sábado, 16 de fevereiro de 2013

FAMÍLA:PORTO SEGURO OU ONDE SOMOS FERIDOS

E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam. Gênesis 2.23-25
Introdução: Antes de tudo, creio que precisamos lembrar que nossa caminhada é na direção da intimidade com o Senhor Jesus Cristo e que a sua Palavra é a autoridade absoluta para nossa vida. Necessário também se faz lembrar, que somos incapazes por nós mesmos de fazer a vontade de Deus e por isso dependemos Dele inteiramente. Tendo em mente essas verdades podemos clamar ao Senhor por sabedoria para que possamos viver de maneira saudável nos nossos relacionamentos e especificamente na família.
Família: o barco e seus tripulantes.
A família é um núcleo de convivência, unida por laços afetivos, que costuma compartilhar o mesmo ambiente. Entretanto, esta convivência pode ser marcada pela felicidade ou por traumas causados por feridas profundas, amor ou amargura dependendo das bases em que está estabelecida, pode ser um centro de referência, onde aceitamos e somos aceitos pelo amor, ou uma mera pensão.
Um barco construído para navegar bem
. O capitulo 2 de Gênesis conta-nos uma história. Começando em Gênesis 1 vemos a atividade criativa de Deus em plena ação e ao final de cada parte da criação ouve-se um sonoro: "viu que ficou bom". Todavia, surpreendentemente em Gênesis 2 podemos perceber pela primeira vez Deus dizendo "Não é bom" (Gn 2.18). Não é bom o homem estar só. Deus criou o homem e lhe deu tudo que precisava para suas necessidades físicas, mas mesmo assim chega à conclusão que ele ainda precisava de alguma coisa. Então Deus forma alguém que o auxilie e lhe corresponda.
A palavra "auxiliar" no hebraico tem a idéia de suprir algo crucial que está faltando, e na maioria das vezes se refere a Deus, como no Salmo 54.4 que diz: "Certamente Deus é o meu auxílio; é o Senhor que me sustem" (Salmos 63:7). "Porque tu me tens sido auxílio; à sombra das tuas asas, eu canto jubiloso". Adão foi criado com um propósito que deveria ser cumprido juntamente com Eva. Além de auxiliadora ela deveria lhe corresponder, ou seja, uma criatura que nenhuma outra poderia ser, ou se encaixar. Charles R. Swindoll diz que esse era o objetivo de Deus: "União pura, desinibida, altruísta, abençoada, para ser vivida por duas pessoas, feitas uma para a outra. Sem barreiras. Sem conflitos. Sem constrangimentos. Sem inibições. Apenas intimidade." Imagine como viviam os dois, sem o problema que teriam a seguir.
Deus deixou em sua Palavra a bússola e o mapa para uma boa navegação desse barco chamado família. A primeira coordenada é a desvinculação: "Por isso, deixa o homem pai e mãe...". "Deixar", não deve assumir a conotação de abandonar, mas sim de priorizar a dedicação. Mesmo honrando e amando os pais, a esposa vem em primeiro lugar e o marido vem em primeiro lugar.
A segunda coordenada é a permanência: "... e se une à sua mulher...". Experimente colar duas folhas de papel e depois tente separá-las. Esse é o sentido da palavra "unir" que descreve absoluta dedicação, lealdade, amor e amizade. Não se refere a um grude doentio entre o casal, mas a um relacionamento sadio e forte para viver juntos em qualquer circunstância.
A terceira é a unidade: "... tornando-se os dois uma só carne". Tornar-se uma só carne não quer dizer uniformidade, mas unidade. Alguém já disse que Eva não foi criada para ser uma versão feminina de Adão. A palavra usada para UMA só carne enfatiza a unidade e ao mesmo tempo a individualidade. Jesus apresenta-nos como exemplo da verdadeira unidade: a Trindade Divina. São pessoas autônomas, porém, interdependentes e operando em conjunto em todas as realizações. Notamos que quando essa unidade não é bem ajustada uma pessoa controla a outra e tira sua liberdade. Não há espaço para desenvolvimento dos dons, diferentes opiniões sem haver conflito, nem tolerância para qualquer idéia contrária a do outro.
A quarta coordenada é a intimidade: "Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam". Eles não eram egoístas e o relacionamento era harmonioso e natural entre eles; "a união sexual deve ter sido a mais prazerosa e a mais gratificante entre tudo o que podemos imaginar". Viviam sem nenhum medo, inibição ou escolhas mal feitas. Pensavam somente na satisfação do outro. No entanto, sexo não significa intimidade. Intimidade é confiar sua vulnerabilidade com total confiança. "Quando o casal está capacitado a viver em completa intimidade, cada um exerce a sua responsabilidade principal no casamento – e as responsabilidades do homem e da mulher são diferentes". Charles R. Swindoll.
Navegando em águas agitadas
. Passando da beleza do cenário de Gênesis 1 e 2, mergulhamos numa realidade indesejada do capítulo 3. A tentação agitou o mar da vida do casal e o barco foi violentamente atingido pelo iceberg do pecado. "Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam" (Gn 2.25). "Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu. Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si". (Gn 3.6,7). Que desastre! Que conseqüências! Que morte! De repente o destino que poderia ser a vida eterna, passa a beirar a morte eterna. Uma decisão e um destino!
Todas as pessoas tomam decisões com base nas prioridades que têm em suas vidas. Podemos pensar em prioridade como sendo a relativa importância que damos a pessoas e a coisas. Uma pessoa sem-pre decide com base em um padrão de valores enquanto toma a decisão, e isto a influencia em maior ou menor intensidade, dependendo do grau de importância que ela confere a pessoa ou coisa en-volvida na decisão. Adão e Eva fizeram uma escolha que modificou a rota traçada por Deus para as suas vidas e isso atingiu diretamente o que eles tinham de mais importante com Deus e entre si: A INTIMIDADE.
...percebendo que estavam nus
... Adão e Eva começaram a ver tudo diferente. A nudez para eles nunca foi problema, a atenção deles era voltada para Deus e para o outro, mas agora seus olhos es-tavam voltados para si mesmos. Adão deixou de preocupar-se com Eva e concentrou-se nele próprio. Eva fez o mesmo. O que acontece quando num relacionamento familiar, cada um se preocupa consigo mesmo?
...coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si.
Eles se afastaram um do outro. Envergo-nhados, refrearam as emoções e impuseram limites à confiança um no outro. Agora tinham algo a esconder, não somente a nudez, mas com o caráter distorcido, também seus pensamentos e inten-ções. A liberdade foi castrada e o propósito da unidade estava sujeito ao fracasso. O sucesso desse relacionamento, manchado pelo pecado, dependeria de um processo de restauração da graça de Deus.
...esconderam-se da presença do SENHOR Deus
(Gn 3.8). Também fugiram de Deus. Do mesmo modo que o pecado os afastou um do outro, criou distância entre eles e Deus. Antes, viam a Deus como o criador que amavelmente lhes supria tudo, mas agora o pecado havia causado vergonha e medo. A pessoa envergonhada e humilhada, trás consigo uma síndrome de perfeição para si mesma e para todos à sua volta. Quando algo sai errado seu sentimento se transforma em ira e culpa. A culpa provém de uma ação errada. "Eu errei". A vergonha diz que tem algo errado em mim. "Eu sou o erro".
A seqüência dos fatos ocorridos no Éden não faz baixar a tempestade, pelo contrário, piora ainda mais a navegação. "Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi. Deus sabia o que tinha acontecido e não precisava interrogá-los, mas usou de graça para com os dois. Poderia tê-los julgado sem dizer uma só palavra, mas preferiu falar abertamente do pecado deles. Em cada pergunta o Senhor deu a Adão, e depois a Eva, a oportunidade de contar toda a verdade, arrepender-se e pedir perdão. Entretanto, em cada pergunta iam perdendo a oportunidade de confessar o seu pecado.
Adão, como o líder e modelo da criação humana poderia ter assumido sua responsabilidade e agido de maneira amorosa com sua esposa. "... porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da igreja" (Efésios 5.23a). Em vez disso Adão quando argüido por Deus, res-pondeu: "foi essa mulher que o Senhor me deu". Isso deve ter ferido o coração de Eva. O homem que se referia a ela como "osso dos meus ossos e carne da minha carne", a acusa para salvar a sua própria pele. Do outro lado e para se livrar, Eva esquivou-se da responsabilidade. "Disse o SENHOR Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi" (Gn 3.13).
Realinhando o curso do barco.
Como anda a navegação no seu barco? Todos os tripulantes estão presentes e nas suas devidas funções, sendo assistidos por você marido e esposa? Você gostaria de resgatar o rumo de sua família e mantê-la concentrada nele? Imagine a diferença no relacionamento entre Adão e Eva se a conversa tivesse transcorrido de outra maneira? Se mesmo após a desobedi-ência, ele tivesse confessado a Deus o seu erro e assumido a culpa protegendo sua esposa? Se você deseja que seu lar seja um porto seguro é preciso lidar com a realidade de maneira construtiva.
Gire 180º e olhe para a Cruz
. Quando uma família é impactada pelo amor gracioso de Deus, que nos aceita plenamente em seu Filho Jesus Cristo, podemos ouvir de Deus um suave sussurro: - "Quando você faz tudo certo eu te amo e quando você faz errado eu também te amo, te ensino e continuo te amando". Você pode expressar suas fraquezas. Jesus Cristo colocou tudo na sua morte e trouxe ressurreição a nossa vida. Esse amor incondicional faz-nos ver todas as coisas com outros olhos. Olhos de aceitação, perdão e renovação. Pare de culpar seus filhos, esposa, emprego ou circunstâncias. Arrependa-se, confesse a verdade ao Senhor; reconheça o plano original de Deus para a sua família e admita que errou o alvo.
Talvez você tenha cometido muitos erros no relacionamento com seu cônjuge e filhos, mas não permita que isso o impeça de transformar sua situação atual em motivo de louvor a Deus. "A esperança bíblica não nega a existência de problemas, mas crê que Deus é maior que qualquer um deles." Por isso as decisões erradas do passado não nos impedem de tomar decisões acertadas no presente e no futuro. "Nunca é tarde demais para começar a fazer o que é certo".
"Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo"  1 Coríntios 15.57 .


Soli Deo Glória.

A EXALTAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS 10

Imploro-te de todo o coração a tua graça; compadece-te de mim, segundo a tua palavra. Salmo 119:58
Nenhuma porção da Palavra de Deus é fruto das teorias produzidas pela religiosidade humana. Não é um mero conjunto de formulações teológicas produzidas na história da religiosidade judaica, perpetuadas e reformuladas com o nascimento da cristandade primitiva. Toda a Bíblia é o registro da ação Divina na história humana. Portanto, a Palavra jamais poderá ser encarada, mesmo que por pretensos teólogos em busca de novas “teorias teológicas” sobre a revelação do Pai, como uma realidade produzida pelo gênero humano.
O princípio hermenêutico de que “toda a Bíblia é Cristocêntrica em sua interpretação” é mantido e ensinado nos dias atuais e nos foi legado pela voz profética reformada de todos os grupos, considerados como minorias, desde os discípulos de Jesus até a igreja contemporânea. Esta chave interpretativa das Escrituras deve ser aplicada ao Salmo 119, considerando-o como uma parte da revelação da Palavra de Deus pré-encarnada: Cristo!
O Salmo119 é um poema de exaltação ao Logos Divino no contexto histórico da redenção e localizado no período do Antigo Testamento. Trata-se de um Salmo onde o Filho é personificado e exaltado como a Palavra do Pai, pré-encarnada na história da Sua redenção e revelada somente pela obra do Espírito! A dinâmica teológica do Salmo 119 é anunciar O Deus que age, Se revela e provoca o convencimento humano diante do impacto da revelação de Sua Pessoa e Obra.
Os princípios contidos no Salmo 119 são imutáveis e vão além de um conjunto de leis esporádicas e ritualísticas. Não são meras orientações passageiras com um “prazo de validade” vencido com a cessação da Antiga Aliança. Este Salmo nos fala de princípios, ensinados por Yahweh, aplicáveis nas mais variadas situações concretas da vida humana e tipificados na Pessoa e nos ensinos do Filho. Portanto, com origem e validade eternas.
Neste Salmo a revelação da Palavra de Deus é apresentada na forma de um processo que envolve os questionamentos e as inquietações humanas provocadas e respondidas pela revelação exclusiva dos ensinamentos Divinos. Este magnífico poema sálmico traz em seu bojo a suficiência da Palavra do Pai alimentando com saciedade a vida daqueles que Nele criam. Este princípio nunca foi, é ou será diferente em nenhum momento da historicidade da redenção!
Outro aspecto precioso ensinado no Salmo 119 está no fato de apontar que a revelação de Yahweh só acontece na medida em que Ele nos convence da Sua vontade em meio às situações concretas e práticas da vida humana. A revelação do Pai, mediante a Sua Palavra, só acontece porque é da Sua vontade soberana vir ao nosso encontro, nos amparando em nossas necessidades, dúvidas e angústias e com a consciência de que não temos nenhum merecimento em relação à Sua graça.
Todas as situações vivenciais do Salmo 119 são como “respostas do Deus que ama” e “quer consolar” aqueles que são convencidos a viver segundo a revelação da Sua Palavra. As únicas respostas às ansiedades humanas só podem vir da origem Divina. Não acontecem pela busca humana, mas, pela bondade do Pai celestial e amoroso. O Salmo 119 revela princípios da Sabedoria Eterna, que é personificada e vem do alto. Há muitos planos no coração do homem, mas o propósito do Senhor prevalecerá. Provérbios 19:21. Daí a necessidade de “implorarmos” pela manifestação da Sua graça em todos os detalhes de nossas vidas!
O Salmo 119:58 poderia ser traduzido assim: “Ó Deus, de todo o coração eu te suplico, por favor, ajuda-me como Teu amor, embora eu não mereça. Mostra o Teu cuidado e proteção carinhosa por mim, conforme aquilo que é ensinado em Tua Palavra”. Quando o amor Divino nos é revelado somos capacitados a depender da Sua graça! Só podem implorar de todo coração pelos cuidados Divinos aqueles que já foram alcançados pelo Seu amor.
Imploro-Te… Qual é o verdadeiro sentido deste implorar ou suplicar no contexto do salmista? Implorar seria uma atitude inevitável na vida daqueles que foram humilhados e por não se verem como merecedores da misericórdia de Yahweh? Assim como ocorreu na vida do salmista, esta súplica só acontece conosco na medida em que reconhecemos que sofremos de uma doença humanamente incurável: a nossa autossuficiência, que nos leva a catastrófica postura de autodependência em relação ao nosso Criador.
O salmista só pôde implorar por graça porque a revelação da Palavra de Yahweh lhe gerou uma espécie de enfermidade, que o fez sentir-se débil, exausto e afligido diante Dele. A única reação possível ao salmista foi prostrar-se em humilhação diante do Senhor, por causa da dor e da aflição causada pela revelação do seu próprio pecado. Desde os tempos do Antigo Testamento o processo Divino de nos mostrar quem somos é o mesmo: produzir a consciência da nossa miserabilidade causada pelo pecado e o desejo pela intervenção graciosa em nosso favor.
Há um texto profético que utiliza a mesma palavra relacionada a uma ferida causada por Deus, que reforça este princípio redentor e cristocêntrico, identificando e fazendo uma analogia deste fato com a nossa experiência em Cristo: Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou sobre si as nossas dores; e nós o consideramos aflito, ferido por Deus e oprimido. Isaías 53:4.
Imploro-Te… é uma expressão idiomática do hebraico que traz uma conotação de colocar uma pessoa em condição de inferioridade diante de alguém numa condição de superioridade ou soberania. Representa um tipo de carícia feita no rosto de outra pessoa. O implorar aqui é como se o salmista quisesse acarinhar o rosto de um Pai que está próximo e presente em qualquer situação, onde este Pai responde com ternura.
É como se Deus olhasse para cada um de nós e manifestasse a Sua ternura como a “melhor resposta” às nossas mais profundas súplicas. Implorar é uma oração relacional por misericórdia ou por socorro Divino. Isto só é possível na vida de pessoas que estão sendo constantemente quebrantadas.
O sentido sálmico de implorar não tem uma conotação negativa ou sem esperança e que se amolde aos conceitos e padrões humanos. É antes, a única postura que podemos ter diante de Deus. Só pode implorar pela graça Divina quem já foi “convencido” pela ação do Seu Espírito a buscar somente o favor do Pai como se nada merecesse.
É uma oração de que se vê como “mendigo espiritual”. De quem se vê totalmente indigno de qualquer favor Divino. Quem implora está com o seu coração aplicado em depender totalmente do Pai Celeste porque sabe que nada merece além de sua própria e justa condenação e banimento da presença Divina. Quando somos convencidos de que nada somos podemos experimentar Deus sendo quem Ele quer ser em nós.
De todo coração… o coração é a totalidade do ser humano. É tudo o que queremos, sentimos e pensamos. A expressão de todo coração faz cair por terra qualquer distinção entre a vida espiritual, de devoção a Deus e a chamada vida secular onde trabalhamos, estudamos, temos relacionamentos familiares, ou onde geralmente nos sociabilizamos. A noção bíblica de coração representa a inteireza do ser humano sem nenhum tipo de cisão entre o que somos e fazemos ou o desempenho de ações de acordo com os lugares onde estamos inseridos.
Deus não atua nas pessoas de modo esquizofrênico ou dividido. O coração, uma vez trocado é o centro da atuação Divina, apesar da imperfeição de nossas personalidades. Neste sentido não há lugar para as dissimulações e papéis representados superficialmente. Quando as nossas vontades, sentimentos e pensamentos são moldados pela vontade soberana do Pai, podemos realmente entender o que significa a experiência bíblica de confiar Nele “de todo coração”.
Há uma ótima tradução espanhola do Salmo 119:58 que diz: “tua presença eu suplico”. Implorar é fruto de uma “sede provocada”; é sede pela Pessoa de Deus manifestando a Sua graça totalmente imerecida por nós. A graça de Yahweh é uma realidade sem a qual o salmista não suportaria vier. Poderíamos dizer o mesmo? Suportaríamos viver sem a ação graciosa do Deus que nos amou em Cristo? Se alguém achar que pode viver sem a graça do Pai aplicada a qualquer aspecto de sua vida ainda não foi convencido de sua “real condição humana” diante do Criador e Redentor.
Deus age no sentido de revelar quem realmente somos e então podermos suplicar a Ele pela única alternativa que nos resta: a Sua graça! Só implora a graça quem foi afligido, desfalecido, enfraquecido ou adoecido pelo Espírito de Deus, sendo levado a enxergar a sua encruzilhada e clausura existencial. As pessoas que receberam a revelação da sua própria enfermidade espiritual suplicam pelo Médico Divino. Implorar significa “concordar com Deus” sobre a nossa verdadeira condição de carentes perante Ele!
Só quem foi verdadeiramente humilhado pelo Senhor poderá buscá-Lo com autenticidade e recorrer a Sua graça. A força apelativa do verbo hebraico “implorar” está na intensidade da humilhação que Deus “já produziu” em alguém. Somente quem já passou por esta experiência está apto para implorar por graça. Significa assinar o atestado de incompetência humana até para buscá-Lo.
Uma lição maravilhosa que podemos aprender desta porção da Palavra de Yahweh é o que o salmista nunca vislumbra ou vê a possibilidade de mérito próprio. Ele jamais exige de Deus; ele suplica a Ele. Esta é a verdadeira atitude que nos faz verdadeiramente conhecer quem é o Pai que se revela no Filho pela ação do Espírito.
É somente pela ação do Espírito que somos convencidos de que não temos chance alguma de termos uma vida que faça algum sentido sem que tenhamos sido alcançados por este amor invencível da graça do Pai. Só podemos viver a verdadeira dimensão da graça Divina quando somos vencidos pela revelação deste tipo de “amor que vem do alto” e é único. Ninguém jamais foi contentado por viver ancorado apenas numa “ideia sobre a graça de Deus”. A única coisa que realmente satisfaz a nossa existência é sermos impactados, imergidos e saciados por esta graça que desce do alto, vem em nossa direção e sem que haja nenhum merecimento nosso.
Só imploramos a Deus quando “de fato” não vemos mais nenhuma saída em, por e para nós mesmos, a não ser pela Sua graça, totalmente imerecida por nós, operante em nosso favor e motivada pelo Seu amor! Que possamos ser ensinados a implorar pela graça deste Pai Amoroso e a permitir que somente Ele nos ensine sobre a Sua vontade em todas as coisas pela revelação da Sua Palavra!
 
Soli Deo Glória.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O DESVENTURADO LOUVADOR

Desventurado homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Romanos 7:24
Nestes dias temos meditado sobre as palavras de Paulo e suas implicações descritas no capitulo sete da carta aos Romanos. Paulo, neste capitulo, manifesta coragem e franqueza diante da palavra de Deus, quando confrontado e humilhado por esta mesma palavra. “E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom.” Romanos 7:12.
Esta coragem e esta franqueza, que para o mundo atual mais parece fraqueza, não são atributos inerentes a Paulo, como uma qualidade moral já existente em sua vida, pois ele mesmo declara neste capitulo: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne não habita bem algum.” Romanos 7:18a.
Na verdade, a atitude de dizer não à tanga costurada pelo próprio homem quando Deus vem ao nosso encontro, é a única atitude possível para aqueles que foram flagrados em seus pensamentos íntimos, e tiveram seus corações esquadrinhados nas suas motivações, como foi o caso de Paulo no caminho de Damasco. “E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu”. Atos 9:3.
Diante dos holofotes da glória de Deus, do verbo que se fez carne, Jesus Cristo, que lhe apareceu no caminho de Damasco, qualquer outra atitude seria tola. A única atitude para o homem Saulo e para qualquer outro homem, amparada pela verdadeira sabedoria é, na verdade, a rendição plena de alguém que se viu réu confesso.
Esta rendição se expressa pela sua face estendida no pó. “E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Atos 9:4. O rosto em terra é a ação produzida pela visão de Jesus Cristo ressurreto. Esta visão faz com que o homem tenha um encontro com a terra; este encontro nada mais é do que um encontro consigo mesmo, com sua essência de pó, de humos, de humano, como nos ensina as escrituras. Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó. Salmos 103:14.
Como deixa claro o salmista, Deus sabe de nós e conhece a nossa estrutura. Nós é que precisamos ser lembrados deste fato, pois, logo que o pó ficou em pé, a altura entre o chão e sua cabeça, por menor que fosse, foi suficiente para surtá-lo, e para que ele se achasse no céu e se visse na possibilidade de ser como Deus em si mesmo.
Este é o tamanho da presunção por trás da proposta da serpente que se instalou no homem de forma essencial depois da queda. “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.” Gênesis 3:5. O desejo de ser como Deus: Eis aqui toda a escuridão em que o homem se encontra.
A questão é que diante da luz que veio ao mundo, toda treva é dissipada, pois treva alguma pode prevalecer diante da Luz verdadeira que ilumina a todo homem. Diante da luz que é Jesus, esta Luz, ao mesmo tempo em que nos cega para tudo aquilo que nos distrai e que está fora de nós, tem o poder de expor a nossa realidade. Ela ilumina o nosso interior, nos dando a condição de nos enxergar por dentro; de vermos nossas motivações ocultas.
Por esta razão, não existe espaço para as trevas. “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e contra ela as trevas não prevaleceram. João1:4-5”. Portanto, uma vida que rejeita a verdade por dura que seja é uma antecipação da morte. Neste caso, o individuo está morto pelo simples fato de viver uma vida de mentira e, uma vida de mentira não é vida.
Diante de Jesus, até a ação de abraçar as trevas fica clara como o sol do meio dia. O paradoxal é perceber que a escolha pela vida de mentira se dá pela tentativa de escapar da morte, sem a devida confiança no caráter de Deus, o qual diz que: só escapa da morte quem morre. “Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.” Lucas 9:24.
A primeira reação diante da aterradora visão de Cristo e a verdade do que Ele é, surge justamente na tentativa da afirmação de si mesmo, enquanto velha criação ou, da negação de Jesus Cristo, como a Nova criação; o que de fato, são dois lados da mesma moeda e que, por esta razão, leva apenas à um destino - o destino de ser contado entre aqueles que crucificaram a Jesus em suas vidas.
Isto parece duro, mas ainda que não tenhamos participado do fato histórico, isto é justamente o que significa o simples fato de, muitas vezes, querer viver uma vida ética ou religiosa, interessado apenas no “status quo” porém, na dependência de si mesmo, como fizeram os religiosos contemporâneos de Jesus. “Caifás, porém, um dentre eles, sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: Vós nada sabeis, nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça toda a nação.” João 11:49-50.
A questão aqui é de amor. Quem nós amamos mais? A luz ou as trevas, a verdade ou a mentira? A pílula vermelha ou a pílula azul? “O juízo é este, que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; pois eram más as suas obras.” João 3:19. Como no filme “Matrix,” muitos preferem viver a ilusão do mundo, em detrimento da vida do reino de Deus. Isto porque, ninguém entra no reino de Deus sem dar razão a Deus. E dar razão a Deus é, necessariamente, caminhar para a cruz.
Aquilo que parece fraqueza para o mundo, mesmo no contexto religioso, que prefere a mentira dos “justos” - tipificada na oração do fariseu, “Deus graças te dou, porque não sou como os demais homens” - do que a verdade dos falidos confessada pelo publicano - “tem misericórdia de mim pecador” - é justamente a diferença entre a vida e a morte.
Se formos despertados para o amor à verdade, veremos que não precisamos nos ocultar e nem viver nas sombras. Então, ainda que em angústias e sudorese sanguíneas - como Cristo no Getsêmani – tomaremos o caminho do Calvário; da negação de nós mesmos, dizendo sim ao discipulado de Cristo que “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, esse a salvará. Lucas 9:23-24
Sabemos que isto envolve angústia, haja vista o desespero de Paulo. O grito de Paulo é sua carne exposta. Este grito revela a angústia de alguém que teve seu peito aberto pelo bisturi de Deus. Sim, a palavra de Deus, quando enviada por Deus para operar na vida de uma pessoa, vem e age como um bisturi tendo em vista sua precisão.
Mas, na verdade, a palavra é Sua espada afiada nos dois gumes. “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e as intenções do coração”. Hebreus 4:12.
Para uma sociedade como a nossa e para a religião deste mundo, pautada na aparência e não na verdade - que precisa parecer ser o que de fato não é - tal exposição de Paulo é muito chocante, e não deve ser praticada. Antes, os seus integrantes devem ocultá-la, sob pena de não serem mais aceitos entre os falsos perfeitos.
Para o mundo, a imagem e a semelhança de Deus não são necessárias, basta a imagem. Mas Deus, que não abre mão de um til em sua palavra, diz que para Ele não basta ter a imagem; a semelhança é fundamental. Em outras palavras, não basta a forma, uma vez que o conteúdo é condição “sine qua nom”: “ façamos o homem a nossa imagem conforme a nossa semelhança”.
Tudo seria muito triste, sombrio e pessimista se não houvesse a ressurreição. Como disse o próprio Paulo, poderíamos nos banquetear enquanto aguardávamos a morte. Toda maldade seria natural, esconder seu mau cheiro era só o que poderíamos fazer. Nas sombras construiríamos nossas casas em condomínios cada vez mais fechados, onde pudéssemos esconder nosso rancor, ganância, desamor e falta de sentido para a vida.
Mas, Paulo deu graças. Por que? Porque Jesus ressuscitou. O desventurado louvador, que se viu réu, achou lugar para o arrependimento. Lugar onde ele poderia confessar todos os seus pecados e deixá-los, certo do perdão. “Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor.” Romanos 7:25a.
O desventurado louvador deu graças a Deus por Cristo Jesus, pois Cristo deu a condição para que o amor de Deus, que é santo, chegue aos pecadores. “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” Romanos 5:8.
O desventurado louvador deu graças, não só por que se descobriu amado por Deus, mas também porque em Cristo agora se viu amando a Deus. Deu graças, não só porque em Cristo não havia mais condenação sobre ele, mas porque também agora, não se via mais em condição de condenar ninguém. O desventurado louvador deu graças, não só porque em Cristo foi perdoado de todo pecado, mas porque agora o pecado não era mais o senhor de sua vida. “Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Romanos 8:2.
Não é o fim descobrir a verdade do que somos, quando sabemos que somos amados por Deus o Pai. Não é o fim saber quem somos, quando descobrimos que o que somos, foi crucificado com Deus, o Filho. Não é o fim saber que em mim, isto é na minha carne não habita bem algum, quando descubro que não sou mais escravo do mal, pois fui liberto pela lei de Deus o Espírito. Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. Gálatas 2:19-20.
 
Soli Deo Glória.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

DOENÇAS FAMILIARES

Então se chegou a ele a mulher de Zebedeu com seus filhos, e adorando-o, pediu-lhe um favor. Perguntou-lhe ele: que queres? Ela respondeu: Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda. Então se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu, dizendo-lhe: Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir. E ele lhes perguntou: Que quereis que eu vos faça? Responderam-lhe: Permite-nos que na tua glória nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda. Mateus 20:20-21 e Marcos 10:35-37.
Parece que há uma certa discrepância aqui nas narrativas dos dois evangelistas, pois Mateus sugere que foi a mãe dos discípulos quem fez o pedido, porém Marcos mostra os próprios discípulos apelando a Jesus. Entretanto, não me parece que haja propriamente uma contradição, desde que Mateus se refere à mãe juntamente com os seus filhos, entrando com o pedido. É possível que a mãe tenha falado em primeiro lugar e que os filhos logo em seguida tenham tido a ousadia de expressar os seus sentimentos.

Neste episódio há outros elementos igualmente intrincados nas entrelinhas que devemos considerar com mais atenção. Creio que os dois relatos vêm revelar algo muito além de uma possível contradição textual, uma vez que estamos diante de uma relação familiar um tanto complexa. Aqui vemos a mãe se antecipando na tentativa de resguardar uma posição de destaque para os seus filhos, já que está em jogo neste apelo a proeminência dos seus rebentos no cenário do reino de Cristo.

A solicitação daquela senhora evidencia uma necessidade de realce sobre as outras pessoas, o que de certo modo, confirma uma característica de inferioridade. Talvez possamos observar nesta aspiração algo semelhante a um rebaixamento emocional, porque a família mostra sintomas de aviltamento. A preocupação com o relevo dos rapazes assentados na plataforma principal demonstra uma deficiência no conceito da personalidade. Muita gente inferiorizada precisa de assessórios especiais para compor sua imagem no palco das apresentações carentes.

O pecado deformou a dignidade do ser humano e vemos os nossos primeiros pais usando os seus aventais como ornatos para tentar cobrir a nudez e compensar sua imagem perante a face de Deus e a opinião do outro. Daí em diante a raça de Adão foi invadida por todos estes mecanismos de regulagem que servem, de alguma forma, para indenizar os prejuízos causados com a falta de valor pessoal. Assim sendo, muitos expedientes não essenciais têm sido agregados à pessoa, a fim de lhe garantir aceitação no meio social. Observe, por exemplo, como a grife dos estilistas ganha peso na apreciação dos mais carentes.

Somos uma sociedade de carentes emocionais e quanto mais desprovidos dos valores essenciais da pessoa humana, mais necessitados nos sentimos dos recursos anexos para garantir nossa aceitação no contexto da coletividade. Todas as pessoas portadoras de um sentimento subalterno vão sempre se considerar em desvantagem com relação às outras, e vão tentar, de alguma forma, buscar um certo qualificativo que possa acrescentar um sentido de importância à sua identidade.

Os dois discípulos de Jesus dão a entender que sofrem de um mal profundo de mendicância psicológica e que esta insuficiência era um problema familiar. O protecionismo pegajoso da mãe estampa uma grande falta de equilíbrio na educação dos seus filhos e uma ausência maior de limite, impondo seu anseio dominante aos marmanjos imaturos. Os pais enfermos adoecem sua prole. Um lar carente de aceitação propõe todo o tipo de ascendência social, para que os filhos sejam reconhecidos. Nada pode ser mais trágico no processo educativo do que oferecer alternativas de significado, baseadas nos atributos adicionais de importância familiar, poder, riqueza, posição e títulos.

A proposta da mulher de Zebedeu é uma clara manifestação de falta de princípios éticos e uma característica marcante de uma pessoa dominadora que sufoca os filhos com suas ambições de grandeza. O medo da rejeição insuflado pelos anseios de reconhecimento faz uma pessoa se tornar ridícula, buscando aceitação a qualquer custo, por isso que o estilo manipulador de uma personalidade autoritária sempre converte um favor em mandamento. Os traços típicos da doença arrogante se evidenciam no papel político da manipulação que bajula aquele que se encontra no alvo dos seus interesses, a fim de levar vantagem.

A dona fulano-dos-anzóis-carapuça era uma enferma psicológica que assediava a vítima do seu bote, no caso Jesus, com veneração. Adorando-o pediu-lhe um favor... Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem... A estratégia do insano emocional é conquistar os seus objetivos proveitosos usaando as pessoas com elogios e louvação, como se fossem meras agências de corretagem. Conhecendo a fragilidade humana e a profunda carência de atenção que todos nós temos, o aproveitador lambe as feridas dos despojados com cuidados especiais e lisonjas, para em seguida apossar-se do seu intuito. Assim, a mulher queria fazer de Jesus um mero trampolim para alcançar seus propósitos.

A doença familiar é contagiosa. A mãe dominante e ambiciosa acabou propagando o apetite da grandeza nos seus filhotes, uma vez que Tiago e João estão agora cobiçando as cadeiras do trono. Sendo portadores de uma natureza soberba em conseqüência do pecado, e criados num ambiente pressionado pela grandeza, eles foram invadidos de um sentimento de importância que só se importa com as coisas elevadas e os lugares realçados. Noa seio de uma família oprimida pela patologia da miséria, freqüentemente um complexo de superioridade assume o comando que impulsiona toda energia para o tope do poder.

A atmosfera envolvente da família ambiciosa gera uma paixão contida pela glória inebriante e, ao mesmo tempo, um anseio irreprimível pela exaltação do homem. Trava-se, então, a luta entre os conceitos morais da humildade social e os desejos incontroláveis do coração intrigado com sua grandeza, econhecimento e domínio. Num contexto complexo de sentimentos abafados, em que entram o desejo, o medo e a fantasia, o paciente febril se perde num jogo de conveniências e interesses, procurando um lugar onde possa exibir seus talentos aperfeiçoados, a fim de ser aceito.

Jesus põe o dedo na ferida quando trata com os dois discípulos cegos de ambição, propondo um antibiótico de última geração.Para esta vida contaminada pelos vírus nobilíssimo e nobilitante só há um remédio a ser prescrito, o xarope amargo do Calvário. Mas Jesus lhes disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo ou receber o batismo com que eu sou batizado? Marcos 10:38. Os discípulos responderam que podiam, e o Senhor mostrou claramente, que só o cálice amargoso da cruz com o seu batismo na morte era capaz de curar o mal universal da teomania e a insidiosa doença familiar da glorificação pessoal.

A raça humana padece de uma hipertrofia exagerada na personalidade e cada pessoa sofre de um mal que só pode ser diagnosticada como a macromegalia-ególatra exibida, com a presunção de "top of mind". A única terapia eficiente e eficaz para esta moléstia tão grave é a morte do esnobe exibicionista na mesma cruz com Cristo. Não há outro medicamento na face da terra capaz de curar a doença da alma, mais difícil de diagnosticar, pois muitas vezes seus sintomas estão dissimulados com a máscara da espiritualidade mística ou disfarçados em humildade farisaica.

Não podemos brincar com a nossa saúde espiritual, já que Deus providenciou uma saída adequada para solucionar este problema. Tiago e João foram curados deste mal comum, com o genérico da farmácia divina, na crucificação com Cristo, e nós, também temos garantido o nosso tratamento permanente no mesmo hospital da graça, onde os dois discípulos enfermos forma clinicados. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Romanos 6:11.

Nenhum cristão autêntico pode almejar ser ilustre no mundo em que o Senhor do universo viveu como um pobre desconhecido. Na terra em que Jesus estabelece o seu reino com uma bacia nas mãos, lavando os pés de pescadores, eu não posso pensar numa coroa enfeitando a minha cabeça. Toda necessidade de ser importante ou reconhecido perante o mundo reflete uma distorção profunda no caráter daquele que se diz ser filho de Deus. Mas os discípulos de Jesus entalhados no Calvário jamais trocarão a glória da cruz pelo brilho fosco de uma mídia alucinada pela notabilidade, nem pelos aplausos tolos das platéias ávidas por ídolos. Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou. 1 João 2:6. Neste planeta onde Deus foi, por mais de três décadas, um habitante humilde sem qualquer sinal de importância, eu não devo me envolver com as migalhas medíocres de uma estimação que nada vale perante os critérios dos céus. Gosto de ler um pensamento de Andrew Murray neste contexto, que bem define o caráter de um cristão autêntico: Como a água se infiltra nos lugares mais baixos, assim Deus lhe sacia de sua glória e poder quando o encontra humilhado. Uma pessoa que busca sua importância naquilo que é insignificante para Deus, acaba perdendo todo o significado de sua existência, para Deus, neste mundo, mas aquele que traz as marcas de Cristo pode viver com o mesmo sentimento de Cristo. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também com Cristo Jesus... a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Filipenses 2:5 e 8.
 
Soli Deo Glória.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O QUE SOMOS ?

 
Como sou infeliz! Quem me libertará desse corpo destinado à morte? Romanos 7:24.
Quão difícil é admitir que somos infelizes! Como é difícil refletir sobre as suas causas uma vez que ela pode estar presente, ainda que nada especificamente nos falte. Somos propensos a transferir a responsabilidade da nossa infelicidade para algo fora de nós. Pois, julgamos que a causa da mesma está em não possuir “coisas”.
Diferentemente do que julgamos ser a causa de nossa infelicidade, através das Escrituras somos levados a ver que, o nosso problema ou, a causa da nossa infelicidade, está dentro de nós.
E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Gênesis 6:5. Esta é a condição de todo homem perante Deus. Isto significa que a nossa infelicidade vem de dentro de nós - “imaginação dos pensamentos”. Além do mais, não só somos infelizes, mas também agressivos.
O apóstolo Paulo fala desse comportamento agressivo de forma assustadora. Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só.
A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos. Romanos 3:10-18.
Esta é a revelação mais completa e conclusiva da condição do homem. Ela condena a pecaminosidade do homem, lançando alicerces seguros para que dela possamos ter convicção justa, sob dois aspectos: Primeiro, o homem corrompeu os seus caminhos – fruto inevitável de uma natureza rebelde. Segundo, a inabilidade do homem em reconhecer e agir em função desta verdade que revela a extensão de sua depravação.
É um quadro triste, mas verdadeiro, do estado a que chegamos. Não estamos sendo “responsabilizados” por qualquer transgressão ou pecados particulares, isto é, não somos pecadores porque pecamos, mas pelo estado a que eles nos fizeram chegar, numa herança ininterrupta desde Adão.
Todos se afastaram de Deus, a fonte da Vida, e, como resultado, a humanidade se tornou podre, corrupta e completamente inútil para Deus. Nem uma única alma faz algo que é bom, porque “todos estão podres até o âmago”: Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um. Romanos 3:12.
“A sua garganta é um sepulcro aberto, com as suas línguas tratam enganosamente”. Este é o abismo devorador dos homens. Talvez nada demonstre a perversidade do homem mais claramente do que o vil desvirtuamento da nobre faculdade da fala.
A garganta é comparada com um sepulcro aberto, o que pode sugerir o desejo de devorar a sua vítima escolhida ou, a poluição que é espalhada pelos maus odores da corrupção. Por outro lado, a língua enganadora alcança seus desígnios maldosos através das palavras adocicadas da lisonja.
O horrível quadro se conclui assim: “Os seus pés... seus caminhos... não conheceram o caminho da paz”. Pés devastadores e impiedosos que esmagam, caminhos de destruição e gritos de miséria deixados por onde passam, e tudo isto porque não conheceram o único caminho da paz.
A conclusão dessa manifestação monstruosa emana de uma “desconsideração” dos nossos primeiros pais, por não crerem na palavra de Deus. Somos frutos de uma só desobediência. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Romanos 5:18.
“Assim também por um só ato de justiça”. Eis a grande mudança! Há esperança para nós, homens mergulhados no caos. Deus interveio: “a graça se manifestou salvadora a todos os homens”. Todos nós estávamos sob a condenação e nada podíamos fazer por nós mesmos.
Portanto, se o homem que merece a punição tem de escapar da mesma, isto terá de ser através da extensão da misericórdia de Deus, da extensão de Sua própria natureza, que é amor. Ali se acharam em grande pavor, porque Deus está na geração dos justos. Vós envergonhais o conselho dos pobres, porquanto o SENHOR é o seu refúgio. Oh, se de Sião tivera já vindo a redenção de Israel! Quando o SENHOR fizer voltar os cativos do seu povo, se regozijará Jacó e se alegrará Israel. Salmos 14: 5-6-7.
Quando toda a raça humana, representada por Adão, estava, perante Deus, condenada, perdida, arruinada como uma massa de miséria e de pecado, sem mostrar vergonha, sem derramar uma lágrima, sem dar um grito, sem proferir um pedido de socorro, a misericórdia divina prometeu o Salvador na pessoa de um Deus encarnado que desceu à terra.
Tudo era tenebroso quando essa chuva benfazeja veio sobre a terra: E, quando o orvalho descia de noite sobre o arraial, o maná descia sobre ele. Números 11:9. A cegueira de espírito cobria o mundo como um espesso véu, mas o maná descia sobre ele. Com a vinda da manhã, dissipava-se a camada de orvalho, e deixava-se ver claramente o maná. Foi assim que, tempos depois, nosso Deus se fez homem para retirar a “camada de orvalho” que se estendia sobre todos os homens.
. Assim como O sol dissipava a camada de orvalho para que eles pudessem ver o maná, assim também, o Sol da Justiça dissipou as trevas para que pudéssemos ver o tesouro, o nosso Senhor Jesus, o único alimento de nossas almas, o nosso tudo.
O nosso Senhor Jesus era a justiça de Deus personificada no corpo humano. Viveu nesta terra, tão perfeito como Deus é perfeito; sempre puro como os raios do sol. Sua impecabilidade era exigida pela redenção. Aquele que se manifestou para resgatar as almas de seus pecados devia ter uma alma isenta de pecado.
Os pecados dos pecadores são infinitos, a injustiça de cada alma é sem limites; contudo, aquele que se entrega aos cuidados do Salvador, que se reveste de Sua justiça, descansará sob a ilimitada graça e justiça de Jesus Cristo. “Por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens”.
O custo desse ato de justiça foi “gratuito” para nós. Mas, foi pago por Aquele que deu Sua vida “em resgate de muitos”. O coração do Evangelho é o fato de que na cruz Deus publicamente propôs Cristo como uma “oferta propiciatória,” como o meio escolhido para satisfazer as exigências da justiça divina. Isto significa que Deus em Cristo imputa Sua justiça sobre o injusto.
E o momento dessa transação se deu na Cruz. E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isto, significando de que morte havia de morrer. João 12:32-33. O nosso Senhor Jesus Cristo, ao ser levantado da terra sobre a cruz, nos atraiu para Si.
Levantado na cruz, entre Deus e o mundo, e levando sobre Si o pecado de todos os homens, Cristo tornou-Se o ponto de atração para todo homem vivente. O propósito dessa atração era para que o homem fosse restaurado à comunhão com Deus e com Jesus Cristo. Jesus tornou-se o centro de atração para todos, porque todos os homens estavam separados de Deus.
A cruz é o instrumento de Deus para que, por graça, todos venham a Jesus e encontrem a Vida pela morte do Salvador. Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna. João 12:24-25.
Era chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem. Ora, para tal, era necessário que o precioso grão de trigo, caindo na terra, morresse. Se não morresse, ele ficaria só. O Nosso Senhor enfrentou a morte, e morte de cruz. E, nesse momento, a nossa natureza espiritual, condenada por Deus, entrou no corpo do nosso Senhor Jesus Cristo. Fomos unidos na Sua morte e também em Sua ressurreição.
A porta de entrada para sermos salvos de nós mesmos é pela nossa identificação na morte e ressurreição de Cristo. Somos agregados à família de Deus pela morte. O novo nascimento advém da morte. Insensato! O que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. 1 Coríntios 15:36.
Todo aquele que está fora de Cristo está sob o peso do pecado. “Aquele que tem o Filho tem a vida” e aquele que tem a vida tem a justiça também. Assim como a imputação do pecado foi uma realidade para Cristo, a imputação da justiça ao que crer, também é uma realidade.
O verdadeiro e incontestável fundamento da paz é este: que as exigências da natureza de Deus, quanto ao pecado, foram perfeitamente satisfeitas. Os sofrimentos do Cordeiro constituem o esplendor e a glória da revelação de Deus. Tire a cruz, cale-se o brado da morte: a que se reduz a mensagem do Evangelho?
Mas, bendito seja Deus que a cruz é uma realidade viva. A cruz se eleva até o mais alto dos céus. Um Deus homem nela derramou o sangue; a espada da justiça foi enterrada inteiramente em Seu coração.
O lado traspassado de Cristo é a obra de Deus; o refúgio preparado por Deus para os que Nele se refugiam - a Rocha eterna. Eis que eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo beberá. E Moisés assim o fez, diante dos olhos dos anciãos de Israel. Êxodo 17:6.
A água da rocha que dessedentou os peregrinos no deserto tinha um sabor doce e refrescante. Para os filhos de Deus, são ainda mais doces e refrescantes as águas que saem da verdadeira Rocha, que é Cristo. Por certo, todo aquele que bebeu dessa água deseja beber mais e mais.
Alegrai-vos, glorificai, filhos de Deus, nesta cruz única, ela é suficiente, o seu preço foi suficiente. Bendito seja o nosso Senhor Jesus! O Seu único sacrifício foi a salvação plena. Desgraçado de mim se rejeitá-Lo. Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. João 4: 14.
 
 
Soli Deo Glória.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

AGRADÁVEIS A DEUS EM CRISTO

 
E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. Mateus 3:17

A expressão “Este é o meu filho amado, em quem me comprazo” está registrada no livro de Mateus, em três momentos. O primeiro registro aparece no texto que escolhemos como base deste estudo. Logo após o batismo de Jesus os céus se abrem para Aquele que é digno de adoração – Jesus, objeto de toda a afeição de Deus na terra. O Espírito Santo desce sobre Ele de forma visível. E Ele, Homem na terra, toma o Seu lugar com os pecadores.
Jesus é em Si mesmo, o objeto sobre o qual os céus se abrem. O Céu olha para Jesus como perfeito alvo do Seu amor. O Pai se deleita no Filho, o Homem obediente na terra – o verdadeiro Pastor.
O segundo registro aparece na confirmação do Seu propósito aqui na terra: Para se cumprir o que foi dito por intermédio do profeta Isaías: Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo aos gentios. Mateus 12:17-18. Esta citação de Isaías 42:1-4, evidentemente, foi introduzida no livro de Mateus pelo Espírito Santo, para que a posição do Senhor ficasse claramente configurada, antes de se abrirem as novas cenas que testemunham a Sua rejeição.
Observa-se nessa passagem que não lhe é dado o título de Filho, mas de Servo, revelando assim, a Sua missão pela qual Ele veio a este mundo - Servir. Deus-Homem entre os homens, em perfeita harmonia com o Seu caráter. Harmonia em que, a Graça e a Verdade iriam atuar no mundo condenado por causa do pecado. Porquanto, agora, na soberana Graça de Deus Pai, é o Filho, como Servo, que vem trazer descanso ao cansado e libertação aos cativos.
O Seu total esvaziamento em forma de homem, na condição de um servo, a morte ignominiosa como um malfeitor e a Sua ressurreição: estas são as etapas do caminho que O levou à glória.
O terceiro e último momento em que aquela expressão aparece foi no monte da transfiguração: Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis, vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi. Mateus 17:5. Novamente, o Pai proclama que Seu Filho é o objeto de toda a Sua afeição; que encontra Nele todo o Seu prazer. E, a ênfase aqui está em “a Ele ouvi”. É a Ele que os discípulos devem ouvir.
Cristo está ali só, não mais a lei na figura de Moisés e nem Elias tipificando os profetas. Moisés e Elias saem de cena, eles não falam mais. Cristo está ali só, como Aquele que deve ser glorificado e ouvido.
Deus fala do Seu Filho aos discípulos, não como sendo digno do amor deles, mas como objeto das Suas próprias delícias. O Filho é o alvo de todo o prazer do Pai, assim como, no Filho, também nós tornamo-nos alvos do Seu amor.
Que maravilhosa e divina condescendência! Aquele que sonda os corações entregou o Seu próprio Filho à vontade da Criação. E aqueles que O receberam foram colocados numa mesma relação com o Pai, isto é, foram feitos também objetos do amor do Pai. Isto significa que, em Cristo, nos tornamos alvos do Seu amor: Para louvor da glória de sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado. Efésios 1:6.
Observem que no texto não está escrito que nos tornamos agradáveis a Deus em nós mesmos. Se isto fosse possível haveria diferentes graduações pelas quais seriamos contemplados. Isto é, Ele se agradaria mais de um do que do outro. E, isto não condiz com o caráter de Deus. Fomos feitos agradáveis a Deus somente em Cristo. O mais débil e fraco crente está no mesmo nível daquele considerado como o “mais notável e brilhante entre os crentes”.
Este é um dos fundamentos da fé cristã: “tornados agradáveis a Si, no Amado”. É por isso que só em Cristo temos a medida daquilo que somos incapazes de avaliar porque, Ele é, de maneira completa e adequada, as delícias de Deus. .
A maravilhosa verdade é que: Nós nos tornamos agradáveis a Deus pelo fato de estarmos em Cristo, e não porque fizemos ou deixamos de fazer algo. O único fundamento seguro, que nos mantém conscientes da nossa aceitabilidade e agradabilidade diante de Deus, está no fato de estarmos em Cristo.
Não caia na tentação de pensar assim: “Hoje foi um dia maravilhoso, li a Bíblia, orei e preguei, por isso, Deus se agradou de mim e me sinto muito bem diante Dele”. Ou então: “hoje foi um dia péssimo, não orei, não li a Bíblia, não evangelizei, por isso, eu sinto que desagradei a Deus”. No momento em que acharmos que podemos agradar a Deus lendo mais a Bíblia, orando mais ou agregando qualquer outro elemento “religioso” para sermos aceitos diante Dele, estaremos negando o sacrifício de Cristo.

O grande fato é que Deus Pai está plenamente satisfeito com Seu Filho. E se você está seguro quanto à sua experiência em Cristo, Deus está satisfeito com você. É indispensável que se tenha no coração este fato: Que Deus olha tudo a partir de um único ponto de vista; avalia tudo por uma única regra; prova tudo por um único critério, e que governa tudo por meio de Cristo.
Tudo foi feito para Cristo e tudo sem Cristo nada tem valor. Muitos serviços podem ser realizados e oferecidos através de nossos lábios e de nossas mãos, mas aos olhos de Deus será levado em conta somente o “serviço” que procede da Vida de Cristo em nós.
O propósito de Deus é Cristo. O que precisamos aprender diante de Deus é que: Ele nos deu Seu Filho. Tudo o que Deus nos quis dar, Ele nos deu em Seu Filho. Deus não nos deu “coisas espirituais”; Ele nos deu a Si mesmo no Filho.
Pessoalmente, Ele é a imagem do Deus invisível. O amor, a santidade e a perfeição sem mácula estão unidos em todos os Seus caminhos. Nele, “Deus nos fez agradáveis no Amado”.
Tudo isto significa que estamos perante Deus porque Cristo nos introduziu na Sua presença. Porém, Ele não poderia nos levar à Sua presença, sem primeiro nos assemelharmos a Deus. E, a fim de nos fazer semelhantes a Ele e nos tornar Suas delícias, Ele nos conduziu primeiramente para a Cruz, uma vez que, todos nós nascemos sob o peso da condenação e sem forças para sair deste estado.
Como pecadores convictos, contemplamos a Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, e vemos nela aquilo que satisfaz todas as nossas necessidades. A Cruz do nosso Senhor Jesus expressa o profundo amor de Deus aos homens, porque estes nada podiam fazer por si mesmos.
Então, a primeira lição que precisamos aprender é que somos, por natureza, rebeldes, separados de Deus e sem condições de caminhar em Sua direção. Por isso, foi necessário um poder vindo do Céu.
A Cruz foi este poder. Lá na Cruz o Senhor Jesus nos atrai para Si: E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo. Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer. João 12:32-33.
Atraídos em Seu corpo lá na Cruz somos identificados com Cristo na Sua morte. Nas palavras de Evan Hopkins: “Nós morremos com Cristo; isto é verdade, como pode ser dito, no sentido judicial. Mas, isto não é o suficiente. Tem que haver a unidade experimental com Cristo na Sua morte. O fato histórico tem que se tornar uma realidade experimental. O que é uma verdade para nós, tem que se tornar verdade em nós”.
Identificados em Cristo na Sua morte e ressurreição nos tornamos a Sua habitação. E, esta Vida de Cristo é a vida que agrada a Deus. Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória. Colossenses. 3:3-4
Ouça o testemunho de Hudson Taylor: “Como tenho sido feliz, desde que Cristo passou a habitar em meu coração pela fé! Estou morto e fui sepultado com Cristo – ah, e ressuscitei também! E agora Cristo vive em mim, e “esse viver que, agora, tenha na carne, vivo pela fé do Filho de Deus, que me amou a si mesmo se entregou por mim”.
Nem deveríamos olhar para esta experiência, estas verdades, como se fossem pequenas. Elas são o direito de nascença de cada filho de Deus, e ninguém pode desprezá-las sem desonrar nosso Senhor.
O grito em alta voz do Salvador ao morrer é a prova de que Ele mesmo deixou a Sua vida, voluntariamente. Em plena posse de Sua força, Ele nos introduz na presença da Santidade Perfeita e, sem véu, abole o pecado que nos impedia de lá entrarmos.
Por Jesus, temos comunhão com Deus. Em Cristo Jesus, somos santos e irrepreensíveis diante Dele em amor. ...assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor... Efésios 1:4
Fomos admitidos e aceitos incondicionalmente na família de Deus, pelos méritos do Senhor Jesus. Antes, inadequados quanto à natureza pecaminosa, agora, em Cristo, agradáveis a Deus. Podemos não estar em íntima relação com Ele, contudo, somos amados como se estivéssemos em profunda comunhão com Ele. É uma posição de perfeita felicidade estar na Sua presença.
O nosso coração encontra o descanso nesta posição. Porque a nossa aceitação está fundamentada nos méritos de Jesus. Assim, a nossa posição foi construída e estabelecida segundo os planos de Deus e pela eficácia da Sua obra em Cristo.
E assim, somos um povo, uma família celestial, segundo os desígnios e os planos de Deus, que existe como fruto dos eternos pensamentos de Deus e da Sua natureza de amor – o que aqui é chamado “a glória da Sua Graça”.
Tudo isto, pois, é para louvor da glória da Sua Graça, segundo a qual Deus atua para nós em Cristo. Cristo é a medida dessa Graça; toda a plenitude dessa Graça é revelada para nós. Em Cristo somo aceitos por Deus em aroma suave. E andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. Efésios 5:2. Amém
 
Soli Deo Glória.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O SEGREDO DE DAVI




Davi é uma das figuras mais preeminentes entre os personagens da Bíblia e também da história. Sua vida é retratada em aproximadamente 66 capítulos, enquanto a vida de Abraão e José, em cerca de 14 capítulos; Jacó, 11 e Elias, 10. O Novo Testamento faz cerca de 59 referências a sua vida. Além disso, em nenhum momento no Novo Testamento, Jesus é chamado como filho de Abraão ou filho de Jacó mas, inúmeras vezes como Filho de Davi.
Uma das características marcantes de Davi é o seu caráter polivalente. Davi foi pastor de ovelhas, poeta, músico, comandante de guerra e considerado o maior rei de Israel. Contudo, a mais sublime distinção deste homem, foi ter sido considerado como o homem segundo o coração de Deus. Atos 13.22. Isto aconteceu, quando da rejeição de Saul como rei de Israel. Saul era desobediente ao Senhor. Então, o sacerdote Samuel recebeu a missão de Deus para ir até a casa de Jessé, para este ungir um novo rei, um homem segundo o seu coração. O sacerdote Samuel, logo que viu a Eliabe, o filho mais velho de Jessé, disse consigo: é esse, o homem de Deus. Foi quando ouviu a voz de Deus: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração. 1 Samuel 16.7. O homem presta atenção na aparência, no exterior, mas Deus tem outro critério, Ele olha para o coração. Aqui está uma grande pista para o segredo de Davi.
Naquele dia, após passar os sete filhos de Jessé diante do sacerdote, foi escolhido o filho mais novo, um jovem pastor de ovelhas. Tomou Samuel o chifre de azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se apossou de Davi. 1 Samuel 16.13. O tempo decorrido entre o dia em que foi ungido, até que ele assumisse o trono, foi de aproximadamente 14 anos. Foram muitas as batalhas que Davi teve de enfrentar. Sem sombra de dúvida, a batalha mais famosa e empolgante do Velho Testamento é a batalha de Davi com o gigante Golias. Neste confronto, vemos que o Espírito do Senhor já estava operando em Davi para ensiná-lo a não se preocupar com o que se vê, mas a desenvolver um coração cheio de confiança em Deus. Nisto reside o segredo de Davi. Mas, antes de mais nada, é preciso lembrar que todos nós temos os nossos gigantes diante dos olhos. Quais sãos os seus gigantes ?
Davi e Eliabe
O vale de Ela seria mais uma vez o palco de uma sangrenta batalha. De um lado, o exército de Israel estava entrincheirado na encosta do monte e, do outro lado, estava o exército filisteu. Então, saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, da altura de seis côvados e um palmo. 1 Samuel 17.4. Isto significa que Golias media quase três metros. O texto continua descrevendo que ele vestia uma cota de malha de metal, um escudo de proteção para o corpo todo, cujo peso era de 80 a 90 quilos. Tinha caneleiras de bronze nas pernas e uma grande lança pendurada nos ombros. Somente a ponta da lança pesava seiscentos siclos de ferro, ou seja, de 9 a 11 quilos. Além disso, tinha um capacete de bronze, e enorme escudo que era carregado por um soldado que ia na sua frente. Você enfrentaria um homem desses? Foi esta a proposta dele. Golias desafiou o exército de Israel a enviar apenas um homem para uma batalha representativa, uma luta entre apenas duas pessoas. Quem ganhasse, traria vitória para o seu exército. Isto é uma tática geralmente usada no mundo oriental.
Enquanto isso, em um pequeno povoado de Belém, Davi recebia de seu pai a incumbência de levar uma encomenda para os seus três irmãos no campo de batalha. Depois de deixar o seu rebanho com outro pastor, seguiu em direção ao vale de Ela. Chegou ao acampamento quando já as tropas saíam, para formar-se em ordem de batalha, e, a gritos, chamavam à peleja. 1 Samuel 17.20b. Davi ficou estarrecido com o que viu. Todos os israelitas, vendo aquele homem, fugiam de diante dele, e temiam grandemente. 1 Samuel 17.24. Ele sentiu a aflição e o desespero dos mais valorosos homens de guerra do seu povo. Davi estava tomando informações sobre o que estava acontecendo, quando aproximou-se Eliabe. Ouvindo-o Eliabe, seu irmão mais velho, falar aqueles homens acendeu-se a ira contra Davi, e disse: Por que desceste aqui? E a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço a tua presunção, e a tua maldade; desceste apenas para ver a peleja. 1 Samuel 17.28 A igreja está cheia de Eliabes. Pessoas prontas para nos julgar e fazer os seus comentários mordazes. Eliabe servia de lixa para aprimorar o caráter de Davi.
Se fosse qualquer outro, talvez ficaria dando justificativas ou tentando provar que seu irmão estava errado, mas não Davi. Ele apenas o ignorou. Davi sabia com quem lutar e quem deixar de lado. Ele não tinha tempo para perder com batalhas erradas. Nós também precisamos lembrar que a nossa luta não é contra carne e sangue, e sim contra principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais. Efésios 6.12. Não podemos aceitar pequenos e inúteis confrontos com os membros de nossa família e irmãos da igreja, por não terem a mesma opinião ou visão sobre determinadas questões. Davi tinha um coração cheio de confiança no Senhor. Quando Eliabe e Davi viam a mesma situação, tinham reações distintas. Enquanto Eliabe viu Golias proferir blasfêmias com um coração esmorecido, Davi viu uma possibilidade de Deus manifestar o seu poder. Eliabe fez uma avaliação como um soldado de guerra, o problema exterior dominava os seus pensamentos e angustiava seu coração. Para Davi, o soldado filisteu era um desafio para colocar a sua fé em ação.
Davi e Saul
A fé de Davi sobrepunha a realidade. Andamos por fé, e não por vista. 2 Coríntios 5.7. Davi não se deteve diante do tamanho de Golias e do poder de destruição de suas armas, mas prestou atenção na grandeza de Deus e na oportunidade Dele ser glorificado.
Diante das diabruras de Golias, Davi quebra todos os protocolos e resolve enfrentar o gigante. O exército o considerou um intruso, mesmo assim, ele acabou na tenda do rei Saul.
Coitado do garoto, dizia os cochichos dos soldados experientes de Saul. Porém, ignoravam que havia um poder maior, ou melhor, uma Pessoa que acompanhava o pequeno pastor de ovelhas. Davi se tornou por alguns momentos motivo de piadas e chacota, mas somente por um momento. Saul, olhando com piedade para o moço disse: Não podes lutar contra Golias! Sabes contra quem te levantas? Já viste o tamanho dele? Contra o filisteu não poderás ir para pelejar; pois tu és ainda moço, ele, guerreiro desde a sua mocidade. 1 Samuel 17.33. O problema não era apenas Golias. Para enfrentar a batalha contra o gigante, era preciso vencer os incrédulos. Davi reconheceu Golias como o seu próprio inimigo. Sabia que Golias era uma ameaça para cada homem, mulher e criança da terra. Era preciso se livrar dele.
Então, Davi explica o motivo de sua convicção para Saul. Respondeu Davi a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai; quando veio um leão ou um urso e tomou um cordeiro do rebanho, eu saí após ele, e o feri, e livrei o cordeiro da sua boca; levantando-se ele contra mim, agarrei-o pela barba, e o feri, e matei. O teu servo matou tanto o leão como o urso; este incircunciso filisteu será como um deles, porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo. 1 Samuel 17.34-36. Davi tinha um histórico bastante vivo dos livramentos do Senhor. É verdade que ele nunca tinha enfrentado um guerreiro profissional, mas sabia que para Deus não interessa o tamanho do problema, porque Ele sempre é maior. Ao enfrentar gigantes, é preciso trazer à memória as nossas vitórias passadas. Logo perceberemos que Deus agiu de formas surpreendentes no passado, e isso nos enche de fé para enfrentar os nossos problemas e tribulações do presente.
Saul resolveu deixar o garoto ir e ainda quis ajudar. Saul vestiu a Davi de sua armadura. 1 Samuel 17.38. Mas logo Davi percebeu que a armadura só servia para o próprio Saul. Decidiu então, enfrentar o gigante com as suas próprias armas: uma funda e um cajado. Ele tinha plena convicção de que a vitória não dependia dos métodos de guerra, mas do Senhor da guerra.
Davi e Golias
Gigantes normalmente gostam de intimidar os seus oponentes, e era isto que Golias fazia. Do outro lado do rio, Golias esbravejou por quarenta dias: Dai-me um homem. 1 Samuel 17.10. E a resposta não vinha. Diante de gigantes, normalmente gostamos de dar um tempo. Quem sabe um milagre aconteça. De fato, com Deus, milagres acontecem. Finalmente, apareceu um herói. Caminhando entre as fileiras dos soldados de Israel, vinha Davi. Golias no primeiro momento, pensou que era uma piada. Um jovenzinho de sandálias e vestimenta de pastor de ovelhas. Nas mãos uma pequena funda e algumas pedras. Golias achou aquilo um insulto. Charles Swindoll, sobre este episódio escreveu: Mas os olhos de Davi não se fixaram no gigante. A intimidação não fazia parte da sua vida. Que homem ! Seus olhos fitavam a Deus. Era a honra de Deus que estava em jogo. Golias tinha desafiado os exércitos do Deus vivo. 1 Samuel 17.36. Após o gigante esbravejar, ouviu-se as seguintes palavras do menino na arena: Saberá toda esta multidão que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; porque do Senhor é a guerra, ele vos entregará nas nossas mãos. 1 Samuel 17.47. Então, o nosso herói saiu correndo em direção ao gigante. Davi meteu a mão no alforje, e tomou dali uma pedra, e com a funda lha atirou, e feriu o filisteu na testa; a pedra encravou-se-lhe na testa; e ele caiu com o rosto em terra... Pelo que correu Davi, e, lançando-se sobre o filisteu, tomou-lhe a espada, e desembainhou-a, e o matou, cortando-lhe a cabeça. 1 Samuel 17. 49 e 51. Assim, Davi conquistou a vitória para todo o povo de Israel.
Este era o segredo da vida de Davi: Porque do Senhor é a guerra. A vitória de Davi sobre o gigante aponta para a vitória de Jesus Cristo. Jesus sozinho, por meio de sua morte e ressurreição, trouxe vitória ao povo de Deus. Ele foi o nosso representante frente a Satanás, e venceu acertando-lhe a cabeça. Cumpriu-se a profecia: Este te ferirá a cabeça. Gênesis 3.15. À semelhança de Davi, a arma de Jesus foi uma tosca cruz. Por meio dela, Jesus Cristo pôs fim ao nosso velho homem, ao domínio de Satanás e da influência deste mundo em nossas vidas. O nosso coração foi trocado para ser cheio de fé e confiança no Senhor Jesus. Por causa da vitória de Cristo, podemos enfrentar os nossos gigantes sem medo, transformando a nossa crença passiva em uma fé ativa, crendo que todas as nossas batalhas, na verdade, são batalhas do Senhor. Em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Romanos 8.37.

Soli Deo Glória.