
dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi
edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se
referia ao santuário do seu corpo.” João 2:19-21.
Jesus certa vez alertou sobre o problema relacionado à
ignorância das escrituras, dizendo: “Meu povo perece por não conhecer as
escrituras e nem o poder de Deus”. Hoje não é difícil constatar os
efeitos nefastos desta ignorância. Mas, baseados em que podemos fazer esta
afirmação? Para fazer tal afirmação, basta olhar para o absurdo “nicho de
mercado” em que se transformou a dita fé evangélica em nossos dias.
Uso esta expressão “nicho de mercado”, porque para muitos
exploradores da fé alheia - se é que podemos chamar este fenômeno de fé - as
pessoas nada mais são do que uma freguesia, como Pedro já havia nos alertado.
“... por ganância farão comércio de vós...” Estes, encontraram na
ignorância do povo em relação às escrituras, associada à autoridade histórica
das escrituras, uma oportunidade e um vasto mercado a ser explorado. Jesus
testemunhou os mesmos fatos que presenciamos hoje, tal como estão registrados no
Evangelho de João capitulo dois, a partir do verso treze.
Outro indicador que nos dá base para assim afirmar, é aquele
que possui uma correlação no texto, pois à medida que se ignora as Sagradas
Escrituras, o sofrimento, a desesperança e a vacuidade da vida entram em erupção
como um carnegão maduro, provocando assim uma avalanche de gente ferida por este
sistema religioso maligno – gente usada e aleijada, cega e cansada, desconfiada
de uma pseudo divindade exigente e sem misericórdia, que ostenta um caráter
duvidoso do tipo que promete, mas não entrega.
Este sistema foi o único capaz de tirar Jesus do sério, a tal
ponto de levar Jesus às vias de fato, armado de chicote e pondo abaixo suas
bancas e expulsando tais mercadores do templo dizendo: “...Tirai daqui
estas coisas e não façais da casa de meu Pai comércio.” João 2:16. O
templo, no qual realizavam “seus negócios” tinha uma relação histórica e
cultural com o Deus e Pai de Jesus Cristo, e que portanto tinha Sua imagem do
Deus disposto à cruz, ultrajada e destorcida pela ganância de homens desonestos
e réprobos quanto à fé.
Neste episódio, os discípulos ficaram assustados pelo modo como
Jesus mostrou-se enérgico. O assombro só encontrou consolação, devido justamente
ao conhecimento das Escrituras que dizia: “O zelo da tua casa me
consumirá.” Salmo 69:9a. E que naquele dia, diante de seus olhos,
puderam testemunhar o milagre da encarnação do Verbo. Pois, naquele exato
momento as Escrituras haviam se tornado palavra de Deus, e aquilo que antes era
apenas letra, havia se tornado o Verbo encarnado, Jesus Cristo.
Porém, o grande ensinamento de Jesus viria a seguir. Diante de
um mundo alicerçado no poder, o único questionamento proveniente da parte dos
judeus, tinha relação com as suas credencias. Sim porque, coragem, virilidade
Jesus já havia demonstrado que tinha, para fazer algo que jamais alguém ousou
fazer com sucesso.
Agora, a pergunta é: que sinal, que demonstração de poder
incomum você tem pra nos apresentar, e que aparentemente não podemos perceber,
mas que é extremamente necessário para alguém que toma uma atitude deste tipo?
Como Ele teve a ousadia de confrontar poderes econômicos, endossados por aqueles
que detinham o poder religioso, e que em tese e, em última análise, tinha esta
autoridade sustentada por Deus?
Para a mentalidade humana caída é como se alguém deixasse a
bola pingando só para Jesus chutar. Era o cenário ideal para Jesus demonstrar
seus poderes Divinos e calar a boca de todo mundo. Talvez fosse oportuna uma
demonstração do tipo que estava na cabeça de Tiago e João, na ocasião em que os
samaritanos lhes negaram pouso: “Vendo isto os discípulos Tiago e João
perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para consumir os
samaritanos?” Lucas 9:54.
Judas com seu espírito belicoso próprio dos sicários deve ter
pensado, arrisco-me a conjecturar: É agora que a onça bebe água! Jesus porém,
lhes mostra o sinal da Cruz. E evoca a realidade da morte, da fraqueza, da
destruição de si mesmo, a inexorável e eterna realidade da cruz. “Jesus
lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei.” João
2:19. O que causa decepção em muitos, e se constitui em mais uma
tentação para Jesus, é de fato a única opção do único Deus. O Deus que é amor.
Os religiosos, normalmente alheios ao espírito de Cruz, ficaram
sem saber, nem mesmo do que Jesus estava falando, ou seja, não entenderam nada.
Os discípulos só puderam entender depois da ressurreição, que lhes falava a
respeito do seu próprio corpo. E nós, mais de dois mil anos depois destes fatos,
talvez precisemos ainda, entender melhor o significado das palavras de Jesus
Cristo. Este é de fato o assunto central de tudo o que foi tratado até
agora.
Nas palavras de Jesus havia não somente uma sugestão, mas
também uma profecia. Ainda que os judeus nada tenham feito naquele momento,
destruir o santuário foi exatamente o que fizeram na sexta feira da paixão.
Naquele dia Ele foi traspassado e moído como profetizou Isaías. O Santuário foi
desfeito - o velho corpo, o velho homem.
Nos lugares sagrados, os ditos santos, deliberaram matá-lo.
“... Vós nada sabeis, nem considereis que vos convém que morra um só homem
pelo povo e que não venha a perecer toda nação.” João 11: 49b e 50.
Fizeram isto, pois amaram mais suas posições e privilégios e a estrutura
arcaica, o odre velho com seu conteúdo velho, como Jesus disse: “ E
ninguém tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é
excelente.” Lucas 5:39.
Porém, a bendita armadilha de Deus estava pronta. O texto, nos
versos cinquenta e um e cinquenta e dois, mostra que em Sua soberania Deus usa
quem quer “...Não disse isto de si mesmo...” . Referindo-se a
Caifás. Além de revelar a intenção real do Pai - reunir Sua família. O que
precisamos entender é que o santuário que Jesus queria reedificar, não está
relacionado com templos feitos por mãos humanas, como o texto deixa claro,
“Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo” .
Jesus se refere ao Seu corpo, porém, Ele não está fazendo
menção somente ao Seu corpo glorificado, Ele está se referindo a nós; o corpo de
Cristo aqui na terra, como fica evidente no evangelho de João. “Ora, ele
não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou
que Jesus estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também
para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos”. João
11:51-52.
O mundo vive um processo de tentativa do desencantamento, da
morte do transcendente, como se isto fosse possível. Vivemos influenciados pelo
materialismo histórico e pelo consumismo, como se isso pudesse constituir o
sentido da vida. O máximo que o mundo suporta de Deus, é Deus como uma ideia
reguladora, ou como um produto a ser consumido, tendo em vista suas culpas
psicológicas e suas buscas frenéticas por um sentimento de adequação.
Isto é bem próprio do mundo, o problema maior é saber o quanto
isto tem nos influenciado. Vemos pessoas dizendo: eu frequento tal igreja por
causa do louvor, o outro diz: eu gosto mesmo é do ambiente e do trabalho que
eles têm com as crianças e com os jovens. Ou ainda: lá tem estacionamento e o ar
condicionado é bom e é perto da minha casa. São pessoas que contribuem com a
igreja local, quando contribuem, como quem paga uma mensalidade, alimentando
assim os mercadores.
Mas nós não aprendemos assim a Cristo. Cristo disse: “Eu
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”
Mateus 16:18b. Nós somos chamados a sermos os ombros do Senhor, quando
se arremete contra as portas do inferno, que são suas últimas defesas. Somos
chamados a sermos bocas do Senhor para anunciar o Evangelho do amor de Deus aos
indignos.
Somos ensinados por Cristo que somos todos necessários no
corpo. “ Se todo corpo fosse olho, onde estaria o ouvido?” 1 Coríntios
12:17. Somos ensinados, que não importa quão pequeno podemos nos
considerar no corpo, Deus nos confere honra. “E os que nos parecem menos
dignos no corpo, a estes damos muito maior honra...” 1 Coríntios 12:23a.
A palavra de Deus nos ensina que todo o corpo precisa de interação e conexão com
a Cabeça que é Cristo. “E não retendo a cabeça, da qual todo corpo,
suprido e bem vinculado pelas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que
procede de Deus.” Colossenses 2:19.
Jesus reconstruiu o santuário de Deus, que somos nós, na Sua
ressurreição. “...porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” 1
Coríntios 3:17b. Jesus nos fez Seu corpo, individualmente ligados uns
aos outros. “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente membros
desse corpo.” 1 Coríntios 12:27.
Que neste mundo sem espírito, tenhamos a consciência e a
revelação de que Jesus toca através de nós, que Ele fala pela nossa boca, que
Ele age neste mundo por meio da Sua igreja encarnada que é o Seu corpo.
Solo Deo Glória.
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O DESASTRE DO ODRE VELHO
Já me assemelho a um odre na fumaça; contudo, não me esqueço
dos teus decretos. Salmo 119:83.
Odre defumado é odre envelhecido. Sou antigo, sou velho como
Davi, mas ainda não me esqueci do concerto da graça feito com Abraão. Os
decretos eternos ainda não foram substituídos. A graça nunca foi temporária ou
provisória. Por isso, o evangelho acaba escandalizando a religião construída na
esteira da história exalando a pecado e transpirando pelo esforço da carne.
Jesus foi consultado por uma turminha que achava esquisita a
falta do jejum entre os seus discípulos. Essa gente ardilosa apontava para os
discípulos de João e dos fariseus como sendo praticantes exemplares dessa
disciplina da alma, e indagava de Jesus a ausência desta matéria entre os alunos
do Mestre da Galiléia.
Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados
para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que
lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão. Lucas 5:34-35.
A partir desta resposta o Senhor lhes conta uma parábola bem
esclarecedora para mostrar o equívoco da religião do mérito. Ninguém tira um
pedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois rasgará a nova, e o remendo da
nova não se ajustará à velha. E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois o
vinho novo romperá os odres; entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão.
Lucas 5:36-37.
Jesus vai tratar aqui nesta parábola de um modelo já
ultrapassado. O Judaísmo vigente em sua época era um sistema arquitetado no
tempo em que o povo Judeu estivera escravo na Babilônia. Tratava-se de um
recipiente formatado na mentalidade humanista e que havia se tornado arcaico e
sem qualquer significado para a realidade nova que estava em processo na vida da
nova comunidade da Galiléia.
A fé cristã em andamento não cabia neste odre enrijecido,
atrofiado e prestes a se romper com a expansão natural do mosto novo em sua
força efervescente. Um odre esclerosado e inflexível não suporta a dilatação
causada pelo frescor do vinho jovem. O sistema religioso do velho judaísmo não
aguentaria a amplitude da liberdade cristã.
Para Jesus, o vinho novo deve ser posto em odres novos [e
ambos se conservam]. Lucas 5:38. As novas do Evangelho devem ser
acondicionadas em odres novos. A greve de fome não pode subsidiar a fartura do
Pão. A tristeza do velório não consegue garantir a festa do casamento com a
sepultura escancarada. O modelo da obediência a fórceps sacado pela lei, nada
tem a ver com a obediência patrocinada pelo amor incondicional.
Nós precisamos entender a velhice de uma proposta, sem,
contudo, nos atrelar à terrível caduquice de qualquer sistema que tenha sido
condenado por Jesus. O Cristianismo, pelo tempo decorrido, já é um odre na
fumaça, todavia, é imperioso ver a sua atualidade. Vamos procurar descobrir aqui
aquilo que é permanente no estilo cristão; aquilo que foi introduzido pelos
adversários camuflados; e aquilo que faz parte do momento histórico.
A fé cristã já tem bastante tempo, mas continua jovem e
renovando-se. O que envelhece no processo é o religioso que nela foi implantado.
Há muitas coisas que foram adicionadas ao cristianismo que nunca fizeram parte
da sua essência. São apêndices exógenos que lhe têm maculado a sua história.
O permanente é o amor incondicional de Abba; é a Casa da
liberdade de um Amor sem limites e sem fronteiras. Os mandamentos da fé cristã
se reduzem a amar. O culto cristão é a festa da ágape em comunhão familiar,
conduzido pelos dons espirituais. A igreja, portanto, não se parece em nada com
uma sinagoga gerada na escravatura da Babilônia.
O odre judaico já se encontrava “mochibento” e seco. Este
sistema arcaico funcionava sob a influência política de uma hierarquia
sacerdotal conspurcada nas fortalezas de Anu, isto é, no panteão sombrio do deus
das trevas, fomentado pela filosofia humanista da confusa revolução lenta e
sutil de Ninrode. Vejamos Gênesis 10:10-11.
No tempo de Jesus, o judaísmo não tinha mais a Arca da Aliança
no lugar Santo do templo, mesmo assim, o Sumo Sacerdote entrava, anualmente, no
dia da purificação, naquele lugar Santo, para espargir o sangue no
propiciatório. Mas onde estava a Arca? O quê é feito do propiciatório? Era tudo
um teatro? Sim, não havia mais a realidade do culto.
O odre judaico fora estragado pela fumaça do humanismo
babilônico. O fogo ardente das vaidades havia coberto de fuligem a estrutura da
religião marcada pelas paixões carnais.
A Babilônia tem uma história longa com Israel. Abraão foi
retirado de lá, mas o velho babilonismo o perseguiu para tentar sequestrar o seu
sobrinho na conspiração dos quatro reis conta cinco. Gênesis 14. Além do que,
foi longa a demolição desta cultura na vida do patriarca. Do seu segundo chamado
em Aran até a oferta de Isaque no monte Moriá foram cerca de 45 anos de
desconstrução. Teria chegado ao fim? Que nada.
Essa historia do humanismo religioso tem outros episódios
insinuantes. Logo que o povo de Israel entrou na terra prometida, uma capa
babilônica aparece nos escombros tentando um dos descendente de Judá com seu
estilo das aparências. Acã foi seduzido pelo modelo esnobe do sobretudo que lhe
proporcionava uma boa imagem.
Vemos aqui neste episódio que a casca parece valer mais do que
o cerne. Este "espírito" babélico é o mundo dos modelitos e das grifes que se
preocupam com a fachada. Há um grande perigo com o julgamento baseado na conduta
externa, tanto no que diz respeito ao orgulho como a falsa humildade. As capas
da Babilônia dão status e as suas togas revelam poder. Por isso, muito
cuidado com as fatiotas, elas escondem perigos.
Vejamos a estratégia dos gibeonitas, um dos povos que habitavam
a terra prometida. Deus havia dito que todos os povos que moravam em Canaã
deveriam ser exterminados. Então, os habitantes de Gibeão usaram de uma
camuflagem para se manterem vivos. (Na boa hermenêutica, só a morte do velho
Adão pode garantir a ressurreição da nova raça).
Eles se vestiram de roupas velhas e traziam pães bolorentos e
odres gastos para dizer que vinham de um terra distante e que tudo aquilo era
novo quando eles saíram de sua terra, e que pretendiam fazer uma aliança com
Israel. Josué 9.
Com esta estratégia eles se passaram por estrangeiros distantes
e acabaram por fazer uma aliança com Israel. Josué e os anciãos não consultaram
ao Senhor e realizaram um pacto com eles baseado nas aparências. As roupas
gastas, os odres remendados e os pães embolorados foram as artimanhas da justiça
própria para engambelar os tolos.
Quando Josué e os lideres descobriram a farsa já era tarde.
Eles estavam sob a proteção de um juramento, e o único castigo foi torná-los
rachadores de lenha e carregadores de água, mas isto teve um custo alto. O
acordo descabido e a presença dos gibeonitas no meio do povo de Deus causou
consequências sérias. 2 Samuel 21:1-9.
As aparências enganam. A ética humanista é semelhante à ética
cristã na exterioridade, contudo, bem diferente em sua motivação e natureza. A
capa da Babilônia é de faixada, promovida pela justiça própria e a vanglória. O
que conta, neste caso, é a conduta correta e o estilo garboso, enquanto a ética
cristã se fundamenta no amor que procede da vida de Cristo que se manifesta no
coração da nova criatura em humildade e mansidão.
Olhando de fora os comportamentos de ambos parecem iguais, mas
analisando as intenções vemos uma abismo no meio. Um é forjado na justiça do
homem, todavia, o outro, no amor de Deus. O humanismo é quase perfeito na ética
estética, mas um desastre na ética intrínseca. O teatro é espetacular. A vida no
camarote é um caos.
O odre do judaísmo pós babilônico é do estômago de bodes e
encontra-se seco, duro e ríspido. O odre da igreja é construído pelas vísceras
do Cordeiro de Deus que se renovam cada manhã pelas misericórdias de
Abba. É um recipiente novo e que se expande no processo dinâmico da
história.
Enquanto o velho sistema se preocupa com o patrimônio terreno,
bem como os usos e costumes de uma sociedade amancebada com o mundo carrasco, a
nova comunidade emancipada focaliza-se no Bem Supremo em favor das pessoas que
Deus ama.
A igreja é um povo em peregrinação rumo à Nova Jerusalém. É uma
coletividade viva e evolutiva que se renova sempre. É um corpo comunitário
governado pelo Amor Soberano que determina as funções de acordo com os dons
corporativos distribuído de modo bem equilibrado pelo Espírito Santo. Romanos
12:3-7.
Quando, no princípio da história cristã, a igreja ia quebrando
a casca do velho odre judaico e construindo o seu odre particular, ela teve que
viver muitos anos nas catacumbas, rompendo o sufoco do modelo controlador dos
judaizantes que nunca se deram por descartados deste contexto. Essa é uma
tiririca persistente, que depois de Teodósio conseguiu engessar, com toda a
armadura babilônica, a leveza da fé cristã.
O cristianismo romano retornou ao modelo arcaico do judaísmo
babilonizado e a igreja foi modelada no esquema do império decadente. Temos
assim um odre velho, hierarquizado, cheio de conchavos querendo manter o vinho
novo em expansão em seu sistema roto e enrijecido. Não era possível; daí as
muitas rebeliões.
A história da igreja mostra muitas tentativas de grupos
conscientes que buscavam a via de libertação e que foram sufocados como hereges.
Mesmo assim, um fogo de monturo sempre queimou por baixo dos escombros trazendo
a esperança de uma nova realidade.
A reforma foi uma estocada violenta no velho sistema,
entretanto, como dizia Dr. Purim, meu ilustre professor, "nós saímos do
catolicismo, mas o catolicismo não saiu de nós". O sistema protestante ainda
traz as vestes sacerdotais dentro de um clero esclerótico.
Precisamos de luz em nossa caminhada. Precisamos de uma visão
clara do modelo da graça plena. Precisamos encontrar aquele odre que permita o
desenvolvimento alegre com singeleza de coração em que se manifestem os quatro
suportes importantes para a preservação desse vinho novo. E perseveravam na
doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Atos
2:42.
Solo Deo Glória.
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A EXALTAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS 9
O Senhor é a minha porção; eu disse que observaria as tuas
palavras. Salmo 119:57
A Bíblia é totalmente Cristocêntrica! É a Sagrada Escritura do
Pai que fala somente da Pessoa e Obra do Filho, revelada pelo processo
hermenêutico do Espírito! Portanto, a Palavra de Deus deverá ser sempre exaltada
por expressar esta realidade teológica da harmonia Divina.
O Salmo 119 é um poema de exaltação a Palavra de Deus. É um
extenso poema de exaltação ao Logos Divino no contexto da história da redenção
no período do Antigo Testamento. É um Salmo que exalta o Cristo revelado na
Palavra de Deus! Este Salmo é um ensino sobre a Pessoa do Filho pré-encarnado e
personificado através da Palavra de Yahweh.
Ao lermos o Salmo 119 devemos destacar dois aspectos teológicos
imprescindíveis ao seu bom entendimento: (1) os termos hebraicos traduzidos por
palavras, mandamentos, preceitos, estatutos, lei, juízos, testemunhos,
“tipificam” a pessoa de Cristo pré-encarnado e (2) para a total
impossibilidade humana de cumprir esta Palavra sem a revelação e a ação Divina.
O Salmo 119 é um conjunto de “176 teses teológicas” sobre a revelação da Palavra
de Deus que alimenta e norteia a vida das pessoas que dependem
Dele.
O Senhor é a minha porção… Porção é dádiva. É o
Bem maior que eu recebo e possuo sem ser ou ter feito nada para merecê-lo. A
palavra porção pode ser mais bem traduzida pelo termo “herança”. O termo
hebraico traduzido por herança tem, ao mesmo tempo, um sentido teológico de
“lugar” e “foco”.
É lugar da manifestação pessoal plena de Yahweh. A
Pessoa do Senhor é o próprio ambiente espiritual onde somos inseridos, tocados e
ministrados pela Sua graça. Esta herança é um lugar onde habita a Pessoa Divina!
A ideia transmitida pelo salmista não é a de que precisamos aprender a pensar
em ou sobre Deus, mas, sermos encontrados e absorvidos Nele!
Quando o Senhor é a nossa herança, herdamos e possuímos um
lote, campo ou terreno que está numa esfera espiritual onde Ele mesmo opera
através do Seu amor redentor. É o ambiente onde a graça Divina é distribuída
àqueles que se vêm sem nenhuma condição de apresentar-Lhe algo ou agradá-Lo por
si mesmos. É o território onde é exercido o Seu amor incondicional e curador aos
totalmente carentes em si mesmos.
Quando a nossa herança é o Senhor não existe a possibilidade de
vislumbrarmos algo de valor em nós mesmos. Não somos e nem temos nada que possa
atraí-Lo a nós, exceto o Seu olhar amoroso que vem ao nosso encontro por causa
de nossa condição humana: caída e falida em relação à Sua misericórdia! Somente
quando nos vemos sem nada Ele pode ser o nosso tudo. É somente através da
experiência da desistência pessoal que a pessoa do Senhor se torna a
minha herança.
Herança também fala do Senhor como o “foco” para onde
somos levados a olhar. O fato de termos sido inseridos neste lugar, isto é, no
Senhor, faz com que possamos lançar nossos olhares para a necessidade
manifestação da Sua suficiência em todos os aspectos da existência humana.
Trata-se de experimentarmos a dimensão da total impossibilidade
humana diante da total possibilidade Divina. Esta é a realidade do não mais eu,
somente Ele. É a esfera terapêutica e curadora para o conflito existente entre
duas pessoas: o eu e o Ele. Após termos sido colocados na dimensão
espiritual do amor Divino, somos envolvidos e embebecidos neste ambiente da
graça.
Quando o nosso foco está na Pessoa de Yahweh, mergulhamos numa
relação de intimidade e desfrutamos da suficiência dos Seus cuidados. Perdemos o
rumo de nossas potencialidades humanas. Nossa referência torna-se o Senhor e
aquilo que Ele pode ser e fazer em nós. O Senhor por nossa herança significa nos
perdermos Nele, no outro eu para que tenhamos a libertação do nosso
próprio eu. Não há mais sentido para os referenciais e ideais enaltecidos e
centrados na capacidade humana.
Quando Ele nos basta, já não encontramos mais satisfação em nós
mesmos, em outras pessoas ou objetos materiais. Quando o Senhor é o nosso “Bem
Maior” quaisquer outros bens ficam completamente ofuscados e desfocados. O foco
na Pessoa do Senhor é uma herança que nos faz experimentar a verdadeira
libertação das manias humanas herdadas de Adão.
Ao experimentarmos a herança bendita da Pessoa Divina a Sua
suficiência exerce uma ação demolidora e desconstrutora em nossas vontades,
emoções e racionalidades. A suficiência do Senhor decreta o fim das
possibilidades do nosso eu. A ação santificadora da Divindade é desconcertante
para a nossa humanidade. Nos “tira o chão” de nossas tentativas de fuga
humanística da presença e dependência do nosso Criador e Redentor.
Eu disse que observaria as tuas palavras...
Observar é praticar. Aqui não se trata de uma mera tentativa humana de praticar
preceitos estipulados pela Lei Divina. Neste verso o “agir de Deus” se opõe
totalmente às expectativas e tentativas do “desempenho humano”. A ação de
Yahweh produz em nós o efeito da obediência a Ele. É uma reação produzida
pelo Pai quanto ao cumprir da Sua própria Palavra. Falamos aqui do Deus que me
faz fazer aquilo que lhe apraz! Nesta parte do versículo, fica claro que
qualquer tentativa de “fazer algo para Deus” é pecaminosa quando vinda de nós
mesmos. A observância da Palavra Divina só pode ser gerada pelo Seu
Autor, em suas motivações e concretudes! A obediência a Palavra de Deus é
produto da Sua ação em nos fazer pessoas focadas somente Nele.
Esta observação das palavras de Yahweh deve ser
totalmente alimentada e demarcada pela capacidade espiritual Divina de nos fazer
praticantes da Sua revelação. Não temos a competência de cumprir nem “as
vírgulas” da Palavra do Senhor. Só podemos observar os ensinos da Palavra de
Yahweh na medida em que as ações não sejam as nossas Eu sou a videira, vós as
varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada
podeis fazer João 15:5.
Cumprir a Palavra de Deus é uma questão de “contraste” claro e
decisivo entre as potencialidades Divinas e as impossibilidades humanas. Não
temos sequer a condição de entendermos a revelação do Pai sem a Sua intervenção
Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras
Lucas 24:45. Se até a possibilidade de entendermos a Palavra de Deus é uma
concessão Dele, que dirá o fato de podermos observá-la ou cumpri-la sem a Sua
intervenção? Sem a iluminação do Espírito tal coisa sempre foi, é
e será impossível!
Guardar a Palavra também tem uma relação intrínseca com o fato
de Deus “armazená-la em nossos corações”. Buscarmos em Sua Palavra o nosso
alimento e alento espirituais. É fruto da ação sobrenatural de Yahweh fazer com
que a Sua Palavra nos seja introjetada, mesmo em meio às agitações internas
produzidas pela alma e as circunstâncias externas que nos advenham.
Portanto, a prática da Palavra de Deus é uma consequência
sobrenatural que nasce da caminhada de intimidade pessoal com Ele. É um
processo espiritual de “obediência causada”. Natural e humanamente falando, não
sabemos, queremos ou sentimos a necessidade de obedecer a Deus. É um diagnóstico
que só a revelação da Sua Palavra pode nos assegurar!
Quando Yahweh é de fato a nossa herança, apenas
expressaremos o Seu agir em todas as dimensões da nossa existência.
Somente assim poderemos ter “prazer” em viver de acordo com a Sua Palavra. Não
podemos viver sob o peso de termos que observar a Palavra Divina pelo esforço
humano. Só o Senhor pode cumprir a Sua Lei em nós! Que alívio, que sensação de
liberdade espiritual promovida pela graça Divina sabermos que não precisamos do
desastroso e ineficiente empenho humano para observar a Sua Palavra revelada.
Que possamos celebrar a ineficiência e a completa ausência do esforço e da
capacidade humana no cumprimento desta Palavra!
Este Salmo nos ensina, pela revelação da Palavra Divina, o
quanto o “Espírito” que agia através da Lei é o mesmo que age pelo Evangelho. A
Lei só poderia ser cumprida pela ação graciosa de Deus em Seu povo. Para tanto,
precisavam assumir a sua total incapacidade de cumpri-la diante do Senhor.
O salmista entendeu que cumprir a Palavra do Senhor deveria ser
um reflexo da Sua presença nele. É fruto da vida Divina na vida humana. Na ótica
Divina, cumprir a Sua Palavra nunca foi (Antigo Testamento) ou é
(Novo Testamento) uma pesada obrigação. Obrigação é coisa de religião.
Para Yahweh a nossa obediência a Ele é uma questão de reflexo
do Seu próprio caráter revelado para, em e através de nós
por intermédio da Sua Palavra. Só existe obediência a Deus quando a Sua vontade
direciona as e transparece em nossas vidas. Quando a Palavra de
Deus se torna “o único critério” da obediência a Ele, ou a nossa única regra de
fé e prática, saímos do domínio da religião para trilharmos no território da
graça.
Ele tem sido a nossa herança? Ele é o nosso lugar de
descanso e a Sua glória o foco da nossa existência? Nosso “divã
espiritual” tem sido unicamente a Pessoa Divina? Vivamos a suficiência do Deus
que sacia toda a nossa fome de significado e nos consola em todas as
encruzilhadas e dilemas armazenados em nossas almas agitadas por um mundo
contrário e hostil a ação redentora e terapêutica do Criador da humanidade!
O Senhor só é verdadeiramente a nossa “herança” ou o nosso “tudo” quando
nada mais do que está dentro ou fora de nóspode ser maior do que o
contentamento produzido pela Sua presença e suficiência!
Solo Deo Glória.
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A PEDRA ANGULAR, VOCÊ, EU: A IGREJA!
O significado de erosão é o “ato ou efeito de erodir;
degradação progressiva produzida na camada terrestre por agentes externos;
combinação relativamente constante de diversos processos de corrosão; de corroer
lentamente”. Uma das medidas para neutralizar os efeitos da erosão são as curvas
de nível, maneira pela qual se evita que um processo progressivo, constante,
silencioso e lento da água da chuva, do vento ou do homem, provoque
deslizamentos e infiltrações, mudando a consistência e empobrecendo o solo.
Em nossas vidas somos constantemente agredidos por agentes
externos que de maneira lenta, silenciosa e sutil têm o propósito de corroer a
fé e os fundamentos da nossa prática cristã. Convicções bíblicas muitas vezes
são corroídas e deterioradas, produzindo alterações prejudiciais e indesejáveis
em nossa base estrutural de vida, na nossa comunhão com o Pai e com seu Filho,
Jesus Cristo, esgotando a fertilidade da nossa vida espiritual.
O Apóstolo Paulo falando à igreja em Corinto diz: “Mas
receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também
seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a
Cristo. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado,
ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho
diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais”. 2
Coríntios 11:3-4. Quando a Palavra de Deus deixa de ser o fundamento absoluto de
nossas vidas, o referencial indicador desaparece ou fica anuviado, mas
continuamos a pensar que nada mudou, que estamos ainda no mesmo lugar, mas na
verdade o barco está rodando junto com a maré.
O apóstolo Paulo, escrevendo ao seu irmão, amigo e discípulo
Timóteo diz: “Além disso, a linguagem deles corrói como câncer; entre os
quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, asseverando
que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a fé a alguns.
Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor
conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que
professa o nome do Senhor.” 2 Timóteo 2:17-19.
Todo ser humano precisa de marcos em sua vida que lhe dão
sentido de tempo e espaço na história. Sem acontecimentos marcantes em nossas
vidas perdemos o sentido de direção, de distância e tempo. Um marco geodésico é
uma pedra, estaca ou sinal para indicar uma posição cartográfica precisa. Marcos
são referenciais que servem para mostrar até que ponto nos movemos em direção a
um alvo ou quanto nos desviamos da rota. Ao olharmos para o ponto de referência
podemos verificar nossa “posição geográfica” e lembrarmos o motivo inicial de
nossa caminhada.
As dunas são elevações de areia e por causa da sua mobilidade
causada pelos ventos, jamais poderão servir de arcos de fronteiras. Precisamos
então de referências claras e absolutas em nossas vidas, afim de periodicamente
conferirmos nossa rota. O maior “marco geodésico” na vida de um cristão é a Cruz
de Cristo. A Palavra de Deus é a expressão do seu caráter e de sua vontade e por
isso precisamos de sua luz. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz
para os meus caminhos”. Salmos 119:105
E qual é a importância do “marco geodésico” para a igreja
atual? Se pudéssemos voltar literalmente na história, na época de Jesus
poderíamos verificar com nossos olhos que não havia igreja instituída. Nem os
discípulos e nem os líderes religiosos tinham ouvido o termo igreja até o
momento em que Jesus o mencionou. Certo dia enquanto Jesus andava com seus
discípulos em direção a Cesaréia de Filipe, perguntou sobre o que pensavam as
pessoas a seu respeito. Após as várias respostas, Jesus perguntou: “E vocês?
Quem vocês dizem que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo” Neste momento Jesus se dirige a Pedro e diz: “Não foi carne
ou sangue que te revelou isto, mas foi meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo
que sobre essa confissão firme como a rocha eu edificarei a minha igreja e nem
as portas do inferno prevalecerão”. (Mateus 16:13-16).
Nesta afirmação Jesus deixou claro que o Cristo é o arquiteto,
o engenheiro e o construtor da Igreja. Penso que muitas vezes assim como os
discípulos, nós também não temos noção do que isso significa. Jesus disse que
Ele edificaria a Sua Igreja. A palavra “minha” caracteriza posse, domínio,
autoridade e cuidado. Aqui está um ponto de referência onde devemos parar e
medir: Cristo é o Cabeça (1 Coríntios 11:3) de nossa vida, de nossa família, de
nossa igreja local, ou a erosão tem corroído essa verdade?
O termo usado nas Escrituras para igreja é ekklesia, que
significa “chamados para fora”. A Eclésia era a principal assembleia da
democracia ateniense na Grécia Antiga. Era uma assembleia popular, aberta a
todos os cidadãos do sexo masculino, com mais de dezoito anos, porém quando
Jesus disse: “edificarei a minha igreja”, Ele revela que construiria uma
assembleia de pessoas, um povo que deposita sua fé no que Pedro confessou:
“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Não somente um ajuntamento de
pessoas com ideias parecidas ou com boas intenções, mas uma comunidade de salvos
por Jesus Cristo, identificadas pela vida transformada, que creem nas Escrituras
como inabalável e atemporal Palavra de Deus, que vive e se reúne com o único
propósito de glorificar a Deus.
Não muitos meses depois das palavras de Pedro, Jesus Cristo foi
crucificado, ressuscitou e ordenou que os discípulos permanecessem em Jerusalém
até a descida do Espírito Santo e então foi assunto aos céus. No dia de
Pentecostes, o Espírito Santo desceu sobre aquele grupo de cerca de 120 pessoas
para realizarem o que Jesus disse que faria: seriam testemunhas. Jesus então
começou a edificar a Sua Igreja.
Após a mensagem de Pedro em Pentecostes cerca de três mil
pessoas creram no Senhor Jesus Cristo. Em Atos 2:42 diz como a igreja vivia:
“E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e
nas orações”. Quando um grupo de irmãos em Cristo se reunia, se dedicavam a
quatro coisas: à doutrina, à comunhão, ao partir do pão e à oração.
Aqui estão quatro elementos característicos da Igreja de Jesus
Cristo a qual Ele edifica. A falta de qualquer um desses elementos causa a
erosão das colunas que se apoiam no fundamento. Que fundamento? A Pedra Angular!
Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e
sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas,
sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem
ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós
juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.
Efésios 2:19-22. Nossas vidas fazem parte deste santuário dedicado ao Senhor que
Cristo está construindo.
A doutrina dos apóstolos é o ensino das Escrituras Sagradas na
centralidade da pessoa de Cristo, para toda a nossa vida. Hoje as pessoas tem
acesso a muita informação bíblica, mas poucos a têm como Palavra de Deus
inspirada, absoluta, infalível e confiável. O que quer dizer isso? Quer dizer
que muitos de nós, estão quando muito, com a bíblia debaixo do braço,
utilizando-se dela como recurso de autoajuda. Quer dizer que a Palavra de Deus
tem sido usada como um objeto quando muito, carregado para a reunião de domingo.
Vejamos dois textos: Mateus 22:29 e João 5:39. “Respondeu-lhes Jesus: Errais,
não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”. “Examinais as
Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que
testificam de mim”.
Creio que nunca na história da igreja a Palavra de Deus foi tão
relativizada pela fé evangélica, e os pensamentos e maneira de viver tão
corroídos pelo mundanismo. Se você teve a oportunidade de ser instruído na
Palavra de Deus em seu lar quando criança, esse foi um grande privilégio, pois
hoje poucos pais cristãos fazem isto. Sem a Palavra de Deus que é viva e eficaz,
crianças, jovens e adultos com o tempo ficam confusos por não discernirem entre
as alternativas que lhes são apresentadas. O discernimento sobre a verdade
absoluta e a mentira está erodido, e muitos já não conseguem ficar com a Palavra
de Deus em suas decisões porque não distinguem o que é a Verdade.
Se a Palavra de Deus não ocupar o lugar central em nosso culto
público e privado outra coisa tomará esse lugar. Se nossos cânticos não forem
espirituais, baseados nas Escrituras Sagradas, centrados na adoração à Trindade
Santa, o jeito mundano de louvor centrado no prazer do homem, fará a nossa
cabeça como faz a de muitos por aí. Se a nossa mente não for uma esponja
encharcada de Jesus Cristo, nosso coração desejará músicas que expressam o
hedonismo, a ambiguidade e desejos carnais.
A Bíblia nos diz em Lucas 6:45: “O homem bom do bom tesouro
do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do
que está cheio o coração”. Um dos sinais que mostram do que nosso coração
está cheio é quando estamos reunidos para a comunhão. Aquela comunhão que Lucas
fala em Atos 2! Os conteúdos de nossas conversas enchem nosso coração de alegria
por lembranças bíblicas e fortalecimento do amor em Cristo? Nossos filhos
expressam uma linguagem sadia quando estão reunidos numa festa? Acreditem
irmãos, essas coisas são sintomas que podem nos sinalizar o quanto nos desviamos
progressivamente, lentamente e sutilmente. Vejamos esse texto citado na íntegra:
“Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou
para a sua própria glória e virtude”... (2 Pedro 1:2-8)
A adoração comunitária se revela profunda ou superficial
dependendo da intimidade com Deus que nutrimos em nossa vida diária. Assim
também o partir do pão na ceia revela como está nossa vida de comunhão com Jesus
Cristo. A doutrina dos apóstolos e a comunhão, o partir do pão e as orações são
elementos referenciais, marcos e marcas de uma vida e também de uma igreja que
está sendo edificada por Jesus Cristo. Essa é uma igreja que testemunha de
Cristo, que é sal e luz, que está na terra para glorificar a Deus e ser a
expressão de Vida para uma sociedade apodrecida.
Assim diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede,
perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis
descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos. Jeremias 6:16.
Estamos vivendo tempos difíceis e é necessário que coloquemos nosso coração
diante do Pai, clamando que Ele sonde o nosso coração, a fim de que possamos
estar atentos e como o apóstolo Paulo escreveu “não nos conformando com este
mundo, mas sendo transformados pela renovação da nossa mente, para que
experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos
12:1-2). Não se esqueça, a erosão acontece de maneira progressiva, constante,
silenciosa e lenta. Para aqueles que são filhos de Deus fica a exortação. Qual é
o maior “marco geodésico” de sua vida? O que norteia tua caminhada cristã?
“Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual
sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor”. Hebreus
12:28.
Solo Deo Glória.
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DA SEMELHANÇA DE ADÃO PARA A SEMELHANÇA DE CRISTO
Os que são da terra são semelhantes ao homem terreno; os que
são dos céus, ao homem celestial. Assim como obtivemos a imagem do homem
terreno, receberemos de igual modo a imagem do homem celestial.1 Coríntios
15:48-49.
A explanação da Palavra de Deus não deixa dúvidas com relação à
criação do primeiro homem-Adão e, consequentemente, do reprodutor da raça humana
(15:45). A criação humana não é fruto do acaso e nem resultado final de uma
evolução de milhões de anos. Muito menos, de uma ameba e nem mesmo de macacos,
mas de Deus. A verdade incontestável é que o ser humano foi criado à imagem e
semelhança de Deus.
Essa semelhança certamente não é física, pois Deus é Espírito.
E o ser humano por sua vez é também moral e espiritual. Somente pela morte e
ressurreição em Cristo, o ser humano poderá ter o relacionamento restaurado com
o seu Criador, perdendo a semelhança adâmica, causadora de todos os males, e
recebendo a vida de Cristo no seu interior. Nossa origem é do Deus trino. A
imagem e a semelhança criadas foram manchadas pelo pecado. Ele penetrou em todas
as instâncias da nossa existência: nosso corpo e nossa alma, nossa razão e
nossos sentimentos. Vocês estão doentes da cabeça aos pés, cheios de feridas
abertas, sujas, cheias de sangue e de pus, feridas que nunca foram enfaixadas
nem tratadas com azeite! Isaías 1:6.
Somos ambíguos e contraditórios. Paulo chega a dizer sobre o
bem, que queremos fazer, mas não praticamos. Somos tendenciosos em nos achegar
ao mal que não queremos, e esse fazemos. O estado da humanidade é o de
depravação total. O ser criado à imagem e semelhança do Criador foi deformado.
As graves consequências do pecado de Adão e Eva já se manifestaram em seu
primeiro filho Caim.
O monstruoso crime do assassinato de Abel deixou evidente a
perversidade da natureza que Adão e Eva transmitiram à sua descendência. Adão
o gerou à sua semelhança, conforme a sua imagem. Gênesis 5:3. E não conforme
à imagem e semelhança de Deus, com a qual fora criado e que deveria transmitir
aos seus filhos, se não houvesse desobedecido.
Quando o primeiro homem pecou, toda a raça humana foi
simultaneamente atingida com a mesma gravidade. O seu feito não foi particular,
mas coletivo. Concluindo, da mesma forma como o pecado ingressou no mundo por
meio de um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte foi legada a todos
os seres humanos, porquanto todos pecaram. Romanos 5:12. Todos pecaram em
Adão porque todos estavam presentes nele, assim como a árvore está presente em
sua semente.
Adão é o representante de todos os seres humanos. Achar que o
ser humano é bom é uma teoria antiga desde Caim e também de muitos pensadores.
Um deles é o monge britânico Pelágio (409). Ele ensinava que ninguém herda a
natureza corrompida de Adão, mas que se torna pecador. O ensinamento das
Escrituras consiste em afirmar que toda a humanidade estava seminalmente em
Adão, quando ele pecou, e, por isso, o ato dele foi feito também por todos os
seus descendentes.
A queda foi um ato coletivo onde todos tomaram parte, e tendo a
mesma responsabilidade de Adão. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente
inúteis; não há ninguém que pratique o bem, não existe uma só pessoa. Pois todos
pecaram; todos fracassaram, e estão afastados da glória de Deus. Romanos
3:12,23 (Nova Bíblia Viva). Com a queda de Adão, o Éden (ambiente de prazer e
comunhão) foi desfeito, dando lugar aos espinhos e abrolhos, isto é, causando
uma grande deformidade em todas as relações.
A hostilidade é fruto de um coração de pedra que acaba
contaminando a si mesmo e tudo o que está ao seu redor. A semelhança do Adão
caído, - que também pode ser chamado de homem velho (Rm 6:6), filhos espirituais
do diabo (Jo 8:44), homem natural (1 Co 2:14), mortos espirituais e filhos da
ira (Ef 2:5, 3) - tem se perpetuado naqueles que não nasceram de novo. Ao se
entregar ao pecado, os planos maus tomaram conta. O seu coração está cheio de
dolo e seus desejos são continuamente maus.
O veredito da escolha humana é muito penoso: Ninguém jamais
seguiu realmente as veredas de Deus, nem mesmo desejou verdadeiramente fazê-lo.
Todos se desviaram; todos caíram no erro. Não há ninguém que faça o bem, nenhum
sequer. O que falam é abominável e tão sujo quanto o mau cheiro de uma sepultura
aberta. Suas línguas estão cheias de mentiras. Tudo o que dizem tem o ferrão e o
veneno de serpentes mortíferas. Suas bocas estão cheias de maldição e de
amarguras. Estão prontos para matar, odiando qualquer um que não concorde com
eles. Por onde quer que vá eles deixam a miséria e a desgraça atrás de si. Não
conhecem o caminho da paz. Não se importam em temer a Deus, tampouco com o que
ele pensa deles. Romanos 3:11-18.
Esse ser criado sob o supremo propósito divino deixou a imagem
e semelhança do Deus eterno para ser a imagem e semelhança do Adão caído, e
assim o caos foi instalado. A designação desse ambiente, para uma realidade
física e espiritual, é de ervas daninhas. Com a queda, aquela harmonia bonita
foi quebrada. Agostinho interpreta muito bem esse fato dizendo: A partir
daquele momento, as ruínas da morte, envelhecimento, declínio físico e doenças
acompanharão a vida humana. A vida marcha inexoravelmente em direção à
sepultura.
Sem a obra do Espírito Santo, não podemos reconhecer a
realidade da nossa natureza pecaminosa e nem mesmo como seguir na vida.
Quando, então Ele vier, convencerá o mundo do seu pecado, da justiça e do
juízo. João 16:8. As boas-novas do Senhor Jesus Cristo surgem para nos
libertar de um mundo de trevas, egocêntrico e falido, para um viver exuberante;
dando sentido real para a vida, sustentado pela graça eterna.
O escritor C. Baxter Kruger, em seu livro “ De volta à cabana”,
faz um comentário edificante: “Foi no próprio Jesus, e em sua morte executada
por nossas mãos cruéis, que a vida trina de Deus se instalou em nosso inferno na
terra, unindo assim tudo o que o Pai, o Filho e o Espírito Santo dividiram com
tudo o que somos em nossa desolação, vergonha e pecado assim fomos
adotados”.
A encarnação e crucificação, morte e ressurreição do eterno
Filho do Pai, ungido pelo Espírito Santo, são a reposta de amor para cada um de
nós indignos, portadores da semelhança de Adão. Porém, Deus comprova seu amor
para conosco pelo fato de ter Cristo morrido em nosso benefício quando ainda
andávamos no pecado. Aquele que vive habitualmente no pecado é do Diabo, pois o
Diabo peca desde o princípio. Para isto, o Filho de Deus se manifestou: para
destruir as obras do Diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não se dedica à
prática do pecado, porquanto a semente de Deus permanece nele e ele não pode
continuar no pecado, pois é nascido de Deus. Romanos 5:8, 1 João 3:8-9.
Essa graça, da semelhança de Adão para a semelhança de Cristo,
começou na eternidade. Porquanto, Deus nos escolheu nele antes da criação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. E, em seu amor, nos
predestinou para sermos adotados como filhos, por intermédio de Jesus Cristo,
segundo a benevolência da sua vontade. Efésios 1:4 e 5.
Paulo afirma que fomos escolhidos antes da criação do mundo e
predestinados à adoção. Note as expressões “nele” e “por intermédio de Jesus
Cristo”. Conhecer este plano de que fomos incluídos na vida trina de Deus antes
da fundação do mundo para sermos semelhantes a Cristo, é a vitória que
precisamos sobre nós mesmos. Somente ganhando a vida de Cristo em nós,
encontramos o verdadeiro e supremo propósito do Pai. Desde o começo, tudo está
relacionado à vinda do Senhor Jesus Cristo para que Sua vida fosse
compartilhada.
Jesus não é o plano alternativo que o Pai, o Filho e o Espírito
Santo rapidamente conceberam e implementaram após o fracasso de Adão. Jesus é o
primeiro, o original, o único plano para nossas vidas. A criação e a história
estão integralmente relacionadas a Jesus. Ele é o alfa e o ômega, o início e o
fim. Jesus em seu Pai, nós nele e ele em nós. Não é um ajuste parcial, mas o
sonho da Santíssima Trindade desde antes da criação do mundo.
Portanto, agora pertencemos ao Deus-Trino porque o velho Adão
morreu na cruz com Jesus. E o supremo propósito de sermos semelhantes a Cristo é
o resultado eficaz do Deus-homem que foi ressuscitado, vencendo a morte e o
pecado, para ser Senhor das nossas vidas. Bendito seja o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo! Porque, de acordo com sua extraordinária misericórdia, nos
regenerou para uma viva esperança, por intermédio da ressurreição de Jesus
Cristo dentre os mortos. 1 Pedro 1:3.
O padrão ou o modelo da existência de Adão e Eva era o próprio
Jesus em seu relacionamento com o Pai e com a futura raça humana e o mundo
criado. Todo o caráter da criação foi determinado pelo fato de que Deus deveria
se tornar homem e viver no meio da Sua criação. Todas as coisas foram projetadas
para a vida no Deus trino, de forma que a existência, a beleza e a graça, o amor
desprendido e altruísta e o companheirismo pudessem se estabelecer na Terra por
meio de Jesus.
Por isso que a nossa salvação em Cristo objetiva atender esse
chamado. E ao experimentar, vivenciamos uma segurança eterna, uma realidade que
não é desse sistema. E com a vida de Cristo, vamos amar e ser amados, cuidar e
ser cuidados, nos dedicar para aquilo que glorifica a Deus.
Precisamos considerar que a graça maravilhosa está disponível
unicamente em Jesus para nos libertar desta insana cegueira e degradação
espiritual. Corrompidos e rebeldes impotentes e sem acesso ao seu trono de amor
e poder.
Em Jesus Cristo, a velha vida de pecados, o mundo hostil da
nossa escuridão, da nossa dor, do nosso obstinado orgulho, da nossa raiva e da
fúria, foram levados no seu corpo santo. Isto não pode ser uma teoria, mas algo
verdadeiro para ser vivenciado a cada dia, em cada área da nossa vida. Antes
mesmo de eu nascer, Deus tinha me escolhido para ser dele, chamando-me por sua
graça! Assim ele resolveu revelar o seu Filho em mim, a fim de que eu pudesse
anunciá-lo aos gentios. Gálatas 1:15-16.
Paulo sabia que sem a vida de Cristo não há vida cristã
autêntica. Vamos continuar à semelhança de Adão ou à semelhança de Cristo?
Meus amados filhos, novamente estou sofrendo como que com dores de parto por
vossa causa, e isso até que Cristo seja formado em vós. Gálatas
4:19.
Solo Deo Glória.
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