quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

"DESVENTURADO HOMEM QUE SOU II "

Aquele que se curva diante do solene e perscrutador ensino da Palavra de Deus, aquele que nela aprende a terrível ruína que o pecado tem realizado na constituição do ser humano, aquele que percebe o padrão elevado que Deus nos tem proposto não falhará em descobrir que é um ser maligno e vil. Se ele se esforça para perceber o quanto tem falhado em alcançar o padrão de Deus; se, na luz do santuário divino, ele descobre quão pouco se parece com o Cristo de Deus, então, reconhecerá que essa linguagem de Romanos 7 é muito apropriada para descrever sua tristeza espiritual. Se Deus lhe revela a frieza de seu amor, o orgulho de seu coração, as vagueações, de sua mente, o mal que contamina suas atitudes piedosas, o crente haverá de clamar: "Desventurado homem que sou!" Se o crente estiver consciente de sua ingratidão e de quão pouco ele tem apreciado as misericórdias diárias de Deus; se o crente percebe a ausência daquele fervor profundo e genuíno que tem de caracterizar seus louvores e sua adoração Áquele que é "glorificado em santidade" (Ex.15.11);se o crente reconhece o espírito pecaminoso de rebeldia que, com frequência, o faz murmurar ou irrita-o contra as realizações dEle em sua vida cotidiana; se o crente admite que está ciente não apenas de seus pecados de comissão, mas também daqueles de omissão,dos quais ele é culpado todos os dias, ele realmente clamará: "Desventurado homem que sou!" Esse clamor não será proferido apenas por aquele crente que se acha afastado do Senhor. Aquele que está em comunhão verdadeira com o Senhor Jesus também emitirá esse gemido, todos os dias e todas as horas. Sim, quanto mais o crente se achega a Cristo, tanto mais ele descobrirá as corrupções de sua velha natureza, e tanto mais ardentemente desejará ser liberto de tal natureza. É somente quando a luz do sol inunda um cômodo que a poeira e a sujeira são completamente revelados. Quando estamos realmente na presença dAquele que é luz, ficamos conscientes da impureza e impiedade que habita em nós e contamina cada parte de nosso ser. E essa descoberta nos levará a clamar: "Desventurado homem que sou!"
"Mas", talvez alguns perguntem, "a comunhão com Cristo não produz regozijo, ao invés de gemidos?" Respondemos que a comunhão com Cristo produz ambas as coisas. Isso aconteceu com Paulo. Em Romanos 7.22, ele afirmou:"Tenho prazer na lei de Deus". Logo em seguida, porém, ele clamou:"Desventurado homem que sou!" Outras passagens também nos mostram isso. Em 2 Coríntios 6, Paulo disse:"Entristecidos, mas sempre alegres"(v.10) -entristecido por causa de suas falhas, por causa de seus pecados diários; alegre por causa da graça que ainda permanecia com ele e por causa da bendita provisão que Deus fizera até para os pecados de seus santos. Também em Romanos 8, depois de haver declarado:"Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus"(v.1);"Opróprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados"(vv.16-17), o apóstolo Paulo acrescentou: "Também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo"(v.23). O ensino do apóstolo Pedro é semelhante ao de Paulo - "Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações"(1 Pe 1.6).Tristeza e gemido não se encontram ausentes no mais elevado nível de espiritualidade. Nestes dias de complacência e orgulho laodicense, existe considerável parola e muita exaltação a respeito da comunhão com Cristo; porém, quão pouca manifestação dessa comunhão nós contemplamos! Onde não existe qualquer senso de completa indignidade; onde não existe qualquer lamentação pela depravação total de nossa natureza; onde não existe qualquer entristecimento por nossa falta de conformidade com Cristo; onde não existe qualquer gemido por havermos sido feitos "prisioneiros" do pecado; em resumo, onde não existe o clamor: "Desventurado homem que sou!", deve haver um grande temor de que ali não existe, de maneira alguma, comunhão com Cristo.
Quando estava andando com o Senhor, Abraão exclamou: "Eis que me atrevo a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza"(Gn.18.27). Estando face a face com Deus, Jó declarou:"Por isso, me abomino"(Jó 42.6). Ao entrar na presença de Deus, Isaías clamou:"Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros"(Is 6.5). Quando teve aquela maravilhosa visão de Cristo, Daniel confessou:"Não restou força em mim; o meu rosto mudou de cor e se desfigurou, e não retive força alguma"(Dn 10.8). Em uma das últimas epístolas do apóstolo dos gentios, lemos:"Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal"(1Tm 1.15). Essas declarações não procederam de pessoas não-regeneradas, e sim dos lábios de santos de Deus. Elas não foram confissões de crentes relaxados; pelo contrário, elas foram proferidas pelos mais eminentes membros do povo de Deus. Em nossos dias, onde encontramos crentes que podem ser colocados lado a lado com Abraão, Jó, Isaías, Daniel e Paulo? Onde, realmente?!Mas eles foram homens que estavam conscientes de sua vileza e indignidade!
"Desventurado homem que sou!"Essa é a linguagem de uma alma nascida de novo; é a confissão de um crente normal(não-iludido, não-enganado). A essência dessa afirmativa pode ser encontrada não somente nas declarações dos santos do Antigo e do Novo Testamento, mas também nos escritos de muitos dos eminentes servos de Cristo que viveram nos últimos séculos. As afirmações e o testemunho pronunciado pelos eminentes santos do passado eram muito diferentes da ignorância e da arrogante jactância dos laodicences modernos! É um refrigério volvernos das biografias de nossos dias para aquelas biografias escritas há muito tempo. Medite nos trechos de biografias que apresentamos em seguida.

Solo Deo Glória.

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