Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus,
por nosso Senhor Jesus Cristo. Romanos 5:1.
O monge beneditino Anselm Grün escreveu: “Há muitas pessoas que
buscam por uma espiritualidade que responda a suas aspirações mais profundas.
Dentre os muitos caminhos espirituais questiona-se, na maioria das vezes, nossa
ação. Como podemos nos abrir para Deus? Dificilmente se fala do agir de Deus em
nós. É por isso que muitas pessoas, movidas pela busca espiritual, têm
dificuldades de compreender a ideia de que fomos redimidos por Jesus Cristo.
Elas se perguntam sobre o que poderá nos transformar hoje, mas não perguntam
sobre o que fez Deus por nós em Jesus Cristo, no passado. As pessoas procuram
por toda parte pontos de auxílio que as ajudem a viver. Percebem mais do que
nunca ofertas psicológicas, ou procuram nas religiões orientais por técnicas que
permitam viver de forma mais feliz e satisfeita. Muitos são os que não encontram
qualquer caminho de redenção no cristianismo, não ouvem a mensagem redentora e
libertadora de Jesus a partir do anúncio e da práxis cristã”.
Em seu caminho para o transcendente, as pessoas utilizam a
mesma técnica de suas vidas atribuladas. O que posso fazer para estar mais
próximo de Deus? Perguntam elas. Por esta razão que a mensagem da obra redentora
de Jesus Cristo na cruz do calvário é tão essencial, não só para o homem
natural, sem Deus, mas também para aquele que se diz cristão. Na verdade, o que
o homem deveria fazer é crer que Deus já o redimiu, através do Filho, na
cruz.Paulo assim afirma: Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus
testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus
Cristo, para todos (e sobre todos) os que creem; porque não há distinção, pois
todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por
sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus. Romanos 3:21-24.
A redenção de Cristo é importante porque tornou possível nossa
justificação. É nela que a justiça de Cristo nos é imputada, a nós pecadores
indignos, e toda nossa culpa pelo pecado é perdoada. Precisamos compreender que
Deus, por sua infinita graça, nos declara e nos considera justos não porque
somos merecedores, em razão da prática de boas obras ou por termos fé, mas única
e exclusivamente em virtude do amor que Deus nutre por nós, mesmo ainda
pecadores, manifestado no sacrifício de Cristo em nosso favor. Mas Deus prova
o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo
nós ainda pecadores. Romanos 5:8.
Mas o homem ignora este fato e busca a “sua” própria redenção
em lugares, práticas e crenças que jamais poderão redimi-lo. E quanto mais ele
procura, mais necessidade tem, pois não há nada neste mundo que irá satisfazer
plenamente o vazio da alma. Jesus nos alertou quanto a nossa ignorância da
Palavra de Deus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de
Deus. Mateus 22:29.
Ao invés de buscar as bênçãos, deveríamos prestar mais atenção
em nossa posição diante de Deus. Não se trata do que podemos fazer para nos
aproximarmos de Deus, ou o que fazer para sermos “mais espirituais”, e, assim,
alcançarmos Suas benesses. Em primeiro lugar, o que você e eu precisamos saber é
que nos encontramos em uma posição de total inimizade com Deus, por causa do
pecado (do primeiro homem Adão). Não podemos receber nada de Deus nesta posição
de separados dEle. É nesta hora que a redenção de Cristo faz toda a diferença,
pois quando somos justificados, somos reconciliados com Deus.
Muito daquilo que almejamos de bom para nossas vidas, somente
alcançaremos, genuinamente, se crermos, pela fé, nesta redenção que há em Cristo
Jesus. Por isto é tão importante saber o que Deus já fez por nós. E o que Ele já
fez por nós, mediante o seu Filho, gera consequências práticas imediatas e
eternas em nossas vidas.
Paulo assinala algumas dessas consequências práticas na vida
daqueles que foram justificados mediante a fé: Tendo sido, pois, justificados
pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; por meio de quem
obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos
gloriamos na esperança da glória de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos
nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a
perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. Romanos
5:1-4 (versão NVI).
A primeira e mais importante consequência: “paz com Deus”. É
porque fomos (passado) justificados pela fé, por nosso Senhor Jesus Cristo, que
temos “paz com Deus”. Portanto, a primeira lição que aprendemos é a de que tudo
o que podemos receber de Deus, o recebemos por intermédio de Jesus Cristo. E a
nossa reconciliação com Deus é o maior presente que poderíamos receber do Pai,
por meio do Filho. A reconciliação é algo que Deus já efetuou mediante a morte
de Cristo.
Por aqui, também se depreende uma outra grande confusão na qual
incorremos com relação a esta questão da “paz”. Muitas pessoas buscam uma “paz
interior” ou a paz “de” Deus para suas vidas, mas não sabem que, antes, precisam
estar em paz “com” Deus. Somente tem a paz “de” Deus, quem está em paz “com”
Deus.
E esta paz é fruto de nossa justificação pela fé, e não fruto
de alguma ação de nossa parte em direção a Deus. Quem tem a paz “com” Deus, pode
receber a paz “de” Deus, que trata Paulo na carta aos Filipenses: Não andem
ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de
graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, guardará o coração e a mente de vocês em Cristo Jesus.
Filipenses 4:6-7 (versão NVI).
O Dr. Martyn Lloyd-Jones apresenta seis aspectos práticos,
através dos quais podemos analisar se estamos gozando ou não desta paz com Deus:
a)- aquele que tem paz com Deus é alguém cuja mente está em repouso quanto à sua
relação com Deus; b)- aquele que tem paz com Deus é alguém que sabe que Deus o
ama, a despeito do fato de que é pecador; c)- aquele que tem paz com Deus é
alguém que pode responder às acusações da sua própria consciência; d)- aquele
que tem paz com Deus é alguém que pode responder às acusações do diabo; e)-
aquele que tem paz com Deus é alguém que deixa de ter medo da morte; e, f)-
aquele que tem paz com Deus, mesmo quando cai em pecado, pode fazer tudo o que
foi descrito anteriormente.
A segunda consequência de nossa justificação pela fé:
“obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes”. É por meio
de Cristo que temos agora acesso à graça de Deus, a qual nos mantém firmes.
Antes de sermos justificados, estávamos debaixo da ira de Deus (Romanos 1:18) e
éramos tidos como rebeldes. Agora, justificados, Deus nos considera como filhos,
como herdeiros (Romanos 5:9). Saber que Deus já nos aceitou em Cristo, apesar de
nossos pecados, independentemente do que fazemos ou deixamos de fazer, só pode
ser compreendido por meio da graça.
Tudo o que recebemos de Deus é absolutamente imerecido. Graça é
algo que resulta do exercício do amor espontâneo de Deus por nós. Além de termos
acesso a esta graça, é nela que somos firmados. Nossa segurança está na certeza
da graça de Deus e não nas circunstâncias que envolvem nossa vida. É por isto
que não devemos ficar ansiosos pelo dia de amanhã (Mateus 6:31/34). Não é pelo
nosso mérito que Deus nos trata como filhos.
A terceira consequência de nossa justificação pela fé: “nos
gloriamos na esperança da glória de Deus e nas tribulações”. Gloriar-se
significa alegrar-se. Aquele que foi justificado pela fé pode agora alegrar-se
na esperança de que, um dia, estará na presença gloriosa de Deus, vendo-o face a
face. Também pode agora alegrar-se nas próprias provações e dificuldades da
vida, pois sabe que elas têm um propósito divino para aquele que foi
justificado.
Erroneamente, muitos acham que o oposto de sofrimento é graça,
ou seja, se uma pessoa está sofrendo, é porque não está na graça. O oposto de
graça é mérito. O sofrimento faz parte da vida de quem foi justificado, ou seja,
de quem é filho de Deus. Aliás, se analisarmos cada um dos personagens bíblicos,
veremos que todos eles foram servos sofredores.
Se você não quer sofrimento em sua vida, você ainda não
entendeu o que é o Evangelho de Jesus Cristo. Evangelho é tratamento de Deus
para um paciente chamado pecador, e não um anestésico ou alguma droga
alucinógena. Paulo escreveu o seguinte aos cristãos de Corinto: Porque a
nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima
de toda comparação. 2 Coríntios 4:17. Pelo que sinto prazer nas
fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por
amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte. 2
Coríntios 12:10. E aos de Filipos: pois a vocês foi dado o privilégio de não
apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele. Filipenses 1:29 (versão
NVI).
E por que gloriar-se nas tribulações? Porque “sabemos que a
tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter
aprovado, esperança”. A tribulação, para aquele que foi justificado, não
representa um ônus, mas a certeza do agir de Deus em sua vida. É na tribulação
que podemos enxergar a nossa verdadeira condição de falidos.
Longe de atuarem contra a nossa esperança, as tribulações a
promovem. Dentro do método de Deus, as dificuldades produzem resistência, a
resistência produz caráter, e o caráter produz esperança. Que esperança é esta?
Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem
os principados, nem as coisa do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a
altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 8:38-39.
A mesma esperança do profeta Habacuque: Ainda que a figueira
não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos
não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais
não haja gado, todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha
salvação. Habacuque 3:17-18.
Lembre-se, o caminho para a verdadeira espiritualidade não
precisa ser construído por nós, porque já nos foi dado por Deus, na redenção de
Cristo Jesus. E uma vez justificados, gratuitamente, estamos em paz com Ele e
temos alegria, até mesmo nas provações, pois elas vão produzir esperança.
Portanto, procure enxergar sua vida com os olhos espirituais da fé recebidos em
Cristo Jesus. Graças a Deus pelas tribulações, pois elas são prova do amor do
Pai por nós e atestam que Ele está agindo em nossas vidas!
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
sábado, 27 de outubro de 2012
A ESPERANÇA DOS QUE FORAM JUSTIFICADOS
sábado, 20 de outubro de 2012
A ILUMINAÇÃO DE NATAL
O povo que
andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da
sombra da morte resplandeceu a luz. Isaías 9.2
A Bíblia
diz que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma. 1 João
1:5. Não há escuridão, por mais densa que seja,
capaz de ofuscar a luz de uma simples candeia. Deus é luz em sua plenitude, e
quando Ele criou o mundo, a primeira coisa que Ele manifestou foi a luz. E
disse Deus: Haja luz. E houve luz. Gênesis 1:3. A energia da luz é a base de toda a
criação. A matéria é energia condensada, e a luz é a fonte de toda energia. A
luz vai além da visibilidade; sendo o raio X também luz, ultrapassa ao campo
ocular. Deus criou a luz antes de criar os astros, pois da concentração da
energia luminsosa, Deus criou os corpos celestes que resplandecem no firmamento.
A luz do sol é uma das expressões luminosas que existe no universo. Há luz que é
perceptível e há luz inatingível. Deus é o único poderoso Senhor, Rei dos reis
e Senhor dos senhores; aquele que tem, Ele só, a imortalidade e habita na luz
inacessível, a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e
poder sempiterno. Amém. 1 Timóteo 6:15-16.
Jesus é
a verdadeira luz que veio ao mundo para iluminar a todos os homens. Nele
estava a vida e a vida era a luz dos homens; e a luz resplandece nas trevas, e
as trevas não a compreenderam. João 1:4-5. Jesus é a luz que resplandece
nas trevas a fim de trazer iluminação perfeita aos corações de todos os homens.
A luz mostra toda sujeira e desvenda qualquer imperfeição. Da luz apenas fogem
os escaravelhos, os ladrões e os ignorantes. E a condenação é esta: Que a
luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as
suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não vem
para a luz para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a
verdade vem para luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são
feitas em Deus. João 3:19-21. Jesus é apresentado no Velho Testamento como
o sol que ilumina o dia. Ele é chamado de sol da justiça. Mas para vós que
temeis o meu nome nascerá o sol da justiça e salvação trará debaixo das suas
asas; e saireis e crescereis como os bezerros do cevadouro. Malaquias
4:2. Ele é a luz do mundo que permite a
iluminação dos corações mais sombrios. Ele é a luz da vida que produz o calor
nas almas mais geladas. Somente por Ele podemos perceber o caminho que devemos
seguir. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. João
9:5.
A igreja
primitiva enfatizava muito claramente a importância de Jesus como a única luz
capaz de iluminar a vida dos homens. Mas, insidiosamente uma outra mensagem foi
se incorporando no seio da igreja como uma cilada. Sem perceber o ardil,
vagarosamente a idolatria da Babilônia foi tomando corpo no meio da igreja. A
adoração ao deus sol chegou de modo astucioso na celebração do Natal. Nada mais
justo do que relacionar o Sol da justiça, que no monte da transfiguração teve o
seu rosto resplandescente como o sol, com a estrela solar adorada na mitologia.
Assim, Jesus Cristo foi comparado como o sol e identificado com o deus
mitológico. O dia 25 de dezembro comemorado como a festa que celebrava o
solstício de inverno, o renascimento do sol, quando, no hemisfério norte do
globo terrestre, os dias começam a tornar-se mais longos. Quando o sol começa a
prover mais calor, a agricultura torna-se possível. Luz é vida. Por conseguinte,
talvez tenha sido próprio para o império romano substituir a festa pagã por uma
celebração que tinha mais sentido para os cristãos do que a celebração das meras
forças da natureza. Foi dentro deste contexto político e mitológico que a
festa pagã da adoração ao sol foi implantada no coração da igreja com todas as
suas representações. Durante aquelas festividades pagãs fogueiras eram acesas em
homangem ao deus sol e permaneciam queimando por alguns dias. Durante este
período as pessoas comiam e bebiam fartamente para tentar exorcizar a tristeza
provocada pela ausência de luminosidade. As fogueiras natalinas foram mantidas
por muitos anos no perímetro da igreja romana. Depois as velas foram tomando
conta do cenário e mais recentemente as lâmpadas elétricas assumem o fascínio do
embelezamento natalino. Só que pouca gente sabe que estas luzes que exercem
tanto encantamento no espírito de Natal é uma representação moderna de uma
antiga adoração ao deus sol. Sendo a luz algo cativante, a sedução de sua magia
vem logo nos distrair da verdadeira luz que é Cristo.
A
adoração ao sol é uma das mais antigas formas de misticismo, que a Bíblia
condena veementemente. Quando no meio de ti, em alguma das tuas portas que
te dá o Senhor teu Deus, se achar algum homem ou mulher que fizer mal aos olhos
do Senhor teu Deus, traspassando o seu concerto, que for, e servir a outros
deuses, e se encurvar a eles, ou ao sol, ou à lua, ou a todo o exército do céu,
o que eu não ordenei, ... então levarás o homem ou a mulher que fez este
malefício às tuas portas, sim, o tal homem ou mulher, e os apedrejarás com
pedras até que morram. Deuteronômio 17:2-5. A essência da idolatria
está em ter pensamentos indignos acerca de Deus. Tornar Deus como um objeto
é uma afronta ao seu caráter. Fazer o Criador semelhante a uma criatura é algo
ofensivo e indigno de um ser pensante. Um deus fabricado não é
Deus.
Jesus
Cristo é a encarnação de Deus ao nível do homem, mas não é um deus criado pelo
homem. Ele é o Criador encarnado e não uma criatura divinizada. Jesus Cristo
não pode ser entendido adequadamente em termos de qualquer categoria aplicável
ao homem. Ele é por si mesmo, uma categoria. Ele não é apenas grande; é o
único. Ele não pode ser comparado com nenhuma criatura. Ele é singular.
Thomas Brooks dizia: Cristo é admirável, Cristo é muito
admirável, Cristo é o mais admirável, Cristo é sempre admirável, Cristo é
totalmente admirável. Ele não pode ser equiparado a
qualquer outro, nem é análogo a nenhum símbolo que possamos confrontar. Ele é a
Luz, que a luz se ofusca. Ele é o Sol, que o sol se apaga. Ele é a Vida, que a
vida fenece. Ele é incomparável, extraordinário, invulgar, único, singular,
insigne, admirável e só Ele merece o nosso reconhecimento, respeito e adoração.
Jesus é
a Luz que não carece de iluminação. Ele brilha nos nossos corações com o fulgor
resplandecente capaz de enceguecer. E indo Paulo no caminho, aconteceu
que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do
céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me
persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disso o Senhor: Eu sou Jesus, a quem
tu persegues. Atos 9:3-5. O apóstolo Paulo ficou três dias sem ver
nada, e alguns anos mais tarde quando ele falava perante o rei Agripa disse:
Ao meio dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor
do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que iam comigo. Atos 26:13.
Jesus é a luz que não precisa de fogueira, nem de vela, nem de
pisca-pisca ou qualquer outro material incandescente.
Todos estes expedientes humanísticos têm servido para distrair os olhos de contemplarem a beleza da luz interior refletida pelo caráter singular de Cristo. Contudo, o risco deste procedimento fica muito definido nas palavras do profeta: Mas todos vós que acendeis fogo, e vos cingis com tições acesos, andai entre as labaredas do vosso fogo, e entre os tições que acendestes. Isto é o que recebereis da minhão mão: Em tormentos jazereis. Isaías 50:11. Tirar os olhos da verdadeira luz para contemplar os vaga-lumes representativos da idolatria solar pode ser um prejuízo irreparável no caminho da vida cristã. Jesus é a única luz que nos pode iluminar e atrair. A Bíblia mostra que na Nova Jerusalém não há qualquer forma de iluminação pois o Cordeiro é a sua luz. E a cidade não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada. E as nações andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra. E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumia; e reinarão para todo o sempre. Apocalipse 21:23-24 e 22:5. Assim, podemos dizer que em qualquer tempo e para todos os tempos a verdadeira luz do Natal e do Reino eterno é Cristo. As luzes que enfeitam as nossas cidades são apenas efeitos visuais que causam um êxtase momentâneo. Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito. Provérbios 4:18.
Solo Deo Glória.
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O CHAMADO DE ABRAÃO
“Ora,
disse o Senhor a Abraão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai
e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma benção! Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as
famílias da terra.” Gênesis
12.1-3
Wilbert Shenk,
professor de cultura contemporânea do Seminário Teológico Fuller, escreveu que
“vida, liberdade e busca de felicidade” tornaram-se marcas da cultura moderna.
Comentando sobre a cultura ocidental, ele observa que é uma cultura pressionada
pela busca de auto-estima, e que a tentação de “ser como Deus” assumiu na
cultura moderna a forma de fazer de si próprio o alvo. No que se refere a sociedade brasileira,
segundo Rubem Amorese, consultor legislativo do Senado Federal do Brasil e
secretário nacional da Associação Evangélica Brasileira, a ética brasileira
desenvolveu traços em que as pessoas não querem fazer sacrifício algum, e nem
mesmo serem disciplinadas. Vantagens, jeitinho brasileiro, prestigio e poder são
valores que caracterizam o caráter do brasileiro. A Igreja de
nossos dias tem espelhado a sociedade na qual está inserida. Vivemos em uma
sociedade hedonista e narcisista. A tendência cultural é valorizar o prazer, a
realização pessoal e o sucesso a qualquer custo. A Igreja nem sempre tem
discernido o seu cativeiro cultural e, muitas vezes, tem reproduzido valores
incompatíveis com os princípios divinos. Tal como o povo de Israel, no
cativeiro, incorporava os valores da nação dominante, também a Igreja tem
recebido o impacto da cultura moderna sobre o seu pensamento e a sua
prática. Poucos dias atrás um
missionário, após ter relatado as experiências e os desafios do trabalho entre
os indígenas, foi abordado por um crente com a seguinte afirmação. “Para fazer
tudo isso, é porque você é um herói”. O missionário humildemente balançou a
cabeça de um lado para o outro e respondeu: “Eu, herói? Não! Sou apenas
obediente.” Este acontecimento revela
compreensões distintas sobre o chamado de Deus em Cristo para o seu povo.
Ao escrever à igreja de Èfeso, o apóstolo Paulo expressa o seu anseio em ver a
Igreja compreendendo qual é
“ a esperança
da vocação de Deus e quais as riquezas da glória da sua herança nos
santos”. Ef.
1.15-22. Pois o apostolo Paulo sabia que uma compreensão equivocada do chamado
da Igreja, implicaria em um sério comprometimento no“andar como é digno”
de sua vocação.
“A esperança do Seu
chamamento” é o
maravilhoso propósito de Deus para todos os santos, tanto individual como
corporativamente. No livro de Gênesis, capítulo 12, encontramos Deus chamando
Abraão dentre os habitantes de Ur dos Caldeus para participar do Seu propósito
eterno em relação à humanidade. Um olhar mais atento sobre a fidelidade e a
graça de Deus chamando Abraão, com certeza nos ajuda a redefinir a nossa
compreensão e a nossa resposta ao chamado de Deus. A Bíblia apresenta Abraão como um exemplo do
que a graça pode fazer, e de como atua silenciosamente, de dentro para fora,
infundindo fé na alma humana e a desenvolvendo
em meio aos embates da vida. Em Gênesis capitulo 12 encontramos o
que se chama de Aliança Abraâmica. Ela está ligada ao plano redentor apresentado
em Gênesis 3.15. O Redentor deveria vir do descendente da mulher, depois dos
descendentes de Sete, de Noé e agora de Abraão. Aproximadamente um quarto do
livro de Gênesis é devotado à vida deste homem. São feitas mais de 40
referências a Abraão no Velho Testamento. O Novo Testamento de forma nenhuma
diminui a importância da vida e do caráter de Abraão. Há aproximadamente 75
referências a ele no Novo Testamento. Paulo escolheu Abraão como o melhor
exemplo do homem que é justificado diante de Deus pela fé e não pelas obras
(Romanos 4). Já o escritor aos Hebreus aponta Abraão como exemplo de um homem
que andava pela fé, dedicando mais espaço a ele do que a qualquer outro
indivíduo no capítulo onze (Hebreus 11:8-19).
Nas férteis
terras da Mesopotâmia havia uma bela cidade.
Era a cidade capital de nome Ur,
também conhecida como “Ur dos
Caldeus”. A sua população vivia
mergulhada
Abrão era
mais um na multidão, um anônimo para o mundo. Todavia a Graça de Deus o
alcançou. Não é de se
estranhar que Deus ordenasse a Abrão para deixar a sua terra, a sua parentela e a casa de seus
pais (Gênesis 12:1)! Era preciso romper o cordão umbilical com qualquer
mentalidade corrompida pela ausência de Deus. Assim também é conosco. Antes de
conhecermos o verdadeiro Deus, podíamos buscar consolo, sentido e proteção em
muitas outras coisas ou pessoas - ídolos de nossa devoção. Porém, quando nos é
revelado a Glória de Deus no rosto de Jesus, o Espírito Santo inicia um processo
de iconoclastia em nosso viver, fazendo com que nada possa receber maior devoção
do que o Senhor Jesus
Cristo.
O chamado de Deus envolve renúncia.
Muitas vezes significa ser desalojado da zona de conforto, deixar a estabilidade
e a segurança, para trilhar o caminho da fé onde a provisão e o cuidado vêm
direto das mãos de Deus. A partir de relatos paralelos de Gênesis 12 podemos
concluir que Abrão teve dificuldades em obedecer prontamente o chamado divino.
De acordo com o descrição de Estevão, o primeiro mártir cristão, Abrão teve uma
visão celestial.“O Deus da glória
apareceu a nosso pai Abraão, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e
disse-lhe: Sai da tua terra e de entre a tua parentela, e dirige-te á terra que eu te mostrar. Então
saiu da terra dos caldeus, e habitou
O
resultado desta comunicação é
apresentado em Gênesis capitulo 11.31.
“E tomou Terá a Abrão seu filho, e a Lo filho de Harã, filho do seu filho, e
a Sarai sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos Caldeus,
para ir à terra de Canaã; e vieram até Harã
e habitaram ali... e morreu Terá
Abraão somente se pôs a caminho
depois da morte de seu pai. Foi a morte que quebrou o laço pelo qual a natureza
o prendia à terra de Harã. Do mesmo modo, no nosso caso, foi a morte de Cristo
que operou a nossa separação deste mundo. “... o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos
desarraigar deste mundo perverso.” Gálatas 1.4 Portanto, devemos compreender a verdade que,
a morte de Jesus significou a nossa morte e que a sua ressurreição é a nossa
vivificação. O Filho de Deus suspenso na cruz, entre o céu e a terra, foi a
forma que Deus usou para atrair os pecadores para Si mesmo, removendo o pecado e
os colocando dentro dos seus propósitos eternos. Jesus crucificado é a maior
benção de Deus para os pecadores.
O chamado de Deus em Cristo inicia
com a cruz e continua sob a cruz. Segundo
C. H. Mackintosh, a cruz é a base
de nossa adoração e a base do nosso discipulado, da nossa paz e do nosso
testemunho, da nossa afinidade com Deus, e da nossa relação com o Mundo. A Cruz
de Cristo está presente nas duas grandes
fases fundamentais do supremo chamado. A primeira fase é a obra da cruz, a qual
estabelece a paz com Deus. Pela cruz
Deus tratou com o pecado de tal maneira que Se glorifica a Si Próprio,
infinitamente. Nesta primeira fase da vida cristã, a cruz aparece como o
fundamento da paz do pecador, a base de sua adoração, e do seu eterno parentesco
com Deus.
Na segunda fase, a cruz aparece como
base de nosso discipulado prático e testemunho. Tão perfeita como o primeiro
momento, a mesma cruz que me liga com Deus separou-me do mundo. Um homem morto
está morto para o mundo, porém, ressuscitado com Cristo, está ligado com Deus no
poder de uma nova vida, uma nova natureza. As duas coisas andam juntas. A
primeira faz dele um adorador e cidadão
do céu, a segunda torna-o uma testemunha e um estrangeiro na terra. A cruz
opera a separação entre mim e os meus pecados, e também opera separação
do mesmo modo entre mim e o mundo. O apostolo Paulo dizia que a sua glória
repousava somente “... na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o
mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo” Gálatas 6.14 Como seria diferente se todos os
cristãos compreendessem o poder prático destes dois aspectos da cruz de
Cristo.
Andar pelo caminho da fé foi um
aprendizado para Abraão . Não sabemos por quanto tempo Abraão se demorou em
Harã, mas sabemos que Deus esperou pacientemente pelo seu servo. Deus queria
aperfeiçoar a fé de Abraão e não poderia fazer isto se não lhe desse liberdade
para ele fracassar. C.H. Mackintosh escreveu. “Deus nunca nos arrastará ao longo do
caminho do verdadeiro discipulado. Isto não estaria de conformidade com a
excelência moral que caracteriza todos os caminhos de Deus. Ele não nos arrasta,
mas atrai-nos ao longo do caminho que conduz á bem-aventurança inefável nEle
Próprio”.
Nós normalmente calculamos os
sacrifícios, impedimentos, e as dificuldades em vez de corrermos ao longo do
caminho, com alegria e vivacidade de alma, como aqueles que conhecem e amam
Aquele cujo chamado tocou os seus corações. Existe verdadeira benção para a alma
em cada ato de obediência, pois a obediência é o fruto da fé, e a fé liga-nos a
Deus e leva-nos a uma comunhão viva com Ele. A fé à qual somos chamados não é
uma fé em um projeto, mas numa Pessoa. “ Pela fé, Abraão, quando chamado
obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem
saber onde ia” Hebreus 11.8.Mas, o
que é viver pela fé? Viver pela fé é saber onde começa a jornada , mas não onde
termina. Ter que depender de Deus a cada passo e a cada momento. Abraão andou por fé e não por
vista.
Deus prometeu a Abraão uma terra,
uma grande nação através dos seus descendentes e uma bênção que alcançaria todas
as nações da terra (12.2,3). “... em ti serão benditas todas as famílias da
terra”. Essa é a maior de todas as promessas dadas a Abraão porque diz
respeito ao Senhor Jesus Cristo. Deus estava prometendo que um dos descendentes
de Abraão seria o Messias, e que todas as famílias de todas as nações seriam
abençoadas através do seu descendente. O Novo Testamento ensina claramente que a
última parte dessa promessa cumpre-se hoje na proclamação missionária do
evangelho de Cristo. “Ora, tendo a
Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o
evangelho a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos.” Gl 3.8.
Além disso, o chamado de Abraão
envolvia não somente uma pátria terrestre, mas principalmente uma celestial. Sua
visão do Deus da Glória fez com que enxergasse
as coisas da terra como mera ilusões. “Pela fé peregrinou na terra
da promessa como em terra alheia,
habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa;
porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e
edificador.” Hb. 11.9-
Solo Deo Glória.
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012
A VELHA E A NOVA CRIAÇÃO
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era Deus. João 1:1
Existem dois livros na Bíblia que começam com a frase: ”no
principio”. Uma das frases está em Gênesis, e a outra está no Evangelho de João.
Se Gênesis fala da antiga criação, o Evangelho de João fala da nova criação. Em
Gênesis temos os 6 primeiros dias da criação, mais 1 dia do descanso de Deus,
totalizando 7 dias.
No Evangelho de João encontramos também os 7 dias da nova
criação, demonstrados tipologicamente desta forma: Em João, no verso 29 do
primeiro capítulo encontramos a frase “no dia seguinte”. A partir dessa frase
vemos como tudo se iniciou. “No dia seguinte” nos remete ao dia anterior. E, o
que aconteceu no dia anterior? Como iniciar a contagem de 7 dias da nova
criação?
Como contar esses dias? Por causa do Evangelho de João podemos
ver o Senhor de uma maneira muito mais ampla. É muito interessante que, quando
João diz “no dia “seguinte”, cremos que o Espírito Santo desenhou de forma
maravilhosa estes 7 dias da novo criação revelado neste Evangelho.
Assim ficamos sabendo que no primeiro dia o nosso Senhor Jesus
já estava no meio deles, mas eles não O conheciam: “Respondeu-lhes João: eu
vos batizo com água; mas, no meio de vós, está quem vós não conheceis” (Jo
1:26). Isso marca o primeiro dia.
O primeiro dia é o dia da encarnação. O Verbo se fez carne e
tabernaculou entre os homens. Por isso, a história da nova criação começa com o
Verbo que se fez carne, Deus-Homem entre os homens. Quando olhamos de maneira
externa, Ele é homem, mas quando olhamos de maneira interna, Ele é Deus.
O primeiro dia é a presença do Senhor na Terra, este é o início
do Céu na Terra. Quando o Céu toca a Terra é o início da nova criação. Agora,
vem o “dia seguinte” quando João Batista viu Jesus que vinha para ele. Este é
o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. (Jo 1:29).
O dia seguinte corresponde ao “segundo dia”. Neste dia nos é
dado a visão do Cordeiro de Deus. O que significa para nós este segundo dia? Ao
vermos Jesus como o Cordeiro de Deus, lembramos que somos pecadores e
necessitamos de um Salvador. Necessitamos de um substituto.
A presença de Jesus aqui na Terra nos mostra que como Cordeiro
de Deus, Ele veio para remover o pecado do homem. Neste segundo dia vemos o
começo de nossa história. Não só o começo, mas também o fim de velha
criação.
. No primeiro dia vemos o Verbo, que se fez carne. No segundo
dia vemos o Cordeiro que tira o pecado do mundo; vemos a historia de nossa
restauração. Vemos que neste dia, morremos, ressuscitamos e estamos “assentados
nos lugares celestiais em Cristo.(Ef 2:6).
Nenhum pecador é capaz de ser salvo pelas obras que pratica. Um
dia, ele compreenderá que a salvação está fundamentada no que Cristo fez. Este é
o descanso. Depender inteiramente e completamente de Cristo. Isto é graça! Este
é o descanso!
O que o Senhor Jesus realizou naquela Cruz foi suficiente para
nos fazer aceitos diante de Deus Pai. O Espírito Santo nos conduzirá para dentro
desta verdade. Jesus não apenas morreu, mas também ressuscitou.
Quando Cristo morreu, nós também morremos, quando foi
ressuscitado, também fomos ressuscitados; quando ascendeu, também ascendemos. A
herança que temos Nele é, na verdade, muito superior ao que esperamos e
imaginamos.
Nós morremos com Cristo. Isto é verdade quanto à morte no
sentido Judicial. Mas, isto não é suficiente. É necessário que haja uma “unidade
experimental com Cristo na Sua morte”. O fato histórico tem que se tornar uma
realidade experimental. O que é verdade “para nós” tem que se tornar verdade “em
nós” (Evan. H. Hopkins).Este é a nossa história na nova criação.
Quando chegamos ao terceiro dia, encontramos a mesma palavra.
Eis o Cordeiro de Deus (Jo 1:35). Aqui não vemos mais “o Cordeiro que
tira o pecado do mundo”. Isto significa que neste estágio não estamos mais sob o
peso do pecado.
É neste ponto que nos esquecemos de nós mesmos, porque estamos
ocupados com o Senhor. Agora, na posição de filhos, queremos andar com o nosso
Pai. Esta experiência simplesmente significa que vamos até o nosso espírito e
ali nos assentamos aos pés do Senhor para desfrutarmos de Sua comunhão.
Esta é a experiência revelada em nossa história, no terceiro
dia: comunhão; andar com Deus. Este é o terceiro estágio da nossa vida cristã.
Esta é a verdadeira entrada na vida cristã. Começamos com nossa união com
Cristo, e seguimos num relacionamento ininterrupto, de Pai e filho.
No quarto dia, Eles encontram Pedro, e Jesus disse: Tu és
Simão, o filho de João; tu serás chamado Cefas. (Jo 1:42). Neste episódio o
Senhor muda o nome de Simão, isto é significativo porque antes de Pedro
trabalhar para Deus, ele teve que ser trabalhado por Deus.
Muitos querem trabalhar para Deus, mas, se esquecem de que
precisam ser trabalhados por Ele. Antes mesmo de alguém ser enviado por Deus
para anunciar a boa nova do Evangelho é necessário a troca de vida. É preciso
ser substituído, isto é, o velho homem precisa dar lugar ao novo homem.
Agora vamos para o quinto dia. É neste dia que podemos seguir o
Senhor, por termos uma nova natureza. Agora, podemos seguir o Senhor, não mais
como um fardo, mas sim, num caminhar prazeroso. Jesus “encontra com Felipe e
Natanael, Ele disse a Felipe: ‘segue-me”.
No dia imediato, resolveu Jesus partir para a Galiléia e
encontrou a Felipe, a quem disse: Segue-me (Jo 1:43). Segue-me que significa
no grego: acompanha-me na minha jornada; é como Jesus estivesse dizendo para
Felipe: “você não tem caminho, você não sabe por onde anda, mas eu sei por onde
você deve seguir”, vem e segue-me Eu Sou o seu Caminho”.
É muito amplo o convite de Jesus, Ele está nos chamando para
andarmos com Ele, isto quer dizer: venha jornadear comigo. Este é o conhecimento
gradual do Senhor. Um relacionamento vivo com a Pessoa do Senhor Jesus. Não é um
relacionamento submetido a regras: do que temos ou não temos que fazer.
Agora chegamos ao sexto dia. Jesus se encontra com Natanael,
este estava sob uma figueira, isto significa que Natanael estava em um lugar
muito secreto. Neste lugar ninguém poderia penetrar na alma de Natanael, mas
teve um olho que penetrou ali, o olho de Jesus que o viu a distância. Porque
te disse que te vi debaixo da figueira, crês? (Jo 1:50).
O Senhor Jesus não é apenas o nosso mestre, mas Aquele que tudo
perscruta. É Aquele que vê o coração. Por causa do Seu olhar penetrante a
operação da Cruz vai nos cortar profundamente o nosso ser. Porque a palavra
de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes,
e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta
para discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4:12).
Somos rápidos para julgar, condenar, aceitar e rejeitar o outro
pela sua aparência. Não entendemos que o nosso olhar só alcança o envelope,
nunca o que está em seu interior. Só existe um que pode ir além das aparências,
o Senhor: Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência,
nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o
homem. O homem vê o exterior, porem o Senhor, o coração. ( 1 Sm 16:7).
Natanael representa a vida em secreto, uma vida escondida em
Deus. A vida em oculto deve ser o estilo de vida dos filhos do reino.
Diametralmente oposto ao estilo de vida dos fariseus, que só se preocupam em
exibir os seus feitos publicamente, os filhos do reino visam a glória de
Deus.
Esta é a experiência da recâmara interior. Quando oramos,
devemos entrar no nosso quarto e o nosso espírito é o nosso quarto interior,
porque no grego, esta recâmara interior é onde guardamos o tesouro. Cristo é o
nosso tesouro celestial. O nosso espírito regenerado se tornou habitação do
Espírito Santo: leva-me após ti, apressemo-nos. O Rei me introduziu nas suas
recâmaras (Ct 1:4).
No primeiro dia da história da nova criação vemos a presença do
Senhor aqui na terra. Nos dias subsequentes vemos a nossa história em Cristo. No
segundo dia Ele é o nosso redentor. No terceiro dia, ganhamos a posição de
filhos, no quarto dia, o Senhor trabalha em nós. No quinto dia, Ele nos convida
para a Sua companhia. No sexto dia, vemos que o estilo de vida dos Seus filhos é
a gloria de Deus.
Agora, entramos no sétimo e último dia da história da nova
criação. A princípio, o propósito final da redenção não é o homem, mas sim a
glória de Deus. Cristo é a glória de Deus, Ele é centro de todas as coisas:
Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste (Cl 1:17).
O sétimo dia está representado pelo milagre da transformação da
água em vinho: E disse-lhe: Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando
já beberam fartamente, servem o inferior; porém, guardaste o bom vinho até
agora (Jo 2:19). Este é o milagre que em sua totalidade tipifica o
descanso.
Tudo o que Deus fez foi muito bom. O bom vinho tipifica a nova
criação, e, esta nova criação descansa no que Deus fez. E nós Descansamos na
obra consumada; realizada Cruz.
Cristo toma de direito uma posição que lhe é própria na
Criação. Ele tem a supremacia sem contestação e sem controvérsia. Portanto, Ele
tudo criou, tudo é para Ele – e Ele é o primogênito de tudo o que foi criado. E
nós descansamos na Sua suficiência. Deus descansou no sétimo dia da
criação e nós descansamos em Cristo.
Foi na Pessoa do Filho que Deus atuou quando, pelo Seu poder,
criou todas as coisas, quer nos céus, quer na Terra, visíveis e invisíveis. Tudo
o que é poderoso e elevado é obra da Sua mão, tudo foi criado por Ele e para
Ele. Tudo está consumado!
Assim, quando Ele toma esse todo, toma-o como Sua herança de
direito. Que maravilhosa verdade é esta: Aquele que nos resgatou; que se fez
homem, como um de nós quanto à natureza, para nos dar o descanso, é o Criador!
Senhor absoluto sobre todas as coisas. E, tudo que Ele fez é para Sua glória!
Este é o fundamento do nosso descanso.
Solo Deo Glória.
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segunda-feira, 15 de outubro de 2012
F2TS, A FÓRMULA DIÁBOLICA DA CRISE ESPIRITUAL
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? Jeremias 17:9
Estamos vivendo uma crise. Porém, de conseqüências muito mais
catastróficas do que a crise econômica mundial, que temos presenciado todos os
dias, estampada nas primeiras páginas dos jornais, no rádio e na televisão. Ao
contrário da crise econômica que é visível e atinge nações pelos quatro cantos
da Terra, esta outra crise é quase que imperceptível e tem atingido o povo de
Deus, individualmente. Agindo vagarosa e sorrateiramente, vem solapando a nossa
fé, corroendo os alicerces da nossa vida e nos distanciando, cada vez mais, do
foco de um cristianismo autêntico, que é ter uma vida que glorifique a Deus e
não que envergonhe a Deus.
São três os aspectos que caracterizam esta crise, os quais
merecem nossa especial atenção.
O primeiro aspecto diz respeito à falta do temor de
Deus. Mesmo regeneradas, as pessoas parecem reconhecer Cristo apenas como
seu salvador pessoal, esquecendo-se de que Ele é também Senhor de suas vidas. Um
dos comentários mais tristes que ouvimos é o de pessoas que não querem fazer
negócios com cristãos ou não querem ter um cristão como patrão ou empregado.
Qual a razão disto? Não há temor de Deus. As pessoas se autodenominam cristãs,
mas a vida delas está longe de Cristo. O que fala mais alto não são palavras,
mas o nosso testemunho de vida. E quando não há temor de Deus, não há testemunho
e, sim, "tristemunho".
Quando Moisés matou o egípcio, ele olhou para a direita e
depois para a esquerda, mas esqueceu-se de olhar para cima. Êxodo 2:12:
Olhou de um e de outro lado, e, vendo que não havia ali ninguém, matou o
egípcio, e o escondeu na areia. Bill Gothard diz que temer a Deus é:
a consciência deliberada de que Deus está observando todas as coisas e
avaliando todas as coisas que eu penso, digo e faço. Deus vê tudo. Ele sabe
de tudo. Ele está avaliando tudo.
Temor de Deus significa reverência. Significa ter senso da
grandeza de Deus, da glória de Deus e da majestade de Deus. É ter a consciência
de que Deus é o Juiz de toda a terra e de que todos nós estamos em suas mãos.
Hebreus 10:31: Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.
Quanto mais você teme a Deus, quanto mais você permanece em sua
presença, mais você tem receio de desagradar a Deus. Sua presença em nossas
vidas não deve significar uma espada de Dâmocles (perigo iminente), mas um
receio saudável de não magoar ou de não desapontar a Deus. Nossas decisões devem
ser tomadas não com base no que nos agrade, mas no que agrada a Deus.
O segundo aspecto diz respeito às tradições religiosas
que vão se formando durante nossa caminhada cristã. Quanto mais tempo temos de
vida cristã, mais corremos o risco de nos acomodar em nossos hábitos. Todavia, o
próprio apóstolo Paulo nos adverte para esta acomodação, para não tomarmos a
forma deste mundo, renovando sempre a nossa mente. Romanos 12:2: E não vos
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus.
No capítulo 2 de Romanos, o apóstolo Paulo está argumentando
que tanto judeus como gregos estão debaixo da ira de Deus e que precisam da
salvação em Cristo Jesus. Só que os judeus eram os primeiros a se justificarem,
sempre tinham algum argumento. Os judeus não aceitavam a salvação em Jesus,
porque entendiam que já eram salvos, por causa de suas tradições,
consubstanciadas em três elementos: a)- porque faziam parte da nação escolhida
por Deus; b)- porque tinham um sinal de fato e exterior da aliança: a
circuncisão; e, c)- porque tinham recebido de Deus a sua lei.
Existem muitas pessoas, hoje, agindo como os judeus,
fundamentando sua salvação em tudo, menos na pessoa de Jesus Cristo e sua obra
de morte e ressurreição. Pessoas que estão justificando inconscientemente uma
vida de pecado, em tradições religiosas. Vivem dissolutamente, achando que
porque são membros de uma igreja, ou porque detém a revelação desta ou daquela
palavra, ou porque foram curados disto ou daquilo, — podem viver segundo seus
padrões pessoais de conduta. Só que o único padrão de conduta autêntico e
verdadeiro é o de Cristo, segundo a Graça de Deus e o seu Evangelho, e a partir
de nossa inclusão na obra da cruz.
O principal erro dos judeus era fazer a separação entre a
doutrina e a vida. O judeu não levava em consideração a vida diária. O que fazia
não tinha importância porque, afinal de contas, era judeu. Há muitas pessoas
interessadas na doutrina, inclusive da cruz, mas que se esquecem da vida
prática. João 13:17: Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se
as praticardes.
O terceiro aspecto diz respeito à soberba espiritual.
Esta é uma característica que pode aparecer quando se busca apenas conhecimento,
sem a sabedoria e a revelação divinas. O conhecimento em si é bom, mas se o
objetivo final deste conhecimento não for o de alcançar uma vida transformada
pelo Espírito, que produza frutos no Espírito e que edifique outras pessoas,
ele, então, se torna estéril e de nenhum valor.
O apóstolo Paulo nos ensina em 1º Coríntios 8:1: ... O
saber ensoberbece, mas o amor edifica. Comentando este versículo,
Russell Champlin escreve: Essa variedade errada de conhecimento servia
somente para deixá-los orgulhosos, altivos, destruindo o vínculo da paz e a
comunhão no seio daquela igreja. Seja como for, o conhecimento, até mesmo quando
é da melhor qualidade, não pode dar solução a todos os problemas. O amor cristão
é o grande meio para resolver os problemas e regular a conduta dos crentes.
Paulo fala em 1º. Coríntios 13:4: O amor é paciente, é benigno; o amor não
arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece.
Precisamos de sabedoria divina e não deste conhecimento
incorreto que incha a pessoa intelectualmente. O oposto da soberba é a
humildade. E a humildade é uma das características do cristão autêntico. Disse
Jesus em Mateus 11:29: Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim,
porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa
alma.
A essência do saber não é o conhecimento, mas o temor do
Senhor, conforme diz o Salmos 111:10: O temor do SENHOR é o princípio da
sabedoria; revelam prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece
para sempre.
Por que estes três aspectos são tão nocivos para o cristão?
Porque, agindo assim, o homem acaba se tornando independente de Deus, quando
deveria viver para Ele e tornando-se dependente Dele. Vida cristã é vida na
dependência de Cristo e não independência Dele. Todos estes três aspectos que
acabamos de mencionar decorrem do fato de que, paradoxalmente ao que afirmamos
crer, vivemos inconscientemente à margem de Deus, desligados Dele, como se
fôssemos pequenos deuses para nós mesmos.
Muitos de nós passamos nossas vidas tentando evitar a verdade
da Palavra de Deus, porque não queremos andar de acordo com ela. Isto é
rebeldia. Não confunda a liberdade que Deus te deu em Cristo Jesus, livrando-o
das amarras do pecado, com a possibilidade de, agora, levar uma vida segundo a
sua própria vontade, a fim de satisfazer seus desejos pessoais egoístas.
Gálatas 5:13: Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não
useis da liberdade para dar ocasião à carne ... Nem uma vida dissociada
da direção de Deus. Provérbios 16:9: O coração do homem traça o seu
caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos. Na verdade, precisamos nos
libertar de nós mesmos.
O único conhecimento que pode nos libertar verdadeiramente é o
conhecimento de Cristo, da sua pessoa. Na verdade, é a própria vida Dele em nós.
João 8:32: e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
João 14:6: Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim. Jesus é a verdade que nos liberta de
fato. Não é o conhecimento bíblico que liberta, mas a própria pessoa de nosso
Senhor Jesus Cristo, revelada pelo Espírito Santo.
Como, então, podemos corrigir o curso de nossas vidas,
livrando-nos da falta do temor de Deus, das tradições religiosas e da soberba
espiritual? Somente pela graça e pela misericórdia de Deus, temendo a Ele e
praticando a sua presença em nossas vidas. Precisamos clamar ao Pai para que
venha perscrutar o nosso coração, revelando-nos estas verdades e guiando-nos
pelo caminho certo. Salmos 139:23-24 Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu
coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho
mau e guia-me pelo caminho eterno.
Quando você tem uma consciência limpa, você é capaz de
desfrutar de seu amor e liberdade. Que Deus nos dê graça para enxergar e nos
livrar de toda altivez, a fim de termos uma vida que verdadeiramente glorifique
ao Pai, não segundo o nosso padrão deformado, mas segundo o padrão de
Cristo.
Solo Deo Glória.
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INDÍCIOS DE UM CAÇADOR
Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e,
abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem
bate, abrir-se-lhe-á. Mateus 7:7-8.
Jesus escancarou aqui uma comporta para uma enxurrada de
perguntas e nós ficamos querendo saber o que significa de fato esse todo aquele
que pede, busca e bate, tendo êxito na sua empreitada! Será que Deus responde
favoravelmente a qualquer pessoa que pede? Ele se deixa ser achado por qualquer
um que o busca? Ele abre as portas para quem quer que bata? Ao meu ver, o que
está por traz dessa profunda insistência seqüencial é alguma coisa muito
importante para a nossa compreensão.
Sabemos que Deus sempre responde as orações, mas nem sempre de
acordo com o suplicante. Há muitas petições que são respondidas negativamente e
muitas outras têm um tempo de espera. A pausa no compasso da expectativa é uma
metodologia no tratamento da ansiedade. A pedagogia divina é muito prática e,
freqüentemente, é preciso um intervalo no processo da execução, a fim de tratar
o problema da impaciência compulsiva. Alguém disse que Deus sempre responde com
estas três palavras: Sim, não, espere.
Porém, a questão fica um pouco mais complicada com o enfoque
dos outros dois verbos: buscar e abrir. Todo o que busca, acha? Todo o que bate,
destranca? O contexto desse texto fala realmente de um tema de filiação. Jesus
está abordando em particular o quesito de uma relação paternal bem adequada.
Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos,
quanto mais o vosso Pai que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?
Mateus 7:11. O que está em jogo nessa matéria é a conexão íntima de um
envolvimento familiar. Sabemos também, que nem todos os homens são filhos de
Deus.
As Escrituras mostram que o homem natural, isto é, o homem não
regenerado pela graça em Cristo, jamais busca a Deus. Do céu olha o Senhor
para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a
Deus. Salmo 14:2. Não há o menor interesse do homem pecador pelo Deus
santo revelado na Bíblia. Os deuses que os homens se importam são aqueles que
eles mesmos criam com a sua imaginação fértil, mesmo que esses deuses não se
importem com os homens. Sendo assim, o apóstolo Paulo mostra claramente a
aversão que o pecador tem pelo Deus verdadeiro. Não há justo, nem se quer
um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus. Romanos 3:10-11.
Não há uma ponta de simpatia proveniente do homem natural para
com o Deus revelado através da Bíblia, por isso mesmo, ninguém o busca
preferencialmente. Se alguém se encontra interessado pelo Deus das Escrituras
Sagradas, foi porque este mesmo Deus o atraiu para Ele. Só é possível buscar o
Senhor, aquele que foi buscado pelo Senhor. Primeiro Deus nos busca
graciosamente, depois nós o buscamos correspondentemente. Jesus disse aos seus
discípulos: Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu
vos escolhi a vós. João 15:16a. E o discípulo João acrescenta, dentro
dessa ênfase, a verdade clara: Nós amamos porque ele nos amou primeiro.
1João 4:19.
O homem que busca a Deus revela que foi inicialmente buscado
pelo próprio Deus. Se há uma coisa atestando que o ser humano foi despertado da
morte espiritual é o seu interesse particular pela pessoa de Deus. Mas, nós
somente o podemos buscar, quando ele se aproxima de nós para nos alcançar.
Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.
Isaías 55:6. Ele precisou achegar-se ao desertor do Éden, a fim de
atraí-lo para a sua intimidade pessoal. Jesus se encarnou para se aproximar da
humanidade distanciada de Deus.
O velho coração de Adão não tem a menor predileção pela
comunhão com Deus. O pecador rebelde sofre de anorexia de Deus, ou seja: ele não
tem a mínima fome do Deus verdadeiro. Sua reação inata é um enjôo achacadiço das
coisas de Deus. Por isso, antes de tudo, Deus precisa trocar o coração
indisposto do velho homem do pecado, por um novo coração que o queira, acima de
tudo. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso
coração. Jeremias 29:13. Aqui está patente a evidência de um transplante
realizado por Deus, uma vez que o velho coração não tem apetite pela pessoa de
Deus.
O faro que impulsiona o coração do homem para Deus é uma mostra
notória que esse homem foi encontrado por Deus. O anseio do coração do homem por
Deus é uma prova de que Deus mudou o antigo coração enfarado desse homem, por um
outro que o busca de todo o coração. Ao meu coração me ocorre: Buscai a
minha presença; buscarei, pois, Senhor, a tua presença. Salmo 27:8. Ora,
se o pecador obstinado não era solícito em buscar a Deus e agora suspira pela
sua presença, significa que ele foi atingido em cheio pela graça de Deus, para
poder buscá-lo cordialmente.
A marca registrada de uma experiência autêntica de salvação é o
anseio íntimo pela comunhão pessoal com o Senhor Jesus Cristo. Se não houver
sede de Cristo nas entranhas do coração, certamente não há certeza de salvação.
Alguém disse: Se você não é um caçador da amizade mais sublime com o Senhor,
você evidentemente não faz parte das presas alcançadas pela graça.
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus
Cristo, nosso Senhor. 1Coríntios 1:9. Se Cristo não se constitui no
anseio principal de sua alma, é por que você não foi ainda renascido na família
de Deus. Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na
terra. Salmo 73:25.
Todos aqueles que foram conquistados pela graça são membros dos
procuradores do Reino que se empenham acima de tudo com a preferência secreta
pela pessoa sublime do Rei dos reis. Mas recomenda-se que essa investigação seja
reservada e discreta, sem sinal de passarela. O que interessa de fato numa
pessoa salva pela graça é o convívio entranhado com Jesus Cristo.Você tem esse
intenso anelo pela comunhão com o Senhor? Para você o reino de Deus recebe a
proeminência? Jesus foi incisivo: Buscai em primeiro lugar, o seu reino e
a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Mateus
6:33. Lembre-se da expressão de um pensador: Não é suficiente ter
comunhão com a verdade, pois esta é impessoal. Precisamos ter comunhão com o
Deus da verdade.
O que vai definir a legitimidade de uma experiência de salvação
é a profunda aspiração à amizade pessoal com Cristo. Se não existir esse anelo
íntimo pela busca de Deus em Cristo, temos que estimar o descrédito de nossa
aparente salvação. O que salienta a autenticidade da salvação em Cristo é o
interesse incondicional pelas coisas celestiais dentro de um relacionamento
preferencial por Cristo. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com
Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de
Deus. Colossenses 3:1. Ora, o que comprova a autenticidade da salvação
na primeira instância é a ambição subjetiva pela pessoa de Cristo. Digo ao
Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente. Salmo
16:2.
Estamos vivendo os primeiros dias de um novo ano e é bom
avaliarmos bem a nossa experiência. O apóstolo Paulo vai fundo quando apela:
Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós
mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais
reprovados. 2Coríntios 13:5. Você e eu temos gozado a alegria da
comunhão profunda com a pessoa do Senhor Jesus Cristo? Temos nós buscado a
presença do Senhor sobre tudo e acima de todos? Não nos enganemos! Se Cristo não
for a primazia de nossa busca, verdadeiramente não pertencemos à família de
Deus.
Joseph Parker
disse que as conversões precisam ser
examinadas tanto quanto enumeradas. Somos mais propensos a contar as
conversões do que sondá-las. Mas a certeza da salvação sempre requer uma
investigação caprichada. Você tem uma profunda fome e sede de Cristo?
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim, como do pão, e beba do
cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.
1Coríntios 11:28-29. A ceia do Senhor é muito mais que comer pão de
trigo e beber o vinho da videira. Significa ingerir a intimidade relacional de
fé na suficiência da pessoa de Cristo. Não se trata evidentemente de
transubstanciação nem de consubstanciação, mas da comunhão viva e pessoal da
presença do Senhor. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando
irei e me verei perante a face de Deus? Buscai o Senhor e o seu poder; buscai
perpetuamente a sua presença. Salmo 42:2 e 105:4.
Os indícios de um caçador fiel no reino de Deus se revelam na busca íntima do Senhor, ainda que venha concordar com o bispo J. C. Ryle: De todas as coisas que nos irão surpreender na manhã da ressurreição, esta, creio eu, é a que mais causará espanto: que amamos tão pouco a Cristo durante nossa vida. A comunhão reservada com Cristo é o principio do céu na terra. É bom conferir as palavras do sábio Martinho Lutero: Uma masmorra com Cristo é um trono, e um trono sem Cristo é um inferno. Pois assim diz o Senhor à casa de Israel: Buscai-me e vivei. Amós 5:4. Amém.
Solo Deo Glória.
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O DESCANSO PARA ALMA
Vinde a mim todos os que
estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu
jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis
descanso para as vossas almas.
Mateus 11:28-29.
Aqui temos um
imperativo estimulante. É uma convocação indiscutível que ao mesmo tempo se
torna num convite cordial. Jesus ordena aos cansados que venham a ele, contudo o
seu chamamento não é cogente. Ele não está exigindo desempenho forçoso, embora o
apelo nos pareça irrecusável. O Senhor abre a porta aos executivos exaustos e
faculta o ingresso aos oprimidos.
O evangelho é
uma proposta para os esforçados que se encontram agora esgotados. Sabemos que
muita gente, ainda que exaurida, não aceita repouso, pois são orgulhosas demais
para ter uma vida de feriado. A religião não tolera folga, por isso os
israelitas não acolheram o convite de Javé. Porque assim diz o Senhor Deus, o
Santo de Israel: em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na
tranqüilidade e na confiança, a vossa força, mas não o quisestes. Isaias
30:15. Essa turma possante e laboriosa não admite de modo algum entrar em
férias.
Retirar o ser
humano do controle e governo de suas atividades é a tarefa mais difícil que
existe para qualquer outro membro da raça. Aliás, não é difícil, é impossível.
Esta empreitada só poderá ser feita de modo eficaz pelo Deus, Todo-Poderoso, e
será sempre um grande milagre.
O gênero
adâmico vive a ditadura da autonomia e não se conforma quando não tem a
supervisão da situação. Com isto a canseira não fica por conta do trabalho, mas
da falta de comando da conjuntura e da ansiedade pela governabilidade do
processo. No fundo de toda atividade humana existe uma grande tensão em manter o
ritmo dos acontecimentos sob o domínio pessoal.
A Bíblia exibe
uma galeria de chefes de tribos ou caciques de conduta, gente que vive se
remoendo e se intrometendo na vida alheia com o propósito de exercer o controle
sob a situação. Veja por exemplo como Marta ficou estressada porque a sua irmã a
deixou sozinha lidando com as coisas da casa, enquanto usufruía da comunhão com
o Senhor.
A vida de
Marta nos sugere que ela era uma criatura muito prestativa, mas apresentava uma
mentalidade serviçal conduzida pelos resultados, não conseguindo ver a
importância de um convívio amistoso e descontraído com o Senhor. O seu nível de
cobrança repousava em pontos muito elevados e sua atuação requeria uma maior
visibilidade pública.
Talvez, para
ela, o que se devia agendar como mais relevante seria o papel em favor de sua
própria imagem e não o relacionamento íntimo e pessoal com Jesus. Foi neste
contexto complexo de implicância doméstica que respondeu-lhe o Senhor: Marta!
Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é
necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois escolheu a boa parte, e esta não
lhe será tirada. Lucas 10:41-42.
Somos uma
casta encasacada com auto-estima e blindada por uma alta arrogância que nos
impede de investigar a nossa própria realidade, mas mesmo assim, pode-se ver em
cada casa neste planeta algo intrigante e curioso que nos permite perceber a
martirização generalizada, sob os efeitos da exigência que cobra um maior
desempenho para a aprovação.
O sistema
pedagógico deste mundo aprova apenas os melhores que tiveram a mais perfeita
atuação. A busca pela excelência tem um lado positivo válido, todavia passa por
uma auto-estrada com excesso de perigos. Ser sempre mais, maior e melhor é o
sintoma de uma doença extremamente grave e um vício terrível do ego. O egoísta
não suporta perder o domínio dos acontecimentos, mas segundo o irmão Christian
Chen, "no reino de Deus ganhar é perder e perder é ganhar".
O sexto dia da
criação foi um período de grande atividade por parte do Criador, dando origem
aos seres viventes. No final daquele dia Deus fez o homem a sua imagem e
semelhança como o último elemento do seu projeto. Adão não surgiu no meio do
processo criador, mas ao término de tudo. No dia seguinte, o sétimo, Deus
descansou de todo o seu trabalho.
O descanso de
Deus é o primeiro dia da existência de Adão. A humanidade não começou a sua
história antes de tudo estar concluído. O seu início é exatamente no período que
se denomina o repouso do Criador. O dia sabático de Deus é o começo da jornada
do homem na terra, apontando para um fato muito importante: sem descanso ninguém
consegue trabalhar com prazer.
Depois que
surgiu o pecado vemos uma mudança de parâmetro na estimativa do repouso. O
acordo do Sinai mostra que houve uma reviravolta nas condições de ajuizamento do
sábado. No principio o homem via o ócio antes do negócio e as férias vinham na
frente do trabalho. Tudo dependia da obra perfeita e realizada exclusivamente
pela Trindade. Contudo, após a rebelião promovida pela serpente, o descanso do
executivo deriva dos resultados de seu bom desempenho e o lazer é uma recompensa
pelos esforços desprendidos.
O sábado da
lei vem em seguida ao batente na semana transpirada que se expira. Seis dias
se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao
Senhor. Êxodo 31:15a. Agora era preciso atuação para se chegar à trégua. O
descanso é conseqüência do empenho. Não se trata mais de uma mesada antecipada
para um filho amado, mas de um salário posposto para um servo suado que precisa
preencher os requisitos de sua aceitação a contento.
No princípio
Deus fez tudo em seis dias para depois descansar no sétimo. O homem foi criado
no fim do sexto dia e o primeiro lance na sua vida após ter sido criado foi
repousar, não foi trabalhar. Posteriormente à transgressão, o descanso só viria
como uma implicação do trabalho realizado pelo homem. Isto significava um câmbio
na aliança. Antes do pecado o descanso decorria como resultado da obra
totalizada da criação. Depois do pecado o sábado na vida do ser humano é um
produto do seu esforço, pois vem no fim da semana do seu trabalho.
O descanso da
lei é uma proposta inatingível. Por mais que o homem faça as suas tarefas morais
com esmero e se aplique ao máximo em seu desempenho, ele nunca conseguirá
alcançar o padrão exigido pela lei. Assim a humanidade vive cansada e enfastiada
por causa do peso da responsabilidade e das exigências éticas procedentes da
perfeição legal. A lei é santa, espiritual e boa, eu, todavia, sou carnal,
vendido à escravidão do pecado. Romanos 7:14b.
O conflito da
lei do pecado com a lei divina, que é perfeita, gera uma guerra puxada e
cansativa que exaure a alma. O fracasso no descumprimento da lei ou o orgulho na
prática de algum mandamento acabam produzindo um rombo de energia em nosso ser
que, em última análise, vai se refletir num estado de esfalfamento e enfado em
nosso interior.
A ordem
convidativa do Senhor tinha como pano de fundo este estado de sobrecarga. Havia
uma multidão de cansados e oprimidos sem qualquer chance de alívio sob o peso
intolerável do legalismo e Jesus apela para a alternativa do sábado da redenção.
Adão foi criado no sexto dia e Jesus foi crucificado na sexta-feira pascal, a
fim de desconstruir o modelo exigente de contrapartida e estabelecer o novo
padrão de aceitação do pecador pela suficiência da graça incondicional.
O sábado da
redenção fala da obra consumada do justificador e do descanso duradouro que o
devedor experimenta pela liquidação permanente do seu débito. Agora já não há
mais prestações a serem pagas nem o seu nome vai igualmente para algum Serasa ou
Seproc beatificado.
Porém o
descanso da alma tem ainda a ver com a peregrinação. A questão não é apenas
atual, mas processual. A vida de intimidade com o Senhor é um convite ao
descanso na comunhão. Os judeus também tiveram essa oportunidade e não
aceitaram. Assim diz o Senhor: ponde-vos à margem no caminho e vede,
perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis
descanso para as vossas almas; mas eles dizem: não andaremos. Jeremias
6:16.
Cristo não é
apenas o justificador. É também o santificador. A via da santidade é um acesso
de permanência reservada e contínua com o tronco da Videira. O sossego da alma
nas entranhas da árvore da vida gera um estado de bem-aventurança que desemboca
num gozo inalterável. Tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja
em vós, e o vosso gozo seja completo. João 15:11. Vida de Cristo com mau
humor e descontentamento é uma aberração.
Ser um ramo
permanente e silencioso na Videira é usufruir as riquezas fertilizadoras e
insondáveis da própria Planta. Uma santidade sem o contentamento que se rende no
descanso da alma não tem qualquer semelhança com a vida em Cristo. Como diz
Osmar Ludovico: "o secreto não é um local, mas um estado de consciência. No
secreto não estamos sozinhos, pois nossa alma encontra o Deus vivo e
verdadeiro".
A quietude da
alma no relacionamento particular com Cristo é a fonte de sua maior atividade
espiritual. Quando a alma se aquieta como uma criança amamentada no colo de sua
mãe, então a vida espiritual mais profunda começa a jorrar através de suas
expressões visíveis. Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não
temerei, porque o Senhor Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a
minha salvação. Isaías 12:2.
A vida
espiritual autêntica é a vazão da vida de Cristo do nosso espírito para a nossa
alma suscitando descanso e familiaridade como o Senhor e motivando um ambiente
de paz e afeto com os irmãos. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu
interior fluirão rios de água viva. João 7:38. Não existe descanso onde
houver comparação, competição e complicação.
Essa vida de
descanso da alma é a existência permanente da comunhão íntima e silente do ramo
com a fonte eterna da vida que brota da Videira verdadeira. Somente em Deus,
ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha salvação
(esperança). Salmos 62:1 e 5. O sábado da redenção é a entrada e permanência
festiva no repouso do Senhor. Aquele que se satisfaz plenamente em Cristo tem
uma alma bem-aventurada que vive serena e confiadamente no
Senhor.
Solo Deo Glória.
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