domingo, 14 de outubro de 2012

PAI NOSSO QUE ESTÁS NA TERRA

Também disse Deus: Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobres os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Gênesis 1:26.
Quando olhamos para este texto, que a meu ver é um dos mais significativos das Escrituras, podemos nos perguntar: qual a razão desta singularidade na criação do homem? Deus havia criado muitas coisas, mas a nenhuma delas decidiu imprimir sua imagem e sua semelhança. Porém, no que se refere ao homem, encontramos nas Escrituras uma conferência na Trindade para deliberar sobre tal assunto.
Toda a criação de algum modo aponta para Deus, ou fala de Deus, como bem ressaltou o Apóstolo Paulo escrevendo aos romanos, Porque os atributos invisíveis de Deus, assim como seu eterno poder, como também sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Romanos 1:20. Contudo, no que diz respeito ao homem, Deus foi além. E isto ficou registrado nas Escrituras porquanto, o propósito de Deus para o homem era singular - manifestar no homem a Sua imagem e caráter.
Deus estava não apenas criando um ser, mas sim, estava expandindo sua família. Afinal de contas, quem você gostaria que fosse o portador da tua aparência e caráter? Quem você gostaria que fosse a expressão da tua vontade, exercendo autoridade sobre tudo o que lhe pertence, senão o teu próprio filho? Ainda que de maneira intrínseca, a intenção especial de Deus com relação ao homem é muito clara: fazer dele Seu filho e herdeiro.
Seguindo esta lógica, podemos interpretar as Escrituras, no que se refere à revelação de Deus quanto ao que está no Seu coração concernente ao homem, da seguinte forma: O auge da revelação de Deus é que Ele é pai. E o sonho de Deus é ser Pai do homem. Isto pode soar um tanto antropocêntrico se olharmos na perspectiva do homem caído, levando-se em conta que este quer ser o centro e a razão de tudo no universo, como expressão do seu egoísmo, fruto de sua rebelião contra Deus.
Porém, se olharmos na perspectiva do Deus revelado em Cristo Jesus como crucificado, o qual, mesmo sendo o centro e a razão de todas as coisas, tem prazer em servir, abençoar e trazer à existência aquilo que não existe e se dar desta maneira, veremos que isto é perfeitamente possível. Como já disse o poeta: “O amor não cabe em si”, e Deus é amor, por isto Ele se esparrama e se doa.
Depois da queda, o homem ficou deformado por sua tentativa de viver sem Deus. Ele não crê em Deus, a menos que Deus seja ele ou um ídolo criado por ele mesmo, e que portanto, carrega a imagem e a semelhança do homem pós-queda. Como bem ressaltou o poeta Frances Charles Pierre Baudelaire, (1821 – 1867): Se o homem que Deus criou é este que vemos, com toda a sua maldade e sofrimento, então Deus seria o diabo.
Citamos Baudelaire para enfatizar a queda. De fato, o que o homem se tornou depois do pecado é contrário à imagem e a semelhança de Deus. Como vemos descrito no Evangelho de Marcos: Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom se não um, que é Deus. Marcos 10:18. Porém, o que Deus fez em Cristo Jesus na Cruz do Calvário e na ressurreição, foi destruir na morte de Jesus, esta velha criação, inclusive o que o homem se tornou, para recriá-la na ressurreição de Cristo, por isto diz: “E assim, se alguém esta em Cristo, é nova criatura; as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo. 2 Coríntios 5:17.
Deus é Pai, é Filho e é Espírito e, como criou o homem à Sua imagem e semelhança, deu ao homem o partilhar destas três dimensões. Tudo o que foi dito até agora tem como objetivo tratar a seguinte questão: Se, Deus quer se revelar através de mim, como eu tenho revelado Deus aos meus filhos?
É muito importante pensarmos nisto, e ter esta consciência. Falo a partir do pressuposto de que aquele que me lê neste momento, tenha tido esta experiência de novo ser, de ver o Reino de Deus, de ser uma nova criatura. Com isto posto, devemos atentar para o que a Palavra de Deus nos mostra com relação a esta importante tarefa que Ele nos concede, de sermos cooperadores na Sua obra, gerando filhos para Ele, revelando-O a estes filhos, como um Pai que os ama.
Muitos dos filhos jovens entram em conflito no que se refere à identidade de Deus como Pai de amor, porque tiveram modelos que muitas vezes representam Deus como um tirano que nos obriga a fazer coisas que não entendemos, e sem o nosso consentimento; que também nos restringe algumas possibilidades, sem a linguagem do amor. É o famoso: não porque não, e pronto!
Como pais, precisamos estar abertos ao tratamento de Deus, e permitir que Ele nos corrija como filhos, mediante Sua palavra, com o intuito de sermos bênção nas vidas daqueles que o Senhor nos confiou. É um privilégio que Deus nos concede para sermos cooperadores no cuidado, na formação e participação na vida dessas pessoas que Ele, como antes já demonstrou, quer como Seus filhos.
Pensemos no chamado de Abrão. Ora disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai e vai para uma terra que te mostrarei; farei de ti pai de uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Gênesis 12: 1-2 . Deus tem uma chamado para Abrão. Durante toda a sua vida ele aprendeu o que era ser filho, mas agora Deus o chama para ser pai, e a primeira lição que Deus lhe dá está ligada ao fato de deixar a sua terra, a sua parentela e a casa de seu Pai.
Deus esta dizendo: “rompa com o seu passado, e com tudo aquilo que lhe dá um falso sentido de segurança. Daqui por diante eu vou lhe ensinar a ser pai, e para isto, a sua confiança vai ter que estar em mim”. A primeira lição que devemos aprender é que não dá para ser um continuador de algo que serviu para um momento e para um contexto, se queremos ser cooperadores de Deus, em Sua obra de criar filhos para Si. Pois, a única maneira de perpetuarmos modelos é por meio da tirania, porém, isto não revela Deus como um Pai de amor.
A segunda lição que podemos identificar na vida de Abrão, está nos textos de Gênesis 15: 4 e 5, onde Deus lhe promete um filho gerado dele e uma descendência como as estrelas dos Céus. No capítulo 16 versos de 1 a 4, o texto relata a esterilidade de Sara e seu conselho para que Abrão possuísse Hagar sua serva, com o objetivo de ter o herdeiro prometido por Deus. E por fim, no capítulo 17 entre os versos 15 e 22 e no Capítulo 21, quando Abrão é confrontado com a promessa de Deus ele, novamente, tem dificuldades em crer, porém se rende e, a promessa é cumprida com o nascimento de Isaque.
Esta lição diz respeito ao fato de que Deus quando faz uma promessa ele a cumpre, faz parte do seu caráter, não adianta a gente querem produzir filhos pra Deus por que isto, só Deus pode fazer por meio de Sua palavra. Se a gente for tentar ser Deus, o máximo que podemos produzir é filhos para a escravidão, como Paulo o Apóstolo relata em Gálatas capítulo 4. Além do que, Deus age quando a gente se rende. Quando a gente reconhece nossa impotência, Deus está livre para cumprir a Sua palavra.
Depois da primeira e da segunda lição, estamos pronto para a terceira, e esta é sem dúvida a mais difícil. Este ensinamento está contido no capítulo 22 de Gênesis, verso 2, quando Deus coloca Abraão à prova dizendo: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te a terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes que eu te mostrarei. Neste ponto Deus pede a nossa ruptura com o futuro e a nossa entrega daquilo que não nos pertence.
Com a apresentação deste ponto, podemos destacar dois aspectos. Em primeiro lugar, a consciência de que o filho não é nosso, o filho é de Deus. Nossos filhos na verdade, Deus nos confiou para que possamos ser cooperadores em uma maravilhosa missão: Para que sejam feitos Filhos de Deus. Querer um filho para si é desconfiar do caráter de Deus como um Pai. É se achar mais apto do que Deus, além de manifestar um egoísmo, próprio daqueles que querem se perpetuar para o futuro, usando os filhos para isto.
Como Pais, a melhor lição que podemos deixar para nossos filhos é o cumprimento de nossa vocação, até onde ela nos permitir. E isto como expressão de nosso descanso no caráter de Deus. É entender que o passado com seus erros ou acertos não pode mais determinar a nossas vidas, e que o futuro está nas mãos Daquele que fez a promessa e é fiel para completá-la. Como pais, nosso maior desafio é nos render a Deus, para que Ele venha ser em nós o Pai que nós não podemos ser para os nossos filhos. É Cristo viver em mim de tal modo, que Deus possa ser revelado como um Pai de amor. Porque quem vê o Filho vê o Pai. Feliz dias dos pais.
 
Solo Deo Glória.

PARA DEUS, SER FELIZ É...

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Mateus 5:3

O conceito de felicidade, segundo os padrões impostos pelo sistema humano e que governa o modo de vida das pessoas sem Cristo, se resume na satisfação do próprio ego. O que mais importa às pessoas absorvidas pela rede da inimizade com Deus e a amizade com o mundo é o quanto elas podem ser contentadas ou beneficiadas em qualquer situação, e, se for possível, receber os aplausos de outras pessoas. Mas, o que é felicidade segundo a ótica de Deus?
Do ponto de vista da verdade revelada pelo evangelho, que é a Pessoa de Cristo, o enfoque muda radicalmente! Para Deus, felizes são aquelas pessoas que não encontram felicidade em si mesmas, nas coisas que as rodeiam ou no sistema cultural predominante. Sua felicidade vem diretamente da fonte celestial e que se encontra somente na Pessoa do Filho Amado enviado pelo Pai! Como são felizes as pessoas que aprenderam que não são nada e nada possuem sem que a vida de Cristo seja gerada em seus interiores! Felizes, segundo o ensino de Cristo, são as pessoas convencidas de sua própria miséria espiritual diante do Único Senhor e Salvador da vida humana!
O sermão do monte contém a essência dos ensinamentos do reino celestial revelado por e em Cristo! Apresenta um padrão de vida e comprometimento com os princípios Divinos que só uma pessoa pertencente ao reino dos céus pode vivenciar. Este ensino foi dirigido primeiramente aos discípulos, mas também ouvido e crido por muitas outras pessoas na ocasião em que foi pregado.
É a vida vivida na base da desistência, da desconstrução e da dependência que só a graça de Deus em Cristo pode proporcionar! O ensino que Jesus Cristo proferiu naquela montanha procura apresentar aos súditos do Seu reino a maneira de viver que agrada ao Seu Pai, revelada e possibilitada somente pela ação do Seu Espírito! Segundo o critério de Deus ensinado nas bem-aventuranças, não podemos ser felizes pelas nossas próprias “pernas espirituais”.
A revelação do reino dos céus deve nortear quaisquer valores ou práticas cristãs e em quaisquer âmbitos da vida terrena. É o ensino para uma vida nova e completamente distinta daqueles que não vivem a vida de Cristo. Nunca por méritos ou esforços pessoais, mas por meio da vida implantada Daquele que vive em nós logo, não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Gálatas 2:20. Portanto, as pessoas bem-aventuradas ou altamente favorecidas pela graça Divina, jamais dependerão de outra pessoa que não seja a bendita Pessoa do Pai revelado no Filho para serem felizes!
A ética, isto é, o modo de vida ensinado pelo sermão do monte não é um credo morto, um sistema religioso estático ou uma doutrina sem sentido, é antes uma expressão vivencial. Trata-se de um padrão de vida baseado na perfeição de Cristo, que reflete o caráter do Pai e se manifesta naqueles que possuem a vida que vem Dele. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Romanos 8:16.
O traço característico da cidadania espiritual do reino dos céus está presente na ênfase dada à palavra makárioi que pode ser traduzida por “abençoados, altamente favorecidos ou felicitados” pela ação graciosa e perdoadora do Pai Celestial em Cristo. Somente a suficiência de Cristo nos proporciona uma felicidade produzida pela ação do Seu Espírito em nosso cotidiano, nos fazendo reproduzir o Seu caráter!
Os makárioi são pessoas privilegiadas por receberem o favor Divino. São pessoas muito ricas por terem recebido o “tesouro celestial” da graça que há em Cristo para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado. Efésios 1:6. De acordo com esta constatação bíblica, as pessoas felizes são as que possuem uma alegria gerada no íntimo, vinda do Senhor e que faz com que possam celebrar o triunfo do Cordeiro em meio às circunstâncias desfavoráveis a si mesmas. Feliz aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, porque o tempo está próximo. Apocalipse 1:3.
Descreve exatamente o “estado ou condição” das pessoas que experimentam a suficiência da Pessoa e Obra de Deus em Cristo e não se ancoram nas circunstâncias negativas ou positivas em que se encontram. Nunca será uma felicidade caracterizada pelos prazeres superficiais e passageiros produzidos pelo espírito humano ou pela falsa sensação de êxito gerada pelas conquistas tributadas às nossas capacidades de realização.
O termo “pobres” era conhecido entre os judeus e descrevia aquelas pessoas humildes, que viviam na inteira dependência de Deus. Na verdade o termo já era conhecido no Antigo Testamento, referindo-se àquela gente vitimizada pelas opressões, explorações, sofrimentos, misérias e humilhações que lhes eram impostas por pessoas ou sistemas.
O conceito bíblico de intimidade com Deus traz em seu bojo a ideia de um “estado interior de felicidade”, fruto de uma intervenção específica da graça Divina, nas pessoas que passam por situações de adversidade extrema. No entanto esta situação só poderia ser experimentada por aqueles que se viam “totalmente” impotentes e dependentes da ação do Pai Celeste. Somente as pessoas que realmente chegam ao fim de si mesmas podem experimentar a riqueza da presença Divina em meio à pobreza do espírito humano.
Há também outro sentido para os “pobres segundo Deus” que indica uma ausência de orgulho pessoal ou segurança própria, vista numa postura de quem assume a sua total carência da vida e da ação de Deus. É a total dependência humana da misericórdia de Deus, totalmente declarada e experimentada. O evangelho do reino dos céus começa com a total desistência de nós mesmos, os pobres de espírito!
O reconhecimento de nossa pobreza e miserabilidade espirituais, da necessidade de que o perdão do Pai nos seja outorgado e o consequente arrependimento pela condição depravada e pecaminosa são as “credenciais” para que desfrutemos da cidadania celestial. A renúncia de nossas próprias capacidades salvíficas humanizadas e a rejeição de nos submetermos ao “espírito” que rege o mundo são as condições necessárias de acesso e herança do reino celestial porque deles é o reino dos céus.
Será que estamos plenamente identificados com a posição de “pobres segundo Deus” descrita em Mateus 5:3? Temos sido convencidos pelo Senhor sobre da nossa “pobreza espiritual”? Será que estamos refletindo esta realidade espiritual em nossos relacionamentos pessoais, familiares ou ministeriais de maneira intensa e inequívoca?
Embora não seja uma declaração completa e exaustiva de todo o ensino de Jesus Cristo, o sermão do monte sintetiza a essência do ensino sobre o Seu reino. Apresenta o padrão ético do reino do Pai, que só pode ser alcançado por Aquele a quem Ele nos enviou. O ensino de Jesus Cristo apresenta como deveria ser a maneira de viver de Seus imitadores ou discípulos.
A ética do reino dos céus presente no ensino do sermão do monte deve nortear qualquer princípio que leve o nome de cristão e em quaisquer âmbitos da vida humana. É o ensino para uma vida completa e radicalmente diferente do espírito que impera neste mundo anticristão, que hoje é chamado pós-moderno. O conteúdo teológico do sermão do monte é o estabelecimento do padrão divino do reino celestial, invadindo todas as dimensões da vida e ação humanas. Éa transformação produzida pela vida Divina claramente vistas no caráter e na postura das pessoas que pertencem ao Senhor deste reino.
A ética do sermão do monte não é um credo morto, um sistema religioso estático ou uma doutrina que não produz transformação de vidas. Trata-se de um padrão de vida que apresenta a suficiência e a perfeição de Cristo como reflexo do caráter do Seu Pai e visíveis na vida de Seus filhos e filhas.
Alguém já chamou o sermão da montanha de “carta magna do reino dos céus” e “código de conduta de seus cidadãos”. Descreve antes o estado daqueles que são felicitados pelo Pai em seu íntimo e as atitudes naturais que identificam os justificados por Ele.
Há também outro elemento da primeira bem-aventurança que aponta para uma completa ausência de orgulho pessoal ou segurança própria, em relação à dependência de Deus. É a total dependência da misericórdia de Deus, totalmente declarada e vivida. Nada é mais revolucionário no mundo moral. O evangelho do reino dos céus começa com o espírito da renúncia gerado por Deus nos corações de pessoas que se veem pobres e fracassadas diante do Criador e Redentor do universo.
O reino dos céus pode ser caracterizado como o reinado de Cristo na vida de cada pessoa que é convertida pela Sua Obra! A ética de Jesus é a ética deste reino e, a nós, só nos cabe sermos e vivermos pela manifestação da Sua vida em nós!
Como somos felizes quando reconhecemos a nossa própria miséria espiritual! A convicção de que nosso Pai é a Pessoa mais rica que existe e de que somos paupérrimos espirituais tira todo o peso de nossas costas. Muitas vezes ainda tentamos carregar este peso, mesmo tendo uma vida de intimidade e relacionamento com Ele. A verdadeira felicidade, segundo o projeto redentor de Deus, só pode ser alcançada por intermédio da Sua graça manifestada na Pessoa e Obra de Seu Filho!
Alguém já disse que o discípulo de Cristo é aquele que recebe e pratica aquilo que é ensinado em Seu evangelho. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele. João 14:21. O evangelho de Cristo é sempre um ensino e uma realidade em andamento, dinâmica e que não pode ser esgotada por mais que se fale sobre o assunto.
A felicidade gerada por Deus é alegria íntima que sobrevive às situações externas. Expressa uma situação existencial ancorada na ação graciosa do Pai Celestial. É demonstrada pela ausência de orgulho pessoal e de segurança ou justiça próprias, caracterizada por uma relação de dependência incondicional do Pai!
A consciência da insuficiência humana é a primeira atitude que agrada a Deus! Esta primeira bem-aventurança decreta, logo de início, a total falência e impossibilidade de sermos felizes pela suficiência humana. Somente quando reconhecemos a nossa insuficiência, poderemos ser satisfeitos com a suficiência Divina. Por esta razão, todas as outras bem-aventuranças são decorrentes desta desconstrução Celestial!
 
Solo Deo Glória.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PARA UM MUNDO SEM ESPÍRITO, SOMENTE UMA IGREJA ENCARNADA

Respondeu-lhes Jesus: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei. Replicaram os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu, em três dias, o levantarás? Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo.” João 2:19-21.
Jesus certa vez alertou sobre o problema relacionado à ignorância das escrituras, dizendo: “Meu povo perece por não conhecer as escrituras e nem o poder de Deus”. Hoje não é difícil constatar os efeitos nefastos desta ignorância. Mas, baseados em que podemos fazer esta afirmação? Para fazer tal afirmação, basta olhar para o absurdo “nicho de mercado” em que se transformou a dita fé evangélica em nossos dias.
Uso esta expressão “nicho de mercado”, porque para muitos exploradores da fé alheia - se é que podemos chamar este fenômeno de fé - as pessoas nada mais são do que uma freguesia, como Pedro já havia nos alertado. “... por ganância farão comércio de vós...” Estes, encontraram na ignorância do povo em relação às escrituras, associada à autoridade histórica das escrituras, uma oportunidade e um vasto mercado a ser explorado. Jesus testemunhou os mesmos fatos que presenciamos hoje, tal como estão registrados no Evangelho de João capitulo dois, a partir do verso treze.
Outro indicador que nos dá base para assim afirmar, é aquele que possui uma correlação no texto, pois à medida que se ignora as Sagradas Escrituras, o sofrimento, a desesperança e a vacuidade da vida entram em erupção como um carnegão maduro, provocando assim uma avalanche de gente ferida por este sistema religioso maligno – gente usada e aleijada, cega e cansada, desconfiada de uma pseudo divindade exigente e sem misericórdia, que ostenta um caráter duvidoso do tipo que promete, mas não entrega.
Este sistema foi o único capaz de tirar Jesus do sério, a tal ponto de levar Jesus às vias de fato, armado de chicote e pondo abaixo suas bancas e expulsando tais mercadores do templo dizendo: “...Tirai daqui estas coisas e não façais da casa de meu Pai comércio.” João 2:16. O templo, no qual realizavam “seus negócios” tinha uma relação histórica e cultural com o Deus e Pai de Jesus Cristo, e que portanto tinha Sua imagem do Deus disposto à cruz, ultrajada e destorcida pela ganância de homens desonestos e réprobos quanto à fé.
Neste episódio, os discípulos ficaram assustados pelo modo como Jesus mostrou-se enérgico. O assombro só encontrou consolação, devido justamente ao conhecimento das Escrituras que dizia: “O zelo da tua casa me consumirá.” Salmo 69:9a. E que naquele dia, diante de seus olhos, puderam testemunhar o milagre da encarnação do Verbo. Pois, naquele exato momento as Escrituras haviam se tornado palavra de Deus, e aquilo que antes era apenas letra, havia se tornado o Verbo encarnado, Jesus Cristo.
Porém, o grande ensinamento de Jesus viria a seguir. Diante de um mundo alicerçado no poder, o único questionamento proveniente da parte dos judeus, tinha relação com as suas credencias. Sim porque, coragem, virilidade Jesus já havia demonstrado que tinha, para fazer algo que jamais alguém ousou fazer com sucesso.
Agora, a pergunta é: que sinal, que demonstração de poder incomum você tem pra nos apresentar, e que aparentemente não podemos perceber, mas que é extremamente necessário para alguém que toma uma atitude deste tipo? Como Ele teve a ousadia de confrontar poderes econômicos, endossados por aqueles que detinham o poder religioso, e que em tese e, em última análise, tinha esta autoridade sustentada por Deus?
Para a mentalidade humana caída é como se alguém deixasse a bola pingando só para Jesus chutar. Era o cenário ideal para Jesus demonstrar seus poderes Divinos e calar a boca de todo mundo. Talvez fosse oportuna uma demonstração do tipo que estava na cabeça de Tiago e João, na ocasião em que os samaritanos lhes negaram pouso: “Vendo isto os discípulos Tiago e João perguntaram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para consumir os samaritanos?” Lucas 9:54.
Judas com seu espírito belicoso próprio dos sicários deve ter pensado, arrisco-me a conjecturar: É agora que a onça bebe água! Jesus porém, lhes mostra o sinal da Cruz. E evoca a realidade da morte, da fraqueza, da destruição de si mesmo, a inexorável e eterna realidade da cruz. “Jesus lhes respondeu: Destruí este santuário, e em três dias o reconstruirei.” João 2:19. O que causa decepção em muitos, e se constitui em mais uma tentação para Jesus, é de fato a única opção do único Deus. O Deus que é amor.
Os religiosos, normalmente alheios ao espírito de Cruz, ficaram sem saber, nem mesmo do que Jesus estava falando, ou seja, não entenderam nada. Os discípulos só puderam entender depois da ressurreição, que lhes falava a respeito do seu próprio corpo. E nós, mais de dois mil anos depois destes fatos, talvez precisemos ainda, entender melhor o significado das palavras de Jesus Cristo. Este é de fato o assunto central de tudo o que foi tratado até agora.
Nas palavras de Jesus havia não somente uma sugestão, mas também uma profecia. Ainda que os judeus nada tenham feito naquele momento, destruir o santuário foi exatamente o que fizeram na sexta feira da paixão. Naquele dia Ele foi traspassado e moído como profetizou Isaías. O Santuário foi desfeito - o velho corpo, o velho homem.
Nos lugares sagrados, os ditos santos, deliberaram matá-lo. “... Vós nada sabeis, nem considereis que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda nação.” João 11: 49b e 50. Fizeram isto, pois amaram mais suas posições e privilégios e a estrutura arcaica, o odre velho com seu conteúdo velho, como Jesus disse: “ E ninguém tendo bebido o vinho velho, prefere o novo; porque diz: O velho é excelente.” Lucas 5:39.
Porém, a bendita armadilha de Deus estava pronta. O texto, nos versos cinquenta e um e cinquenta e dois, mostra que em Sua soberania Deus usa quem quer “...Não disse isto de si mesmo...” . Referindo-se a Caifás. Além de revelar a intenção real do Pai - reunir Sua família. O que precisamos entender é que o santuário que Jesus queria reedificar, não está relacionado com templos feitos por mãos humanas, como o texto deixa claro, “Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo” .
Jesus se refere ao Seu corpo, porém, Ele não está fazendo menção somente ao Seu corpo glorificado, Ele está se referindo a nós; o corpo de Cristo aqui na terra, como fica evidente no evangelho de João. “Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos”. João 11:51-52.
O mundo vive um processo de tentativa do desencantamento, da morte do transcendente, como se isto fosse possível. Vivemos influenciados pelo materialismo histórico e pelo consumismo, como se isso pudesse constituir o sentido da vida. O máximo que o mundo suporta de Deus, é Deus como uma ideia reguladora, ou como um produto a ser consumido, tendo em vista suas culpas psicológicas e suas buscas frenéticas por um sentimento de adequação.
Isto é bem próprio do mundo, o problema maior é saber o quanto isto tem nos influenciado. Vemos pessoas dizendo: eu frequento tal igreja por causa do louvor, o outro diz: eu gosto mesmo é do ambiente e do trabalho que eles têm com as crianças e com os jovens. Ou ainda: lá tem estacionamento e o ar condicionado é bom e é perto da minha casa. São pessoas que contribuem com a igreja local, quando contribuem, como quem paga uma mensalidade, alimentando assim os mercadores.
Mas nós não aprendemos assim a Cristo. Cristo disse: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” Mateus 16:18b. Nós somos chamados a sermos os ombros do Senhor, quando se arremete contra as portas do inferno, que são suas últimas defesas. Somos chamados a sermos bocas do Senhor para anunciar o Evangelho do amor de Deus aos indignos.
Somos ensinados por Cristo que somos todos necessários no corpo. “ Se todo corpo fosse olho, onde estaria o ouvido?” 1 Coríntios 12:17. Somos ensinados, que não importa quão pequeno podemos nos considerar no corpo, Deus nos confere honra. “E os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra...” 1 Coríntios 12:23a. A palavra de Deus nos ensina que todo o corpo precisa de interação e conexão com a Cabeça que é Cristo. “E não retendo a cabeça, da qual todo corpo, suprido e bem vinculado pelas juntas e ligamentos, cresce o crescimento que procede de Deus.” Colossenses 2:19.
Jesus reconstruiu o santuário de Deus, que somos nós, na Sua ressurreição. “...porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” 1 Coríntios 3:17b. Jesus nos fez Seu corpo, individualmente ligados uns aos outros. “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente membros desse corpo.” 1 Coríntios 12:27.
Que neste mundo sem espírito, tenhamos a consciência e a revelação de que Jesus toca através de nós, que Ele fala pela nossa boca, que Ele age neste mundo por meio da Sua igreja encarnada que é o Seu corpo.
 
Solo Deo Glória.

O DESASTRE DO ODRE VELHO

Já me assemelho a um odre na fumaça; contudo, não me esqueço dos teus decretos. Salmo 119:83.
Odre defumado é odre envelhecido. Sou antigo, sou velho como Davi, mas ainda não me esqueci do concerto da graça feito com Abraão. Os decretos eternos ainda não foram substituídos. A graça nunca foi temporária ou provisória. Por isso, o evangelho acaba escandalizando a religião construída na esteira da história exalando a pecado e transpirando pelo esforço da carne.
Jesus foi consultado por uma turminha que achava esquisita a falta do jejum entre os seus discípulos. Essa gente ardilosa apontava para os discípulos de João e dos fariseus como sendo praticantes exemplares dessa disciplina da alma, e indagava de Jesus a ausência desta matéria entre os alunos do Mestre da Galiléia.
Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão. Lucas 5:34-35.
A partir desta resposta o Senhor lhes conta uma parábola bem esclarecedora para mostrar o equívoco da religião do mérito. Ninguém tira um pedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois rasgará a nova, e o remendo da nova não se ajustará à velha. E ninguém põe vinho novo em odres velhos, pois o vinho novo romperá os odres; entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão. Lucas 5:36-37.
Jesus vai tratar aqui nesta parábola de um modelo já ultrapassado. O Judaísmo vigente em sua época era um sistema arquitetado no tempo em que o povo Judeu estivera escravo na Babilônia. Tratava-se de um recipiente formatado na mentalidade humanista e que havia se tornado arcaico e sem qualquer significado para a realidade nova que estava em processo na vida da nova comunidade da Galiléia.
A fé cristã em andamento não cabia neste odre enrijecido, atrofiado e prestes a se romper com a expansão natural do mosto novo em sua força efervescente. Um odre esclerosado e inflexível não suporta a dilatação causada pelo frescor do vinho jovem. O sistema religioso do velho judaísmo não aguentaria a amplitude da liberdade cristã.
Para Jesus, o vinho novo deve ser posto em odres novos [e ambos se conservam]. Lucas 5:38. As novas do Evangelho devem ser acondicionadas em odres novos. A greve de fome não pode subsidiar a fartura do Pão. A tristeza do velório não consegue garantir a festa do casamento com a sepultura escancarada. O modelo da obediência a fórceps sacado pela lei, nada tem a ver com a obediência patrocinada pelo amor incondicional.
Nós precisamos entender a velhice de uma proposta, sem, contudo, nos atrelar à terrível caduquice de qualquer sistema que tenha sido condenado por Jesus. O Cristianismo, pelo tempo decorrido, já é um odre na fumaça, todavia, é imperioso ver a sua atualidade. Vamos procurar descobrir aqui aquilo que é permanente no estilo cristão; aquilo que foi introduzido pelos adversários camuflados; e aquilo que faz parte do momento histórico.
A fé cristã já tem bastante tempo, mas continua jovem e renovando-se. O que envelhece no processo é o religioso que nela foi implantado. Há muitas coisas que foram adicionadas ao cristianismo que nunca fizeram parte da sua essência. São apêndices exógenos que lhe têm maculado a sua história.
O permanente é o amor incondicional de Abba; é a Casa da liberdade de um Amor sem limites e sem fronteiras. Os mandamentos da fé cristã se reduzem a amar. O culto cristão é a festa da ágape em comunhão familiar, conduzido pelos dons espirituais. A igreja, portanto, não se parece em nada com uma sinagoga gerada na escravatura da Babilônia.
O odre judaico já se encontrava “mochibento” e seco. Este sistema arcaico funcionava sob a influência política de uma hierarquia sacerdotal conspurcada nas fortalezas de Anu, isto é, no panteão sombrio do deus das trevas, fomentado pela filosofia humanista da confusa revolução lenta e sutil de Ninrode. Vejamos Gênesis 10:10-11.
No tempo de Jesus, o judaísmo não tinha mais a Arca da Aliança no lugar Santo do templo, mesmo assim, o Sumo Sacerdote entrava, anualmente, no dia da purificação, naquele lugar Santo, para espargir o sangue no propiciatório. Mas onde estava a Arca? O quê é feito do propiciatório? Era tudo um teatro? Sim, não havia mais a realidade do culto.
O odre judaico fora estragado pela fumaça do humanismo babilônico. O fogo ardente das vaidades havia coberto de fuligem a estrutura da religião marcada pelas paixões carnais.
A Babilônia tem uma história longa com Israel. Abraão foi retirado de lá, mas o velho babilonismo o perseguiu para tentar sequestrar o seu sobrinho na conspiração dos quatro reis conta cinco. Gênesis 14. Além do que, foi longa a demolição desta cultura na vida do patriarca. Do seu segundo chamado em Aran até a oferta de Isaque no monte Moriá foram cerca de 45 anos de desconstrução. Teria chegado ao fim? Que nada.
Essa historia do humanismo religioso tem outros episódios insinuantes. Logo que o povo de Israel entrou na terra prometida, uma capa babilônica aparece nos escombros tentando um dos descendente de Judá com seu estilo das aparências. Acã foi seduzido pelo modelo esnobe do sobretudo que lhe proporcionava uma boa imagem.
Vemos aqui neste episódio que a casca parece valer mais do que o cerne. Este "espírito" babélico é o mundo dos modelitos e das grifes que se preocupam com a fachada. Há um grande perigo com o julgamento baseado na conduta externa, tanto no que diz respeito ao orgulho como a falsa humildade. As capas da Babilônia dão status e as suas togas revelam poder. Por isso, muito cuidado com as fatiotas, elas escondem perigos.
Vejamos a estratégia dos gibeonitas, um dos povos que habitavam a terra prometida. Deus havia dito que todos os povos que moravam em Canaã deveriam ser exterminados. Então, os habitantes de Gibeão usaram de uma camuflagem para se manterem vivos. (Na boa hermenêutica, só a morte do velho Adão pode garantir a ressurreição da nova raça).
Eles se vestiram de roupas velhas e traziam pães bolorentos e odres gastos para dizer que vinham de um terra distante e que tudo aquilo era novo quando eles saíram de sua terra, e que pretendiam fazer uma aliança com Israel. Josué 9.
Com esta estratégia eles se passaram por estrangeiros distantes e acabaram por fazer uma aliança com Israel. Josué e os anciãos não consultaram ao Senhor e realizaram um pacto com eles baseado nas aparências. As roupas gastas, os odres remendados e os pães embolorados foram as artimanhas da justiça própria para engambelar os tolos.
Quando Josué e os lideres descobriram a farsa já era tarde. Eles estavam sob a proteção de um juramento, e o único castigo foi torná-los rachadores de lenha e carregadores de água, mas isto teve um custo alto. O acordo descabido e a presença dos gibeonitas no meio do povo de Deus causou consequências sérias. 2 Samuel 21:1-9.
As aparências enganam. A ética humanista é semelhante à ética cristã na exterioridade, contudo, bem diferente em sua motivação e natureza. A capa da Babilônia é de faixada, promovida pela justiça própria e a vanglória. O que conta, neste caso, é a conduta correta e o estilo garboso, enquanto a ética cristã se fundamenta no amor que procede da vida de Cristo que se manifesta no coração da nova criatura em humildade e mansidão.
Olhando de fora os comportamentos de ambos parecem iguais, mas analisando as intenções vemos uma abismo no meio. Um é forjado na justiça do homem, todavia, o outro, no amor de Deus. O humanismo é quase perfeito na ética estética, mas um desastre na ética intrínseca. O teatro é espetacular. A vida no camarote é um caos.
O odre do judaísmo pós babilônico é do estômago de bodes e encontra-se seco, duro e ríspido. O odre da igreja é construído pelas vísceras do Cordeiro de Deus que se renovam cada manhã pelas misericórdias de Abba. É um recipiente novo e que se expande no processo dinâmico da história.
Enquanto o velho sistema se preocupa com o patrimônio terreno, bem como os usos e costumes de uma sociedade amancebada com o mundo carrasco, a nova comunidade emancipada focaliza-se no Bem Supremo em favor das pessoas que Deus ama.
A igreja é um povo em peregrinação rumo à Nova Jerusalém. É uma coletividade viva e evolutiva que se renova sempre. É um corpo comunitário governado pelo Amor Soberano que determina as funções de acordo com os dons corporativos distribuído de modo bem equilibrado pelo Espírito Santo. Romanos 12:3-7.
Quando, no princípio da história cristã, a igreja ia quebrando a casca do velho odre judaico e construindo o seu odre particular, ela teve que viver muitos anos nas catacumbas, rompendo o sufoco do modelo controlador dos judaizantes que nunca se deram por descartados deste contexto. Essa é uma tiririca persistente, que depois de Teodósio conseguiu engessar, com toda a armadura babilônica, a leveza da fé cristã.
O cristianismo romano retornou ao modelo arcaico do judaísmo babilonizado e a igreja foi modelada no esquema do império decadente. Temos assim um odre velho, hierarquizado, cheio de conchavos querendo manter o vinho novo em expansão em seu sistema roto e enrijecido. Não era possível; daí as muitas rebeliões.
A história da igreja mostra muitas tentativas de grupos conscientes que buscavam a via de libertação e que foram sufocados como hereges. Mesmo assim, um fogo de monturo sempre queimou por baixo dos escombros trazendo a esperança de uma nova realidade.
A reforma foi uma estocada violenta no velho sistema, entretanto, como dizia Dr. Purim, meu ilustre professor, "nós saímos do catolicismo, mas o catolicismo não saiu de nós". O sistema protestante ainda traz as vestes sacerdotais dentro de um clero esclerótico.
Precisamos de luz em nossa caminhada. Precisamos de uma visão clara do modelo da graça plena. Precisamos encontrar aquele odre que permita o desenvolvimento alegre com singeleza de coração em que se manifestem os quatro suportes importantes para a preservação desse vinho novo. E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Atos 2:42.
 
Solo Deo Glória.

A EXALTAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS 9

O Senhor é a minha porção; eu disse que observaria as tuas palavras. Salmo 119:57
A Bíblia é totalmente Cristocêntrica! É a Sagrada Escritura do Pai que fala somente da Pessoa e Obra do Filho, revelada pelo processo hermenêutico do Espírito! Portanto, a Palavra de Deus deverá ser sempre exaltada por expressar esta realidade teológica da harmonia Divina.
O Salmo 119 é um poema de exaltação a Palavra de Deus. É um extenso poema de exaltação ao Logos Divino no contexto da história da redenção no período do Antigo Testamento. É um Salmo que exalta o Cristo revelado na Palavra de Deus! Este Salmo é um ensino sobre a Pessoa do Filho pré-encarnado e personificado através da Palavra de Yahweh.
Ao lermos o Salmo 119 devemos destacar dois aspectos teológicos imprescindíveis ao seu bom entendimento: (1) os termos hebraicos traduzidos por palavras, mandamentos, preceitos, estatutos, lei, juízos, testemunhos, “tipificam” a pessoa de Cristo pré-encarnado e (2) para a total impossibilidade humana de cumprir esta Palavra sem a revelação e a ação Divina. O Salmo 119 é um conjunto de “176 teses teológicas” sobre a revelação da Palavra de Deus que alimenta e norteia a vida das pessoas que dependem Dele.
O Senhor é a minha porção… Porção é dádiva. É o Bem maior que eu recebo e possuo sem ser ou ter feito nada para merecê-lo. A palavra porção pode ser mais bem traduzida pelo termo “herança”. O termo hebraico traduzido por herança tem, ao mesmo tempo, um sentido teológico de “lugar” e “foco”.
É lugar da manifestação pessoal plena de Yahweh. A Pessoa do Senhor é o próprio ambiente espiritual onde somos inseridos, tocados e ministrados pela Sua graça. Esta herança é um lugar onde habita a Pessoa Divina! A ideia transmitida pelo salmista não é a de que precisamos aprender a pensar em ou sobre Deus, mas, sermos encontrados e absorvidos Nele!
Quando o Senhor é a nossa herança, herdamos e possuímos um lote, campo ou terreno que está numa esfera espiritual onde Ele mesmo opera através do Seu amor redentor. É o ambiente onde a graça Divina é distribuída àqueles que se vêm sem nenhuma condição de apresentar-Lhe algo ou agradá-Lo por si mesmos. É o território onde é exercido o Seu amor incondicional e curador aos totalmente carentes em si mesmos.
Quando a nossa herança é o Senhor não existe a possibilidade de vislumbrarmos algo de valor em nós mesmos. Não somos e nem temos nada que possa atraí-Lo a nós, exceto o Seu olhar amoroso que vem ao nosso encontro por causa de nossa condição humana: caída e falida em relação à Sua misericórdia! Somente quando nos vemos sem nada Ele pode ser o nosso tudo. É somente através da experiência da desistência pessoal que a pessoa do Senhor se torna a minha herança.
Herança também fala do Senhor como o “foco” para onde somos levados a olhar. O fato de termos sido inseridos neste lugar, isto é, no Senhor, faz com que possamos lançar nossos olhares para a necessidade manifestação da Sua suficiência em todos os aspectos da existência humana.
Trata-se de experimentarmos a dimensão da total impossibilidade humana diante da total possibilidade Divina. Esta é a realidade do não mais eu, somente Ele. É a esfera terapêutica e curadora para o conflito existente entre duas pessoas: o eu e o Ele. Após termos sido colocados na dimensão espiritual do amor Divino, somos envolvidos e embebecidos neste ambiente da graça.
Quando o nosso foco está na Pessoa de Yahweh, mergulhamos numa relação de intimidade e desfrutamos da suficiência dos Seus cuidados. Perdemos o rumo de nossas potencialidades humanas. Nossa referência torna-se o Senhor e aquilo que Ele pode ser e fazer em nós. O Senhor por nossa herança significa nos perdermos Nele, no outro eu para que tenhamos a libertação do nosso próprio eu. Não há mais sentido para os referenciais e ideais enaltecidos e centrados na capacidade humana.
Quando Ele nos basta, já não encontramos mais satisfação em nós mesmos, em outras pessoas ou objetos materiais. Quando o Senhor é o nosso “Bem Maior” quaisquer outros bens ficam completamente ofuscados e desfocados. O foco na Pessoa do Senhor é uma herança que nos faz experimentar a verdadeira libertação das manias humanas herdadas de Adão.
Ao experimentarmos a herança bendita da Pessoa Divina a Sua suficiência exerce uma ação demolidora e desconstrutora em nossas vontades, emoções e racionalidades. A suficiência do Senhor decreta o fim das possibilidades do nosso eu. A ação santificadora da Divindade é desconcertante para a nossa humanidade. Nos “tira o chão” de nossas tentativas de fuga humanística da presença e dependência do nosso Criador e Redentor.
Eu disse que observaria as tuas palavras... Observar é praticar. Aqui não se trata de uma mera tentativa humana de praticar preceitos estipulados pela Lei Divina. Neste verso o “agir de Deus” se opõe totalmente às expectativas e tentativas do “desempenho humano”. A ação de Yahweh produz em nós o efeito da obediência a Ele. É uma reação produzida pelo Pai quanto ao cumprir da Sua própria Palavra. Falamos aqui do Deus que me faz fazer aquilo que lhe apraz! Nesta parte do versículo, fica claro que qualquer tentativa de “fazer algo para Deus” é pecaminosa quando vinda de nós mesmos. A observância da Palavra Divina só pode ser gerada pelo Seu Autor, em suas motivações e concretudes! A obediência a Palavra de Deus é produto da Sua ação em nos fazer pessoas focadas somente Nele.
Esta observação das palavras de Yahweh deve ser totalmente alimentada e demarcada pela capacidade espiritual Divina de nos fazer praticantes da Sua revelação. Não temos a competência de cumprir nem “as vírgulas” da Palavra do Senhor. Só podemos observar os ensinos da Palavra de Yahweh na medida em que as ações não sejam as nossas Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer João 15:5.
Cumprir a Palavra de Deus é uma questão de “contraste” claro e decisivo entre as potencialidades Divinas e as impossibilidades humanas. Não temos sequer a condição de entendermos a revelação do Pai sem a Sua intervenção Então abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras Lucas 24:45. Se até a possibilidade de entendermos a Palavra de Deus é uma concessão Dele, que dirá o fato de podermos observá-la ou cumpri-la sem a Sua intervenção? Sem a iluminação do Espírito tal coisa sempre foi, é e será impossível!
Guardar a Palavra também tem uma relação intrínseca com o fato de Deus “armazená-la em nossos corações”. Buscarmos em Sua Palavra o nosso alimento e alento espirituais. É fruto da ação sobrenatural de Yahweh fazer com que a Sua Palavra nos seja introjetada, mesmo em meio às agitações internas produzidas pela alma e as circunstâncias externas que nos advenham.
Portanto, a prática da Palavra de Deus é uma consequência sobrenatural que nasce da caminhada de intimidade pessoal com Ele. É um processo espiritual de “obediência causada”. Natural e humanamente falando, não sabemos, queremos ou sentimos a necessidade de obedecer a Deus. É um diagnóstico que só a revelação da Sua Palavra pode nos assegurar!
Quando Yahweh é de fato a nossa herança, apenas expressaremos o Seu agir em todas as dimensões da nossa existência. Somente assim poderemos ter “prazer” em viver de acordo com a Sua Palavra. Não podemos viver sob o peso de termos que observar a Palavra Divina pelo esforço humano. Só o Senhor pode cumprir a Sua Lei em nós! Que alívio, que sensação de liberdade espiritual promovida pela graça Divina sabermos que não precisamos do desastroso e ineficiente empenho humano para observar a Sua Palavra revelada. Que possamos celebrar a ineficiência e a completa ausência do esforço e da capacidade humana no cumprimento desta Palavra!
Este Salmo nos ensina, pela revelação da Palavra Divina, o quanto o “Espírito” que agia através da Lei é o mesmo que age pelo Evangelho. A Lei só poderia ser cumprida pela ação graciosa de Deus em Seu povo. Para tanto, precisavam assumir a sua total incapacidade de cumpri-la diante do Senhor.
O salmista entendeu que cumprir a Palavra do Senhor deveria ser um reflexo da Sua presença nele. É fruto da vida Divina na vida humana. Na ótica Divina, cumprir a Sua Palavra nunca foi (Antigo Testamento) ou é (Novo Testamento) uma pesada obrigação. Obrigação é coisa de religião.
Para Yahweh a nossa obediência a Ele é uma questão de reflexo do Seu próprio caráter revelado para, em e através de nós por intermédio da Sua Palavra. Só existe obediência a Deus quando a Sua vontade direciona as e transparece em nossas vidas. Quando a Palavra de Deus se torna “o único critério” da obediência a Ele, ou a nossa única regra de fé e prática, saímos do domínio da religião para trilharmos no território da graça.
Ele tem sido a nossa herança? Ele é o nosso lugar de descanso e a Sua glória o foco da nossa existência? Nosso “divã espiritual” tem sido unicamente a Pessoa Divina? Vivamos a suficiência do Deus que sacia toda a nossa fome de significado e nos consola em todas as encruzilhadas e dilemas armazenados em nossas almas agitadas por um mundo contrário e hostil a ação redentora e terapêutica do Criador da humanidade!
O Senhor só é verdadeiramente a nossa “herança” ou o nosso “tudo” quando nada mais do que está dentro ou fora de nóspode ser maior do que o contentamento produzido pela Sua presença e suficiência!
 
 
Solo Deo Glória.

A PEDRA ANGULAR, VOCÊ, EU: A IGREJA!

O significado de erosão é o “ato ou efeito de erodir; degradação progressiva produzida na camada terrestre por agentes externos; combinação relativamente constante de diversos processos de corrosão; de corroer lentamente”. Uma das medidas para neutralizar os efeitos da erosão são as curvas de nível, maneira pela qual se evita que um processo progressivo, constante, silencioso e lento da água da chuva, do vento ou do homem, provoque deslizamentos e infiltrações, mudando a consistência e empobrecendo o solo.
Em nossas vidas somos constantemente agredidos por agentes externos que de maneira lenta, silenciosa e sutil têm o propósito de corroer a fé e os fundamentos da nossa prática cristã. Convicções bíblicas muitas vezes são corroídas e deterioradas, produzindo alterações prejudiciais e indesejáveis em nossa base estrutural de vida, na nossa comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo, esgotando a fertilidade da nossa vida espiritual.
O Apóstolo Paulo falando à igreja em Corinto diz: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais”. 2 Coríntios 11:3-4. Quando a Palavra de Deus deixa de ser o fundamento absoluto de nossas vidas, o referencial indicador desaparece ou fica anuviado, mas continuamos a pensar que nada mudou, que estamos ainda no mesmo lugar, mas na verdade o barco está rodando junto com a maré.
O apóstolo Paulo, escrevendo ao seu irmão, amigo e discípulo Timóteo diz: “Além disso, a linguagem deles corrói como câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto. Estes se desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a fé a alguns. Entretanto, o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os que lhe pertencem. E mais: Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.” 2 Timóteo 2:17-19.
Todo ser humano precisa de marcos em sua vida que lhe dão sentido de tempo e espaço na história. Sem acontecimentos marcantes em nossas vidas perdemos o sentido de direção, de distância e tempo. Um marco geodésico é uma pedra, estaca ou sinal para indicar uma posição cartográfica precisa. Marcos são referenciais que servem para mostrar até que ponto nos movemos em direção a um alvo ou quanto nos desviamos da rota. Ao olharmos para o ponto de referência podemos verificar nossa “posição geográfica” e lembrarmos o motivo inicial de nossa caminhada.
As dunas são elevações de areia e por causa da sua mobilidade causada pelos ventos, jamais poderão servir de arcos de fronteiras. Precisamos então de referências claras e absolutas em nossas vidas, afim de periodicamente conferirmos nossa rota. O maior “marco geodésico” na vida de um cristão é a Cruz de Cristo. A Palavra de Deus é a expressão do seu caráter e de sua vontade e por isso precisamos de sua luz. “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos”. Salmos 119:105
E qual é a importância do “marco geodésico” para a igreja atual? Se pudéssemos voltar literalmente na história, na época de Jesus poderíamos verificar com nossos olhos que não havia igreja instituída. Nem os discípulos e nem os líderes religiosos tinham ouvido o termo igreja até o momento em que Jesus o mencionou. Certo dia enquanto Jesus andava com seus discípulos em direção a Cesaréia de Filipe, perguntou sobre o que pensavam as pessoas a seu respeito. Após as várias respostas, Jesus perguntou: “E vocês? Quem vocês dizem que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” Neste momento Jesus se dirige a Pedro e diz: “Não foi carne ou sangue que te revelou isto, mas foi meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo que sobre essa confissão firme como a rocha eu edificarei a minha igreja e nem as portas do inferno prevalecerão”. (Mateus 16:13-16).
Nesta afirmação Jesus deixou claro que o Cristo é o arquiteto, o engenheiro e o construtor da Igreja. Penso que muitas vezes assim como os discípulos, nós também não temos noção do que isso significa. Jesus disse que Ele edificaria a Sua Igreja. A palavra “minha” caracteriza posse, domínio, autoridade e cuidado. Aqui está um ponto de referência onde devemos parar e medir: Cristo é o Cabeça (1 Coríntios 11:3) de nossa vida, de nossa família, de nossa igreja local, ou a erosão tem corroído essa verdade?
O termo usado nas Escrituras para igreja é ekklesia, que significa “chamados para fora”. A Eclésia era a principal assembleia da democracia ateniense na Grécia Antiga. Era uma assembleia popular, aberta a todos os cidadãos do sexo masculino, com mais de dezoito anos, porém quando Jesus disse: “edificarei a minha igreja”, Ele revela que construiria uma assembleia de pessoas, um povo que deposita sua fé no que Pedro confessou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Não somente um ajuntamento de pessoas com ideias parecidas ou com boas intenções, mas uma comunidade de salvos por Jesus Cristo, identificadas pela vida transformada, que creem nas Escrituras como inabalável e atemporal Palavra de Deus, que vive e se reúne com o único propósito de glorificar a Deus.
Não muitos meses depois das palavras de Pedro, Jesus Cristo foi crucificado, ressuscitou e ordenou que os discípulos permanecessem em Jerusalém até a descida do Espírito Santo e então foi assunto aos céus. No dia de Pentecostes, o Espírito Santo desceu sobre aquele grupo de cerca de 120 pessoas para realizarem o que Jesus disse que faria: seriam testemunhas. Jesus então começou a edificar a Sua Igreja.
Após a mensagem de Pedro em Pentecostes cerca de três mil pessoas creram no Senhor Jesus Cristo. Em Atos 2:42 diz como a igreja vivia: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Quando um grupo de irmãos em Cristo se reunia, se dedicavam a quatro coisas: à doutrina, à comunhão, ao partir do pão e à oração.
Aqui estão quatro elementos característicos da Igreja de Jesus Cristo a qual Ele edifica. A falta de qualquer um desses elementos causa a erosão das colunas que se apoiam no fundamento. Que fundamento? A Pedra Angular! Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito. Efésios 2:19-22. Nossas vidas fazem parte deste santuário dedicado ao Senhor que Cristo está construindo.
A doutrina dos apóstolos é o ensino das Escrituras Sagradas na centralidade da pessoa de Cristo, para toda a nossa vida. Hoje as pessoas tem acesso a muita informação bíblica, mas poucos a têm como Palavra de Deus inspirada, absoluta, infalível e confiável. O que quer dizer isso? Quer dizer que muitos de nós, estão quando muito, com a bíblia debaixo do braço, utilizando-se dela como recurso de autoajuda. Quer dizer que a Palavra de Deus tem sido usada como um objeto quando muito, carregado para a reunião de domingo. Vejamos dois textos: Mateus 22:29 e João 5:39. “Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus”. “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”.
Creio que nunca na história da igreja a Palavra de Deus foi tão relativizada pela fé evangélica, e os pensamentos e maneira de viver tão corroídos pelo mundanismo. Se você teve a oportunidade de ser instruído na Palavra de Deus em seu lar quando criança, esse foi um grande privilégio, pois hoje poucos pais cristãos fazem isto. Sem a Palavra de Deus que é viva e eficaz, crianças, jovens e adultos com o tempo ficam confusos por não discernirem entre as alternativas que lhes são apresentadas. O discernimento sobre a verdade absoluta e a mentira está erodido, e muitos já não conseguem ficar com a Palavra de Deus em suas decisões porque não distinguem o que é a Verdade.
Se a Palavra de Deus não ocupar o lugar central em nosso culto público e privado outra coisa tomará esse lugar. Se nossos cânticos não forem espirituais, baseados nas Escrituras Sagradas, centrados na adoração à Trindade Santa, o jeito mundano de louvor centrado no prazer do homem, fará a nossa cabeça como faz a de muitos por aí. Se a nossa mente não for uma esponja encharcada de Jesus Cristo, nosso coração desejará músicas que expressam o hedonismo, a ambiguidade e desejos carnais.
A Bíblia nos diz em Lucas 6:45: “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração”. Um dos sinais que mostram do que nosso coração está cheio é quando estamos reunidos para a comunhão. Aquela comunhão que Lucas fala em Atos 2! Os conteúdos de nossas conversas enchem nosso coração de alegria por lembranças bíblicas e fortalecimento do amor em Cristo? Nossos filhos expressam uma linguagem sadia quando estão reunidos numa festa? Acreditem irmãos, essas coisas são sintomas que podem nos sinalizar o quanto nos desviamos progressivamente, lentamente e sutilmente. Vejamos esse texto citado na íntegra: “Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude”... (2 Pedro 1:2-8)
A adoração comunitária se revela profunda ou superficial dependendo da intimidade com Deus que nutrimos em nossa vida diária. Assim também o partir do pão na ceia revela como está nossa vida de comunhão com Jesus Cristo. A doutrina dos apóstolos e a comunhão, o partir do pão e as orações são elementos referenciais, marcos e marcas de uma vida e também de uma igreja que está sendo edificada por Jesus Cristo. Essa é uma igreja que testemunha de Cristo, que é sal e luz, que está na terra para glorificar a Deus e ser a expressão de Vida para uma sociedade apodrecida.
Assim diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos. Jeremias 6:16. Estamos vivendo tempos difíceis e é necessário que coloquemos nosso coração diante do Pai, clamando que Ele sonde o nosso coração, a fim de que possamos estar atentos e como o apóstolo Paulo escreveu “não nos conformando com este mundo, mas sendo transformados pela renovação da nossa mente, para que experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:1-2). Não se esqueça, a erosão acontece de maneira progressiva, constante, silenciosa e lenta. Para aqueles que são filhos de Deus fica a exortação. Qual é o maior “marco geodésico” de sua vida? O que norteia tua caminhada cristã? “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor”. Hebreus 12:28.
 
Solo Deo Glória.

DA SEMELHANÇA DE ADÃO PARA A SEMELHANÇA DE CRISTO

Os que são da terra são semelhantes ao homem terreno; os que são dos céus, ao homem celestial. Assim como obtivemos a imagem do homem terreno, receberemos de igual modo a imagem do homem celestial.1 Coríntios 15:48-49.
A explanação da Palavra de Deus não deixa dúvidas com relação à criação do primeiro homem-Adão e, consequentemente, do reprodutor da raça humana (15:45). A criação humana não é fruto do acaso e nem resultado final de uma evolução de milhões de anos. Muito menos, de uma ameba e nem mesmo de macacos, mas de Deus. A verdade incontestável é que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus.
Essa semelhança certamente não é física, pois Deus é Espírito. E o ser humano por sua vez é também moral e espiritual. Somente pela morte e ressurreição em Cristo, o ser humano poderá ter o relacionamento restaurado com o seu Criador, perdendo a semelhança adâmica, causadora de todos os males, e recebendo a vida de Cristo no seu interior. Nossa origem é do Deus trino. A imagem e a semelhança criadas foram manchadas pelo pecado. Ele penetrou em todas as instâncias da nossa existência: nosso corpo e nossa alma, nossa razão e nossos sentimentos. Vocês estão doentes da cabeça aos pés, cheios de feridas abertas, sujas, cheias de sangue e de pus, feridas que nunca foram enfaixadas nem tratadas com azeite! Isaías 1:6.
Somos ambíguos e contraditórios. Paulo chega a dizer sobre o bem, que queremos fazer, mas não praticamos. Somos tendenciosos em nos achegar ao mal que não queremos, e esse fazemos. O estado da humanidade é o de depravação total. O ser criado à imagem e semelhança do Criador foi deformado. As graves consequências do pecado de Adão e Eva já se manifestaram em seu primeiro filho Caim.
O monstruoso crime do assassinato de Abel deixou evidente a perversidade da natureza que Adão e Eva transmitiram à sua descendência. Adão o gerou à sua semelhança, conforme a sua imagem. Gênesis 5:3. E não conforme à imagem e semelhança de Deus, com a qual fora criado e que deveria transmitir aos seus filhos, se não houvesse desobedecido.
Quando o primeiro homem pecou, toda a raça humana foi simultaneamente atingida com a mesma gravidade. O seu feito não foi particular, mas coletivo. Concluindo, da mesma forma como o pecado ingressou no mundo por meio de um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte foi legada a todos os seres humanos, porquanto todos pecaram. Romanos 5:12. Todos pecaram em Adão porque todos estavam presentes nele, assim como a árvore está presente em sua semente.
Adão é o representante de todos os seres humanos. Achar que o ser humano é bom é uma teoria antiga desde Caim e também de muitos pensadores. Um deles é o monge britânico Pelágio (409). Ele ensinava que ninguém herda a natureza corrompida de Adão, mas que se torna pecador. O ensinamento das Escrituras consiste em afirmar que toda a humanidade estava seminalmente em Adão, quando ele pecou, e, por isso, o ato dele foi feito também por todos os seus descendentes.
A queda foi um ato coletivo onde todos tomaram parte, e tendo a mesma responsabilidade de Adão. Todos se desviaram, tornaram-se juntamente inúteis; não há ninguém que pratique o bem, não existe uma só pessoa. Pois todos pecaram; todos fracassaram, e estão afastados da glória de Deus. Romanos 3:12,23 (Nova Bíblia Viva). Com a queda de Adão, o Éden (ambiente de prazer e comunhão) foi desfeito, dando lugar aos espinhos e abrolhos, isto é, causando uma grande deformidade em todas as relações.
A hostilidade é fruto de um coração de pedra que acaba contaminando a si mesmo e tudo o que está ao seu redor. A semelhança do Adão caído, - que também pode ser chamado de homem velho (Rm 6:6), filhos espirituais do diabo (Jo 8:44), homem natural (1 Co 2:14), mortos espirituais e filhos da ira (Ef 2:5, 3) - tem se perpetuado naqueles que não nasceram de novo. Ao se entregar ao pecado, os planos maus tomaram conta. O seu coração está cheio de dolo e seus desejos são continuamente maus.
O veredito da escolha humana é muito penoso: Ninguém jamais seguiu realmente as veredas de Deus, nem mesmo desejou verdadeiramente fazê-lo. Todos se desviaram; todos caíram no erro. Não há ninguém que faça o bem, nenhum sequer. O que falam é abominável e tão sujo quanto o mau cheiro de uma sepultura aberta. Suas línguas estão cheias de mentiras. Tudo o que dizem tem o ferrão e o veneno de serpentes mortíferas. Suas bocas estão cheias de maldição e de amarguras. Estão prontos para matar, odiando qualquer um que não concorde com eles. Por onde quer que vá eles deixam a miséria e a desgraça atrás de si. Não conhecem o caminho da paz. Não se importam em temer a Deus, tampouco com o que ele pensa deles. Romanos 3:11-18.
Esse ser criado sob o supremo propósito divino deixou a imagem e semelhança do Deus eterno para ser a imagem e semelhança do Adão caído, e assim o caos foi instalado. A designação desse ambiente, para uma realidade física e espiritual, é de ervas daninhas. Com a queda, aquela harmonia bonita foi quebrada. Agostinho interpreta muito bem esse fato dizendo: A partir daquele momento, as ruínas da morte, envelhecimento, declínio físico e doenças acompanharão a vida humana. A vida marcha inexoravelmente em direção à sepultura.
Sem a obra do Espírito Santo, não podemos reconhecer a realidade da nossa natureza pecaminosa e nem mesmo como seguir na vida. Quando, então Ele vier, convencerá o mundo do seu pecado, da justiça e do juízo. João 16:8. As boas-novas do Senhor Jesus Cristo surgem para nos libertar de um mundo de trevas, egocêntrico e falido, para um viver exuberante; dando sentido real para a vida, sustentado pela graça eterna.
O escritor C. Baxter Kruger, em seu livro “ De volta à cabana”, faz um comentário edificante: “Foi no próprio Jesus, e em sua morte executada por nossas mãos cruéis, que a vida trina de Deus se instalou em nosso inferno na terra, unindo assim tudo o que o Pai, o Filho e o Espírito Santo dividiram com tudo o que somos em nossa desolação, vergonha e pecado assim fomos adotados”.
A encarnação e crucificação, morte e ressurreição do eterno Filho do Pai, ungido pelo Espírito Santo, são a reposta de amor para cada um de nós indignos, portadores da semelhança de Adão. Porém, Deus comprova seu amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido em nosso benefício quando ainda andávamos no pecado. Aquele que vive habitualmente no pecado é do Diabo, pois o Diabo peca desde o princípio. Para isto, o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do Diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não se dedica à prática do pecado, porquanto a semente de Deus permanece nele e ele não pode continuar no pecado, pois é nascido de Deus. Romanos 5:8, 1 João 3:8-9.
Essa graça, da semelhança de Adão para a semelhança de Cristo, começou na eternidade. Porquanto, Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença. E, em seu amor, nos predestinou para sermos adotados como filhos, por intermédio de Jesus Cristo, segundo a benevolência da sua vontade. Efésios 1:4 e 5.
Paulo afirma que fomos escolhidos antes da criação do mundo e predestinados à adoção. Note as expressões “nele” e “por intermédio de Jesus Cristo”. Conhecer este plano de que fomos incluídos na vida trina de Deus antes da fundação do mundo para sermos semelhantes a Cristo, é a vitória que precisamos sobre nós mesmos. Somente ganhando a vida de Cristo em nós, encontramos o verdadeiro e supremo propósito do Pai. Desde o começo, tudo está relacionado à vinda do Senhor Jesus Cristo para que Sua vida fosse compartilhada.
Jesus não é o plano alternativo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo rapidamente conceberam e implementaram após o fracasso de Adão. Jesus é o primeiro, o original, o único plano para nossas vidas. A criação e a história estão integralmente relacionadas a Jesus. Ele é o alfa e o ômega, o início e o fim. Jesus em seu Pai, nós nele e ele em nós. Não é um ajuste parcial, mas o sonho da Santíssima Trindade desde antes da criação do mundo.
Portanto, agora pertencemos ao Deus-Trino porque o velho Adão morreu na cruz com Jesus. E o supremo propósito de sermos semelhantes a Cristo é o resultado eficaz do Deus-homem que foi ressuscitado, vencendo a morte e o pecado, para ser Senhor das nossas vidas. Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Porque, de acordo com sua extraordinária misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, por intermédio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. 1 Pedro 1:3.
O padrão ou o modelo da existência de Adão e Eva era o próprio Jesus em seu relacionamento com o Pai e com a futura raça humana e o mundo criado. Todo o caráter da criação foi determinado pelo fato de que Deus deveria se tornar homem e viver no meio da Sua criação. Todas as coisas foram projetadas para a vida no Deus trino, de forma que a existência, a beleza e a graça, o amor desprendido e altruísta e o companheirismo pudessem se estabelecer na Terra por meio de Jesus.
Por isso que a nossa salvação em Cristo objetiva atender esse chamado. E ao experimentar, vivenciamos uma segurança eterna, uma realidade que não é desse sistema. E com a vida de Cristo, vamos amar e ser amados, cuidar e ser cuidados, nos dedicar para aquilo que glorifica a Deus.
Precisamos considerar que a graça maravilhosa está disponível unicamente em Jesus para nos libertar desta insana cegueira e degradação espiritual. Corrompidos e rebeldes impotentes e sem acesso ao seu trono de amor e poder.
Em Jesus Cristo, a velha vida de pecados, o mundo hostil da nossa escuridão, da nossa dor, do nosso obstinado orgulho, da nossa raiva e da fúria, foram levados no seu corpo santo. Isto não pode ser uma teoria, mas algo verdadeiro para ser vivenciado a cada dia, em cada área da nossa vida. Antes mesmo de eu nascer, Deus tinha me escolhido para ser dele, chamando-me por sua graça! Assim ele resolveu revelar o seu Filho em mim, a fim de que eu pudesse anunciá-lo aos gentios. Gálatas 1:15-16.
Paulo sabia que sem a vida de Cristo não há vida cristã autêntica. Vamos continuar à semelhança de Adão ou à semelhança de Cristo? Meus amados filhos, novamente estou sofrendo como que com dores de parto por vossa causa, e isso até que Cristo seja formado em vós. Gálatas 4:19.
 
Solo Deo Glória.