Mateus
16:18
Depois de uma assembléia da igreja, muito agitada, alguém
perguntou ao pastor: - a igreja é uma reunião de pessoas com uma razão
determinante ou mera razão social? Eis aqui uma questão importante para nós
tentarmos considerar neste estudo.
Igreja é uma palavra relacionada com o novo pacto. Ela só
aparece no Novo Testamento, tendo em seu significado a idéia de uma reunião de
pessoas sob a autoridade do nome de Jesus. Porque, onde estiverem dois ou
três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles. Mateus 18:20.
A igreja é uma comunidade de indivíduos regenerados pela graça
de Deus e chamados do mundo para formar o corpo de Cristo na terra. Ela é um
organismo vivo que reflete a vida espiritual de Cristo. O fato de um grupo ser
considerado igreja tem como base a sua vinculação única e total com a pessoa de
Cristo.
A reunião dos sujeitos que estão sujeitos à vida de Cristo,
porque morreram e ressuscitaram juntamente com ele, é a excepcional comprovação
da existência de uma igreja cristã autêntica. A amostra da igreja é a afluência
dos santos.
A prova da existência de uma igreja de Cristo é o agrupamento
de gente regenerada que se reúne para glorificar a Deus, edificar-se mutuamente
e proclamar o evangelho da graça. Essa reunião, grande ou pequena, se
caracteriza pelo encontro das pessoas nascidas de novo com o propósito de fazer
a vontade do seu Pai celestial.
Esse ajuntamento dos salvos é o que destaca a realidade da
igreja. Malcolm Watts sustentava: "precisamos reunir-nos com a igreja militante
se esperamos reunir-nos com a igreja triunfante. Unidos na graça, o povo de Deus
prepara-se para a glória".
A igreja é conceituada biblicamente como o corpo de Cristo na
terra. Um corpo saudável é a associação de vários membros sadios. Um membro
separado do corpo não pode ser considerado um corpo integral, ainda que um corpo
possa ser mutilado de alguns membros, todavia, nenhum membro, em si, pode ser
visto como se fosse o corpo.
Nenhum crente sozinho é a igreja. Só a reunião de duas ou mais
pessoas regeneradas pela graça de Deus em Cristo forma uma igreja. Por isso, não
cabe ao crente a dúvida de pertencer ou não a uma igreja. A comunhão na igreja é
algo natural para o crente.
Billy Sunday disse com bom humor que, "ir à igreja não faz de
você um cristão, assim como ir à garagem não faz de você um automóvel".
Entretanto os santos preferem a boa companhia daqueles que esposam os mesmos
ideais em Cristo. Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis
nos quais tenho todo o meu prazer. Salmos 16:3.
A Trindade é a união de três pessoas na Divindade. A Bíblia
mostra que Deus é tri uno, isto é: uma unidade que envolve o Pai, o Filho e o
Espírito Santo num mesmo ser. Não há cisão nem competição entre eles. A unidade
de Deus é o padrão da igreja.
Com o modelo da coesão divina, Jesus ora pela integração da
igreja, a fim de que haja reunião sob o aditamento da unidade. Já não
estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de
ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um,
assim como nós. João 17:11.
A unidade da igreja é o resultado do esforço participativo
promovido pela obra da cruz, ao desarraigar o egoísmo sufocante do velho homem,
bem como, pela operação do Espírito Santo conectada ao padrão da Trindade. A
morte do ego junto com Cristo e o molde solidário do Deus trino promovem a
harmonia da reunião dos santos. Esforçando-vos diligentemente por
preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; Efésios 4:3.
Volto a enfatizar: a evidência de uma igreja cristã legítima é
a reunião em nome de Jesus Cristo sob a direção do Espírito Santo, a fim de que
o Pai seja exaltado, os membros sejam edificados em paz e o evangelho da graça
seja pregado aos desiludidos.
Antes de qualquer coisa precisamos verificar que a igreja de
Cristo é um organismo vivo. Ela não é uma organização, mas é bom que se diga:
esse organismo tem organização. A igreja não é uma empresa, ainda que o seu
empreendimento, nos tempos atuais, requeira formalidades legais e
administrativas de uma firma.
A igreja tem uma razão social de personalidade jurídica, porém
a sua reunião social tem uma razão que vai além da sua legalidade. A razão das
reuniões da igreja é a revelação da pessoa de Cristo. Langston dizia que "a
igreja é uma comunidade cristocêntrica, uma vez que as suas atividades devem ser
inspiradas e dirigidas por Cristo. – O motivo é Cristo. O modelo é Cristo. O
objetivo é Cristo".
A igreja no mundo moderno precisa da razão social para poder
funcionar legalmente, mas a principal razão da igreja é a reunião jubilosa dos
seus membros sob o comando soberano daquele que é a cabeça do corpo, Cristo
Jesus.
Precisamos verificar o que é essencial e o que é secundário na
vida da igreja. Se não soubermos fazer essa análise podemos cair no laço que
valoriza o assessório em lugar daquilo que é fundamental. Muita gente ilustre
tem se perdido no emaranhado daquilo que é periférico. A igreja tem sofrido mais
pela inabilidade das ovelhas em discernir aquilo que é efetivo do que pela fúria
da alcatéia.
A igreja se expressa pela reunião, com alegria, de duas ou mais
pessoas em nome de Jesus. Essa reunião mostra que o seu motivo é a pessoa de
Jesus Cristo no centro de tudo. Por causa do Cristo elas se juntam com a
finalidade de adorar, comungar e compartilhar em grande estilo de felicidade. Se
faltar contentamento na reunião é porque falta a consciência de que Cristo já
ressuscitou e não somos mais escravos do pecado.
A principal razão deste agrupamento é a adoração ao Cordeiro. A
sede adequada de uma igreja qualquer é a presença do Cordeiro no meio do povo e
nunca a presença do povo em algum lugar especial. A igreja não possui lugares
exclusivos de culto. Os templos são tão
somente cascas onde se reúne o povo,
mas a igreja pode adorar à beira de um rio ou à sombra de uma árvore. O que
torna a reunião da igreja significativa é a certeza da presença de Cristo e o
gozo espiritual daqueles que se ajuntam para adorá-lo.
O maior desastre que pode atingir a uma comunidade de crentes é
a ausência ou distorção da verdadeira adoração com alegria. Por favor, não
confunda adoração com comemoração, show, programa ou solenidade. A adoração
cristã é o reconhecimento extasiado do adorador diante da magnífica natureza
Divina.
Hoje, estamos mais preocupados com as emoções do que com a
admiração. Há pouca gente que se maravilha com a excelência de Cristo e a
grandeza da graça. A adoração bíblica reflete o deslumbre do filho de Deus
diante da magnitude da sua pessoa.
A igreja existe por causa do Cordeiro e ela se reúne para
adorá-lo. A adoração é a função mais elevada da alma regenerada em conseqüência
da sua gratidão. Vede, ó desprezadores, maravilhai-vos e desvanecei,
porque eu realizo, em vossos dias, obra tal que não crereis se alguém vo-la
contar. Atos 13:41.
A segunda finalidade da igreja é a comunhão.Esse encontro do
povo de Deus é também marcado por uma necessidade gregária. A solidão não é um
fator favorável para o desenvolvimento sadio da personalidade. Não fomos criados
para o isolamento.
A igreja é uma reunião de amizade. Matthew Henry dizia que "o
homem foi feito para a sociedade, e os cristãos, para a comunhão dos santos".
Não é possível fazer amigos sem que se tenha comunhão. E perseveravam na
doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Atos
2:42.
Jesus chamou os seus discípulos de amigos. Já não vos
chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos
chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer.
João 15:15. Amizade não se constrói com esbarrões. Se você quer ter
amigos envolva-se com as pessoas e seja amigo delas. O afeto só cresce na
inclusão. É preciso associação para haver apego.
A reunião da igreja é um campo fértil para semear amizade. "A
amizade é uma planta que sempre deve resistir aos períodos de seca" afirmava
Joseph Joubert. A falta de amigos na igreja revela algo muito sério na vida. Se
não conseguimos fazer amigos é porque não estamos participando ativamente das
reuniões da igreja, ou porque somos muito importantes para nos importar com os
outros.
A adoração da igreja está relacionada com o Cordeiro de Deus e
a sua comunhão está vinculada aos irmãos. A igreja é o encontro dos renascidos
que vivem para adorar ao Cordeiro e comungar com os santos, no projeto eterno de
uma amizade sem preconceitos.
Mas esta reunião tem uma terceira finalidade: proclamar
as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; 1
Pedro 2:9. O alvo da divulgação da igreja é a pessoa de Cristo. O
anúncio do evangelho só é evangélico se Cristo estiver sendo pregado em toda a
sua intensidade. As sinagogas judaicas ensinavam a lei, mas a igreja de Deus
prega a Cristo crucificado, cumprimento da lei e salvação dos pecadores.
Nenhuma igreja é digna de ser denominada igreja de Cristo se
não for antes de tudo e em todo o tempo comunicadora exclusiva da pessoa de
Cristo. Charles Spurgeon, extraordinário pregador inglês do século XIX,
afirmava: "devemos pregar Cristo aos pecadores, mesmo que a nossa pregação, por
si, não os leve a Cristo".
Andrew Bonar mostra que "há uma enorme diferença entre pregar
doutrina e pregar Cristo". O papel da pregação da igreja é levantar Cristo
crucificado ao mundo e deixar que o Espírito Santo o revele nos corações dos
pecadores. Paulo foi incisivo: Porque decidi nada saber entre vós, senão a
Jesus Cristo e este crucificado. 1 Coríntios 2:2.
A proposta de Jesus para a edificação de sua igreja está no
alicerce de sua própria pessoa. Ele disse que construiria a sua igreja a partir
da confissão de Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Sendo
assim, toda reunião da igreja precisa focalizar aquilo que é fundamental para
esta construção, isto é: adoração a Cristo, comunhão amistosa dos amigos de
Cristo e pregação vigorosa da pessoa e obra de Cristo.
Ninguém é obrigado a pertencer à igreja de Cristo, mas nenhuma
pessoa que pertença à igreja de Cristo tem o direito de se ausentar das
reuniões, senão por motivos de força maior. "Não há lugar para pedras soltas no
edifício de Deus", disse Joseph Hall.
A igreja é uma sociedade com razões que vão além da razão e não
uma mera razão social. Se você tem uma razão para não freqüentar as reuniões da
igreja, veja se essa sua razão tem realmente razão. Não deixemos de
congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto
mais quanto vedes que o Dia se aproxima. Hebreus 10:25.
É lamentável ver um membro do corpo de Cristo priorizando
outras reuniões que não jaquelas vinculadas à assembléia dos santos. A ausência
do corpo de Cristo no túmulo comprova a origem da igreja. Mas a ausência dos
membros do corpo de Cristo nas reuniões da igreja reflete o pouco caso que estes
membros fazem da pessoa de Cristo ressuscitado. Que o Espírito Santo de Deus nos
conceda a graça de perceber a importância das reuniões da igreja e que a
Trindade Santa seja glorificada nestas reuniões. Amém.
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