terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O NÓ GÓRDIO

Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor; fui para eles como quem alivia o jugo de sobre as suas queixadas e me inclinei para dar-lhes de comer. Oséias 11:4.
A expressão “cortar o nó górdio” refere-se a um nó cuja história remonta ao século VIII a.C. Dizia a lenda que o rei da Frígia de nome Górdio, que foi coroado, para não esquecer de seu passado humilde, ele colocou a carroça com a qual ganhou a coroa no templo de Zeus, amarrando-a com um nó a uma coluna. Este era impossível de ser desatado. Logo após a sua morte, aquele que desatasse o nó seria o senhor de toda a Ásia.
Quinhentos anos se passaram sem que ninguém conseguisse desatar o nó, até que Alexandre, o Grande, ao passar pela Frigia, ouviu a lenda e, intrigado com a questão, foi até o templo de Zeus observar o feito de Górdio. Após muito analisar, desembainhou sua espada e cortou o nó. É daí que deriva a expressao “Cortar o nó Górdio”, que significa resolver um problema complexo de maneira simples e eficaz.
A palavra nó não se encontra na Bíblia, mas é possível vê-la nas entrelinhas. A segurança daqueles que foram salvos está fundamentada no caráter de Deus. Nele, não há sombra de mudanças. Ao salvar o homem, Deus deu alguns “nós”, não somente um nó górdio que pode ser cortado com facilidade, mas sim um “nó divino” impossível de se desatar. A salvação do homem é inteira e completamente uma ação divina. O homem, pela queda, tornou-se cego e profundamente inábil para reconhecer e agir em direção a Deus.
Os homens nascem espiritualmente mortos, sem forças para se moverem em direção a Deus. Mas Deus, em Sua infinita misericórdia, se inclina em direção ao homem, para saciar a sua fome, da fome não da comida que perece, mas fome de Deus. E me inclinei para dar-lhes de comer. O Senhor não veio do céu para reformar o homem, mas para fazer um novo homem. O mais hábil escultor, ainda que disponha das melhores ferramentas, é incapaz de esculpir alguma coisa em madeira podre. O nosso Deus, figuradamente, é o hábil escultor que não esculpiria algo sobre uma natureza corrompida e roída pelo verme do pecado e condenada a morte.
O que Deus fez? Atraí-os com cordas humanas. Esta profecia se cumpriu anos depois com a vinda do Verbo a este mundo. O Verbo se fez carne e habitou entre nós na plenitude da graça e da verdade. Eis o grande fato de que o Evangelho nos fala, a perfeita expressão de Deus, tomando a própria natureza do homem, indo ao encontro de todas as necessidades humanas. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. João 1:14. A graça surge então com o poder de dar a vida e levar o homem a recebê-la: “A Glória do unigênito”, dando a conhecer o Pai. É um mistério insondável: o Verbo em carne.
A verdadeira relação do homem com Deus se deu na Cruz. A cruz revela imediatamente a verdade da condição do homem e a misericórdia de Deus. Assim, Cristo tomou o lugar do homem, em graça. Era preciso que o Filho do homem fosse levantado, fosse rejeitado na terra pelo homem, cumprindo assim a expiação perante o Deus de justiça. Cristo levantado da terra atrai a Si todos os homens. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. João 12:32. Cristo não está na terra, está levantado da terra.
Levantado na cruz, entre Deus e o mundo, e levando sobre Si o pecado, Cristo tornou-se o ponto de atração para todo o homem vivente. Levantado da terra como vítima perante Deus e não sendo da terra como vivente sobre ela, Jesus tornou-se o centro de atração para todos, porque todos os homens estavam afastados de Deus. O nosso Senhor enfrenta a morte, e na Sua morte aniquila o poder da morte que estava sobre todos os homens.
Tudo o que Deus é em Sua natureza veio a nós e brilhou nesta maravilhosa Pessoa: Jesus, cheio de graça para o coração e verdade para a consciência pecadora. Com laços de amor, é um laço, e não um nó, que pode se atar e desatar figuradamente, significando o livre acesso do homem em receber ou rejeitar a graça de Deus. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome. João 1:11-12. Jesus Cristo levantado na cruz, recebido com os olhos da fé, deu-nos o poder de sermos feitos filhos de Deus.
E para aqueles que O receberam, efetua-se uma eterna salvação. Isto significa que uma vez filho, filho para sempre, uma vez salvo, salvo para sempre. Uma pessoa que nasce no Brasil será sempre brasileira, esteja onde estiver; sua nacionalidade jamais será mudada. Eis o “nó divino”: Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar. João 10:28-29. Dois fatos importantes: Primeiro, não haverá falta de vida. O que Deus nos deu em Seu Filho foi vida. E vida em abundância, vida que jamais se extinguirá, vida eterna. É uma vida que se manifestará por toda a eternidade.
Segundo, ninguém arrebatará as ovelhas da mão do Salvador. Nenhuma força superará o poder Daquele que as guarda. O Pai nos deu o Seu Filho, e Ele é maior do que todos aqueles que pretenderem nos arrebatar das Suas mãos. Preciosa revelação, na qual a glória da Pessoa de Jesus é identificada com a segurança das Suas ovelhas, com a altura e a profundidade da graça de que elas são os objetos do Seu amor. Nó que ninguém pode desatar.
A graça não se perde com a marcha do tempo e não se limita ao tempo. Novamente podemos ver nestas palavras do apóstolo Paulo mais um “nó divino”: Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 8:31-39.
A nota de vitória soa imediatamente nas perguntas desafiadoras, cujo propósito é assegurar o que está “em Cristo” de sua segurança inconquistável, de modo que possam gozar de uma confiança invencível em Deus. A revelação dada por Deus é que nada, absolutamente nada, pode separar o cristão do amor de Deus. Muitos são persuadidos a crer erradamente, mas a realidade da experiência cristã não se perde. Viver ou morrer, estas duas coisas cobrem tudo que possa eventualmente nos acontecer. Se o nosso último inimigo, a morte, não nos pode separar porque Cristo já a venceu e tirou dela o seu aguilhão, então temos certeza de que nada que precede aquela crise pode nos separar do amor de Deus. É um “nó divino” que jamais será desatado.
Os anjos maus e principados hostis, que se alegrariam em nos ver separados de Cristo, perderam completamente o poder para conseguir sua vontade malevolente pela grande vitória de Cristo na cruz. Cristo tomou posse de toda a história, e o cristão não deve ceder à tentação de se desesperar no conflito presente, nem ter nenhuma preocupação temerosa com aquilo que o futuro possa lhe trazer. Denney diz com muita propriedade: O amor de Cristo é o amor de Deus, manifestado a nós Nele; e é apenas Nele que é manifestado um amor divino que pode inspirar a triunfante segurança do cristão”.
Por outro lado, o nó górdio exemplifica os problemas que surgem no nosso dia- a- dia, problemas que, aos nossos olhos, são difíceis ou impossíveis de se resolver. Alexandre, o Grande, encontrou uma solução à sua maneira. Ele usou a força do seu braço para sair da crise. O nosso Deus permite que passemos por crises. Pois tu, ó Deus, nos provaste; acrisolaste-nos como se acrisola a prata. Tu nos deixaste cair na armadilha; oprimiste as nossas costas; fizeste que os homens cavalgassem sobre a nossa cabeça; passamos pelo fogo e pela água; porém, afinal, nos trouxeste para um lugar espaçoso. Salmos 66:10-12. Podemos dizer que estamos diante de um “nó divino”. Então, como vamos nos livrar destes “nós”? Usando a força do braço? Procurar um caminho mais fácil? O profeta Samuel nos ajuda a pensar: Deus é a minha fortaleza e a minha força e ele perfeitamente desembaraça o meu caminho. 2 Samuel 22:33.
Uma vez que estamos em Cristo, estamos perfeitamente seguros. Nada pode destruir aqueles que estão sob a segura guarda do amor de Deus. Se uma criatura executou um feito deste, dando um nó impossível de se desatar, o que pensar de um “nó” dado pelo criador? O que Deus fez por nós, em Cristo, durará eternamente. Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção. Hebreus 9:11-12.
O homem que pensa indaga: Onde posso pôr minha confiança? Em que posso confiar com absoluto senso de segurança? E a resposta é uma só. Ponho minha confiança neste Senhor que executou uma eterna salvação, “um nó impossível de desatar”. Amém.

Solo Deo Glória

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