terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

DESVENTURADO HOMEM QUE SOU

No sétimo capítulo da carta aos Romanos, o apóstolo Paulo se referiu a dois assuntos: primeiramente, ele mostrou qual é a relação do crente para com a lei de Deus - judicialmente, o crente está emancipado da maldição e da penalidade da lei (vv.1-6); moralmente, o crente está sob laços de obediência à lei (vv.22,25). Em segundo, Paulo nos protegeu da falsa inferência que poderia ser deduzida daquilo que ele havia ensinado no capítulo 6.
No capítulo 6, versículos 1 a 11, Paulo havia apresentado a união do crente com Cristo, retratando o crente como alguém "morto para o pecado" (vv.2,7,etc.). Em seguida, do versículo 11 em diante, ele mostrou o efeito que essa verdade deve ter sobre o viver do crente. No capítulo 7, o apóstolo Paulo seguiu a mesma ordem de pensamento. Em Romanos 7.1-6, ele falou sobre a identificação do crente com Cristo, apresentado-o como "morto para a lei" (vv.4 a 6). Em seguida, do versículo 7 em diante, Paulo descreveu as experiências do crente. Assim, nos capítulos 6 e 7 de Romanos, na primeira metade de ambos, Paulo aborda a posição do crente, enquanto na segunda metade de ambos os capítulos ele fala sobre o estado do crente, mas com a seguinte diferença: a segunda metade de Romanos 6 revela qual deve ser o nosso estado, enquanto a segunda metade do capítulo 7 (vv.13-25) mostra qual é, na realidade, o nosso estado. A presente controvérsia suscitada sobre Romanos 7 é amplamente um fruto do perfeccionismo de John Eesley e seus seguidores. O fato de que esses irmãos, dos quais temos motivo para reverenciar, adotaram este erro de forma modificada apenas nos mostra quão abrangente em nossos dias é o espírito do laodiceismo. A segunda metade de Romanos 7 descreve o conflito das duas naturezas que o crente possui; simplesmente apresenta em detalhes o que está sumariado em Gálatas 5.17. As afirmações de Romanos 7.14,15,18,19 e 21 são verdadeiras a respeito de todos os crentes que vivem nesse mundo. Todo crente fica aquém, muito aquém do padrão colocado diante dele; estamos nos referindo ao padrão de Deus, e não ao padrão dos ensinadores da suposta "vida vitoriosa". Se qualquer leitor crente disser que Romanos 7 não descreve a sua vida, afirmamos com toda a bondade que ele se encontra terrivelmente enganado. Não estamos dizendo que todo crente quebra a lei dos homens ou que ele é um ousado transgressor da lei de Deus. Estamos afirmando que a vida de todo crente está muito aquém do nível de vida que nosso Senhor vivenciou, quando esteve neste mundo. Estamos dizendoque muito da "carne" ainda se evidencia em todo crente, inclusive naqueles que se vangloriam, em voz alta, de suas conquistas espirituais. Estamos dizendo que todo crente tem necessidade urgente de orar suplicando perdão por seus pecados diários (Lc 11.4), pois "todos tropeçamos em muitas coisas" (Tg 3.2).Nos próximos parágrafos, consideraremos os dois últimos versículos de Romanos 7, que dizem: "Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado" (vv.24-25) .
Essa é a linguagem de uma alma regenerada e resume o conteúdo dos versículos imediatamente anteriores. O homem incrédulo é realmente desventurado, mas ele não conhece a "desventurança" que evoca a lamentação expressada nessa passagem. Todo o contexto se dedica a descrever o conflito entre as duas naturezas do filho de Deus. "Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (v.22) - isso é verdade apenas sobre a pessoa nascida de novo. Todavia, aquele que tem prezer na lei de Deus encontra, em seus "membros, outra lei". Isso não pode estar limitado aos membros do corpo físico, mas tem de ser entendido como algo que inclui todas as várias partes de sua personalidade carnal - a memória, a imaginação, a vontade, o coração, etc.
Essa "outra lei", disse o apóstolo, guerreava contra a lei de sua mente (a nova natureza); e não somente isso, ela também o fazia "prisioneiro da lei do pecado" (v.23). Ele não definiu em que extensão se expressava essa servidão. Mas ele estava em servidão à lei do pecado, assim como todo crente também o está. A vagueação da mente, na hora de ler a Palavra de Deus, os maus pensamentos que brotam do coração (Mc.7.21), quando estamos envolvidos na oração, as más figuras que, às vezes, aparecem quando estamos em estado de sonolência - citando apenas alguns - são exemplos de havermos sido feitos prisioneiros "da lei do pecado". "Se o princípio mau de nossa natureza prevalece, a ponto de despertar em nós apenas um pensamento mau, ele nos tomou como cativos. Visto que ele nos conquistou, estamos vencidos e feitos prisioneiros" (Robert Haldane). O reconhecimento dessa guerra em seu intímo e o fato de que se tornou cativo ao pecado levam o crente a exclamar:"Desventurado homem que sou!" Esse é um clamor produzido por uma profunda compreensão da habitação do pecado. É a confissão de alguém que reconhece não haver bem algum em seu homem natural. É o lamento melancólico de alguém que descobriu algo a respeito da horrível profundeza de iniquidade que existe em seu próprio coração. É o gemido de uma pessoa iluminada por Deus, uma pessoa que odeia a si mesma - ou seja, o homem natural - e anela por libertação.Esse gemido - "Desventurado homem que sou!" expressa a experiência normal do crente; e qualquer crente que não geme dessa maneira está em um estado de anormalidade e falta de saúde espiritual. O homem que não profere diariamente esse clamor se encontra tão ausente da comunhão com Cristo, ou tão ignorante dos ensinos das Escrituras, ou tão enganado a respeito de sua condição atual, que não conhece as corrupções de seu coração e a desprezível imperfeição de sua própria vida.

Solo Deo Glória.

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