quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A FORTALEZA NA FRAQUEZA

Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. 2 Coríntios 12:10.
O Cristianismo é paradoxal em suas propostas. É o ensinamento dos disparates. É uma sugestão aos absurdos. Como alguém pode se deleitar na debilidade, nas ofensas, na indigência, nos acossamentos e nas aflições por amor a alguém? Neste caso, Cristo. Isto tudo me parece uma loucura total. Não há a menor coerência neste caminho.
Paulo toma a contramão da história humana. Na via do pecado o encanto encontra-se na força, no elogio, na abastança, na tolerância e no consolo. Parece que esta é a estrada que devemos percorrer. Mas ele propõe outra trilha sem qualquer lógica.
A biografia de Adão é marcada pela ascensão ao pódio. A raça adâmica lida freneticamente com a síndrome de altar e vive escalando montanhas para chegar ao topo com um espírito de gente superior. O pecado nos intoxicou com o vírus da grandeza e não toleramos viver nos vales. Desde a torre de Babel até aos astronautas no espaço sideral, todos nós sofremos com esta mania de elevação e importância.
No contexto, o apóstolo havia subido até o terceiro céu. Parece que ninguém havia subido tão alto quanto ele. Ser singular é um risco sem tamanho. Quem quer ser o melhor sofre demais com a competição. Tudo indica que Paulo era o único nesta escalada sem limite e agora estava perigo sério. Quanto mais alto, maior é o tombo.
Foi aí que Deus interferiu com tamanha graça na vida de Paulo. Enviou, da parte de Satanás, um espinho na carne do super-apóstolo ameaçado de se exaltar. Ele precisava ser quebrantado de verdade. No reino da graça ninguém pode se considerar melhor, maior ou mais ilustre do que os outros. O evangelho propõe o esvaziamento do ego.
O caminho que nos leva à glória de Deus é sempre para baixo. O próprio Cristo precisou passar pelo esvaziamento para nos tocar. Paulo não entendeu a princípio o método olímpico de Deus, isto é, as “Olimpíadas Celestiais”, por isso, orou três vezes requerendo a extinção do espinho. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 2 Coríntios 12:9.
Ele queria a ausência do sofrimento, mas sem dor não há quebrantamento. O pecado nos tornou montesinos e pretendentes ao auge na escala social. Nós buscamos, talvez até inconscientemente, a notoriedade e temos muita dificuldade com o anonimato, obscuridade, ostracismos e ausência de reconhecimento.
Um nanico me perguntou certa vez: – você me viu na coluna social? Há muitos que pagam aos cronistas para serem anunciados e fotografados. Outros não procedem assim, embora ambicionem uma cadeira no parlamento, um título de nobreza, um diploma de mestre, uma presidência no sindicato ou até ser síndico de um prédio.
J. Blanchard disse que a maioria de nós tem um apetite exageradamente grande por louvor. Queremos ser apreciado nas entre linhas, enquanto o nosso orgulho, muitas vezes, vem disfarçado de humildade. O maior perigo da fé cristã é a arrogância vestida de trapos. Daí, Blanchard acrescentar: Deus pensa mais no homem que pensa menos em si. Aliás, ele nem mesmo pensa em si, uma vez que já morreu com Cristo.
Quebrantamento não é rebaixamento. Para Agostinho de Hipona, a suficiência dos meus méritos está em saber que os meus méritos nunca serão suficientes. O meu aviltamento pessoal pode ser uma tática de elevação perante a opinião pública, enquanto o quebrantamento é uma demolição promovida pelo próprio Deus.
O Senhor precisava quebrar o apóstolo Paulo e mantê-lo quebrado até ao fim. Se o orgulho é o desejo perverso das alturas, como disse Agostinho, a humildade é a ausência de qualquer desejo de visibilidade. Para conservá-lo humilde o Senhor convocou um mensageiro do inferno, a fim de humilhá-lo de modo severo.
Paulo não se humilhou perante o Senhor, uma vez que, em sua humilhação ele poderia ainda se exaltar por ter se humilhado. Na verdade ele foi humilhado.
Há um grave risco na humildade patrocinada pela própria pessoa humilde que se humilha. Muitos acabam se vangloriando de sua aparente modéstia. Por outro lado, a humilhação, quando vem na voz passiva, isto é, quando somos humilhados, raramente, aceitamos como benéfica. Nunca achamos justa a humilhação, mas é aqui que se encontra a legítima escola de aprovação dos discípulos de Cristo.
Jesus disse certa vez que: Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado. Lucas 14:11. Por causa do pecado o ser humano sempre procura se exaltar. Como já vimos antes, nós nos engrandecemos até em nossa aparente humildade. Sendo assim, todos nós precisamos ser humilhados primeiro, a fim de poder nos humilhar sem a necessidade de sermos exaltados.
Só os humilhados por Cristo crucificado podem se humilhar de fato diante do Senhor. Sem a humilhação patrocinada pelo Todo-Poderoso não haverá humildade legítima no coração. Muitos de nós falamos de uma mensagem correta sob o prisma da humildade sem um espírito verdadeiramente humilde.
Agostinho disse também que a humildade é a virtude cristã que aquele que a tem, não sabe que a tem de verdade; pois no dia que ele souber que a tem, vai se orgulhar de sua humildade. Vangloriar-se da sua humildade é uma contradição de termos. Então, de quem é a humildade expressa na vida do cristão? Com certeza não é dele mesmo.
A lição do quebrantamento no cristianismo é nesta ordem. Nós sempre nos exaltamos. Nós nos glorificamos até nos atributos do Senhor, como acontece no caso da humildade. Esta é uma qualidade essencial de Cristo e nunca do cristão. Então o Senhor tem que nos humilhar para dependermos de sua humildade. Uma vez humilhados podemos nos humilhar com a humildade de Cristo, sem a necessidade de sermos exaltados, ainda que isto venha a acontecer em algum momento da história.
O quebrantamento no evangelho da graça é a retirada do orgulho da alma pela cruz de Cristo. Precisamos ser esvaziados de nossa força egoísta até chegarmos à fraqueza total. Quando estivermos em astenia plena entramos no terreno da onipotência Divina.
Quando nos humilhamos sem termos sido humilhados podemos nos exaltar de nossa atitude de humildade aparente, mas quando somos humilhados, somos enfraquecidos ao extremo. No perímetro da fraqueza absoluto todos os crentes em Cristo são constrangidos à dependência de Deus e, deste modo, todos nós nos tornamos supridos pela sua onipotência. No reino da graça só os inteiramente fracos podem ser fortalecidos pela providência soberana e toda poderosa do próprio Deus.
A expressão: quando eu sou fraco, então é que sou forte, significa que, não podendo nada por mim mesmo, tudo posso naquele que me fortalece. Filipenses 4:13. Assim, no Reino de Deus, a fortaleza encontra-se na fraqueza.
A pessoa mais poderosa que já viveu aqui na terra foi aquela que em sua fraqueza completa, depois de seu total esvaziamento voluntário, dependeu totalmente do poder de seu Pai celestial. A onipotência do Verbo encarnado se manifestava por meio de sua fraqueza através da irrestrita dependência do seu Pai.
Fraco não é aquele que lhe falta qualquer força física, mas aquele que, mesmo tendo muita força, abdicou-se dela para depender apenas do poder de Deus.
A fortificação da fé cristã encontra-se na dependência Divina. Essa dependência da Divindade está vinculada à fraqueza humana. A fraqueza da pessoa permanece atrelada à humilhação promovida pelo trono da graça. Quando somos humilhados nos tornamos fracos e consequentemente dependentes do poder absoluto de Deus.
Ser humilhado é a benção que nos leva à fraqueza. Conviver como fracos aqui na terra, mas na dependência de Abba é viver na fortaleza do poder integral do Deus Todo-Poderoso. Se você for um sujeito fraco de verdade, mas dependente totalmente do poder de Deus, então estamos diante de uma superpotência; de alguém com um poder descomunal, capaz de fazer qualquer coisa que Deus quiser.
Uma pessoa totalmente fraca, mas dependente completamente de Deus, acaba se tornando em um ser que pode tudo aqui na terra. A nossa real fraqueza sob a promoção absoluta de Deus se constitui na mostra da onipotência divina na impotência humana.
O nosso modelo existencial é Cristo, do começo ao fim. Uma vez que nós morremos e ressuscitamos juntamente com ele, toda a nossa história depende desta vida compartilhada. Porque, de fato, foi crucificado em fraqueza; contudo, vive pelo poder de Deus. Porque nós também somos fracos nele, mas viveremos, com ele, para vós outros pelo poder de Deus. 2 Coríntios 13:4. Glória ao Pai. Amém.

SOLO DEO GLÓRIA

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