Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste
mundo, eu deste mundo não sou. João 8:23.
Jesus diz aqui que há dois níveis de existência: o de baixo e o
de cima. Todos nós já nascemos em um mundo de baixo, caído. Somos da terra e
vivemos ao rés do chão. Esse mundo inferior vive na possibilidade da depressão
de um ego sujo e sujeito às ambições altivas por trás da máscara da face.
O planeta despencado é o terreiro onde brotou aquele pecado
sutil que propõe tornar o ser humano como se fosse Deus. Assim, a turma cá de
baixo se exercita ao máximo na tentativa de alcançar o terraço lá de cima, na
prerrogativa de sua grandeza. Entretanto, essa prostração não nos deixa
prostrados ou abatidos, mas sim, totalmente emproados.
Somos uma raça caída, sim, embora nos apresentemos bem caiados
com a tinta-soberba da celebridade. Fingimos até mesmo ser mendigos, mas nas
entrelinhas, o que cobiçamos é ser de fato Sua Alteza. Sofremos nas entranhas,
com o nosso nanismo, sonhando sempre em viver no corpo corpulento de um gigante.
Que apetite voraz nós temos pela notoriedade!
A gente do nível caído nunca se nivela por baixo. Comporta-se
como criança birrenta, sempre aspirando ao pódio. A luta pelo trono e a trama
pelo poder são características da inconfidência maneira que corre pelas veias do
velho Adão. É complicado o caminho do esvaziamento. O apetite da inveja é
voraz.
Todos os que nascem neste mundo, nascem caídos, mas inchados.
Somos todos cá de baixo e com baixa estatura, contudo vivemos como se
estivéssemos por cima, como se fôssemos donos do universo, obesos de nós mesmos
e cheios de direitos. O ciúme reina nos bastidores.
O estilo rasteiro instala-se suntuoso no imaginário idealizado
de quem se acha o centro do cosmo. O ser humano no pecado é como um verme
microscópico tentando vestir o quimono de uma baleia.
Foi por isso que Jesus propôs outro nascimento a um religioso
de primeira classe. Ele foi incisivo com esse tipo Vip: Em verdade, em
verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
João 3:3.
Essa conversa não foi com um bandido, nem esse assunto ficou
ligado apenas aos marginais. O novo nascimento fala de uma descendência que
procede do alto e não está relacionado tão somente às questões da moralidade ou
de uma conduta exemplar virtuosa.
Nicodemos era gente fina, era nobre, tinha status, era
da elite, mas precisava nascer de cima. Não basta ser correto, é preciso ser
confiante apenas em Cristo. Novo nascimento não é uma questão de ficha limpa ou
ficha suja, pois todos nós precisamos nascer do alto.
O cordão umbilical deste nascimento proposto por Jesus é a
confiança no alto e nunca a autoconfiança naquele que não merece a menor
confiabilidade. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do
Espírito é espírito. João 3:6. Veja aqui, que são duas realidades bem
diferentes. Não confunda o nascimento físico, carnal, com o espiritual.
O nascimento cá de baixo é o da carne que fede a suor e
apodrece. Esta, por melhor que seja, é instável e traiçoeira. Assim diz o
SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e
aparta o seu coração do SENHOR! Jeremias 17:5. A autoconfiança é maldita e
maldosa.
O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do
Espírito é espírito. Veja, mais uma vez, que são dois nascimentos distintos
em origem e distantes em propósitos. Veja também, como Jesus explica o que é
espiritual e o que é carnal: O espírito é o que vivifica; a carne para nada
aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. João
6:63.
Segundo Jesus, para alguém entrar no Reino de Deus é preciso
nascer do alto. Se você estiver lendo este texto ou ouvindo esta mensagem, você
já nasceu da carne, mas isso não significa que tenha nascido do espírito. Você
pode estar na igreja, mas, necessariamente, não quer dizer que seja uma nova
criatura. Como se diz jocosamente: "gato que nasce no forno não é bolo".
Os dois nascimentos são indispensáveis para o ser humano poder
participar do Reino de Deus. Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer
da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. João 3:5. Fica claro
aqui que é preciso dois nascimentos para entrarmos na família de Abba.
Não basta nascer da carne; é preciso nascer do Espírito.
Vamos comparar: Antes de vivermos respirando o ar da atmosfera,
nós vivíamos mergulhados no líquido amniótico, no útero de nossas mães. Pode ser
que esta seja a visão do nascimento da água. Antes de nascermos no espírito e do
Espírito, nós éramos governados pela carne de modo instintivo. Que tal essa
interpretação para os dois nascimentos - da água e do Espírito?
Aquele que só nasceu da água é carne, e, consequentemente, sua
realidade é cá de baixo, vivendo a dimensão carnal e pensando nas coisas
terrenas. Mas, quem nasceu de cima, nasceu do Espírito, logo, vive a vida
espiritual cogitando das coisas lá do alto; tendo agora, uma mente nova, com uma
nova mentalidade - a mente de Cristo.
Mas, entre o primeiro nascimento, o da carne, e o segundo, do
espírito, tem uma morte compartilhada com Jesus. É preciso que a vida da alma
contaminada pelo egoísmo do pecado morra juntamente com Cristo na cruz.
Paulo entendeu este ponto de vista muito bem, colando o nosso
novo nascimento ou, o nascimento do alto, em união com Cristo. Portanto, se
fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde
Cristo vive, assentado à direita de Deus. Colossenses 3:1.
Para ressuscitarmos com Cristo era preciso morrermos com
Cristo. Para morrermos com Cristo era necessário sermos incluídos em Cristo.
Para sermos incluídos em Cristo, tínhamos que ser atraídos por Cristo.
A vida da carne encontra-se no sangue. A carne e o sangue não
podem entrar no Reino de Deus, nem que a vaca tussa. Por melhor que seja a
natureza humana, ela encontra-se corrompida até a medula. A natureza terrena de
Adão tornou-se perversa e corrupta em sua essência. O velho homem é
inaproveitável; no que diz respeito ao Reino de Deus. Tem que morrer.
Adão, quando criado, tinha uma natureza terrena sem pecado, mas
depois da sua descrença, no Jardim do Éden, ele adquiriu uma realidade perversa
que é transmitida aos seus descendentes. Essa natureza é denominada de velho
homem - escravo e executivo da rebeldia em toda a sua prole.
A questão agora não é o quanto de bondade ou de maldade há na
pessoa, mas o quanto ela é autoconfiante ou orgulhosa nos bastidores. Não se
trata de conduta certa ou errada, embora isto seja importante, porém, onde cada
um está plugado ou recebendo a energia vital de seu modo de viver.
Cristo era de cima, mas para libertar a turma de baixo,
contaminada pelo egoísmo desenfreado, Ele teve que vir para cá. A encarnação do
Cristo, lá de cima, no Jesus histórico, cá de baixo, tinha como objetivo entrar
no império do pecado e da morte e, deste modo, receber o castigo que a raça
adâmica merecia a fim de desfazer - movido por um amor sem limite - a caca
cósmica do pecado.
Deus, na estatura de um homem, tinha um propósito bem definido:
esvaziar o ser humano de sua arrogância de ser como Deus. Jesus, em tudo
dependente do seu Pai e vivendo somente pela fé, é o arquétipo do ser humano
liberto do pecado e totalmente confiante na suficiência do seu Pai.
Para nós, membros da raça adâmica, nascer do alto não significa
perfeição absoluta, mas dependência total dAquele que é perfeito. Não se trata
de moralidade irrepreensível, embora a ética dos filhos de Deus seja elevada,
pois é do alto, mas de uma vida de inteira confiança na pessoa e obra de Jesus
Cristo.
Por outro lado, aqueles que nasceram de cima também precisam
ser revestidos do poder do alto, a fim de serem feitos testemunhas de Cristo.
Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade,
até que do alto sejais revestidos de poder. Lucas 24:49.
O revestimento do poder de cima é a camisa de força que anula
qualquer tentativa de se usar o poder carnal como se fosse o poder de Deus.
Uma pessoa gerada do alto pelo Espírito Santo, através de sua
inclusão na morte e ressurreição com Cristo; revestida pelo poder do alto,
mediante sua inclusão ou batismo no Espírito Santo; pensando os pensamentos do
alto, movida pela vida de Cristo que habita em seu novo ser é, realmente, uma
nova criação que manifesta o novo estilo de vida - o estilo do alto.
Você já nasceu de novo, do alto? Não estou perguntando se você
tem uma vida bonita do ponto de vista moral. O que quero saber é: você confia
apenas em Cristo para a sua inteira vivificação espiritual; para a sua
justificação diante de Deus; para a sua santificação neste mundo caído; e para a
sua glorificação no final das contas? Jesus Cristo, e tão somente Ele, é a única
razão de sua vida de fé? Esta é a questão em jogo.
É neste ponto que reside a Vida espiritual de cima. Total
dependência do Pai, pela misericórdia. Total confiança na pessoa e obra do
Filho, pela graça, e total governo do Espírito Santo em nossas vidas, pelo amor.
Tudo isso se resume neste texto: Porque dele, e por meio dele, e para ele são
todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! Romanos
11:36.
Solo Deo Glória.
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O propósito deste blog na sua forma completa é capacitar seus leitores a entenderem a Bíblia. Apresenta instrução básica eficiente do ponto de vista bíblico. Procura remover todas as falsas pressuposições racionalistas, moralistas, antropocêntricas e idólatras que já infectaram,e, na medida desta infecção, cegaram todo homem e toda cultura deste mundo a partir da queda de Adão.
quinta-feira, 28 de junho de 2012
CÁ DE BAIXO OU LÁ DE CIMA?
domingo, 24 de junho de 2012
A RESSURREIÇÃO, O AMÉM DE DEUS
Justificados,
pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;
por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na
qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. E não
somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a
tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência,
esperança. Romanos 5:1-4.
A justificação é o nosso estado real perante Deus em virtude da obra de Cristo, em razão da Sua morte e da Sua ressurreição. Pela justificação, o homem é introduzido na presença de Deus, sem mácula, inteiramente e completamente perdoado. E isto significa que o homem experimenta a aprovação de Deus; significa também, que o homem é aceitável a Deus porque a obra realizada por Jesus satisfez inteiramente a Deus. A justificação está estabelecida e firmada pela ressurreição de Cristo. O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. Romanos 4:25. Sobre toda a virtude de Sua vida, o valor de Sua morte, e a vitória do Seu conflito, Deus coloca selo à vista do céu, da terra e do inferno quando O ressuscitou da morte. Campbel Morgan.
O Espírito Santo
responde a pergunta feita por Jó há muitos séculos atrás: como pode o homem ser justo para com
Deus? Jo 9:2. Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a
redenção que há
Justificação
imputada pela fé: Então, o que é fé? A fé não é algo que existe em todos os
homens; não é uma posse subjetiva de toda a humanidade. A fé é a contradição de
tudo o que é meritório no homem. A fé é a negação de toda tendência que leva o
homem a pensar que o seu mérito é suficiente. A fé é simplesmente o instrumento
pelo qual recebemos a justiça. A nossa fé não nos justifica. O que nos justifica
é a justiça de Cristo, e essa fé vem pelo ouvir da palavra de Cristo. E, assim, a fé vem pela pregação, e a
pregação, pela palavra de Cristo. Romanos 10:17. A partir do momento em que
a alma recebe a revelação de sua total miséria, sua completa e irremediável
ruína, não poderá descansar até que o Espírito Santo revele ao coração um Cristo
pleno e todo suficiente. A única e a
perfeita solução de Deus para o homem caído é a revelação da suficiência de Seu
Filho Jesus Cristo. E, como fruto da justificação, temos a paz. O verdadeiro
segredo da paz está em descer até o fundo de um eu irremediavelmente culpado,
arruinado e sem esperança, e encontrar Cristo todo suficiente que nunca pode ser
perturbado. Quando um pecador é salvo, ele simplesmente descansa no fato
estabelecido desde a fundação do mundo. O Calvário foi a expressão visível de um
fato já estabelecido pelo determinado conselho e presciência de Deus. A ressurreição é o amém do Pai à exclamação
do Seu Filho: Está consumado. Ruth Paxson
A paz como fruto
da presença de Cristo: Ele é a nossa paz, paz permanente e duradoura.O Espírito
Santo revelou ao profeta Isaías, setecentos anos antes da vinda de Jesus, a obra
da cruz. Até que se derrame sobre nós o
Espírito lá do alto; então, o deserto se tornará em pomar, e o pomar será tido
por bosque; o juízo habitará no deserto, e a justiça morará no pomar. O efeito da justiça será paz, e o fruto da
justiça, repouso e segurança, para sempre.
O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras e em
lugares quietos e tranqüilos, ainda que haja saraivada, caia o bosque e seja a
cidade inteiramente abatida. Isaías 32:15-19. Pode haver tristezas,
pressões, conflitos e o fardo de se ter que passar por múltiplas tentações, por
subidas e descidas e por toda sorte de dificuldades e tribulações. E, em meio a
tudo isso, a alma é verdadeiramente levada pelo Espírito de Deus a enxergar o
fim do seu próprio eu, e a descansar em Cristo pleno. A alma aflita encontra uma
paz que nunca poderá ser interrompida. Pela
justificação, obtivemos livre acesso e esta graça. O que significa isto? A fé
crê em Deus que fez a obra pela qual nós somos justificados; mas este Deus é um
Deus que nos amou e que, exercendo o Seu poder em amor e em justiça, ressuscitou
Aquele que levou sobre si os nossos pecados, introduzindo-O na Sua presença como
Aquele que aboliu inteiramente esses pecados e que, fazendo-o, glorificou
perfeitamente ao próprio Deus. Pela mesma razão, nós estamos, de fato, por
Jesus, na plena graça de Deus, perante Quem nos encontramos. Mas
Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e
estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela
graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar
nos lugares celestiais
É nisto que a fé
viva deve tranqüilizar a consciência. Se Deus satisfez a Si próprio com a
solução para os nossos pecados, devemos ficar igualmente satisfeitos. Sabemos
que nossos pecados são inúmeros como os cabelos da cabeça, que são negros como a
meia noite – negros como o próprio inferno. O menor dos pecados, se podemos
assim chamar, merece as chamas do inferno. Uma simples partícula de pecado não
pode jamais entrar em Sua presença, e por conseguinte, não havia outro destino
para nós a não ser a eterna separação de Deus. Mas Deus, oh quão
profundo é o mistério da cruz! O glorioso mistério do amor redentor. O próprio
Deus levou todos os nossos pecados, do modo como Ele os viu e os avaliou. Vemos
colocando-os sobre a cabeça do nosso bendito Salvador, do nosso bendito
Substituto. Sua ira foi contra os nossos pecados, pecados que nos levariam por
toda a terrível eternidade; sua ira foi derramada sobre o Homem que ficou em
nosso lugar, que nos representou diante de Deus. O Deus, perante
Quem nos encontramos, é o Deus de amor, tendo-nos amado, nos salvou. E qual é o
resultado desse amor? Sermos introduzidos por Jesus ali, aonde Ele mesmo foi.
Entrar lá, onde Ele está, é entrar na glória; e nós já nos gloriamos na
esperança da glória de Deus. O próprio Deus é a origem de tudo, Ele é Aquele que
tudo realizou. A Boa Nova, na qual nos é anunciada a salvação que Ele efetuou, é
o Evangelho de Deus. E o Evangelho de Deus é uma Pessoa, é o Seu próprio Filho.
A
justiça que é revelada é a justiça de Deus. A glória em que somos introduzidos
em esperança é a glória de Deus. Deste modo, a esperança fundada sobre a obra de
Cristo torna-se mais clara e mais liberta da mistura de tudo aquilo que é
humano. A experiência produz a esperança, porque, através de tudo, o amor de
Deus que nos deu esta esperança é manifesto em nossos corações. Sem a revelação
deste amor, poderíamos ser desencorajados pelas tribulações e supormos que Deus
é contra nós; mas este amor é demonstrado não só pela obra e pela ressurreição
de Cristo, mas também pela presença do Espírito Santo, que o derramou em nossos
corações.
A eficácia da
nossa justificação é a paz, a graça e a glória. A presença de Cristo em nós gera
paz. Ele mesmo é pleno de graça e, na atmosfera desta graça, podemos contemplar
a glória do Senhor. E, assim, seremos
transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o
Espírito. II Coríntios 3:18.
A entrada, pela
fé, na caminhada cristã não começa com um grande FAÇA, mas com um grande ESTÁ
CONSUMADO. O nosso andar começa com o descanso. O apóstolo Paulo inicia sua
carta aos Efésios com a revelação de que Deus já nos abençoou. Portanto, somos
convidados, desde o início, a descansar e a celebrar com o que Deus já fez. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais
Quem intentará acusação contra os eleitos de
Deus? É Deus quem os justifica. Quem os
condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à
direita de Deus e também intercede por nós. Romanos 8:31-34. Nossa vida cristã
é um antegozo do banquete celestial que ainda está por vir. Mas, este banquete
celestial pode ser experimentado dia após dia antes da consumação de todas as
coisas. Cristo em nós é este banquete. O fundamento da vida cristã não é apenas
Cristo, mas também o conhecimento de Cristo. Conhecê-Lo é o alvo de todo o
regenerado.
Solo Deo Glória.
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A SUTILEZA CRUEL
Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes,
eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de
Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles
está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas
terrenas. Filipenses 3:18-19.
A maior esperteza do inferno está na camuflagem.
Não há estratégia mais eficiente para os caçadores do que o disfarce. O
mimetismo faz parte da maquiavelice diabólica de caçar as almas. Os piores
adversários não são aqueles que nos enfrentam frontalmente, mas aqueles que,
dissimulados em santos, fingem gozar de uma experiência espiritual autêntica. O
artifício da fé mascarada é muito mais sério do que a licença permissiva de uma
vida aberrante. É preferível um pecador dissoluto do que um santo pintado.
William Secker disse que, uma prostituta maquilada é menos perigosa do que um
hipócrita disfarçado. No reino de Deus não há lugar para apócrifos.
A hipocrisia é muito mais prejudicial do que a
devassidão, e o disfarce encapuzado mais ardiloso do que a nudez destampada. Os
inimigos da cruz mais argutos são aqueles que melhor simulam espiritualidade
elevada. É muito difícil perceber a esperteza de uma vida inautêntica, pois as
profundezas do bersabum investem toda a sabença na sofisticação da maquiagem. Os
produtos mais vendidos do inferno são os cosméticos da impostura que visam
encobrir as feridas purulentas com a santimônia. Confundir rebeldia com beatice
é matéria de especialização das galerias subterrâneas da universidade cavernosa
das profundezas infernais. Mas há um provérbio alemão que ensina: Quando a
raposa prega, observe os gansos. Por isso é muito importante verificar as
características bíblicas dos inimigos da cruz de Cristo, para não sermos
apanhados pelas sutilezas cruéis do formalismo enganoso. Muitos dizem: Eles
pregam a Bíblia! Eles falam de Jesus! Eles anunciam a cruz! Lá eles pregam o
novo nascimento! Para mim não importa, se prega a Bíblia, está bom. É aqui
que mora o perigo.
A primeira observação do apóstolo Paulo com
respeito aos inimigos da cruz de Cristo é que eles andam entre nós. Os
adversários do Evangelho da graça de Cristo estão infiltrados no seio da Igreja.
Eles não se encontram propriamente no mundo, mas no meio da Igreja, como líderes
ou membros. Os vírus precisam se instalar no organismo para provocar a infecção.
A astúcia do combate eficaz começa na infiltração mascarada e na implantação da
arma mais eficiente para destruir uma comunidade, que é a subversão. Disfarçado
em irmão, a hostilidade contra a mensagem da cruz vai sorrateiramente minando os
fundamentos do cristianismo. O método da corrupção começa com a ênfase
fundamental da fé sendo substituída por um acessório qualquer. Ninguém é
propriamente contra a mensagem da cruz, simplesmente ameniza-se o seu enfoque. O
transtorno começa pelo esvaziamento da pregação, através da mensagem sofisticada
com a filosofia das palavras. Porque não me enviou Cristo para batizar,
mas para pregar o Evangelho; não com sabedoria de palavra, para que se não anule
a cruz de Cristo. 1 Coríntios 1:17. Com linguagem
persuasiva de sabedoria humana, vai-se tecendo um esquema de empobrecimento da
mensagem e agregando-se a ela outros assuntos que assumam a atenção dos
ingênuos. Uma das marcas dos falsos profetas é pregar com sutileza apenas o que
o povo quer ouvir. Prefiro ser plenamente compreendido por dez a ser admirado
por dez mil, martelava Jonathan Edwards.
Uma segunda questão que podemos destacar, da
abordagem do apóstolo, é que estes inimigos são muitos. Não se deve subestimar a
contabilidade. Para Paulo, são muitos os opositores da cruz de Cristo. Não se
trata de um grupinho inexpressivo de gentinha desqualificada. Havia um grande
grupo de gente capaz, especialista em induzir, solapando a mensagem do
Evangelho, esvaziando o enfoque da cruz e procurando implantar um sistema para
valorizar a auto-estima. Por este motivo, suas constantes advertências contra a
ameaça penetrante e o risco apurado de diluição do discurso do Evangelho, ao
ponto de suas lágrimas serem convocadas como testemunho de sua apreensão. Mas
por outro lado, este número expressivo de rivais vem corroborar com a
importância fundamental da mensagem. Se a proclamação da cruz fosse um assunto
de somenos importância, os antagonistas seriam poucos e sem a menor
consideração. O fato de ter muita gente contrária à pregação dos efeitos da cruz
em nossas vidas é sintoma do mérito e valor essencial desta mensagem.
Por estes motivos, é necessário distinguir os
antagonistas da cruz com as características apontadas pelo apóstolo. É preciso
ver, com a clareza das Escrituras, que muitos que podem até estar pregando a
cruz, fazem parte do levantamento contra a cruz. Vamos analisar Filipenses
3:19 na forma invertida de sua construção.
Visto que só se preocupam com as coisas terrenas, a glória deles está na
infâmia, o deus deles é o ventre e o destino deles é a
perdição. A ênfase dos adversários da cruz está nas
coisas terrenas. Todas as pessoas que participam na igreja e que valorizam mais
as coisas terrenas do que as celestiais estão englobadas na rebelião oposta à
cruz. Muitos dos que pregam sobre a cruz vivem preocupados com as coisas deste
mundo e prisioneiros de uma mentalidade mundana. Quando estimamos mais os bens e
prazeres do que a santidade, o êxito e a prosperidade mais que a glória de Deus,
estamos envolvidos numa sedição contrária à mensagem da cruz. Os maiores
adversários do cristianismo não são os que o combatem de frente, mas são os
falsos cristãos que fingem a mensagem, que a vida desmente. O estado
celestial é organizado de forma a expressar visivelmente o que Deus pensa da
cruz de Cristo, ensina J. A. Motyer. Somente aqueles que foram crucificados
e ressuscitados juntamente com Cristo podem ser desarraigados do domínio das
coisas rasteiras, para investir o pensamento nas coisas elevadas.
Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas
lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá
do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está
oculta juntamente com Cristo, em Deus. Colossenses 3:1-3. A operação da cruz provoca uma revolução no pensamento e na maneira de
encarar os valores da existência.
Entretanto, se o urubu aprecia carniça é uma
questão de instinto e apetite, do mesmo modo, os adversários da cruz preferem
salientar a sua glória naquilo que é infamante. Sabemos que uma pessoa nunca
passou pelos efeitos da cruz quando ela se delicia com tudo aquilo que é
desonroso. Quando a escolha preferencial da vida recai sobre os temas maculados
pelo sujo da indignidade, constatamos que a glória desta pessoa é fruto de um
coração torpe. O cardápio natural dos porcos é lavagem de chiqueiro. Isto leva
consequentemente ao centro de sua adoração: as vísceras. Um indivíduo governado
pelo suco gástrico tem uma ética muito ácida. O vômito do mau humor
freqüentemente revela o azedume de um homem sem cruz. E o seu deus oco do
estômago precisa sempre de miolo mole para abarrotar. É por isso que a propina,
a bajulação e o servilismo fazem parte do esquema da religião sem cruz. A
teologia dos inimigos da cruz é tão vazia e frívola como o seu deus sem um prato
de comida para satisfazer seu instinto momentâneo. Os viscerotônicos
inescrupulosos não hesitam em fazer qualquer coisa que lhes proporcione algum
resultado favorável. Desde que haja lucro ou vantagem, há uma disposição para
negociar sob qualquer custo. Isto leva os que só se preocupam com as coisas
terrenas ao terceiro degrau de sua falência total: o destino deles é a perdição.
Não era de se esperar outra coisa. Se Deus não existe, tudo é permitido,
enfatizava Dostoievsky. Uma pessoa regulada pelas aspirações da infâmia,
administrada pelo deus minúsculo dos apetites carnais não tem outra alternativa
senão a confusão insegura de uma vida perdida. Só um homem perdido pode ter uma
vida assim, tão inconseqüente.
Se você quer fugir de Deus, o diabo lhe emprestará
tanto as esporas como o cavalo
, afirmava Thomas Adams. E
o sábio pregador metodista E. M. Bounds insistia: Seria uma imitação burlesca
da esperteza do diabo e uma calúnia contra seu caráter e reputação, se ele não
empregasse suas maiores influências para adulterar o pregador e a pregação.
Cuidado com toda pregação que minimiza o enfoque da cruz de Cristo e que
desconsidera a nossa co-crucificação juntamente com Cristo. Mas longe
esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual
o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. Gálatas
6:14.
Solo Deo Glória.
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CRER APESAR DE.....
Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava
mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as
promessas. Hebreus 11:17.
Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou
sobre Isaque, seu filho; ele, porém, levava nas mãos o fogo e o cutelo. Assim,
caminhavam ambos juntos.
E, mais adiante, lemos:
Chegaram ao lugar que Deus lhe havia designado; ali edificou Abraão um
altar, sobre ele dispôs a lenha, amarrou Isaque, seu filho, e o deitou no altar,
em cima da lenha; e , estendendo a mão, tomou o cutelo para imolar o filho.
Gênesis 22: 6, 9 e 10.
Uma coisa é confiar em Deus, quando temos perante
os nossos olhos o meio pelo qual a benção deve vir; outra muito diferente é
quando este meio não existe. A fé consiste em acreditarmos no que não vemos;
e , como recompensa, vermos aquilo em que cremos. Santo Agostinho. ...eu e o
rapaz iremos até lá e, havendo adorado, voltaremos para junto de vós. A
fé nunca fala do que fará, mas faz o que pode, no poder do Senhor. Abraão
mostrou que podia confiar em Deus. Ele considerou que Deus era poderoso,
poderoso para até dos mortos o ressuscitar.
Não era uma confiança apoiada em parte por Deus e em parte pela criatura. NÃO.
Baseava-se no pedestal sólido, a saber: Deus. A fé nada realiza sozinha, nem
por si mesma; mas todas as coisas são operadas sob Deus, por Deus e através de
Deus. Stoughton.
Numa palavra, era com Deus que Abraão tinha que
tratar, e isso era o bastante; mas não lhe foi consentido descarregar o golpe.
Havia chegado ao extremo, tinha chegado ao limite, para além do qual Deus não
podia permitir que ele fosse. Mas do céu lhe bradou o Anjo do Senhor:
Abraão! Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui! Então, lhe disse: Não estendas a mão
sobre o rapaz e nada lhe faças; pois agora sei que temes a Deus, porquanto não
me negaste o filho, o teu único filho. Gênesis 22: 11 e 12. O Senhor Deus poupou o coração de
Abraão da dor que Ele não poupou ao seu próprio coração, a dor de ferir ao Seu
Filho. Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o
entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?
Romanos 8:32. Todavia, ao Senhor agradou
moê-lo , fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo
pecado, verá a sua posteridade e prolongará o seus dias; e a vontade do Senhor
prosperará nas suas mãos. Isaías 53:10. Não se ouviu
nenhuma voz do céu quando, no Calvário, o Pai ofereceu o seu Filho unigênito.
NÃO! Foi um sacrifício inteiramente consumado.
Se Abraão não tivesse estendido a sua mão para
imolar o seu filho, ele nunca teria conhecido as ricas e excelentes
profundidades desse título que ele aqui dá a Deus, a saber: O Senhor
proverá. Sem provação podemos ser apenas teóricos, e
Deus não nos quer assim; Ele quer que entremos nas profundidades vivas que há
nEle próprio: as realidades divinas de comunhão pessoal com Ele, na pessoa do
Senhor Jesus Cristo. O grande princípio transmitido por este acontecimento é:
Abraão mostrou que estava preparado para perder tudo, menos Deus; e além disso,
foi este mesmo princípio que o constituiu e declarou um homem justificado. Deus
levou Abraão ao fim de si mesmo, para ser o tudo nele. Está aqui o princípio do
milagre da regeneração: é necessário um esvaziamento total do homem para que
Cristo seja o tudo nele.
Fica evidenciado na parábola do fariseu e do
publicano, narrada por Jesus, que o fariseu estava cheio de si mesmo, por isso
saiu vazio de Deus. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo,
desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens,
roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas
vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Lucas 18:11 e 12.
O moralista mais culto, o mais devoto religioso, o
maior filantropo, se não nascer de novo está tão longe do Reino de Deus como o
filho pródigo era tão pecador e estava tão longe de seu pai, quando cruzava a
porta da casa, como quando apascentava porcos num país distante. O publicano,
vazio de si mesmo, saiu cheio da graça. O publicano, estando em pé, longe,
não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó
Deus, sê propício a mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua
casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se
humilha será exaltado. Lucas 18: 13 e 14. A fé crê
no que Deus diz, se apóia na sua Palavra, compreende-O tal qual Ele se revelou
na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Isto é vida , justiça e paz. Conhecer a Deus
como Ele é, é a súmula de toda a bênção presente e futura. Quando a alma
encontra Deus, encontra tudo que possivelmente necessita nesta vida ou na vida
por vir. Deus não só entregou seu Filho para ser sacrificado, mas também nos
colocou nEle: fomos unidos no seu próprio corpo, o nosso pecado foi ligado a Ele
no exato momento da sua crucificação. O pecado foi eficientemente tirado,
aniquilando a dívida que era nossa e que o Senhor resgatou. Tendo
cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças,
o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz.
Colossenses 2:14.
Cristo ressuscitou triunfantemente e juntamente com Ele nos ressuscitou para uma nova vida. Porque, se fomos unidos com Ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição. Romanos 6:5. O incrédulo é governado por aquilo que vê, é governado pelos seus sentidos. Contudo, os que confiam no Senhor são governados pela Palavra pura de Deus, inestimável tesouro neste mundo sombrio, quaisquer que sejam as aparências exteriores! A fé compreende o que é invisível; não está escravizada à fraqueza dos sentidos, ultrapassa os limites da razão humana, os hábitos da natureza e a extensão da experiência. São Bernardo. Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas. 2 Coríntios 4:18.
Solo Deo Glória.
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A FÉ É ANTÍTESE DO MEDO
No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o
medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no
amor. 1 João 4:18.
O primeiro sentimento que o cabeça da raça humana
experimentou depois do pecado foi o medo. Logo depois que Adão transgrediu o
mandamento divino, ele foi invadido por um clima de pavor. Ele respondeu:
Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. Gênesis
3:10.
Ao ouvir a palavra de Deus Adão teve medo. É
interessante observar este ponto com atenção. A Bíblia diz: Assim, a fé
vem pelo ouvir e o ouvir da palavra de Deus. Romanos 10:17. Mas, quando Adão ouviu a palavra de Deus no jardim, porque estava nu,
teve medo e se escondeu. Ao ouvir a palavra de Deus, em vez de fé, medo. O
pânico veio em conseqüência do pecado e da sua nudez. Adão e
Eva foram criados totalmente despidos. No Jardim do Éden não havia necessidade
de roupa, uma vez que a temperatura era agradável e as condições favoráveis para
uma vida sem cobertura. Eles eram imaculados, mas não ficavam acanhados nem
ruborizados de viverem desnudos. Ora, um e outro, o homem e sua mulher,
estavam nus e não se envergonhavam. Gênesis 2:25.
Todavia, logo depois da transgressão apareceu um
sentimento de terror quando Adão se percebeu pelado. Esse estado de desnudamento
evidencia a descompostura que o pecado causou na personalidade, produzindo todo
tipo de esconderijo. O medo é o promotor das máscaras e o aliciador dos agentes
que solicitam a aprovação externa. A partir do receio de não ser aceito
incondicionalmente, a história humana toma um outro rumo. Os
jardineiros viraram estilistas num instante. De uma hora para outra os
horticultores que cultivam o Paraíso foram transformados em modistas costurando
folhas. Adão e Eva agora estavam preocupados com o guarda-roupa, pois o medo da
rejeição exigia que eles bordassem complementos para a grife da tribo.
Adão, ao ouvir a voz de Deus, foi dominado pela paúra em seu
coração em razão do pecado e não deu lugar à fé. O medo teceu uma tanga com as
fibras da figueira porque a sua fibra moral foi atacada pelo sentimento de
deserção. A culpa afastou o casal da comunhão com o Criador e os dois se
enfiaram nas moitas tentando achar asilo na embaixada do faz de conta.
Desde aquele momento a raça humana passou a morar no casebre
do temor. Somos uma casta escrava do medo e temos muita dificuldade de entrar na
casa do amor. A timidez impede que vivamos com autenticidade. A culpa
existencial herdada dos nossos primeiros pais nos deixa sempre desconfiados e
com receio de não sermos recebidos como filhos na família do Pai. De modo geral
nós temos sintomas de senzala.
A história da raça adâmica é uma narrativa de
disfarces, fugas e esconderijos. O gênero humano vive escapando da aceitação
incondicional do Pai, usando, com freqüência, expedientes astutos que assegurem
o seu assentimento ao custo dos seus próprios esforços. Com medo de ser
rejeitado o sujeito procura ser aceito através daquilo que faz. Assim, a
religião se torna uma fábrica de executivos em busca da excelência. O temor é a
matriz da conduta e a sobreexcelência a raiz que suporta esta pose esnobe.
Porém, o apóstolo João procura nos mostrar que na casa do
amor não existe medo. A aceitação do Pai não computa valores, nem contabiliza
despesas. O pecador é recebido como filho, única e exclusivamente pelos méritos
do Cordeiro. O amor do Pai não está atrelado a excelência do
objeto do seu amor. Ele não é colecionador de obras raras e não me ama porque eu
sou digno do seu amor. A sua graça aposta apenas no desdouro da minha queda, já
que não posso me classificar com a minha justiça cheirando a carniça. Mas
todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da
imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniqüidades, como um
vento, nos arrebatam. Isaías 64:6.
A verdade nua e crua é que o pecado me tornou
irrecuperável por mim mesmo. Não há solução para mim senão pelo amor de Pai. Mas
ele nos ama incondicionalmente. Isto significa que Deus não olha para as nossas
qualidades pessoais, tampouco para os nossos defeitos graves. Sendo assim, a
nossa adoção como filhos na casa do Pai não depende dos nossos méritos, mas da
expressão do seu amor revelado em Cristo.
O Cordeiro que tira o pecado foi imolado antes da
fundação do mundo. Adão e Eva perderam tempo cosendo aventais que murchariam
antes do fim da tarde. Os animais que foram sacrificados eram as únicas
expressões do amor de Deus para cobrir a nudez do casal. Fez o SENHOR Deus
vestimenta de peles para Adão e sua mulher e os vestiu. Gênesis
3:21. Jeová além de ser o alfaiate é também o
camareiro. Graça significa Deus dando e fazendo tudo a quem só tem
demérito.
O medo da rejeição exige aceitação a todo o custo,
mas no amor não existe medo. O amor lança fora toda apreensão, uma vez que o
indigente senta-se à mesa como um membro da estirpe real. O Pai nos aceitou em
Cristo em seu amor irrestrito e somos herdeiros do reino celestial. Porque
eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os
principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a
altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do
amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos
8:38-39.
Brennan Manning
diz que
muitos cristãos permanecem temerosos, pois se apegam ainda à idéia de um Deus
muito diferente da que foi pregada por Jesus. O temor é a causa do aborto da
fé e esse medo do fracasso é um paralisante do progresso espiritual.
Contudo, aquele que sabe verdadeiramente que o Pai o aceitou
em Cristo com amor total, não teme se arriscar no seu testemunho de fé, ainda
que insipiente. A queda é parte do desenvolvimento no andar da criança e, na
caminhada cristã, só tem insucesso quem se atreve a andar. Quem confia no amor
do Pai não teme ser desaprovado porque depende apenas da sua aprovação na
suficiência de Cristo. Jesus disse aos discípulos que teriam
problemas nesse mundo, todavia ele assegurou que a sua vitória pessoal era a
garantia do nosso sucesso, isto é, o seu triunfo é o nosso troféu. Estas
coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por
aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. João 16:33.
Como alguém disse com bom humor, Cristo
prometeu uma aterrissagem segura, mas não um vôo sem turbulência. Embora
tenhamos muitas tribulações nessa marcha aqui e agora, nada pode desbotar a
tonalidade do seu amor sem fronteira. Por isso, a fé se firma apenas na
imutabilidade do Pai amoroso, não ficando intimidada com as pressões deste mundo
e com as cobranças legalistas. Que diremos, pois, à vista destas coisas?
Se Deus é por nós, quem será contra nós? Romanos 8:31.
A pregação do medo promove uma obediência
encabrestada. Há muita gente dócil e flexível que preenche os seus requisitos
morais debaixo de apavoramento. São pessoas submissas enquanto reprimidas. Mas
os filhos amados do Pai obedecem simplesmente por amor. O medo produz tormenta e
os atormentados não são pessoas saudáveis, por isso mesmo, só o amor consegue
originar personalidades sadias. A casa do amor é o único lugar seguro onde as
pessoas não temem os habitantes do casebre do temor. Robert Hart dizia que o amor de Deus é sempre sobrenatural,
sempre um milagre, sempre a última coisa que podemos merecer. Esse milagre
sobrenatural e imerecido é a causa de nossa aceitação com confiança. Eu creio
que o Pai me aceitou em Cristo por causa do seu amor profundo e sem
arrependimento. Nada poderá me afastar do seu amor irrestrito. A fé que o Pai me
deu não teme ser descartada como um traste qualquer. Na casa
do Pai não há amedrontamento, nem pessoas alimentando-se com a síndrome do
pânico. Jesus foi muito evidente quando disse aos seus discípulos: Não
temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino.
Lucas 12:32. O rebanho pode ser pequeno, mas o reino
do Pai foi oferecido com prazer. Se nós vivermos com medo
não poderemos jamais viver pela fé. O medo é o avesso da fé. Quem teme não
consegue confiar, por esse motivo Jesus prontamente falou com firmeza aos
discípulos apavorados com medo de fantasma: Tende bom ânimo! Sou eu. Não
temais! Mateus 14:27.
O mundo está cheio de assombrações e as
tempestades são de arrepiar, mas quando o Pai está no comando e o seu amor é o
arrimo de nossa sorte, então não tem por que temer. Alguém disse que o medo é
o início da ansiedade, e esta, o fim da fé, mas a verdadeira fé varre a
ansiedade e apaga o medo. O medo veio com Adão e
paralisa as pessoas, mas em Jesus vem a fé que suscita o progresso espiritual.
Ele é o único agente e gerente da verdadeira fé. A vida cristã deve ser
conduzida, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o
qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo
caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. Hebreus
12:2.
A teologia do medo é responsável por uma conduta
subserviente e bajuladora. Os escravos do temor só obedecem porque não há
alternativa. Entretanto, os filhos de Aba são pessoas livres que correspondem
livremente motivados pelo amor que estimula a fé. Na casa do amor, isto é, a
igreja do Deus vivo, ninguém é coagido com espantalhos apavorantes nem submetido
à tortura da punição. O Pai amoroso não é o deus do medo, também não é fobia, a
reverência a ele.
O filho de Aba crê no evangelho atraído pela boa notícia do amor revelado na cruz. O ico constrangimento que vemos aqui é a compulsão do amor incondicional demonstrado em Cristo, e isto é assunto de fé. Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. 2 Coríntios 5:14.
Solo Deo Glória
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O CRIME DA LETRA
E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus não que, por nós
mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo
contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos
ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra
mata, mas o espírito vivifica. 2 Coríntios 3:4-6.
O termo configura a palavra e essa exibe um significado. A
letra grafa um termo que designa uma palavra que tem um sentido. A escrita é o
desenho de um vocábulo que traz uma acepção. Água, por exemplo, é um termo que
define uma idéia, que expressa um fato. O termo é o diagrama da palavra,
enquanto a palavra é como a casca da banana que conserva o fruto. Há um valor
verdadeiro em cada palavra que o termo apresenta. Quando eu escrevo o termo
água, ele me remete para um conceito que me traz a avaliação da coisa, na base
da experiência. Se eu sei o que é água, então o termo me conduz à palavra que
coliga com a realidade. A idéia de água é identificada na palavra descrita. Se
eu não tenho a definição do termo, então a palavra fica sem sentido para mim. Se
eu escrever hudatos, o termo fica incompreensível para muita gente. É
preciso uma explicação que traga sentido ao termo. Mas este termo é apenas a
transliteração da palavra água, na língua grega. Quem não sabe o termo grego,
não sabe o significado da palavra e fica sem entendimento. Por outro lado, o
significado das palavras conhecidas varia de cultura para cultura e de pessoa
para pessoa. Segundo Paulo, há palavra na letra, mas ela vai além da escrita,
pois a letra é em si mesma morta, e do ponto de vista do espírito, ela é mortal.
Não há vida espiritual no termo. A expressão da vida encontra-se na vivificação
da palavra que sai da boca de Deus. O termo sem a fecundação do Pai e a
revelação do Espírito é uma urna funerária que conserva uma expressão morta. A
letra sem o Espírito é homicida.
A escrita é a codificação da palavra, porém esta palavra
precisa ser avivada pela ação do Espírito Santo, a fim de produzir o resultado
espiritual em cada pessoa. O termo gráfico é como um carvão que só pode acender
se for inflamado, e só pode ficar incendiado se for soprado pelo Espírito. Sem a
vida divina o vocábulo é um mero defunto e sua operação é sinistra. A letra da
Escritura sem a vivificação da Trindade é uma composição literária de grande
valor histórico, mas sem qualquer importância para o avivamento. A letra sem o
sopro do Espírito é delito. Um dos maiores crimes contra a igreja é a pregação
da letra fria. Há muita gente morta em conseqüência de uma mensagem
rigorosamente letrada. É uma proclamação bíblica e ortodoxa, mas não tem vida
espiritual. Estou convencido de que em muitas ocasiões tenho sido culpado desse
tipo de pregação, e que há uma multidão de cadáveres religiosos em razão da
letra morta. Jesus foi muito claro ao dizer: O espírito é o que vivifica;
a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e
são vida. João 6:63.
O termo limita a palavra. Quando eu denomino uma realidade com
um termo, não significa que eu a compreendo. Além disso, definir um termo é
colocar fronteira no seu perímetro. A palavra de Deus ultrapassa o alcance da
nossa mente, por isso, delimitá-la é prejuízo de proporções inimagináveis. O
apóstolo Paulo afirma com a maior exatidão: Ora, o homem natural não
aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. 1 Coríntios 2:14.
A mente, ainda que seja o terreno da compreensão humana, encontra-se limitada
pelos conceitos tridimensionais. Como a realidade espiritual transcende a
fronteira da matéria, fica impossível a sua conceituação. A questão ao anunciar
a palavra de Deus requer mais do que explicação lógica. A grande necessidade na
pregação é a revelação da palavra e a sua vivificação. Uma coisa é a exegese do
texto, outra bem diferente é a unção decorrente da intimidade como o Espírito de
Deus, que revela e vivifica a palavra. Saber dissecar os termos não gera vida
nas pessoas. Só o Espírito produz vida espiritual por meio da sua palavra. A
grande crise na pregação moderna é a falta de conhecimento pessoal da palavra de
Deus aliada à ausência de revelação e vivificação do Espírito. Hoje se fala
muito de unção como sinônimo de sentimento inflamado. Mas, ainda que a emoção
tenha lugar numa experiência verdadeiramente espiritual, essa emoção acalorada
nunca foi semelhante à unção espiritual. É fogo estranho no altar do Senhor. Um
pregador ungido é alguém controlado pelo poder do alto e cheio de domínio
próprio, cujo objetivo é transmitir, com fidelidade, a palavra de Deus revelada
e vivificada pelo Espírito Santo ao coração dos seus ouvintes. Por isso mesmo,
nunca se deve confundir a unção espiritual com essa animação do sujeito na
pregação. Mas a alma excitada é um expediente carnal muito comum na exposição da
palavra de Deus. Para o apóstolo, o crime da letra é um homicídio da vida
espiritual. Se alguém ficar preso à escrita é um morto espiritual e matador.
Ainda que a letra seja vital para o conhecimento da palavra de Deus, permanecer
aprisionado a ela, é matança. É importante que se conheça a Escritura, pois ela,
à semelhança dos trilhos para o trem, é o suporte para a revelação. Todavia, não
se pode continuar na vida cristã sendo contido pela letra.
Assim como a agulha magnética aponta para o Pólo Norte, a
Escritura aponta para a pessoa de Cristo. Ela é uma biblioteca que testemunha da
vida magnífica de Cristo. Jesus disse para os seus contemporâneos:
Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas
mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida.
João 5:39-40.
De acordo com Jesus, a Bíblia é o álbum de sua pessoa, o
cardápio do seu banquete, a anamnese de sua história, o mapa da sua andança, a
revelação de sua identidade e a receita da única vida que realmente faz sentido.
A Escritura distingue essa fonte suficiente de vida e a oferece como exclusiva
para dar significado ao ser humano. Ninguém se relaciona pessoalmente com
retrato, nem come cardápio. Mesmo que a carta geográfica seja indispensável para
a orientação dos peregrinos, nenhuma pessoa anda sobre os traçados das cartas.
Além disso, todos nós precisamos de alguém vivo para nos relacionar. Apesar de o
cardápio ter valor na escolha da comida, ele não é o alimento. A Bíblia é o
cardápio do céu, mas Cristo é o único mantimento. Eu preciso do cardápio para
conhecer e escolher os pratos, porém eu não me alimento dele. Jesus é o maná do
menu de Deus e só ele pode nos satisfazer realmente. Declarou-lhes, pois,
Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em
mim jamais terá sede. João 6:35. Ele não é lição preciosa para a nossa
vida. Ele é o pão cotidiano.
A letra é útil para nos conduzir ao manjar, contudo a letra não
nos nutre. A alimentação específica da vida espiritual é Cristo. Não existe
outra comida que possa atender às necessidades do espírito fora da pessoa de
Cristo Jesus. Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto
e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não
pereça. João 6:48-50.
O crime da letra é a desnutrição e a morte. Sem comida a vida
perece. Alguém desnutrido é um aspirante a defunto. Cristo é o verbo encarnado e
o pasto das ovelhas. Não existe outra pastagem para o crente além da pessoa de
Cristo. Se não encontrarmos a pessoa de Cristo em nossa leitura bíblica, não
encontramos a vida e o alimento espiritual. Só Cristo pode contentar a nossa
alma e alegrar o nosso espírito com a sua vida. Ele é o único alimento
espiritual que pode dar significado ao ser humano. Assim como o Pai, que
vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta
por mim viverá. João 6:57.
A fome da alma é um apetite por Deus que apenas Cristo pode
satisfazer. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso
suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos
deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a
vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas
fiéis misericórdias prometidas a Davi. Isaías 55:2-3.
A nação israelita ficou apenas com o cardápio, deixando de
comer o verdadeiro pão que veio do céu. Mas a igreja atual passa pelo mesmo
lance crítico. Hoje em dia nós nos esmeramos na qualidade estética do cardápio e
na sua melhor tradução, e apesar disso, pouca gente tem comido do pão de Deus.
As versões bíblicas são fantásticas e as encadernações primorosas e ainda assim
o povo está morto espiritualmente e com fome, pois a letra mata. Erudição não
mata a fome do espírito. Madame Guyon falava de uma leitura textual que deve
enfocar a pessoa de Cristo. Quando estivermos lendo a Escritura precisamos parar
a cada instante para entrarmos em contato com o Cristo que habita em nosso
espírito e que se revela no encadeamento das palavras que estamos lendo. Se não
houver esta afinidade entre o Cristo que vive no espírito do crente e o Espírito
de Cristo que se manifesta na palavra, nós estamos sem vida. Como vimos
anteriormente, podemos ter uma pregação ortodoxa e profundamente escriturística,
mas sem a vida espiritual. A grande necessidade da igreja atual é de um
avivamento bíblico. Precisamos de centralidade na Bíblia, mas carecemos, além
disso, da vivificação e revelação do Espírito Santo. A letra sem o hálito fresco
da boca Divina é um esqueleto literário, sem o poder de vivificar. O palácio
real sem a realeza é simplesmente um museu. A letra da Escritura sem a vida
manifesta de Cristo é bibliografia ou história. A grande necessidade da igreja é
de comunhão pessoal com o seu Salvador e Senhor, por isso, não basta fazer a
mera leitura da Bíblia, já que é imperativa a revelação do Espírito para
torná-la viva na experiência do crente. Sem a luz do Espírito a letra se
configura numa arma assassina, e nós, os pregadores, em múmias criminosas. Vem
Senhor vivificar e revelar a tua palavra em nosso ser.
Solo Deo Glória.
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CHAMADOS À COMUNHÃO
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho
Jesus Cristo nosso Senhor. I Coríntios 1:9.
De acordo com o original grego, ekkesia significa "aqueles que
foram chamados para fora" e foram reunidos em torno do nosso Senhor. Deus chamou
homens de entre todas as nações, tribos, línguas e povos, ajuntou-os em Cristo
para glorificar o Seu nome. A palavra comunhão significa "participação em
comum". Então, Deus chamou homens de todas as nações para participarem da
comunhão do Pai, Filho e Espírito Santo. A Igreja, portanto, é uma comunhão
viva, fundamentada na comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Na
divindade há uma comunhão perfeita, o Pai compartilha tudo com o Filho, e o
Filho compartilha tudo com o Pai, e tudo é compartilhado com o Espírito Santo.
A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito
Santo seja com todos vós. II Coríntios 13:13.
O coração de Deus é amor; é Deus quem inicia o plano para
nos redimir. O amor expresso é graça, e dentro da graça está o amor. A razão
pela qual a graça do Senhor Jesus é mencionada em primeiro plano no versículo se
deve ao fato da redenção ser realizada por Cristo. É Deus quem ama, e este amor
segundo revelado por Cristo torna-se graça. O Espírito Santo nos comunica aquilo
que Cristo realizou. O Espírito Santo de si mesmo nada tem para dar, Ele
simplesmente nos comunica o que Cristo fez. A glória e o gozo da comunhão na
divindade é algo que está além da nossa compreensão. Mas graças a Deus por causa
do Seu grande amor, Ele estendeu essa comunhão através de Seu Filho para a
humanidade. Este desejo de formar uma família, para este fim está revelado
nestas palavras do apóstolo João: O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos,
para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com
seu Filho Jesus Cristo. I João 1:3.
Porém, temos que nos lembrar, que a comunhão entre o Pai e
o Filho no Espírito era algo do qual nenhuma pessoa, depois da queda tinha o
direito de participar. Por isso, não podemos reivindicar ou exigir para sermos
aceitos nessa comunhão, pois somos totalmente desqualificados e completamente
indignos. Entretanto, o Pai agradou-se em estender essa comunhão ao homem caído.
Fomos chamados a compartilhar da comunhão do Filho de Deus, o nosso Senhor Jesus
Cristo. Mas como essa comunhão pode se tornar uma realidade? Pelo amor de
Deus. Deus Pai desceu até nós, na Pessoa de Seu Filho. O preço para Deus foi
muito alto, custou a morte de Seu Filho. O plano exigiu que Deus Filho tomasse
um corpo "preparado" para este fim, "em semelhança da carne do pecado, pelo
pecado", para que, por esse meio, Ele pudesse realizar tal intento. Com um corpo
humano, viveu a Sua vida de perfeita obediência e comunhão com o Seu Pai. E,
pela sua morte nos reconciliou com Deus. Mas Deus prova o seu amor para
conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito
mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da
ira. Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de
seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua
vida.
"Ainda pecadores", descrevem aqueles que são por natureza e por
inclinação desobedientes. "Inimigos" significam aqueles que odeiam a Deus.
Assim, foi pelo homem sem ajuda e sem esperança, que Cristo morreu. A morte de
Jesus pôs o homem numa nova situação, em uma nova posição diante de Deus; numa
palavra, a morte de Jesus restabeleceu o relacionamento do homem com Deus. Não
só separados da comunhão, mas inimigos de Deus. Era necessário restabelecer
aquilo que foi perdido no jardim do Éden. O nosso Senhor Jesus se tornou homem;
e como homem se humilhou, até a morte e morte de cruz. Ele morreu na cruz a
nossa morte. O que era impossível para o homem, Deus o tornou possível. O que o
homem não podia realizar Deus realizou. O que o homem não podia fazer Deus fez.
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados.
O chamado de Deus a essa comunhão se tornou possível, porque
Ele se deu a Si mesmo por nós; e por meio da vida de Cristo implantada no
nascido de novo, este pode responder à esse chamado. A resposta à esse chamado
tem seu início na cruz, conforme o nosso Senhor disse: Entrai pela porta
estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e
muitos são os que entram por ela. Mateus 7:13. O nosso Senhor usou duas
figuras para explicar este fato: Porta e caminho.
Pela "porta" se dá o início da jornada cristã. Por ela, se
entra e se sai de um ambiente para outro. A riqueza destas duas figuras é muito
grande, a porta tipifica a nossa morte, a morte do velho homem. Não é possível
"caminhar" ou ter-se comunhão sem primeiro morrer para o pecado. A
porta antecede o caminho. A porta representa a nossa justificação e o caminho
tipifica o nosso andar com Deus. Não se vive à vida cristã, sem a vida cristã
para viver.
O propósito do nosso andar com Deus em Cristo é conhecê-Lo. À
medida que caminhamos com Deus, aprendemos a reavaliarmos como criaturas caídas,
não fortes e auto-suficientes como supúnhamos ser, mas fracas e totalmente
dependentes. À medida que caminhamos com Deus em Cristo, descobriremos que Ele é
a nossa suficiência – o nosso tudo – a nossa porção. Podemos expressar como
Habacuque expressou diante da ruína econômica ou outra privação qualquer:
Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que
decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que
as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; Todavia eu
me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação. O SENHOR Deus é a
minha força, e fará os meus pés como os das cervas, e me fará andar sobre as
minhas alturas. Habacuque 3:17-19.
Não poderia ser diferente para aquele que anda com Deus, pois
conhecendo-O se satisfará por completo, não precisando nem desejando coisa
alguma além disso – O Senhor é a porção da minha herança e do meu
cálice... No seu diário, Frank Laubach expressou assim, o seu sentimento da
presença de Deus: A descoberta mais importante de toda a minha vida é que uma
pessoa pode pegar uma cabana pequena e rude e transformá-la em um palácio,
simplesmente inundando-a com a presença de Deus. Em 1695, Madame Guyon, foi
aprisionada em Vinccennes, na França. Seu único crime era o de amar a Deus.
Todavia, por causa da sua vida em Cristo, a prisão lhe pareceu um palácio.
Ela comentou: As pedras de minha prisão se assemelhavam a rubis a meus olhos e
eu as estimava mais do que todos os aparatos brilhantes de um mundo de
vaidades.
Por que Deus nos chamou para andarmos com Ele? Porque Deus é um
Deus de propósito. E o propósito de Deus é que seus filhos sejam semelhantes ao
seu Filho, o nosso Senhor Jesus Cristo. Ora, o Senhor é Espírito; e onde está
o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto,
refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em
glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. II Coríntios 3:17-18.
Inicialmente fomos justificados pela fé em Cristo Jesus, isto
é, passamos pela "porta", o nosso velho homem foi crucificado; depois,
santificação e finalmente glorificação. De glória em glória estamos sendo
transformados à imagem de Cristo. É dessa forma que crescemos. Não desejamos
nos transformar em eruditos da Bíblia, não desejamos apenas que o Senhor
responda nossas orações, desejamos ser transformados à imagem do nosso Senhor de
glória em glória.Christian Chen. Os filhos de Deus não precisam se isolar
para ter comunhão com Deus. Eles são os templos do Espírito Santo. E
contemplando o Senhor, contemplando a glória do Senhor, por isso, são
transformados à Sua imagem. Esse é o "caminho". Após a salvação, o espírito
daquele que foi redimido nunca mais estará só; o Espírito Santo habita para
sempre no espírito dos que são de Cristo.
No momento da salvação se estabelece uma união entre o Espírito
Santo e o espírito do cristão. "Andai no Espírito" significa que o Espírito
Santo é a esfera do andar do cristão. Os salvos em Cristo caminham segundo a
orientação do Espírito Santo, caminham após o Espírito Santo, desejam estar
constantemente em Sua presença. Os cristãos devem caminhar segundo a comunhão
com seu Senhor e andam segundo a Sua orientação. Regozijamo-nos com o fato de
não precisarmos ser eternos bebês; mas com o fato de que podemos prosseguir na
expectativa de alcançar o alvo que foi posto diante de nós: Antes crescei na
graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a
glória, assim agora, como no dia da eternidade. II Pedro 3:18. Nenhum pai
ficaria satisfeito com o crescimento de seu filho se, dia a dia, ano após ano,
ele permanecesse o mesmo bebê frágil dos primeiros meses de sua vida.
Deus nos chamou para Sua própria glória. Nós fomos chamados por
Deus, não somente para termos os nossos pecados perdoados, ou simplesmente nos
levar para o céu; Ele nos chamou para participarmos da Sua própria glória. Ele
nos chamou de acordo com uma necessidade, Ele nos chama de acordo com uma
necessidade. Ele nos chama de acordo com Sua glória. Nas Escrituras, a glória é
algo indescritível, por outro lado, glória é sinônimo do próprio Cristo. Ele nos
chamou de acordo com o que Ele mesmo é, para que possamos ser semelhantes a Ele.
Portanto, o Seu chamamento é um grande chamamento, uma soberana vocação.
Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é
que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão
diante de mim, Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em
Cristo Jesus. Filipenses 3:13-14.
Que premiação é esta? O nosso chamamento é para refletirmos a
imagem de Seu Filho. Esse é o supremo "galardão". Nosso prêmio é para
participarmos de Sua glória. Deus, em Sua grande misericórdia, nos trouxe à vida
por meio da ressurreição de nosso Senhor Jesus, e por esta mesma vida nos
conduzirá até o Seu propósito final. Amém.
Solo Deo Glória.
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