quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

"QUEM ME LIVRARÁ DO CORPO DESTA MORTE?

Faremos mais algumas poucas observações sobre essas palavras finais de Romanos 7.
"Quem me livrará do corpo desta morte?" "Quem me livrará?" Esta não é uma línguagem de desespero, e sim de um desejo ardente de ajuda de fora e do alto. Aquilo do que o apóstolo desejava ser livre é chamado de "o corpo desta morte". Esta é uma expressão figurada, pois a natureza carnal é chamada de "o corpo do pecado" e vista como algo que tem "membros"(Rm 7.23). Portanto, entendemos que as palavras do apóstolo significam:"Quem me livrará desse fardo mortal e pernicioso - meu eu pecaminoso?!"
No versículo seguinte, o apóstolo responde essa pergunta:"Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor"(Rm 7.25). Deve ser óbvio para qualquer mente imparcial que isso aponta para o futuro. Paulo havia perguntado:"Quem me livrará?" A sua resposta foi:Jesus Cristo me livrará. Isso expõe o erro daqueles que ensinam uma libertação presente da natureza carnal, por intermédio do poder do Espírito Santo. Em sua resposta, o apóstolo não falou nada sobre o Espírito Santo; ao invés disso, ele mencionou apenas "Jesus Cristo, nosso Senhor". Não é por meio da obra presente do Espírito Santo em nós que os crentes serão libertados " do corpo desta morte", e sim por meio da vinda futura do Senhor Jesus Cristo para nós. Naquele tempo, esse corpo mortal será revestido de imortalidade, e a nossa corrupção, de incorrupção. Como se estivesse pensando em remover toda dúvida a respeito de que essa libertação ocorrerá no futuro, o apóstolo concluiu dizendo:"De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado". O leitor deve observar cuidadosamente que Paulo havia agradecido a Deus pelo fato de que ele seria libertado. A última parte do versículo 25 resume o que ele havia dito na segunda parte de Romanos 7; descreve a vida dupla do crente. A nova natureza serve a lei de Deus; a velha natureza, até ao final da História, servirá à "lei do pecado".Que isso aconteceu com o apóstolo Paulo é evidente das palavras que ele escreveu no final de sua vida, quando chamou a si mesmo de"o principal"dos pecadores(1 Tm 1.15). Essa afirmativa não era um exagero de fervor evangelístico, nem mesmo um motejo de modesta hipocrisia. Era uma convicção segura, uma experiência vivenciada, uma conscientização firme de alguém que viu com amplitude as profundezas da corrupção que havia em seu próprio íntimo e que sabia o quanto ficava aquém de atingir o padrão de santidade que Deus havia colocado diante dele. Essa também é a convicção e a confissão de todo crente que não se encontra cativo ao preconceito. E o resultado dessa convicção fará o crente desejar mais intensamente o livramento e agradecer a Deus com mais fervor pela promessa do livramento, na vinda de nosso Senhor, "o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si todas as coisas"(Fp 3.20). E, havendo feito isso, o Senhor Jesus nos apresentará, "com exultação, imaculados diante da sua glória"(Jd.24). Aleluia! Que grande Salvador!
É admirável que somente mais uma vez a palavra"desventurado"é utilizada no Novo Testamento(no texto grego). Essa outra ocorrência está em Apocalipse 3.17, onde Cristo disse à igreja de Laodicéia:"Nem sabes que tu és infeliz". A arrogância dos membros dessa igreja era que eles não precisavam" de coisa alguma". Eles estavam tão inchados com a soberba, tão satisfeitos com o que haviam atingido, que não tinham consciência de sua própria miséria. E não é isso mesmo que testemunhamos em nossos dias? Não é evidente que estamos vivendo no período laodiceiano da igreja? Muitos estavam cônscios da "necessidade", mas agora imaginam que recaberam a "segunda bênção", ou que obtiveram o "batismo do Espírito Santo", ou que entraram na "vitória". E, imaginando isso, pensam que sua necessidade foi satisfeita. E a prova disso é que eles vivem em uma atmosfera de tal superioridade espiritual, que nos dirão haverem saído de Romanos 7 e entrado na experiência de Romanos 8. Com desprezível complacência, eles nos dirão que Romanos 7 não descreve mais a experiência deles. Com presunçosa satisfação, eles olharão com piedade para o crente que clama: "Desventurado homem que sou!" e como o fariseu, no templo, agradecerão a Deus porque a situação deles é diferente. Pobres almas cegas! É  exatamente o que o Filho de Deus afirma nessa passagem de Apocalipse:"Nem sabes que tu és infeliz". Nós dissemos:"Almas cegas", porque observamos que é para os crentes laodicenses que Jesus declara:"Aconselho-te que de mim compres..colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas"(Ap 3.19).
Devemos observar que na segunda parte de Romanos 7 o apóstolo Paulo fala no singular. Isso é admirável e bastante abençoador. O Espírito Santo desejava transmitir-nos a verdade de que mesmo as mais elevadas realizações na graça não isentam o crente da dolorosa experiência ali descrita. Com o pincel de um artista, o apóstolo retratou - utilizando a si mesmo como o objeto da pintura - a luta espiritual do filho de Deus. Ele ilustrou, por referir-se à sua própria experiência, o conflito incessante que se realiza entre duas naturezas antagonistas naquele que nasceu de novo.
Que, em sua misericórdia, Deus nos liberte do espírito de orgulho que agora corrompe o ambiente do evangelicalismo moderno e nos conceda um humilde ponto de vista a respeito de nossa própria impureza; fazendo-o de tal modo que nos unamos ao apóstolo Paulo em clamar com um fervor cada vez mais profundo: "Desventurado homem que sou!" Sim, que Deus outorgue tanto ao autor dessas linhas quanto ao seu leitor uma tão grande percepção de sua própria depravação e indignidade, que eles realmente se prostrem no pó, diante de Deus, e O adorem por sua maravilhosa graça para com esses pecadores que merecem o inferno.

Solo Deo Glória  

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