quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

NÃO QUERO MAIS SER EVANGÉLICO

”Pastores evangélicos criam sindicato e cobram direitos trabalhistas das igrejas.” Esse é o titulo da matéria, chocante, publicada pela revista Veja, de 9 de junho de 1999, anunciando formação do Sindicato dos Pastores Evangélicos no Brasil. É verdade que vimos surgir na Igreja o que poderíamos chamar de “baixo clero”,pastores contratados para “carregar o piano”, enquanto os seus chefes colhem os louros, pastores tratados como obreiros de segunda classe, condenados a serem jogados na “rua da amargura”,por esses”semideuses do Olimpo” que tomaram de assalto a Igreja evangélica, bastando, para isso, que um de seus caprichos não seja atendido. Assim como vimos surgir num dos segmentos da Igreja, o que poderíamos chamar de “a ditadura dos leigos”, exercida por presbíteros e diáconos que, perdendo de vista o conteúdo de suas funções, tornaram-se “donos” da Igreja, exercendo sobre os pastores, na maioria das vezes, inexperientes ou muito sofridos, o tacão da impiedade, muitas vezes, para esconder um mar de pecados dos pretensos “donos” da Igreja. Mas, “pêra lá”, estamos na Igreja, isso não pode ser resolvido assim! Tentar resolvê-lo assim é decretar a falência da Igreja, como nos foi desenhada por Cristo.
Foi à gota d’água! Ao ler a matéria, finalmente me dei conta de que o termo “evangélico” perdeu, por completo, seu conteúdo original. Ser evangélico, pelo menos no Brasil, não significa mais ser praticante e pregador do Evangelho! (boas novas) de Jesus Cristo, mas, a condição de membro de um segmento do Cristianismo com cada vez menor relacionamento histórico com a Reforma protestante – o segmento mais complicado, controverso, dividido e contraditório do Cristianismo. Não quero mais ser evangélico! Quero voltar para Jesus Cristo, para a boa notícia que Ele é, e ensinou. Voltemos a ser adoradores do Pai, porque, segundo Jesus, estes são os que o Pai procura e, não por mão-de-obra especializada ou por profissionais da fé. Voltemos à consciência de que o caminho, a verdade e a vida é uma pessoa e não um corpo de doutrinas ou tradições, nascidas da tentativa de dissecarmos Deus; de que, estar no caminho, conhecer a verdade e desfrutar a vida é relacionar-se intensamente com essa pessoa: Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo. Quero os dogmas que nascem desse encontro; uma leitura bíblica
que nos faça ver Jesus Cristo e não uma leitura bibliólatra. Não quero a espiritualidade que se sustenta em prodígios, no mínimo discutíveis, e sim, a que se manifesta no caráter. Chega dessa “diabose”! Voltemos à graça, à centralidade da cruz, onde tudo foi consumado. Voltemos à consciência de que fomos achados por Ele, que começou em cada filho Seu algo que vai completar; voltemos às orações e jejuns, não como fruto de obrigação ou moeda de troca, mas, como namoro apaixonado com o Ser amado de alma resgatada.
Voltemos ao amor, à convicção de que, ser cristão, é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos; voltemos aos irmãos, não como membros de um sindicato, de um clube, ou de uma sociedade anônima, mas, como membros do corpo de Cristo! Quero relacionar-me com eles como as crianças relacionam-se com os que as alimentam, em profundo amor e senso de dependência, quero voltar a ser guardião de meu irmão e não seu juiz. “Pois Jesus disse: Sede misericordiosos, como também é misericordioso vosso Pai. Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; daí, e dar-se-vos-à boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também.
Voltemos ao amor que agasalha no frio, assiste na dor, dessedenta na sofreguidão, alimenta na fome, que reparte que não usa o pronome “meu”, mas, o pronome “nosso”. Para que os títulos: pastor, reverendo, bispo, o que estes significam se todos são sacerdotes? Quero voltar a ser leigo. Para que o clericalismo? Voltemos a ser servos uns dos outros; aos dons do corpo que correm soltos e dão o tom litúrgico da reunião dos santos; “onde dois ou três estiverem reunidos em seu nome, eu lá estarei”, de Mateus 18.20. Que o culto seja do povo e não dos dirigentes! Chega de “show”! Voltemos aos presbíteros e diáconos, não como títulos, mas, como função: os que, sob unção da igreja local, cuidam da ministração da Palavra, da vida de oração da comunidade e para que ninguém tenha necessidade, seja material, espiritual ou social. Chega de ministérios megalômanos, onde o povo de Deus é mão-de-obra ou massa de manobra!
Para que os templos, o institucionalismo, o denominacionalismo? Voltemos às catacumbas, á igreja local. Por que o pulpitocentrismo? Voltemos ao “instruí-vos uns aos outros” (Cl 3.16). Por que a pressão pelo crescimento? Jesus Cristo não nos ordenou ser uma igreja que cresce, mas, uma igreja que aparece: ”Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5.16). Vamos anunciar com nossa vida, serviço e palavras “todo o Evangelho ao homem todo, a todos os homens.” Deixemos o crescimento para o Espírito Santo que “acrescenta dia a dia os que haverão de ser salvos,” sem adulterar a mensagem.
Chega dos herodianos que vivem a namorar o poder, a vender a si e as ovelhas ao sistema corrupto e corruptor; voltemos à escola dos profetas que denunciam a injustiça e apresentam modelos de vida comunitária. Chega do corporativismo, onde todo mundo sabe o que acontece, mas, ninguém faz nada; voltemos ao confronto, como o de Paulo a Pedro (Gl 2.11), que dá oportunidade ao arrependimento e aperfeiçoa como “o ferro afia ferro” (Pv 27.17). Saiamos do “metodologismo”. Voltemos a “ser como o vento, que sopra como quer, ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, e nem para onde vai” (João 3.8).
Não quero mais ser evangélico, como o é entendido, hoje, neste país! Quero ser só cristão. Um cristão integral, segundo a Reforma e os Pais da Igreja. Adorando ao Pai, em espírito e verdade, comungando, em busca da pratica da unidade do “novo homem”, criado por Cristo á sua imagem (Ef 2.15) e praticando a missão integral.

Solo Deo Glória

†Pr.Reinaldo G da Fonsêca

3 comentários:

  1. Cristo um dia vai voltar para buscar sua Igreja,e quando voltar! Deixa pra lá.

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    1. Não há duvida que existem aqui qustões bem pertinentes....mas que cada um faça o melhor, procure ser fiel, imitar e obedecer a Deus pela fé em Jesus Cristo .Por mim sem estar com meus irmãos, sem comunhão e celebração não é o mesmo...a minha alegria vem da comunhão , da bênção de estar junto do calor uns dos outros, "Espirito Santo"....sei que nos ultimos dias aparecerão muitos falsos profetas e enganadores, mas sigamos Cristo, sempre Ele e apenas Ele....a Igreja nunca poderá existir para dividir, isso é diabólico e muito mais triste é haver milhares de milhares de pessoas em "Igrejas" que pensam caminhar para o limbo, o purgatório ou outros, sem terem conhecimento de que " Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai a não ser por mim....", isso sim é um desastre completo...possamos nós ser sal e luz no mundo, onde quer que estejamos, fora ou dentro de uma Igreja...onde está um homem já existe imperfeição...o homem é pecador e sempre será, não fora Jesus e este mundo era somente inferno, mas porque Ele vive, nós , Seus filhos temos a esperança , a certeza que nunca estaremos sós e que Ele voltará para nós...não é maravilhoso? Todo o amor da Mjosé

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  2. Precisamos reconhecer o favor de Deus para com os seus obreiros que assume sua obra, na verdade é Jesus a razão da existência da Igreja, então concordo que voltemos para Ele, porque o o homem é imperfeito e pecador, então voltemos para Deus. Parabéns Reverendo, que Deus continue te abençoando, do amigo em Cristo!

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