quinta-feira, 28 de junho de 2012

CÁ DE BAIXO OU LÁ DE CIMA?

Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou. João 8:23.
Jesus diz aqui que há dois níveis de existência: o de baixo e o de cima. Todos nós já nascemos em um mundo de baixo, caído. Somos da terra e vivemos ao rés do chão. Esse mundo inferior vive na possibilidade da depressão de um ego sujo e sujeito às ambições altivas por trás da máscara da face.
O planeta despencado é o terreiro onde brotou aquele pecado sutil que propõe tornar o ser humano como se fosse Deus. Assim, a turma cá de baixo se exercita ao máximo na tentativa de alcançar o terraço lá de cima, na prerrogativa de sua grandeza. Entretanto, essa prostração não nos deixa prostrados ou abatidos, mas sim, totalmente emproados.
Somos uma raça caída, sim, embora nos apresentemos bem caiados com a tinta-soberba da celebridade. Fingimos até mesmo ser mendigos, mas nas entrelinhas, o que cobiçamos é ser de fato Sua Alteza. Sofremos nas entranhas, com o nosso nanismo, sonhando sempre em viver no corpo corpulento de um gigante. Que apetite voraz nós temos pela notoriedade!
A gente do nível caído nunca se nivela por baixo. Comporta-se como criança birrenta, sempre aspirando ao pódio. A luta pelo trono e a trama pelo poder são características da inconfidência maneira que corre pelas veias do velho Adão. É complicado o caminho do esvaziamento. O apetite da inveja é voraz.
Todos os que nascem neste mundo, nascem caídos, mas inchados. Somos todos cá de baixo e com baixa estatura, contudo vivemos como se estivéssemos por cima, como se fôssemos donos do universo, obesos de nós mesmos e cheios de direitos. O ciúme reina nos bastidores.
O estilo rasteiro instala-se suntuoso no imaginário idealizado de quem se acha o centro do cosmo. O ser humano no pecado é como um verme microscópico tentando vestir o quimono de uma baleia.
Foi por isso que Jesus propôs outro nascimento a um religioso de primeira classe. Ele foi incisivo com esse tipo Vip: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. João 3:3.
Essa conversa não foi com um bandido, nem esse assunto ficou ligado apenas aos marginais. O novo nascimento fala de uma descendência que procede do alto e não está relacionado tão somente às questões da moralidade ou de uma conduta exemplar virtuosa.
Nicodemos era gente fina, era nobre, tinha status, era da elite, mas precisava nascer de cima. Não basta ser correto, é preciso ser confiante apenas em Cristo. Novo nascimento não é uma questão de ficha limpa ou ficha suja, pois todos nós precisamos nascer do alto.
O cordão umbilical deste nascimento proposto por Jesus é a confiança no alto e nunca a autoconfiança naquele que não merece a menor confiabilidade. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. João 3:6. Veja aqui, que são duas realidades bem diferentes. Não confunda o nascimento físico, carnal, com o espiritual.
O nascimento cá de baixo é o da carne que fede a suor e apodrece. Esta, por melhor que seja, é instável e traiçoeira. Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR! Jeremias 17:5. A autoconfiança é maldita e maldosa.
O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é espírito. Veja, mais uma vez, que são dois nascimentos distintos em origem e distantes em propósitos. Veja também, como Jesus explica o que é espiritual e o que é carnal: O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. João 6:63.
Segundo Jesus, para alguém entrar no Reino de Deus é preciso nascer do alto. Se você estiver lendo este texto ou ouvindo esta mensagem, você já nasceu da carne, mas isso não significa que tenha nascido do espírito. Você pode estar na igreja, mas, necessariamente, não quer dizer que seja uma nova criatura. Como se diz jocosamente: "gato que nasce no forno não é bolo".
Os dois nascimentos são indispensáveis para o ser humano poder participar do Reino de Deus. Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. João 3:5. Fica claro aqui que é preciso dois nascimentos para entrarmos na família de Abba. Não basta nascer da carne; é preciso nascer do Espírito.
Vamos comparar: Antes de vivermos respirando o ar da atmosfera, nós vivíamos mergulhados no líquido amniótico, no útero de nossas mães. Pode ser que esta seja a visão do nascimento da água. Antes de nascermos no espírito e do Espírito, nós éramos governados pela carne de modo instintivo. Que tal essa interpretação para os dois nascimentos - da água e do Espírito?
Aquele que só nasceu da água é carne, e, consequentemente, sua realidade é cá de baixo, vivendo a dimensão carnal e pensando nas coisas terrenas. Mas, quem nasceu de cima, nasceu do Espírito, logo, vive a vida espiritual cogitando das coisas lá do alto; tendo agora, uma mente nova, com uma nova mentalidade - a mente de Cristo.
Mas, entre o primeiro nascimento, o da carne, e o segundo, do espírito, tem uma morte compartilhada com Jesus. É preciso que a vida da alma contaminada pelo egoísmo do pecado morra juntamente com Cristo na cruz.
Paulo entendeu este ponto de vista muito bem, colando o nosso novo nascimento ou, o nascimento do alto, em união com Cristo. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Colossenses 3:1.
Para ressuscitarmos com Cristo era preciso morrermos com Cristo. Para morrermos com Cristo era necessário sermos incluídos em Cristo. Para sermos incluídos em Cristo, tínhamos que ser atraídos por Cristo.
A vida da carne encontra-se no sangue. A carne e o sangue não podem entrar no Reino de Deus, nem que a vaca tussa. Por melhor que seja a natureza humana, ela encontra-se corrompida até a medula. A natureza terrena de Adão tornou-se perversa e corrupta em sua essência. O velho homem é inaproveitável; no que diz respeito ao Reino de Deus. Tem que morrer.
Adão, quando criado, tinha uma natureza terrena sem pecado, mas depois da sua descrença, no Jardim do Éden, ele adquiriu uma realidade perversa que é transmitida aos seus descendentes. Essa natureza é denominada de velho homem - escravo e executivo da rebeldia em toda a sua prole.
A questão agora não é o quanto de bondade ou de maldade há na pessoa, mas o quanto ela é autoconfiante ou orgulhosa nos bastidores. Não se trata de conduta certa ou errada, embora isto seja importante, porém, onde cada um está plugado ou recebendo a energia vital de seu modo de viver.
Cristo era de cima, mas para libertar a turma de baixo, contaminada pelo egoísmo desenfreado, Ele teve que vir para cá. A encarnação do Cristo, lá de cima, no Jesus histórico, cá de baixo, tinha como objetivo entrar no império do pecado e da morte e, deste modo, receber o castigo que a raça adâmica merecia a fim de desfazer - movido por um amor sem limite - a caca cósmica do pecado.
Deus, na estatura de um homem, tinha um propósito bem definido: esvaziar o ser humano de sua arrogância de ser como Deus. Jesus, em tudo dependente do seu Pai e vivendo somente pela fé, é o arquétipo do ser humano liberto do pecado e totalmente confiante na suficiência do seu Pai.
Para nós, membros da raça adâmica, nascer do alto não significa perfeição absoluta, mas dependência total dAquele que é perfeito. Não se trata de moralidade irrepreensível, embora a ética dos filhos de Deus seja elevada, pois é do alto, mas de uma vida de inteira confiança na pessoa e obra de Jesus Cristo.
Por outro lado, aqueles que nasceram de cima também precisam ser revestidos do poder do alto, a fim de serem feitos testemunhas de Cristo. Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder. Lucas 24:49.
O revestimento do poder de cima é a camisa de força que anula qualquer tentativa de se usar o poder carnal como se fosse o poder de Deus.
Uma pessoa gerada do alto pelo Espírito Santo, através de sua inclusão na morte e ressurreição com Cristo; revestida pelo poder do alto, mediante sua inclusão ou batismo no Espírito Santo; pensando os pensamentos do alto, movida pela vida de Cristo que habita em seu novo ser é, realmente, uma nova criação que manifesta o novo estilo de vida - o estilo do alto.
Você já nasceu de novo, do alto? Não estou perguntando se você tem uma vida bonita do ponto de vista moral. O que quero saber é: você confia apenas em Cristo para a sua inteira vivificação espiritual; para a sua justificação diante de Deus; para a sua santificação neste mundo caído; e para a sua glorificação no final das contas? Jesus Cristo, e tão somente Ele, é a única razão de sua vida de fé? Esta é a questão em jogo.
É neste ponto que reside a Vida espiritual de cima. Total dependência do Pai, pela misericórdia. Total confiança na pessoa e obra do Filho, pela graça, e total governo do Espírito Santo em nossas vidas, pelo amor. Tudo isso se resume neste texto: Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos 11:36.

Solo Deo Glória.

domingo, 24 de junho de 2012

A RESSURREIÇÃO, O AMÉM DE DEUS

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Romanos 5:1-4.


A justificação é o nosso estado real perante Deus em virtude da obra de Cristo, em razão da Sua morte e da Sua ressurreição. Pela justificação, o homem é introduzido na presença de Deus, sem mácula, inteiramente e completamente perdoado. E isto significa que o homem experimenta a aprovação de Deus; significa também, que o homem é aceitável a Deus porque a obra realizada por Jesus satisfez inteiramente a Deus. A justificação está estabelecida e firmada pela ressurreição de Cristo. O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. Romanos 4:25. Sobre toda a virtude de Sua vida, o valor de Sua morte, e a vitória do Seu conflito, Deus coloca selo à vista do céu, da terra e do inferno quando O ressuscitou da morte. Campbel Morgan.
O Espírito Santo responde a pergunta feita por Jó há muitos séculos atrás: como pode o homem ser justo para com Deus? Jo 9:2. Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos.Romanos 3:24-25. O que compete à justificação é nos tornar justos aos olhos de Deus, tornar-nos aceitáveis a Deus, habilitar-nos a estar na presença de Deus. O nascido de novo é declarado, pela autoridade que tem a voz do Espírito Santo nas Escrituras, como alguém que está completo em Cristo – perfeito, quanto à sua consciência – aperfeiçoado perpetuamente – limpo de toda mancha – agradável no Amado – feito justiça de Deus em Cristo. A boa nova do evangelho nada mais é do que a Pessoa de Cristo. E o que o evangelho anuncia é que Deus O enviou para nos justificar. E o meio de que Deus se utiliza para a salvação é que agora Ele nos dá, em Cristo, a justiça do próprio Senhor Jesus Cristo. Ele no-la “imputa”, o que significa que Ele a põe em nossa conta. Ele credita em nossa conta a justiça de Jesus Cristo. Deus cancela os nossos débitos porque Cristo os pagou, de modo que nessa parte o livro fica cancelado e limpo; este é o lado negativo da nossa vida. Depois, Ele credita toda a perfeição e toda a justiça de Cristo a nosso favor; e assim, vestido e adornado com a Justiça de Jesus Cristo, ficamos na presença de Deus. Este é o lado positivo da nossa experiência.
Justificação imputada pela fé: Então, o que é fé? A fé não é algo que existe em todos os homens; não é uma posse subjetiva de toda a humanidade. A fé é a contradição de tudo o que é meritório no homem. A fé é a negação de toda tendência que leva o homem a pensar que o seu mérito é suficiente. A fé é simplesmente o instrumento pelo qual recebemos a justiça. A nossa fé não nos justifica. O que nos justifica é a justiça de Cristo, e essa fé vem pelo ouvir da palavra de Cristo. E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo. Romanos 10:17. A partir do momento em que a alma recebe a revelação de sua total miséria, sua completa e irremediável ruína, não poderá descansar até que o Espírito Santo revele ao coração um Cristo pleno e todo suficiente. A única e a perfeita solução de Deus para o homem caído é a revelação da suficiência de Seu Filho Jesus Cristo. E, como fruto da justificação, temos a paz. O verdadeiro segredo da paz está em descer até o fundo de um eu irremediavelmente culpado, arruinado e sem esperança, e encontrar Cristo todo suficiente que nunca pode ser perturbado. Quando um pecador é salvo, ele simplesmente descansa no fato estabelecido desde a fundação do mundo. O Calvário foi a expressão visível de um fato já estabelecido pelo determinado conselho e presciência de Deus. A ressurreição é o amém do Pai à exclamação do Seu Filho: Está consumado. Ruth Paxson
A paz como fruto da presença de Cristo: Ele é a nossa paz, paz permanente e duradoura.O Espírito Santo revelou ao profeta Isaías, setecentos anos antes da vinda de Jesus, a obra da cruz. Até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto; então, o deserto se tornará em pomar, e o pomar será tido por bosque; o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no pomar. O efeito da justiça será paz, e o fruto da justiça, repouso e segurança, para sempre. O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em lugares quietos e tranqüilos, ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a cidade inteiramente abatida. Isaías 32:15-19. Pode haver tristezas, pressões, conflitos e o fardo de se ter que passar por múltiplas tentações, por subidas e descidas e por toda sorte de dificuldades e tribulações. E, em meio a tudo isso, a alma é verdadeiramente levada pelo Espírito de Deus a enxergar o fim do seu próprio eu, e a descansar em Cristo pleno. A alma aflita encontra uma paz que nunca poderá ser interrompida. Pela justificação, obtivemos livre acesso e esta graça. O que significa isto? A fé crê em Deus que fez a obra pela qual nós somos justificados; mas este Deus é um Deus que nos amou e que, exercendo o Seu poder em amor e em justiça, ressuscitou Aquele que levou sobre si os nossos pecados, introduzindo-O na Sua presença como Aquele que aboliu inteiramente esses pecados e que, fazendo-o, glorificou perfeitamente ao próprio Deus. Pela mesma razão, nós estamos, de fato, por Jesus, na plena graça de Deus, perante Quem nos encontramos. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Efésios 2:4-7
É nisto que a fé viva deve tranqüilizar a consciência. Se Deus satisfez a Si próprio com a solução para os nossos pecados, devemos ficar igualmente satisfeitos. Sabemos que nossos pecados são inúmeros como os cabelos da cabeça, que são negros como a meia noite – negros como o próprio inferno. O menor dos pecados, se podemos assim chamar, merece as chamas do inferno. Uma simples partícula de pecado não pode jamais entrar em Sua presença, e por conseguinte, não havia outro destino para nós a não ser a eterna separação de Deus. Mas Deus, oh quão profundo é o mistério da cruz! O glorioso mistério do amor redentor. O próprio Deus levou todos os nossos pecados, do modo como Ele os viu e os avaliou. Vemos colocando-os sobre a cabeça do nosso bendito Salvador, do nosso bendito Substituto. Sua ira foi contra os nossos pecados, pecados que nos levariam por toda a terrível eternidade; sua ira foi derramada sobre o Homem que ficou em nosso lugar, que nos representou diante de Deus. O Deus, perante Quem nos encontramos, é o Deus de amor, tendo-nos amado, nos salvou. E qual é o resultado desse amor? Sermos introduzidos por Jesus ali, aonde Ele mesmo foi. Entrar lá, onde Ele está, é entrar na glória; e nós já nos gloriamos na esperança da glória de Deus. O próprio Deus é a origem de tudo, Ele é Aquele que tudo realizou. A Boa Nova, na qual nos é anunciada a salvação que Ele efetuou, é o Evangelho de Deus. E o Evangelho de Deus é uma Pessoa, é o Seu próprio Filho. A justiça que é revelada é a justiça de Deus. A glória em que somos introduzidos em esperança é a glória de Deus. Deste modo, a esperança fundada sobre a obra de Cristo torna-se mais clara e mais liberta da mistura de tudo aquilo que é humano. A experiência produz a esperança, porque, através de tudo, o amor de Deus que nos deu esta esperança é manifesto em nossos corações. Sem a revelação deste amor, poderíamos ser desencorajados pelas tribulações e supormos que Deus é contra nós; mas este amor é demonstrado não só pela obra e pela ressurreição de Cristo, mas também pela presença do Espírito Santo, que o derramou em nossos corações.
A eficácia da nossa justificação é a paz, a graça e a glória. A presença de Cristo em nós gera paz. Ele mesmo é pleno de graça e, na atmosfera desta graça, podemos contemplar a glória do Senhor. E, assim, seremos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. II Coríntios 3:18.
A entrada, pela fé, na caminhada cristã não começa com um grande FAÇA, mas com um grande ESTÁ CONSUMADO. O nosso andar começa com o descanso. O apóstolo Paulo inicia sua carta aos Efésios com a revelação de que Deus já nos abençoou. Portanto, somos convidados, desde o início, a descansar e a celebrar com o que Deus já fez. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo. Efésios 1:3. A base de nossa justificação foi a ressurreição do nosso Senhor. Cristo ressuscitado pessoalmente de entre os mortos é colocado à direita de Deus, bem acima de todo o poder e autoridade, e acima de todo o nome que se nomeie entre as hierarquias deste universo. Maravilhosa porção dos santos, em virtude da redenção e do poder divino que operou na ressurreição de Cristo, após ter sido morto, morto por causa das nossas transgressões; nos ressuscitou, justificou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus. Tendo sidos justificados por Deus, estamos salvos eternamente. Sendo justificado por Deus, estamos justificados para sempre. Nada e ninguém jamais poderão mudar isso. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?
Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós. Romanos 8:31-34. Nossa vida cristã é um antegozo do banquete celestial que ainda está por vir. Mas, este banquete celestial pode ser experimentado dia após dia antes da consumação de todas as coisas. Cristo em nós é este banquete. O fundamento da vida cristã não é apenas Cristo, mas também o conhecimento de Cristo. Conhecê-Lo é o alvo de todo o regenerado.

Solo Deo Glória.

A SUTILEZA CRUEL

Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas. Filipenses 3:18-19.

A maior esperteza do inferno está na camuflagem. Não há estratégia mais eficiente para os caçadores do que o disfarce. O mimetismo faz parte da maquiavelice diabólica de caçar as almas. Os piores adversários não são aqueles que nos enfrentam frontalmente, mas aqueles que, dissimulados em santos, fingem gozar de uma experiência espiritual autêntica. O artifício da fé mascarada é muito mais sério do que a licença permissiva de uma vida aberrante. É preferível um pecador dissoluto do que um santo pintado. William Secker disse que, uma prostituta maquilada é menos perigosa do que um hipócrita disfarçado. No reino de Deus não há lugar para apócrifos.
A hipocrisia é muito mais prejudicial do que a devassidão, e o disfarce encapuzado mais ardiloso do que a nudez destampada. Os inimigos da cruz mais argutos são aqueles que melhor simulam espiritualidade elevada. É muito difícil perceber a esperteza de uma vida inautêntica, pois as profundezas do bersabum investem toda a sabença na sofisticação da maquiagem. Os produtos mais vendidos do inferno são os cosméticos da impostura que visam encobrir as feridas purulentas com a santimônia. Confundir rebeldia com beatice é matéria de especialização das galerias subterrâneas da universidade cavernosa das profundezas infernais. Mas há um provérbio alemão que ensina: Quando a raposa prega, observe os gansos. Por isso é muito importante verificar as características bíblicas dos inimigos da cruz de Cristo, para não sermos apanhados pelas sutilezas cruéis do formalismo enganoso. Muitos dizem: Eles pregam a Bíblia! Eles falam de Jesus! Eles anunciam a cruz! Lá eles pregam o novo nascimento! Para mim não importa, se prega a Bíblia, está bom. É aqui que mora o perigo.
A primeira observação do apóstolo Paulo com respeito aos inimigos da cruz de Cristo é que eles andam entre nós. Os adversários do Evangelho da graça de Cristo estão infiltrados no seio da Igreja. Eles não se encontram propriamente no mundo, mas no meio da Igreja, como líderes ou membros. Os vírus precisam se instalar no organismo para provocar a infecção. A astúcia do combate eficaz começa na infiltração mascarada e na implantação da arma mais eficiente para destruir uma comunidade, que é a subversão. Disfarçado em irmão, a hostilidade contra a mensagem da cruz vai sorrateiramente minando os fundamentos do cristianismo. O método da corrupção começa com a ênfase fundamental da fé sendo substituída por um acessório qualquer. Ninguém é propriamente contra a mensagem da cruz, simplesmente ameniza-se o seu enfoque. O transtorno começa pelo esvaziamento da pregação, através da mensagem sofisticada com a filosofia das palavras. Porque não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o Evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo. 1 Coríntios 1:17. Com linguagem persuasiva de sabedoria humana, vai-se tecendo um esquema de empobrecimento da mensagem e agregando-se a ela outros assuntos que assumam a atenção dos ingênuos. Uma das marcas dos falsos profetas é pregar com sutileza apenas o que o povo quer ouvir. Prefiro ser plenamente compreendido por dez a ser admirado por dez mil, martelava Jonathan Edwards.
Uma segunda questão que podemos destacar, da abordagem do apóstolo, é que estes inimigos são muitos. Não se deve subestimar a contabilidade. Para Paulo, são muitos os opositores da cruz de Cristo. Não se trata de um grupinho inexpressivo de gentinha desqualificada. Havia um grande grupo de gente capaz, especialista em induzir, solapando a mensagem do Evangelho, esvaziando o enfoque da cruz e procurando implantar um sistema para valorizar a auto-estima. Por este motivo, suas constantes advertências contra a ameaça penetrante e o risco apurado de diluição do discurso do Evangelho, ao ponto de suas lágrimas serem convocadas como testemunho de sua apreensão. Mas por outro lado, este número expressivo de rivais vem corroborar com a importância fundamental da mensagem. Se a proclamação da cruz fosse um assunto de somenos importância, os antagonistas seriam poucos e sem a menor consideração. O fato de ter muita gente contrária à pregação dos efeitos da cruz em nossas vidas é sintoma do mérito e valor essencial desta mensagem.
Por estes motivos, é necessário distinguir os antagonistas da cruz com as características apontadas pelo apóstolo. É preciso ver, com a clareza das Escrituras, que muitos que podem até estar pregando a cruz, fazem parte do levantamento contra a cruz. Vamos analisar Filipenses 3:19 na forma invertida de sua construção. Visto que só se preocupam com as coisas terrenas, a glória deles está na infâmia, o deus deles é o ventre e o destino deles é a perdição. A ênfase dos adversários da cruz está nas coisas terrenas. Todas as pessoas que participam na igreja e que valorizam mais as coisas terrenas do que as celestiais estão englobadas na rebelião oposta à cruz. Muitos dos que pregam sobre a cruz vivem preocupados com as coisas deste mundo e prisioneiros de uma mentalidade mundana. Quando estimamos mais os bens e prazeres do que a santidade, o êxito e a prosperidade mais que a glória de Deus, estamos envolvidos numa sedição contrária à mensagem da cruz. Os maiores adversários do cristianismo não são os que o combatem de frente, mas são os falsos cristãos que fingem a mensagem, que a vida desmente. O estado celestial é organizado de forma a expressar visivelmente o que Deus pensa da cruz de Cristo, ensina J. A. Motyer. Somente aqueles que foram crucificados e ressuscitados juntamente com Cristo podem ser desarraigados do domínio das coisas rasteiras, para investir o pensamento nas coisas elevadas. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Colossenses 3:1-3. A operação da cruz provoca uma revolução no pensamento e na maneira de encarar os valores da existência.
Entretanto, se o urubu aprecia carniça é uma questão de instinto e apetite, do mesmo modo, os adversários da cruz preferem salientar a sua glória naquilo que é infamante. Sabemos que uma pessoa nunca passou pelos efeitos da cruz quando ela se delicia com tudo aquilo que é desonroso. Quando a escolha preferencial da vida recai sobre os temas maculados pelo sujo da indignidade, constatamos que a glória desta pessoa é fruto de um coração torpe. O cardápio natural dos porcos é lavagem de chiqueiro. Isto leva consequentemente ao centro de sua adoração: as vísceras. Um indivíduo governado pelo suco gástrico tem uma ética muito ácida. O vômito do mau humor freqüentemente revela o azedume de um homem sem cruz. E o seu deus oco do estômago precisa sempre de miolo mole para abarrotar. É por isso que a propina, a bajulação e o servilismo fazem parte do esquema da religião sem cruz. A teologia dos inimigos da cruz é tão vazia e frívola como o seu deus sem um prato de comida para satisfazer seu instinto momentâneo. Os viscerotônicos inescrupulosos não hesitam em fazer qualquer coisa que lhes proporcione algum resultado favorável. Desde que haja lucro ou vantagem, há uma disposição para negociar sob qualquer custo. Isto leva os que só se preocupam com as coisas terrenas ao terceiro degrau de sua falência total: o destino deles é a perdição. Não era de se esperar outra coisa. Se Deus não existe, tudo é permitido, enfatizava Dostoievsky. Uma pessoa regulada pelas aspirações da infâmia, administrada pelo deus minúsculo dos apetites carnais não tem outra alternativa senão a confusão insegura de uma vida perdida. Só um homem perdido pode ter uma vida assim, tão inconseqüente.
Se você quer fugir de Deus, o diabo lhe emprestará tanto as esporas como o cavalo
, afirmava Thomas Adams. E o sábio pregador metodista E. M. Bounds insistia: Seria uma imitação burlesca da esperteza do diabo e uma calúnia contra seu caráter e reputação, se ele não empregasse suas maiores influências para adulterar o pregador e a pregação. Cuidado com toda pregação que minimiza o enfoque da cruz de Cristo e que desconsidera a nossa co-crucificação juntamente com Cristo. Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas 6:14.

Solo Deo Glória.

CRER APESAR DE.....

Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas. Hebreus 11:17.
Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas mãos o fogo e o cutelo. Assim, caminhavam ambos juntos.
E, mais adiante, lemos: Chegaram ao lugar que Deus lhe havia designado; ali edificou Abraão um altar, sobre ele dispôs a lenha, amarrou Isaque, seu filho, e o deitou no altar, em cima da lenha; e , estendendo a mão, tomou o cutelo para imolar o filho. Gênesis 22: 6, 9 e 10.
Uma coisa é confiar em Deus, quando temos perante os nossos olhos o meio pelo qual a benção deve vir; outra muito diferente é quando este meio não existe. A fé consiste em acreditarmos no que não vemos; e , como recompensa, vermos aquilo em que cremos. Santo Agostinho. ...eu e o rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós. A fé nunca fala do que fará, mas faz o que pode, no poder do Senhor. Abraão mostrou que podia confiar em Deus. Ele considerou que Deus era poderoso, poderoso para até dos mortos o ressuscitar. Não era uma confiança apoiada em parte por Deus e em parte pela criatura. NÃO. Baseava-se no pedestal sólido, a saber: Deus. A fé nada realiza sozinha, nem por si mesma; mas todas as coisas são operadas sob Deus, por Deus e através de Deus. Stoughton.
Numa palavra, era com Deus que Abraão tinha que tratar, e isso era o bastante; mas não lhe foi consentido descarregar o golpe. Havia chegado ao extremo, tinha chegado ao limite, para além do qual Deus não podia permitir que ele fosse. Mas do céu lhe bradou o Anjo do Senhor: Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui! Então, lhe disse: Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho. Gênesis 22: 11 e 12. O Senhor Deus poupou o coração de Abraão da dor que Ele não poupou ao seu próprio coração, a dor de ferir ao Seu Filho. Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Romanos 8:32. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo , fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará o seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos. Isaías 53:10. Não se ouviu nenhuma voz do céu quando, no Calvário, o Pai ofereceu o seu Filho unigênito. NÃO! Foi um sacrifício inteiramente consumado.
Se Abraão não tivesse estendido a sua mão para imolar o seu filho, ele nunca teria conhecido as ricas e excelentes profundidades desse título que ele aqui dá a Deus, a saber: O Senhor proverá. Sem provação podemos ser apenas teóricos, e Deus não nos quer assim; Ele quer que entremos nas profundidades vivas que há nEle próprio: as realidades divinas de comunhão pessoal com Ele, na pessoa do Senhor Jesus Cristo. O grande princípio transmitido por este acontecimento é: Abraão mostrou que estava preparado para perder tudo, menos Deus; e além disso, foi este mesmo princípio que o constituiu e declarou um homem justificado. Deus levou Abraão ao fim de si mesmo, para ser o tudo nele. Está aqui o princípio do milagre da regeneração: é necessário um esvaziamento total do homem para que Cristo seja o tudo nele.
Fica evidenciado na parábola do fariseu e do publicano, narrada por Jesus, que o fariseu estava cheio de si mesmo, por isso saiu vazio de Deus. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Lucas 18:11 e 12. O moralista mais culto, o mais devoto religioso, o maior filantropo, se não nascer de novo está tão longe do Reino de Deus como o filho pródigo era tão pecador e estava tão longe de seu pai, quando cruzava a porta da casa, como quando apascentava porcos num país distante. O publicano, vazio de si mesmo, saiu cheio da graça. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado. Lucas 18: 13 e 14. A fé crê no que Deus diz, se apóia na sua Palavra, compreende-O tal qual Ele se revelou na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Isto é vida , justiça e paz. Conhecer a Deus como Ele é, é a súmula de toda a bênção presente e futura. Quando a alma encontra Deus, encontra tudo que possivelmente necessita nesta vida ou na vida por vir. Deus não só entregou seu Filho para ser sacrificado, mas também nos colocou nEle: fomos unidos no seu próprio corpo, o nosso pecado foi ligado a Ele no exato momento da sua crucificação. O pecado foi eficientemente tirado, aniquilando a dívida que era nossa e que o Senhor resgatou. Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz. Colossenses 2:14.
Cristo ressuscitou triunfantemente e juntamente com Ele nos ressuscitou para uma nova vida. Porque, se fomos unidos com Ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição. Romanos 6:5. O incrédulo é governado por aquilo que vê, é governado pelos seus sentidos. Contudo, os que confiam no Senhor são governados pela Palavra pura de Deus, inestimável tesouro neste mundo sombrio, quaisquer que sejam as aparências exteriores! A fé compreende o que é invisível; não está escravizada à fraqueza dos sentidos, ultrapassa os limites da razão humana, os hábitos da natureza e a extensão da experiência. São Bernardo. Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. 2 Coríntios 4:18.

Solo Deo Glória.

A FÉ É ANTÍTESE DO MEDO

No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. 1 João 4:18.
O primeiro sentimento que o cabeça da raça humana experimentou depois do pecado foi o medo. Logo depois que Adão transgrediu o mandamento divino, ele foi invadido por um clima de pavor. Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. Gênesis 3:10.
Ao ouvir a palavra de Deus Adão teve medo. É interessante observar este ponto com atenção. A Bíblia diz: Assim, a fé vem pelo ouvir e o ouvir da palavra de Deus. Romanos 10:17. Mas, quando Adão ouviu a palavra de Deus no jardim, porque estava nu, teve medo e se escondeu. Ao ouvir a palavra de Deus, em vez de fé, medo. O pânico veio em conseqüência do pecado e da sua nudez. Adão e Eva foram criados totalmente despidos. No Jardim do Éden não havia necessidade de roupa, uma vez que a temperatura era agradável e as condições favoráveis para uma vida sem cobertura. Eles eram imaculados, mas não ficavam acanhados nem ruborizados de viverem desnudos. Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam. Gênesis 2:25.
Todavia, logo depois da transgressão apareceu um sentimento de terror quando Adão se percebeu pelado. Esse estado de desnudamento evidencia a descompostura que o pecado causou na personalidade, produzindo todo tipo de esconderijo. O medo é o promotor das máscaras e o aliciador dos agentes que solicitam a aprovação externa. A partir do receio de não ser aceito incondicionalmente, a história humana toma um outro rumo. Os jardineiros viraram estilistas num instante. De uma hora para outra os horticultores que cultivam o Paraíso foram transformados em modistas costurando folhas. Adão e Eva agora estavam preocupados com o guarda-roupa, pois o medo da rejeição exigia que eles bordassem complementos para a grife da tribo. Adão, ao ouvir a voz de Deus, foi dominado pela paúra em seu coração em razão do pecado e não deu lugar à fé. O medo teceu uma tanga com as fibras da figueira porque a sua fibra moral foi atacada pelo sentimento de deserção. A culpa afastou o casal da comunhão com o Criador e os dois se enfiaram nas moitas tentando achar asilo na embaixada do faz de conta. Desde aquele momento a raça humana passou a morar no casebre do temor. Somos uma casta escrava do medo e temos muita dificuldade de entrar na casa do amor. A timidez impede que vivamos com autenticidade. A culpa existencial herdada dos nossos primeiros pais nos deixa sempre desconfiados e com receio de não sermos recebidos como filhos na família do Pai. De modo geral nós temos sintomas de senzala.
A história da raça adâmica é uma narrativa de disfarces, fugas e esconderijos. O gênero humano vive escapando da aceitação incondicional do Pai, usando, com freqüência, expedientes astutos que assegurem o seu assentimento ao custo dos seus próprios esforços. Com medo de ser rejeitado o sujeito procura ser aceito através daquilo que faz. Assim, a religião se torna uma fábrica de executivos em busca da excelência. O temor é a matriz da conduta e a sobreexcelência a raiz que suporta esta pose esnobe. Porém, o apóstolo João procura nos mostrar que na casa do amor não existe medo. A aceitação do Pai não computa valores, nem contabiliza despesas. O pecador é recebido como filho, única e exclusivamente pelos méritos do Cordeiro. O amor do Pai não está atrelado a excelência do objeto do seu amor. Ele não é colecionador de obras raras e não me ama porque eu sou digno do seu amor. A sua graça aposta apenas no desdouro da minha queda, já que não posso me classificar com a minha justiça cheirando a carniça. Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um vento, nos arrebatam. Isaías 64:6.
A verdade nua e crua é que o pecado me tornou irrecuperável por mim mesmo. Não há solução para mim senão pelo amor de Pai. Mas ele nos ama incondicionalmente. Isto significa que Deus não olha para as nossas qualidades pessoais, tampouco para os nossos defeitos graves. Sendo assim, a nossa adoção como filhos na casa do Pai não depende dos nossos méritos, mas da expressão do seu amor revelado em Cristo.
O Cordeiro que tira o pecado foi imolado antes da fundação do mundo. Adão e Eva perderam tempo cosendo aventais que murchariam antes do fim da tarde. Os animais que foram sacrificados eram as únicas expressões do amor de Deus para cobrir a nudez do casal. Fez o SENHOR Deus vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. Gênesis 3:21. Jeová além de ser o alfaiate é também o camareiro. Graça significa Deus dando e fazendo tudo a quem só tem demérito.
O medo da rejeição exige aceitação a todo o custo, mas no amor não existe medo. O amor lança fora toda apreensão, uma vez que o indigente senta-se à mesa como um membro da estirpe real. O Pai nos aceitou em Cristo em seu amor irrestrito e somos herdeiros do reino celestial. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 8:38-39.
Brennan Manning
diz que muitos cristãos permanecem temerosos, pois se apegam ainda à idéia de um Deus muito diferente da que foi pregada por Jesus. O temor é a causa do aborto da fé e esse medo do fracasso é um paralisante do progresso espiritual. Contudo, aquele que sabe verdadeiramente que o Pai o aceitou em Cristo com amor total, não teme se arriscar no seu testemunho de fé, ainda que insipiente. A queda é parte do desenvolvimento no andar da criança e, na caminhada cristã, só tem insucesso quem se atreve a andar. Quem confia no amor do Pai não teme ser desaprovado porque depende apenas da sua aprovação na suficiência de Cristo. Jesus disse aos discípulos que teriam problemas nesse mundo, todavia ele assegurou que a sua vitória pessoal era a garantia do nosso sucesso, isto é, o seu triunfo é o nosso troféu. Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. João 16:33.
Como alguém disse com bom humor, Cristo prometeu uma aterrissagem segura, mas não um vôo sem turbulência. Embora tenhamos muitas tribulações nessa marcha aqui e agora, nada pode desbotar a tonalidade do seu amor sem fronteira. Por isso, a fé se firma apenas na imutabilidade do Pai amoroso, não ficando intimidada com as pressões deste mundo e com as cobranças legalistas. Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Romanos 8:31.
A pregação do medo promove uma obediência encabrestada. Há muita gente dócil e flexível que preenche os seus requisitos morais debaixo de apavoramento. São pessoas submissas enquanto reprimidas. Mas os filhos amados do Pai obedecem simplesmente por amor. O medo produz tormenta e os atormentados não são pessoas saudáveis, por isso mesmo, só o amor consegue originar personalidades sadias. A casa do amor é o único lugar seguro onde as pessoas não temem os habitantes do casebre do temor. Robert Hart dizia que o amor de Deus é sempre sobrenatural, sempre um milagre, sempre a última coisa que podemos merecer. Esse milagre sobrenatural e imerecido é a causa de nossa aceitação com confiança. Eu creio que o Pai me aceitou em Cristo por causa do seu amor profundo e sem arrependimento. Nada poderá me afastar do seu amor irrestrito. A fé que o Pai me deu não teme ser descartada como um traste qualquer. Na casa do Pai não há amedrontamento, nem pessoas alimentando-se com a síndrome do pânico. Jesus foi muito evidente quando disse aos seus discípulos: Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino. Lucas 12:32. O rebanho pode ser pequeno, mas o reino do Pai foi oferecido com prazer. Se nós vivermos com medo não poderemos jamais viver pela fé. O medo é o avesso da fé. Quem teme não consegue confiar, por esse motivo Jesus prontamente falou com firmeza aos discípulos apavorados com medo de fantasma: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! Mateus 14:27.
O mundo está cheio de assombrações e as tempestades são de arrepiar, mas quando o Pai está no comando e o seu amor é o arrimo de nossa sorte, então não tem por que temer. Alguém disse que o medo é o início da ansiedade, e esta, o fim da fé, mas a verdadeira fé varre a ansiedade e apaga o medo. O medo veio com Adão e paralisa as pessoas, mas em Jesus vem a fé que suscita o progresso espiritual. Ele é o único agente e gerente da verdadeira fé. A vida cristã deve ser conduzida, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hebreus 12:2.
A teologia do medo é responsável por uma conduta subserviente e bajuladora. Os escravos do temor só obedecem porque não há alternativa. Entretanto, os filhos de Aba são pessoas livres que correspondem livremente motivados pelo amor que estimula a fé. Na casa do amor, isto é, a igreja do Deus vivo, ninguém é coagido com espantalhos apavorantes nem submetido à tortura da punição. O Pai amoroso não é o deus do medo, também não é fobia, a reverência a ele.

O filho de Aba crê no evangelho atraído pela boa notícia do amor revelado na cruz. O ico constrangimento que vemos aqui é a compulsão do amor incondicional demonstrado em Cristo, e isto é assunto de fé. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 2 Coríntios 5:14.

Solo Deo Glória

O CRIME DA LETRA

E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. 2 Coríntios 3:4-6.
O termo configura a palavra e essa exibe um significado. A letra grafa um termo que designa uma palavra que tem um sentido. A escrita é o desenho de um vocábulo que traz uma acepção. Água, por exemplo, é um termo que define uma idéia, que expressa um fato. O termo é o diagrama da palavra, enquanto a palavra é como a casca da banana que conserva o fruto. Há um valor verdadeiro em cada palavra que o termo apresenta. Quando eu escrevo o termo água, ele me remete para um conceito que me traz a avaliação da coisa, na base da experiência. Se eu sei o que é água, então o termo me conduz à palavra que coliga com a realidade. A idéia de água é identificada na palavra descrita. Se eu não tenho a definição do termo, então a palavra fica sem sentido para mim. Se eu escrever hudatos, o termo fica incompreensível para muita gente. É preciso uma explicação que traga sentido ao termo. Mas este termo é apenas a transliteração da palavra água, na língua grega. Quem não sabe o termo grego, não sabe o significado da palavra e fica sem entendimento. Por outro lado, o significado das palavras conhecidas varia de cultura para cultura e de pessoa para pessoa. Segundo Paulo, há palavra na letra, mas ela vai além da escrita, pois a letra é em si mesma morta, e do ponto de vista do espírito, ela é mortal. Não há vida espiritual no termo. A expressão da vida encontra-se na vivificação da palavra que sai da boca de Deus. O termo sem a fecundação do Pai e a revelação do Espírito é uma urna funerária que conserva uma expressão morta. A letra sem o Espírito é homicida.
A escrita é a codificação da palavra, porém esta palavra precisa ser avivada pela ação do Espírito Santo, a fim de produzir o resultado espiritual em cada pessoa. O termo gráfico é como um carvão que só pode acender se for inflamado, e só pode ficar incendiado se for soprado pelo Espírito. Sem a vida divina o vocábulo é um mero defunto e sua operação é sinistra. A letra da Escritura sem a vivificação da Trindade é uma composição literária de grande valor histórico, mas sem qualquer importância para o avivamento. A letra sem o sopro do Espírito é delito. Um dos maiores crimes contra a igreja é a pregação da letra fria. Há muita gente morta em conseqüência de uma mensagem rigorosamente letrada. É uma proclamação bíblica e ortodoxa, mas não tem vida espiritual. Estou convencido de que em muitas ocasiões tenho sido culpado desse tipo de pregação, e que há uma multidão de cadáveres religiosos em razão da letra morta. Jesus foi muito claro ao dizer: O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. João 6:63.
O termo limita a palavra. Quando eu denomino uma realidade com um termo, não significa que eu a compreendo. Além disso, definir um termo é colocar fronteira no seu perímetro. A palavra de Deus ultrapassa o alcance da nossa mente, por isso, delimitá-la é prejuízo de proporções inimagináveis. O apóstolo Paulo afirma com a maior exatidão: Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 1 Coríntios 2:14. A mente, ainda que seja o terreno da compreensão humana, encontra-se limitada pelos conceitos tridimensionais. Como a realidade espiritual transcende a fronteira da matéria, fica impossível a sua conceituação. A questão ao anunciar a palavra de Deus requer mais do que explicação lógica. A grande necessidade na pregação é a revelação da palavra e a sua vivificação. Uma coisa é a exegese do texto, outra bem diferente é a unção decorrente da intimidade como o Espírito de Deus, que revela e vivifica a palavra. Saber dissecar os termos não gera vida nas pessoas. Só o Espírito produz vida espiritual por meio da sua palavra. A grande crise na pregação moderna é a falta de conhecimento pessoal da palavra de Deus aliada à ausência de revelação e vivificação do Espírito. Hoje se fala muito de unção como sinônimo de sentimento inflamado. Mas, ainda que a emoção tenha lugar numa experiência verdadeiramente espiritual, essa emoção acalorada nunca foi semelhante à unção espiritual. É fogo estranho no altar do Senhor. Um pregador ungido é alguém controlado pelo poder do alto e cheio de domínio próprio, cujo objetivo é transmitir, com fidelidade, a palavra de Deus revelada e vivificada pelo Espírito Santo ao coração dos seus ouvintes. Por isso mesmo, nunca se deve confundir a unção espiritual com essa animação do sujeito na pregação. Mas a alma excitada é um expediente carnal muito comum na exposição da palavra de Deus. Para o apóstolo, o crime da letra é um homicídio da vida espiritual. Se alguém ficar preso à escrita é um morto espiritual e matador. Ainda que a letra seja vital para o conhecimento da palavra de Deus, permanecer aprisionado a ela, é matança. É importante que se conheça a Escritura, pois ela, à semelhança dos trilhos para o trem, é o suporte para a revelação. Todavia, não se pode continuar na vida cristã sendo contido pela letra.
Assim como a agulha magnética aponta para o Pólo Norte, a Escritura aponta para a pessoa de Cristo. Ela é uma biblioteca que testemunha da vida magnífica de Cristo. Jesus disse para os seus contemporâneos: Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida. João 5:39-40.
De acordo com Jesus, a Bíblia é o álbum de sua pessoa, o cardápio do seu banquete, a anamnese de sua história, o mapa da sua andança, a revelação de sua identidade e a receita da única vida que realmente faz sentido. A Escritura distingue essa fonte suficiente de vida e a oferece como exclusiva para dar significado ao ser humano. Ninguém se relaciona pessoalmente com retrato, nem come cardápio. Mesmo que a carta geográfica seja indispensável para a orientação dos peregrinos, nenhuma pessoa anda sobre os traçados das cartas. Além disso, todos nós precisamos de alguém vivo para nos relacionar. Apesar de o cardápio ter valor na escolha da comida, ele não é o alimento. A Bíblia é o cardápio do céu, mas Cristo é o único mantimento. Eu preciso do cardápio para conhecer e escolher os pratos, porém eu não me alimento dele. Jesus é o maná do menu de Deus e só ele pode nos satisfazer realmente. Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede. João 6:35. Ele não é lição preciosa para a nossa vida. Ele é o pão cotidiano.
A letra é útil para nos conduzir ao manjar, contudo a letra não nos nutre. A alimentação específica da vida espiritual é Cristo. Não existe outra comida que possa atender às necessidades do espírito fora da pessoa de Cristo Jesus. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. João 6:48-50.
O crime da letra é a desnutrição e a morte. Sem comida a vida perece. Alguém desnutrido é um aspirante a defunto. Cristo é o verbo encarnado e o pasto das ovelhas. Não existe outra pastagem para o crente além da pessoa de Cristo. Se não encontrarmos a pessoa de Cristo em nossa leitura bíblica, não encontramos a vida e o alimento espiritual. Só Cristo pode contentar a nossa alma e alegrar o nosso espírito com a sua vida. Ele é o único alimento espiritual que pode dar significado ao ser humano. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. João 6:57.
A fome da alma é um apetite por Deus que apenas Cristo pode satisfazer. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi. Isaías 55:2-3.
A nação israelita ficou apenas com o cardápio, deixando de comer o verdadeiro pão que veio do céu. Mas a igreja atual passa pelo mesmo lance crítico. Hoje em dia nós nos esmeramos na qualidade estética do cardápio e na sua melhor tradução, e apesar disso, pouca gente tem comido do pão de Deus. As versões bíblicas são fantásticas e as encadernações primorosas e ainda assim o povo está morto espiritualmente e com fome, pois a letra mata. Erudição não mata a fome do espírito. Madame Guyon falava de uma leitura textual que deve enfocar a pessoa de Cristo. Quando estivermos lendo a Escritura precisamos parar a cada instante para entrarmos em contato com o Cristo que habita em nosso espírito e que se revela no encadeamento das palavras que estamos lendo. Se não houver esta afinidade entre o Cristo que vive no espírito do crente e o Espírito de Cristo que se manifesta na palavra, nós estamos sem vida. Como vimos anteriormente, podemos ter uma pregação ortodoxa e profundamente escriturística, mas sem a vida espiritual. A grande necessidade da igreja atual é de um avivamento bíblico. Precisamos de centralidade na Bíblia, mas carecemos, além disso, da vivificação e revelação do Espírito Santo. A letra sem o hálito fresco da boca Divina é um esqueleto literário, sem o poder de vivificar. O palácio real sem a realeza é simplesmente um museu. A letra da Escritura sem a vida manifesta de Cristo é bibliografia ou história. A grande necessidade da igreja é de comunhão pessoal com o seu Salvador e Senhor, por isso, não basta fazer a mera leitura da Bíblia, já que é imperativa a revelação do Espírito para torná-la viva na experiência do crente. Sem a luz do Espírito a letra se configura numa arma assassina, e nós, os pregadores, em múmias criminosas. Vem Senhor vivificar e revelar a tua palavra em nosso ser.

Solo Deo Glória.

CHAMADOS À COMUNHÃO

Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor. I Coríntios 1:9.
De acordo com o original grego, ekkesia significa "aqueles que foram chamados para fora" e foram reunidos em torno do nosso Senhor. Deus chamou homens de entre todas as nações, tribos, línguas e povos, ajuntou-os em Cristo para glorificar o Seu nome. A palavra comunhão significa "participação em comum". Então, Deus chamou homens de todas as nações para participarem da comunhão do Pai, Filho e Espírito Santo. A Igreja, portanto, é uma comunhão viva, fundamentada na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Na divindade há uma comunhão perfeita, o Pai compartilha tudo com o Filho, e o Filho compartilha tudo com o Pai, e tudo é compartilhado com o Espírito Santo. A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. II Coríntios 13:13.
O coração de Deus é amor; é Deus quem inicia o plano para nos redimir. O amor expresso é graça, e dentro da graça está o amor. A razão pela qual a graça do Senhor Jesus é mencionada em primeiro plano no versículo se deve ao fato da redenção ser realizada por Cristo. É Deus quem ama, e este amor segundo revelado por Cristo torna-se graça. O Espírito Santo nos comunica aquilo que Cristo realizou. O Espírito Santo de si mesmo nada tem para dar, Ele simplesmente nos comunica o que Cristo fez. A glória e o gozo da comunhão na divindade é algo que está além da nossa compreensão. Mas graças a Deus por causa do Seu grande amor, Ele estendeu essa comunhão através de Seu Filho para a humanidade. Este desejo de formar uma família, para este fim está revelado nestas palavras do apóstolo João: O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. I João 1:3.
Porém, temos que nos lembrar, que a comunhão entre o Pai e o Filho no Espírito era algo do qual nenhuma pessoa, depois da queda tinha o direito de participar. Por isso, não podemos reivindicar ou exigir para sermos aceitos nessa comunhão, pois somos totalmente desqualificados e completamente indignos. Entretanto, o Pai agradou-se em estender essa comunhão ao homem caído. Fomos chamados a compartilhar da comunhão do Filho de Deus, o nosso Senhor Jesus Cristo. Mas como essa comunhão pode se tornar uma realidade? Pelo amor de Deus. Deus Pai desceu até nós, na Pessoa de Seu Filho. O preço para Deus foi muito alto, custou a morte de Seu Filho. O plano exigiu que Deus Filho tomasse um corpo "preparado" para este fim, "em semelhança da carne do pecado, pelo pecado", para que, por esse meio, Ele pudesse realizar tal intento. Com um corpo humano, viveu a Sua vida de perfeita obediência e comunhão com o Seu Pai. E, pela sua morte nos reconciliou com Deus. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.
"Ainda pecadores", descrevem aqueles que são por natureza e por inclinação desobedientes. "Inimigos" significam aqueles que odeiam a Deus. Assim, foi pelo homem sem ajuda e sem esperança, que Cristo morreu. A morte de Jesus pôs o homem numa nova situação, em uma nova posição diante de Deus; numa palavra, a morte de Jesus restabeleceu o relacionamento do homem com Deus. Não só separados da comunhão, mas inimigos de Deus. Era necessário restabelecer aquilo que foi perdido no jardim do Éden. O nosso Senhor Jesus se tornou homem; e como homem se humilhou, até a morte e morte de cruz. Ele morreu na cruz a nossa morte. O que era impossível para o homem, Deus o tornou possível. O que o homem não podia realizar Deus realizou. O que o homem não podia fazer Deus fez. Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados.
O chamado de Deus a essa comunhão se tornou possível, porque Ele se deu a Si mesmo por nós; e por meio da vida de Cristo implantada no nascido de novo, este pode responder à esse chamado. A resposta à esse chamado tem seu início na cruz, conforme o nosso Senhor disse: Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela. Mateus 7:13. O nosso Senhor usou duas figuras para explicar este fato: Porta e caminho.
Pela "porta" se dá o início da jornada cristã. Por ela, se entra e se sai de um ambiente para outro. A riqueza destas duas figuras é muito grande, a porta tipifica a nossa morte, a morte do velho homem. Não é possível "caminhar" ou ter-se comunhão sem primeiro morrer para o pecado. A porta antecede o caminho. A porta representa a nossa justificação e o caminho tipifica o nosso andar com Deus. Não se vive à vida cristã, sem a vida cristã para viver.
O propósito do nosso andar com Deus em Cristo é conhecê-Lo. À medida que caminhamos com Deus, aprendemos a reavaliarmos como criaturas caídas, não fortes e auto-suficientes como supúnhamos ser, mas fracas e totalmente dependentes. À medida que caminhamos com Deus em Cristo, descobriremos que Ele é a nossa suficiência – o nosso tudo – a nossa porção. Podemos expressar como Habacuque expressou diante da ruína econômica ou outra privação qualquer: Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as minhas alturas. Habacuque 3:17-19.
Não poderia ser diferente para aquele que anda com Deus, pois conhecendo-O se satisfará por completo, não precisando nem desejando coisa alguma além disso – O Senhor é a porção da minha herança e do meu cálice... No seu diário, Frank Laubach expressou assim, o seu sentimento da presença de Deus: A descoberta mais importante de toda a minha vida é que uma pessoa pode pegar uma cabana pequena e rude e transformá-la em um palácio, simplesmente inundando-a com a presença de Deus. Em 1695, Madame Guyon, foi aprisionada em Vinccennes, na França. Seu único crime era o de amar a Deus. Todavia, por causa da sua vida em Cristo, a prisão lhe pareceu um palácio. Ela comentou: As pedras de minha prisão se assemelhavam a rubis a meus olhos e eu as estimava mais do que todos os aparatos brilhantes de um mundo de vaidades.
Por que Deus nos chamou para andarmos com Ele? Porque Deus é um Deus de propósito. E o propósito de Deus é que seus filhos sejam semelhantes ao seu Filho, o nosso Senhor Jesus Cristo. Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. II Coríntios 3:17-18.
Inicialmente fomos justificados pela fé em Cristo Jesus, isto é, passamos pela "porta", o nosso velho homem foi crucificado; depois, santificação e finalmente glorificação. De glória em glória estamos sendo transformados à imagem de Cristo. É dessa forma que crescemos. Não desejamos nos transformar em eruditos da Bíblia, não desejamos apenas que o Senhor responda nossas orações, desejamos ser transformados à imagem do nosso Senhor de glória em glória.Christian Chen. Os filhos de Deus não precisam se isolar para ter comunhão com Deus. Eles são os templos do Espírito Santo. E contemplando o Senhor, contemplando a glória do Senhor, por isso, são transformados à Sua imagem. Esse é o "caminho". Após a salvação, o espírito daquele que foi redimido nunca mais estará só; o Espírito Santo habita para sempre no espírito dos que são de Cristo.
No momento da salvação se estabelece uma união entre o Espírito Santo e o espírito do cristão. "Andai no Espírito" significa que o Espírito Santo é a esfera do andar do cristão. Os salvos em Cristo caminham segundo a orientação do Espírito Santo, caminham após o Espírito Santo, desejam estar constantemente em Sua presença. Os cristãos devem caminhar segundo a comunhão com seu Senhor e andam segundo a Sua orientação. Regozijamo-nos com o fato de não precisarmos ser eternos bebês; mas com o fato de que podemos prosseguir na expectativa de alcançar o alvo que foi posto diante de nós: Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. II Pedro 3:18. Nenhum pai ficaria satisfeito com o crescimento de seu filho se, dia a dia, ano após ano, ele permanecesse o mesmo bebê frágil dos primeiros meses de sua vida.
Deus nos chamou para Sua própria glória. Nós fomos chamados por Deus, não somente para termos os nossos pecados perdoados, ou simplesmente nos levar para o céu; Ele nos chamou para participarmos da Sua própria glória. Ele nos chamou de acordo com uma necessidade, Ele nos chama de acordo com uma necessidade. Ele nos chama de acordo com Sua glória. Nas Escrituras, a glória é algo indescritível, por outro lado, glória é sinônimo do próprio Cristo. Ele nos chamou de acordo com o que Ele mesmo é, para que possamos ser semelhantes a Ele. Portanto, o Seu chamamento é um grande chamamento, uma soberana vocação. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Filipenses 3:13-14.
Que premiação é esta? O nosso chamamento é para refletirmos a imagem de Seu Filho. Esse é o supremo "galardão". Nosso prêmio é para participarmos de Sua glória. Deus, em Sua grande misericórdia, nos trouxe à vida por meio da ressurreição de nosso Senhor Jesus, e por esta mesma vida nos conduzirá até o Seu propósito final. Amém.

Solo Deo Glória.